ARTIGO ARTICLE
Adaptação para o português do Cambridge Cognitive Examination-Revised aplicado em um ambulatório público de geriatria
Portuguese adaptation of the Cambridge Cognitive Examination-Revised in a public geriatric outpatient clinic
Emylucy Martins Paiva ParadelaI; Claudia de Souza LopesII; Roberto Alves LourençoIII
IPoliclínica Piquet Carneiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
IIInstituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
IIIFaculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados das quatro primeiras etapas (equivalências de conceito, de item, semântica e operacional) do processo de adaptação para o português do Cambridge Cognitive Examination-Revised (CAMCOG-R). O processo teve como base o modelo teórico proposto por Herdman et al., que, além das quatro etapas supracitadas, inclui as equivalências de mensuração e funcional, não avaliadas no presente trabalho. Um grupo de especialistas avaliou se todas as dimensões abarcadas pelo CAMCOG-R estavam presentes na realidade brasileira; duas traduções e retro-traduções foram realizadas, assim como a técnica de "grupos focais". A versão brasileira do CAMCOG-R (Br-CAMCOG-R) foi elaborada mantendo os 69 itens do instrumento original, com níveis variados de dificuldade. Esta versão foi então aplicada em 196 idosos, nos quais a duração média foi de 43 ± 9,4 minutos, e a média do escore total foi de 67 ± 14,8 pontos. Os achados do estudo mostram que a Br-CAMCOG-R pode ser uma ferramenta útil na avaliação cognitiva de idosos que foram positivos em testes de rastreamento.
Geriatria; Cognição; Questionários
ABSTRACT
This paper presents the results of the first four steps (conceptual, item, semantic, and operational equivalences) of cross-cultural adaptation to Portuguese of the Cambridge Cognitive Examination-Revised (CAMCOG-R). The process was based on the theoretical model proposed by Herdman et al., which includes not only the four steps described above, but also measurement and functional equivalences, not evaluated in the current study. A panel of experts evaluated whether all dimensions that comprise the CAMCOG-R were present in Brazilian reality. Two translations and back-translations were performed, in addition to the "focus group" technique. The Brazilian Portuguese version of the CAMCOG-R (Br-CAMCOG-R) was developed, maintaining the 69 items from the original instrument, with different levels of difficulty. It was then applied to 196 elders, with the test lasting an average of 43 ± 9.4 minutes, and an average total score of 67 ± 14.8 points. The Br-CAMCOG-R can be a useful tool for the cognitive evaluation of elders that tested positive during initial screening.
Geriatrics; Cognition; Questionnaires
Introdução
A síndrome demencial é heterogênea em seus aspectos etiológico, clínico e neuropatológico, estando relacionada com declínio funcional progressivo, assim como com a perda gradual da autonomia e da independência.
Uma avaliação cognitiva padronizada é indicada como parte do processo diagnóstico em indivíduos suspeitos de síndromes demenciais. Vários instrumentos padronizados para a avaliação cognitiva estão descritos na literatura 1,2,3,4,5. Um destes é o Cambridge Cognitive Examination-Revised (CAMCOG-R), parte de um instrumento de avaliação mais abrangente chamado Cambridge Examination for Mental Disorders of the Elderly (CAMDEX-R) 6. O CAMCOG-R estrutura-se em 69 itens, sendo 105 pontos o total possível; quanto maior a pontuação, melhor o desempenho do indivíduo. O exame conta com alguns itens de testes de rastreamento amplamente usados em clínica e em pesquisas epidemiológicas, como os 18 itens do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), de Folstein et al. 7; 8 do Teste Mental Abreviado de Hodkinson 8; o teste de fluência verbal categoria animais 9, assim como o teste do desenho do relógio 10. Esses itens estão distribuídos nas diversas seções do CAMCOG-R de acordo com a função cognitiva que pretendem avaliar.
O CAMCOG-R, publicado em 1998, diferencia-se da primeira versão (CAMCOG), de 1986, nas subescalas de linguagem, memória, funções executivas e percepção. Na subescala de linguagem, foi retirado o item de expressão e discurso espontâneo: "cookie theft picture" do "Boston Diagnostic Aphasia Battery"; na subescala de memória, seis novos itens foram acrescentados para avaliar a memória remota em pessoas que nasceram depois de 1940; na subescala de funções executivas, dois novos itens foram incluídos: fluência ideacional e raciocínio visual; finalmente, na subescala de percepção um item foi retirado.
Os itens que compõem o CAMCOG-R têm níveis variados de dificuldade, desde muito fáceis, como: "o que você faz com um martelo?" ou "este lugar é um hotel?", até os itens muito difíceis, por exemplo: "quem foi um famoso aviador cujo filho foi raptado?" ou "por que Edmund Hillary ficou famoso?". Alguns itens dependem da interpretação do examinador, como: "o que é uma ponte?" e "o que é uma opinião?", e outros solicitam cópias de desenhos. A Tabela 1 mostra um resumo do instrumento, suas subdivisões, alguns itens e a pontuação máxima em cada subescala.
No Brasil, Bottino et al. 11 fizeram a tradução e a adaptação para o português da primeira versão do CAMDEX. Eles estudaram a confiabilidade da versão brasileira em 40 idosos. A confiabilidade interaferidor, avaliada por intermédio do coeficiente de correlação intraclasse, mostrou-se elevada entre as duas duplas de psiquiatras que aplicaram o instrumento, variando de 0,79 a 0,99 em uma dupla e de 0,67 a 1,0 na outra (p < 0,001). Por sua vez, Nunes et al. 12 avaliaram o CAMCOG como teste de rastreamento para o diagnóstico do transtorno cognitivo leve e demência, em uma amostra clínica brasileira com média e alta escolaridade. Estes autores concluíram que o instrumento foi útil para diferenciar os indivíduos com transtorno cognitivo leve ou demência dos controles.
Os dois instrumentos, CAMCOG e CAMCOG-R, têm a maioria dos itens em comum; no entanto, a versão revisada, CAMCOG-R, conta com a vantagem de avaliar de maneira mais específica a função executiva, frequentemente comprometida nas demências, particularmente nas de natureza frontotemporal 12,13.
O CAMCOG-R foi escolhido para ser o objeto deste estudo por gerar uma medida sumária da função cognitiva global, bastante útil na avaliação de indivíduos suspeitos de serem portadores de síndrome demencial, tanto em ambientes clínicos, como em pesquisa epidemiológica. Além disso, é a versão mais atualizada do instrumento, não havendo adaptação brasileira publicada até o momento. O modelo de adaptação transcultural escolhido foi o de equivalência transcultural, baseado na proposta de Herdman et al 14. Esse modelo pressupõe seis equivalências, a saber: a equivalência de conceito, de item, semântica, operacional, de mensuração e funcional.
O objetivo deste artigo é descrever a primeira parte do processo de adaptação transcultural do CAMCOG-R, equivalências de conceito, de item, semântica e operacional, para o português do Brasil.
Métodos
O estudo foi realizado em um ambulatório público de geriatria na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A população-fonte estimada foi de 1.200 idosos que freqüentavam um ambulatório especializado em avaliar e tratar idosos frágeis e com múltiplas patologias, durante o período de 2 de maio a 28 de dezembro de 2006. Foram avaliados 196 indivíduos, dos quais 75,5% eram mulheres, com idade média de 76,4 (± 6,9) anos e escolaridade média de 4,6 (±4,2) anos. O tempo médio de aplicação do instrumento foi de 43 ± 9,4, variando de 23 a 90 minutos, e a média do escore total foi de 67 ± 14,8, variando de 25 a 98 pontos.
Uma equipe da pesquisa examinava os prontuários dos indivíduos que estavam agendados para os atendimentos de rotina e pré-selecionava os que preenchiam os critérios de inclusão, a saber: idade igual ou maior que 60 anos e um desempenho no teste do MEEM, realizado nos 11 meses anteriores, maior ou igual a 14 pontos. Quando os indivíduos pré-selecionados chegavam para o atendimento, era verificado se havia critérios de exclusão, a saber: estar em delirium; ter deficiência sensorial que impossibilitasse ver ou ouvir; ter deficiência motora ou tremor na mão dominante que impedissem as tarefas de escrita e cópia ou estar com alguma doença clínica descompensada. Aqueles que preencheram os critérios de elegibilidade e aceitaram participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e fizeram parte de uma das etapas do estudo que serão descritas a seguir.
Avaliação da equivalência conceitual e de itens
A avaliação da equivalência conceitual e de itens começou com uma ampla revisão bibliográfica feita pelos autores para conhecer outras baterias neuropsicológicas breves similares ao CAMCOG-R. Em seguida, um grupo de especialistas que trabalhavam com idosos, dentre eles, dois geriatras, três psiquiatras, dois neurologistas e uma neuropsicóloga, avaliaram se todas as dimensões abarcadas pelo instrumento estavam presentes na realidade brasileira, e uma análise crítica de cada item foi feita com o objetivo de determinar quais deles deveriam ser adaptados para a cultura brasileira.
Avaliação da equivalência semântica
A avaliação da equivalência semântica envolveu seis etapas: duas traduções independentes para o português, feitas por tradutores brasileiros bilíngües, fluentes nos dois idiomas; duas retraduções independentes para o inglês, feitas por outros tradutores bilíngües; avaliação da equivalência entre as retraduções e o original, feita por um quinto avaliador. Como parte desta etapa, foram feitos grupos focais e pré-testes que serão descritos a seguir.
Grupos focais
A coleta de dados através da técnica dos grupos focais tem como uma de suas maiores riquezas basear-se na tendência humana de formar opiniões e atitudes a partir da interação com outros indivíduos 15. Neste estudo, essa técnica foi utilizada com uma amostra selecionada dos indivíduos que preencheram os critérios de elegibilidade para o estudo. Os participantes, contactados por telefone e convidados a participar desta etapa do estudo, não tinham disfunção cognitiva, auditiva ou visual. Dez grupos focais foram realizados, cada um com 5 a 8 idosos, 34 mulheres e 16 homens, com escolaridade variando desde analfabetos até o nível superior completo e idades de 60 a 91 anos. Todos os grupos foram liderados pela primeira autora deste artigo, a qual, com a utilização do modelo de análise de conteúdo 16, transcreveu as fitas VHS em que os encontros, com duração média de 90 minutos, foram gravados. O objetivo foi buscar sugestões para os itens que necessitavam de adaptação para a cultura brasileira. Após as etapas anteriormente descritas, uma versão-síntese do instrumento foi desenvolvida e testada.
Pré-testes
A última etapa da avaliação da equivalência semântica foram os pré-testes da versão-síntese. Ela foi testada em 41 indivíduos da população fonte que preenchiam os critérios de elegibilidade. Eles foram convidados para participar desta etapa no dia da consulta médica de rotina. Aqueles que concordavam em participar eram submetidos ao teste. Esta etapa teve o objetivo de avaliar a compreensibilidade dos itens e a possibilidade do instrumento ser aplicado, como no original, em uma única sessão face a face.
A avaliação da equivalência operacional
Esta equivalência, realizada durante o pré-teste, diz respeito à possibilidade e à propriedade de utilizar a versão com o mesmo formato, instruções, modo de aplicação e formas de medida do original. Para aplicar o instrumento, uma neuropsicóloga treinou cinco examinadores: três psicólogas, um terapeuta ocupacional e uma médica geriatra; todos se reuniram três vezes em encontros de três horas cada um com o objetivo de aplicar o instrumento de forma padronizada. Ao final das etapas descritas, foi elaborada a versão brasileira do CAMCOG-R (Br-CAMCOG-R) que foi aplicada em uma amostra de 196 idosos.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
Na avaliação da equivalência conceitual e de itens, o grupo de especialistas entendeu que todos os domínios avaliados pelo instrumento eram pertinentes também na cultura brasileira. Foram feitas várias sugestões, como substituir as figuras da balança e do barômetro por outras mais adequadas à nossa cultura. A figura original da balança, do tipo inglês, era confundida com um relógio, por isso ela foi substituída pela figura de uma balança com dois pratos, muito comum no passado e ainda encontrada em feiras livres e alguns pequenos estabelecimentos. No caso do barômetro, como este não é um instrumento muito conhecido no Brasil, procedeu-se à sua substituição pelo gramofone, pois este preenche os critérios sugeridos pela figura original: ser fácil de reconhecer e difícil de nomear. O grupo de especialistas também sugeriu substituir o termo villages por bairros, já que sua tradução literal para aldeia ou povoado dificultaria a pergunta para os idosos que vivem em grandes centros urbanos. O grupo também sugeriu trocar a pergunta "em que estação do ano nós estamos?" para "em que parte do dia nós estamos?", pois as estações do ano no Brasil não são bem marcadas; no entanto, esta substituição não foi aceita, por consenso entre a autora do instrumento e os pesquisadores, já que na pergunta original há quatro opções de resposta, enquanto para a substituição proposta: "parte do dia" só há três opções de resposta. Na avaliação da equivalência semântica todos os itens do instrumento original foram traduzidos para o português falado no Brasil; a maioria foi traduzida sem modificações, mas 12 itens necessitaram de adaptações e estão descritos na Tabela 2.
Nos grupos focais, apenas um idoso soube responder à pergunta: "quem foi um famoso aviador cujo filho foi raptado?", e ninguém respondeu à questão: "por que Edmund Hillary ficou famoso?"; por isso, elas foram substituídas pelas seguintes: "por que Ray Charles ficou famoso?" e "quem foi o cantor argentino conhecido como o rei do tango?". Todas estas sugestões foram incorporadas na versão brasileira do CAMCOG-R.
O item sobre Charles Lindberg é considerado difícil para a população inglesa e, na amostra brasileira, ele mostrou-se muito difícil, pois só foi respondido por 4% dos idosos. Isso constituiu o chamado efeito-chão ("floor effect"), quando menos de 20% dos indivíduos avaliados respondem corretamente ao item; o mesmo também ocorreu com outros itens, como mostrado na Tabela 3. O efeito-teto ("ceiling effect") ocorre quando mais de 80% da amostra responde corretamente ao item; neste caso a pergunta é considerada muito fácil, mesmo para os indivíduos com prejuízo cognitivo. Este efeito foi verificado em vários itens do instrumento e estão descritos na Tabela 4.
Na etapa de pré-teste todos os itens "problemáticos", ou seja, as perguntas que não eram bem compreendidas foram trocadas por outras, e os itens que geraram dúvidas para os examinadores no momento da pontuação foram padronizados. Foi possível fazer a aplicação do teste face a face em uma sessão, alcançando, assim, a equivalência operacional e definindo nesta etapa a versão final, o Br-CAMCOG-R.
Discussão
Nas palavras de Guillemin et al. 17 (p. 1421), "a adaptação transcultural de um instrumento de aferição apresenta dois componentes: a tradução e sua adaptação cultural. O processo deve ser uma combinação entre a tradução literal de palavras e frases de um idioma ao outro e uma adaptação que contemple o contexto cultural e estilo de vida da população alvo a ser estudada".
A frase "no ifs, ands or buts" faz parte do MEEM e não foi traduzida literalmente porque é uma expressão idiomática sem similar no português. Assim, mantivemos a adaptação mais usada no Brasil: "nem aqui, nem ali, nem lá". Este item foi modificado para "sem questões, dúvidas e/ou solicitações" na versão hebraica do CAMCOG; esta mesma versão alterou os itens sobre Mae West para: "quem era Brigitte Bardot?"; o de Charles Lindberg foi substituído para: "o que Yoseleh Schumacher [famoso seqüestrador em Israel, em 1959] fazia?" 18.
Adaptar um instrumento de avaliação cognitiva complexo, como o CAMCOG-R, para um idioma não anglo-saxão e para uma população de idosos cuja maioria tinha baixa escolaridade, não foi uma tarefa trivial. Uma das dificuldades encontradas no processo de adaptação foi manter os níveis de dificuldade do instrumento original, com alguns itens fáceis, outros de média dificuldade e alguns difíceis. A vantagem de mantermos itens muito difíceis em um instrumento de avaliação cognitiva é a possibilidade de verificarmos algum prejuízo cognitivo em indivíduos com habilidades intelectuais pré-mórbidas elevadas.
Outro desafio foi a adaptação dos itens da subescala de memória remota, pois muitos nomes ou acontecimentos históricos não são muito conhecidos da população idosa de baixa escolaridade; no entanto, idosos com escolaridade maior sabem quem foi Mae West ou Charles Lindberg.
Segundo a opinião dos especialistas e a dos idosos dos grupos focais, outros itens também deveriam ter sido adaptados. Porém, optamos por não fazê-lo devido à possibilidade de tornar muito fáceis as respostas aos itens, permitindo que a amostra brasileira tivesse pontuação maior que a de outros países. Outras possibilidades de substituição de itens sugeridas pelos especialistas e pelos grupos focais, mas que não foram utilizadas na versão brasileira do teste, foram: "quem foi o presidente do Brasil que se suicidou no cargo?", "quem foi o presidente que construiu Brasília?", "quem era o cantor do rádio conhecido como o cantor das multidões?".
Existem poucas publicações que utilizaram a versão revisada do teste e nenhuma publicação brasileira até o momento. Verhey et al. 19 publicaram um estudo multicêntrico, com a adaptação transcultural do CAMCOG-R em sete centros; a versão desenvolvida foi aplicada em pelo menos 40 indivíduos com doença de Alzheimer possível ou provável em cada centro, somando um total de 283 indivíduos. A idade avançada, a baixa escolaridade e a presença de demência foram as variáveis que interferiram negativamente no desempenho no teste.
Athey et al. 20 e Athey & Walker 21 avaliaram a viabilidade de aplicar o CAMCOG-R entre idosos com doença de Parkinson sem evidências de declínio cognitivo vivendo na comunidade. Noventa e quatro indivíduos foram testados em seus domicílios, com média de idade de 74,6 anos e 89 (49-102) pontos no teste. A diferença do desempenho no teste não variou entre os sexos nem em relação ao tempo de doença. No entanto, quanto mais idoso e mais grave a doença de Parkinson, pior o desempenho do indivíduo no teste.
Heinik & Solomesh 22 publicaram o único estudo sobre a validade de critério da versão revisada do teste. Eles avaliaram 51 idosos com alta escolaridade (13 anos ou mais) em um ambulatório de psicogeriatria em Israel. O escore total no teste obteve uma sensibilidade de 91% e especificidade de 88% no ponto de corte 83/84 para o diagnóstico de demência. Indivíduos com demência tiveram escore médio de 56 pontos, enquanto os normais tiveram a média de 88 pontos.
O CAMCOG-R foi concebido para ser utilizado em populações com alta escolaridade, todavia a maioria dos idosos que participou tanto dos grupos focais, quanto nos pré-testes, tinham baixa escolaridade. Outra limitação foi o fato de todos os participantes freqüentarem um ambulatório público, o que torna esta amostra muito homogênea e não representativa da população brasileira como um todo. Com o objetivo de respeitar os níveis de dificuldade do instrumento original e as instruções da autora do instrumento, algumas limitações ocorreram na adaptação de vários itens. A adaptação do CAMCOG-R faz parte do processo em curso de validação deste instrumento. Os autores do presente trabalho publicaram os resultados iniciais da psicometria desta versão com um estudo da sua confiabilidade 23.
A heterogeneidade cultural da população idosa brasileira demanda instrumentos variados de avaliação cognitiva. Entendemos que o instrumento avaliado neste artigo pode contribuir para este arsenal, mas não deve ser o único, assim como não deve ter apenas uma versão para todo o território nacional. Outras adaptações devem ser realizadas para responder às especificidades de cada ambiente operacional onde será empregado. É possível que a utilização deste instrumento em outros ambientes operacionais, incluindo estudos epidemiológicos na comunidade, identifique problemas em alguns itens, que poderão ser modificados e adaptados novamente para aperfeiçoar a versão sugerida neste trabalho.
A versão Br-CAMCOG-R foi elaborada após um extenso processo de adaptação transcultural, portanto os estudos que avaliarem a equivalência de mensuração desta versão poderão verificar a sua utilidade como ferramenta de avaliação cognitiva dos idosos que foram positivos nos testes de rastreamento.
Colaboradores
E. M. P. Paradela contribuiu na coleta e análise dos dados, concepção do artigo e na revisão final do texto. C. S. Lopes contribuiu na concepção do artigo e na revisão final do texto. R. A. Lourenço colaborou com a concepção do artigo e na revisão final do texto.
Agradecimentos
Aos colaboradores Flávio Storino, Glória Maria Silva, Rosemar Roma Corrêa, Cláudia Katz, Irene de Freitas Henriques Moreira, Camila de Assis Faria, Conceição Santos Fernandes, Andreza Moraes da Silva, Tarso Lameri Sant'Anna Mosci, Maria Angélica Sanches, Vânia Maria Ribeiro; aos idosos e funcionários do ambulatório de geriatria Professor Mario Sayeg da Policlínica Piquet Carneiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Referências
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Correspondência:
E. M. P. Paradela
Serviço de Geriatria Prof. Mario A. Sayeg
Policlínica Piquet Carneiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Av. Marechal Rondon 381, 2º andar
Rio de Janeiro, RJ
22270-010, Brasil
emylucy@ig.com.br
Recebido em 19/Jan/2009
Versão final reapresentada em 17/Ago/2009
Aprovado em 08/Set/2009