RESENHAS BOOK REVIEWS
Alexandre Palma
Programa de Pós-graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Brasil. alexandrepalma@domain.com.br
THE OBESITY EPIDEMIC: SCIENCE, MORALITY AND IDEOLOGY. Gard M, Wright J. London: Routledge; 2005. 218 pp.
ISBN: 0-415-31895-5
No livro The Obesity Epidemic: Science, Morality and Ideology, lançado em língua inglesa, Michael Gard & Jan Wright travam um interessante debate acerca das questões mais ocultas que giram em torno da produção científica biomédica sobre a obesidade.
A inegável contribuição dos autores à saúde coletiva, sociologia, educação física e outros campos de conhecimento pode ser percebida no crítico e rico olhar produzido sobre este crucial tema da atualidade e advém de um posicionamento que não se contenta com as supostas verdades ditadas por uma ciência positivista, cuja visão do corpo é de um mecanismo determinado simplesmente pela diferença entre o número de calorias consumidas e gastas. O corpo, assim, assumiria a forma de uma máquina imune às influências sociais, culturais, econômicas, entre outros aspectos. Além disso, a "epidemia da obesidade", anunciada por esta ciência, tem sido considerada uma conseqüência natural do "moderno estilo de vida ocidental".
Para tratar do tema, algumas questões pontuais são trazidas à tona e atravessam toda discussão presente no texto. Uma das interrogações refere-se ao elevado grau de complexidade e incertezas do conhecimento. Outra interpelação diz respeito à moralidade e posições ideológicas contidas nos discursos daqueles que advogam uma "guerra" contra obesidade.
O argumento central, dessa forma, é que muitas indagações deveriam ser postas antes da crença em uma idéia de "epidemia da obesidade". Nesse sentido, os autores discutem, entre outros aspectos, as soluções apresentadas pelos especialistas para lidar com a chamada epidemia, sempre relacionadas aos comportamentos individuais.
O livro é estruturado em dez capítulos. O primeiro é uma apresentação geral. O capítulo dois concentra-se na análise dos discursos que circulam nos meios de comunicação, mais especificamente na mídia escrita. No capítulo três, Gard & Wright buscaram debater o corrente estado da "ciência da obesidade". Os autores, no capítulo quatro, objetivaram mostrar como as suposições científicas acerca do tema não se alteraram muito em relação ao século passado. Segundo eles, a ciência contemporânea não avançou de modo substancial, bem como, persiste com seus estigmas moralizantes.
Bruce Ross é o responsável pelo capítulo cinco. Neste, Ross discute os conceitos de sobrepeso e obesidade, bem como, de que modo a noção de agravo à saúde praticamente não distingue os sujeitos com sobrepeso e obesidade. No capítulo seis, os autores se debruçam sobre a idéia conservadora de declínio social e moral, presente nos discursos da ciência hegemônica. Para a "cura" desse "problema" a ciência tem proposto, por exemplo, o ensino para as crianças na escola e o gerenciamento da vida dos filhos pelos pais.
O capítulo sete se dirige ao exame da literatura popular, isto é, às análises da "ciência da obesidade" para as comunidades não científicas. Gard & Wright desvelam a trama e mostram que os autores desses livros reivindicam ser a voz da ciência "verdadeira", embora suas explanações estejam recheadas de discursos moralistas e ideológicos acerca do declínio da vida ocidental moderna.
No capítulo oito, os autores procuraram interpretar de outras formas os sentidos da obesidade e do sobrepeso. Inicialmente, buscaram desafiar a noção simplista do corpo como máquina. Posteriormente, posicionam o peso e a gordura corporal como debates sociais e culturais. No capítulo nove, os autores buscam olhar pelas lentes dos trabalhos sociológicos sobre o corpo para questionar a "epidemia da obesidade" e a ciência hegemônica que a sustenta. De fato, a obesidade, por vezes, aparece como uma construção social.
Por fim, o décimo e último capítulo encerra o debate recapitulando os interesses centrais do livro. Primeiro, parece claro para os autores que algumas formas de conhecimento mostram-se mais poderosas em lidar com as agendas da saúde e, no caso da "ciência da obesidade" este poder não, necessariamente, atravessa uma base de conhecimento sólida e sem controvérsias. Segundo, para realizar o desafio de descortinar as idéias científicas e populares dominantes sobre a dita epidemia, houve a necessidade de olhar seus efeitos prejudiciais e considerar outras maneiras de pensar sobre corpos, peso e a saúde.
The Obesity Epidemic: Science, Morality and Ideology é, assim, um livro de referência que pode trazer inúmeras contribuições àqueles que buscam refletir sobre uma série de questões envolvendo promoção de saúde, riscos, obesidade, ciência, entre outros temas afins.