RESENHAS BOOK REVIEWS
Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves
Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. crchaves@iff.fiocruz.br
NUTRICIÓN Y VIDA ACTIVA: DEL CONOCIMIENTO A LA ACCIÓN. Organización Panamericana de la Salud. Washington DC: Organización Panamericana de la Salud; 2006. 263 p. (Publicación Científica y Técnica, 612).
ISBN: 92-75-31612-0
A publicação representa a reunião da expertise de saúde pública da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) com a colaboração de várias instituições. Neste livro, encontra-se a produção científica e experiências de sucesso dos últimos anos nas Américas dos programas de nutrição e promoção do estilo de vida saudável.
O livro divide-se em quatro seções, a primeira é uma revisão sobre os resultados de pesquisas, a segunda enfoca intervenções bem sucedidas com micronutrientes. As duas últimas mostram estratégias em níveis local e nacional sobre fatores relacionados com a nutrição e estilo de vida saudável. O último capítulo resume as conclusões e dados mais importantes.
A primeira seção apresenta dois capítulos. O primeiro, escrito por Reynaldo Martyorell, mostra uma série de estudos longitudinais sobre as conseqüências a longo prazo da desnutrição precoce, iniciados em 1960, e outros ainda em andamento. Todos realizados pelo Instituto de Nutrição da América Central e Panamá e por Reynaldo Martyorell. Chama atenção para a alta prevalência de anemia e retardo de crescimento principalmente em crianças pré-escolares, e mostra intervenções em idades muito precoces.
O segundo, escrito por César Victora, Elaine Albernaz & Chessa Lutter, apresenta estudos da América Latina, da segunda metade do século XX, sobre a contribuição de políticas relacionadas com alimentação infantil. Eles evidenciaram que políticas regionais e mundiais aumentaram a duração do aleitamento materno, mas não alcançaram as metas quanto ao aleitamento materno exclusivo.
A segunda seção é composta de quatro capítulos sobre estratégias eficazes dos programas sobre micronutrientes. O primeiro, escrito por Wilma Freire, Koenraad Vanormelingen & Joseph Vanderheyden, mostra como uma medida simples, a iodação do sal realizada no Equador, combateu a deficiência de iodo nas Américas.
O segundo capítulo, escrito por Omar Dary, Carolina Martinez & Mônica Guamuch, refere-se a um programa de fortificação de açúcar com vitamina A, realizado na Guatemala, de 1975 a 2005, que conseguiu diminuir a cegueira, morbimortalidade infantil e melhorar a resposta imune causada pela hipovitaminose A. Ele exemplifica que os programas de fortificação de alimentos são complexos, requerem a participação de muitas instituições e setores, e são vulneráveis a interesses econômicos e lutas de poder. Porém, se estruturados adequadamente possuem a capacidade de produzir grandes benefícios com baixo custo.
O terceiro capítulo, escrito por José Mora, Gloria E. Navas, Josefina Bonilla & Ivette Sandino, também descreve a experiência do programa do controle da deficiência de vitamina A realizado na Nicarágua, mediante a suplementação e fortificação com vitamina A.
O quarto, escrito Eva Hertramp, é uma revisão da função dos folatos no processo metabólico, das características epidemiológicas e clínicas de sua deficiência e das estratégias efetivas para preveni-la. Ele descreve a experiência realizada no Chile sobre a fortificação da farinha de trigo com ácido fólico para diminuir a incidência de malformação do tubo neural, e que o custo da fortificação é bem menor que o tratamento das conseqüências de sua deficiência.
A terceira seção mostra as estratégias desenvolvidas em nível local e inclui quatro capítulos. O primeiro, escrito por Marina Ferreira Rea & Maria de Fátima Moura de Araujo, enfoca a evolução do programa nacional de incentivo ao aleitamento materno do Brasil e reforça as recomendações internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), também discute a iniciativa inovadora sobre os bancos de leite humano, dificuldades e possíveis soluções que permitem recorrer à experiência brasileira.
O segundo capítulo, preparado por Bruno M. Bernavides, descreve o programa denominado a Melhor Compra, organizado pelo Instituto de Investigação Nutricional de Lima (Peru), em parceria com organizações de base, meios de comunicação, setor privado e órgãos internacionais. O programa efetuou um acompanhamento periódico de preços dos alimentos de menor custo, ricos em energia e proteína. A partir daí elaborou nos restaurantes populares receitas nutricionalmente adequadas, a preços mais acessíveis para a população de baixa renda. Dessa forma, a associação dos conhecimentos científicos com as necessidades e expectativas das famílias de baixo nível socioeconômico nas zonas urbanas foi uma estratégia interessante para melhorar a insegurança alimentar desta a população.
O terceiro, escrito por Sandra Mahecha Matsudo & Victor Rodrigues Matsudose, refere-se a um modelo inovador para a promoção de uma vida ativa. O capítulo expõe como surgiu o programa Agita São Paulo. Um modelo ecológico móvel que considera aspectos intrapessoais e ambientais para a promoção da atividade física.
O quarto capítulo, escrito por Ricardo Montezuma, refere-se à relação entre o entorno urbano e o aumento da atividade física. O autor descreve a transformação de Bogotá, Colômbia, com o uso crescente do transporte individual e do sedentarismo. Fator que contribui para a elevação de sobrepeso e obesidade nos habitantes urbanos. A experiência de Bogotá demonstra que as transformações no ambiente físico aumentam mais a atividade física do que mudanças no comportamento individual. Essas alterações incluem maior acesso aos meios de transporte e espaços públicos para pedestres. Para isso é necessário alianças entre órgãos nacionais e internacionais, respaldo político e apoio científico.
A quarta seção se divide em três capítulos sobre estratégias integradas adotadas em nível nacional.
O primeiro capítulo, escrito por Juan A. Rivera, mostra a pesquisa com missão de saúde pública, utilizando uma metodologia que possibilita analisar com profundidade as condições de saúde da população mediante um enfoque multidisciplinar, gerando informação e melhorando a resposta social organizada, o que resulta em políticas e programas de nutrição melhor elaborados. Apresenta ações de impacto na prevenção e controle da desnutrição no México.
O segundo, de Fernando Vio & Ricardo Uauy, descreve a história dos problemas nutricionais no Chile, as mudanças alcançadas pela adoção de políticas com a obtenção de recursos e execução de programas permitindo controlar de forma efetiva diversos problemas nutricionais. Essa experiência acumulada é um marco institucional nacional com outras intervenções com o propósito de modificar o emergente problema do sobrepeso e obesidade.
O último capítulo, escrito por Jacoby, Montezuma & Malo, analisa a situação das cidades urbanas nas Américas: insegurança, violência, estresse, inatividade física e desintegração social, fatores reconhecidos como de alto risco para a saúde das pessoas e responsáveis pelas epidemias de doenças cardiovasculares, saúde mental e obesidade. Os autores enfatizam o enfoque coletivo mais que individual e mostram a melhora da qualidade de vida urbana, com a preservação dos ambientes saudáveis, proporcionando infra-estrutura pública eficiente.
Trata-se de um livro interessante pela relevância dos temas abordados (aleitamento materno, prevenção das deficiências de micronutrientes, entre eles o ferro, desnutrição, sobrepeso e obesidade). Ele descreve os diferentes tipos de intervenções realizadas com mães, crianças, adultos, população economicamente ativa, e todos os grupos etários cujo estilo de vida sedentário favoreça o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis. Mostra que a pesquisa contribui para melhorar a saúde da população quando gera modelos, formas de execução, acompanhamento e avaliação para programas de políticas públicas.
Assim, este livro evidenciando pesquisas latino-americanas sobre nutrição possui valor indiscutível e servirá de modelo para execução de políticas e programas que ajudarão a reduzir a alta prevalência de enfermidades nutricionais e crônicas não transmissíveis. Por isso a leitura desta publicação é indicada a pesquisadores, acadêmicos formuladores de políticas e diretores de programas de nutrição, e será muito útil para atividades de pesquisa e ensino, assim como para execução de diversos programas e políticas de saúde.