EDITORIAL
Revisões em epidemiologia: linhas de estudos correntes e perspectivas futuras
Transcorridos mais de 150 anos do estudo pioneiro de John Snow, mais de 50 anos dos estudos longitudinais de Framingham e pouco mais de 30 anos da coorte de servidores britânicos (Whitehall Study), o aprimoramento dos métodos e a crescente produção em epidemiologia proporcionou a criação de subespecialidades epidemiológicas, como a epidemiologia clínica, a epidemiologia ambiental, a epidemiologia social ou a epidemiologia nutricional. A enumeração dessas subespecialidades se mostra quase ilimitada, dado que o método epidemiológico tem-se revelado bastante flexível no seu diálogo com outras áreas da ciência, por exemplo, na parceria entre a epidemiologia e os estudos em genômica.
O volume de investigações e publicações em epidemiologia alcançou patamares numéricos que impossibilita a leitura de um conjunto representativo dos estudos, mesmo por parte do especialista. Mais especificamente, quando o público-alvo é constituído por profissionais vinculados aos serviços de saúde, é notória a incompatibilidade entre quantidade de informação produzida e capacidade de acessar e processar em tempo hábil as informações para subsidiar políticas e intervenções baseadas em evidências.
No século XX, a percepção dessa dissonância entre a produção científica e sua utilização junto às populações que delas necessitam, objeto final em se tratando da ciência aplicada, fomentou o desenvolvimento da revisão sistemática e, posteriormente, da meta-análise. Inicialmente empregada em 1904 por Karl Pearson para combinar as observações de diferentes estudos clínicos sobre a eficácia da vacina antitifóide em soldados britânicos, esses métodos propõem a sumarização de estudos epidemiológicos relativos a um objeto específico dentro do vasto campo da epidemiologia. As delimitações metodológicas relativas ao objeto estudado, incluindo especificidades de exposições/intervenções e desfechos/agravos à saúde têm permitido importantes avanços no conhecimento.
Apesar do reconhecimento de que as revisões sistemáticas e meta-análises constituem uma significativa fonte de informação científica, o espaço editorial destinado a este tipo de produção acadêmica ainda pode ser considerado limitado e incapaz de atender às diversas demandas, especialmente na área da saúde pública.
Essa tendência mundial se reflete na comunidade acadêmica brasileira. A iniciativa de editar este Suplemento de Cadernos de Saúde Pública decorre dessas considerações e coincide com a realização do VII Congresso Brasileiro de Epidemiologia e XVIII Congresso Mundial de Epidemiologia, em setembro de 2008, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Os artigos que integram este Suplemento resultam de cuidadosa seleção de trabalhos por parte do Conselho Editorial de CSP ao longo dos últimos meses. Como orientação ge-ral, procurou-se contemplar diferentes temas e abordagens relevantes à epidemiologia em saúde pública.
A perspectiva de CSP é de editar anualmente um suplemento dedicado a revisões em epidemiologia, sumarizando o estado da arte da disciplina e perpassando suas diferentes subespecialidades.
Esperamos que este suplemento inaugural de revisões em epidemiologia alcance seu principal objetivo - oferecer aos leitores de CSP um conjunto de artigos densos e representativos das atuais vertentes do campo. Esperamos ainda que os suplementos anuais em epidemiologia de CSP venham a se consolidar no futuro como uma tradição, capaz de contribuir para a atualização continuada dos praticantes da disciplina.
Mario Vianna Vettore
Editor
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
mario@ensp.fiocruz.br
Francisco I. Bastos
Editor de Artigos de Revisão
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
francisco.inacio.bastos@hotmail.com