EDITORIAL

 

Política brasileira de vacinação contra a influenza e seu impacto sobre a saúde do idoso

 

 

As infecções respiratórias agudas de origem viral têm sido responsáveis por internações e mortes, particularmente de idosos e portadores de doenças crônicas. Vários estudos indicam que após infecção respiratória viral ocorre maior susceptibilidade a fenômenos aterotrombóticos, a descompensação clínica de diabetes, cardiopatias, doença pulmonar obstrutiva, entre outras. No âmbito da Saúde Pública, os idosos são o grupo mais vulnerável em razão da idade associada à maior prevalência dessas doenças.

A vacinação contra a influenza tem sido a medida de maior efetividade no enfrentamento do problema, indicada pela Organização Mundial da Saúde desde 1963. No Brasil, a partir de 1999, o Ministério da Saúde disponibiliza a vacina contra a influenza a idosos, indivíduos institucionalizados e portadores de doenças crônicas. São gastos ao redor de 130 milhões de Reais por ano, para a compra de vacinas, bem como divulgação e montagem de 73,7 mil postos de vacinação. Dadas as dimensões do território nacional, de fato, este é um grande empreendimento gratuito e universal que atinge mais de 70% da população idosa do país. O Brasil possivelmente é o país com o maior investimento público e cobertura vacinal de idosos até o momento.

Alguns estudos evidenciam redução de internações e mortes por doenças respiratórias em idosos a partir das campanhas no país. Porém o seu real impacto é difícil de avaliar em virtude da falta de diagnóstico etiológico das infecções respiratórias, da freqüente circulação de outros vírus de tropismo respiratório e da precariedade das informações em prontuários e atestados de óbito nas várias regiões do país.

Por outro lado, nos últimos anos, a ampliação do sistema de vigilância sentinela de vírus respiratório tem contribuído para a melhor compreensão da dinâmica e epidemiologia das infecções respiratórias em populações susceptíveis e vacinadas.

Embora sejam grandes investimentos e mobilização, o programa brasileiro de controle da influenza ainda enfrenta alguns desafios como: ampliar e homogeneizar as coberturas vacinais em grupos que comparecem menos às campanhas (menores de 70 anos, maior escolaridade, zona rural e portadores de doenças crônicas).

Para além do período de campanhas, carro chefe do controle da influenza, há ainda outros desafios, como incorporar à rotina das equipes de vigilância epidemiológica o monitoramento da morbidade e mortalidade relacionadas à influenza, facilitando a investigação do excesso de mortes, internações ou casos graves relacionados a infecções respiratórias, mesmo utilizando-se estudos ecológicos e indicadores indiretos. Também permanece um desafio ampliar a incipiente e restrita cobertura vacinal anti-pneumocócica (polissacarídea 23 valente) a populações de risco. A implantação de vacinação após alta hospitalar e em salas de emergência tem sido apontada como estratégia possível para proteger indivíduos especialmente vulneráveis a infecções pelo Streptococcus pneumoniae, uma das principais causas de óbitos em maiores de 70 anos.

Os profissionais de saúde têm um importante papel na recomendação dessas vacinas, que reduzem danos à saúde de idosos e portadores de doenças crônicas, esclarecendo controvérsias sobre sua eficácia, eventos adversos e divulgando os reais benefícios da vacinação.

Diante da grande abrangência e dimensão das ações, o Brasil constitui hoje um exemplo para outros países, há, no entanto, de investir mais nas ações além-campanha e dar condições às equipes de vigilância epidemiológica para monitorar situações epidemiológicas particulares locais/regionais e avaliar o impacto dessas ações nos diferentes cantos do território nacional.

 

 

Maria Rita Donalisio
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil.
donalisi@fcm.unicamp.br

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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