EDITORIAL
Revisões em epidemiologia: diversidade na agenda de pesquisa
O presente fascículo de Cadernos de Saúde Pública (CSP) é o prosseguimento da iniciativa lançada em 2008 de oferecermos aos nossos leitores um suplemento anual de revisões em epidemiologia. Em 2008, o lançamento ocorreu por ocasião do VII Congresso Brasileiro de Epidemiologia e do 18th IEA World Congress of Epidemiology, em setembro, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Cad Saúde Pública 2008; 24 Suppl 4).
A quantidade e a qualidade dos artigos submetidos a CSP para a seção de revisões, incluindo ensaios teóricos, revisões sistemáticas e meta-análises, embasam o esforço de publicarmos um suplemento anual nessa temática e testemunham o vigor da pesquisa brasileira nessa área. Embora não seja possível por ora afiançar se essa iniciativa se consolidará ao longo do tempo, não resta dúvida de que se trata de uma tendência da epidemiologia em muitos países. As questões abordadas na epidemiologia contemporânea são cada vez mais complexas e sutis, exigem amostras maiores e sempre que possível devem envolver populações oriundas de contextos sociais e culturais diversificados. Essas características constituem aspectos centrais na epidemiologia social contemporânea, e, associadas a métodos mais refinados de análise, permitem avaliar possíveis associações complexas, que incorporem as dimensões biológicas, clínicas e psicossociais dos processos saúde-doença nos seres humanos.
A abrangência temática das revisões na epidemiologia brasileira atual pode ser verificada a partir deste suplemento, que contempla diferentes artigos sobre agravos à saúde, não apenas das doenças transmissíveis e não-transmissíveis, mas também sobre outros agravos à saúde além da epidemiologia clínica. Esses últimos se inserem em um contexto mais amplo das interações de indivíduos e grupos sociais com determinadas configurações sociais e ambientes, sejam eles naturais ou sob evidente pressão antrópica, como no caso dos campos magnéticos associados à transmissão a longas distâncias de cargas energéticas potentes.
Outras revisões selecionadas para este suplemento extrapolam a análise de agravos específicos em saúde, incluindo temas mais abrangentes em saúde pública, tais como gênero, envelhecimento e eventos estressores da vida cotidiana. De forma complementar, a epidemiologia vem interagindo de forma bem-sucedida com outras disciplinas, como a economia da saúde, e tem-se voltado para análises de diversos aspectos da própria prática clínica, aí incluída a necessidade premente de avaliá-la de forma rigorosa e minimizar seus efeitos adversos e indesejáveis, como na análise de práticas iatrogênicas.
Além de mensurar agravos em saúde e avaliar suas possíveis associações com variáveis biológicas e condições de vida, pode ser observado que os pesquisadores da saúde pública contemporânea também têm direcionado seus esforços para promover e avaliar criteriosamente iniciativas no campo da prevenção e da promoção da saúde, como o estímulo a uma vida ativa, não sedentária, e a uma alimentação equilibrada.
Por tudo isso, esperamos que a presente iniciativa de CSP tenha continuidade, no sentido de uma epidemiologia sintonizada com as diferentes sociedades complexas e dinâmicas, e com os aportes de diferentes ciências e práticas, que vêm experimentando um aumento de novos conhecimentos em anos recentes.
Francisco I. Bastos
Editor de Artigos de Revisão
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
francisco.inacio.bastos@hotmail.com
Mario V. Vettore
Editor
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
mario@ensp.fiocruz.br