EDITORIAL

 

Uma nova coorte a cada 11 anos

 

 

Fernando C. BarrosI; Cesar G. VictoraII

IPrograma de Pós-graduação em Saúde e Comportamento, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, Brasil. fcbarros.epi@gmail.com
IIPrograma de Pós-graduação em Epidemiologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Brasil. cvictora@terra.com.br

 

 

Intensas observações astronômicas revelaram que o Sol está submetido a um notável fenômeno cíclico: a atividade magnética solar varia de maneira uniformemente periódica, usualmente descrita como "os ciclos de 11 anos". Este fenômeno periódico produz variações no número de manchas solares, que podem ser aferidas com a ajuda de um método desenvolvido em 1848, denominado de "o número de Wolf". Os ciclos de 11 anos produzem, também, importantes alterações no nível de irradiação eletromagnética da Terra, que acarretam mudanças climáticas em todo o planeta.

Seria fascinante afirmar que a decisão de conduzir estudos de coortes de recém-nascidos em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, a cada 11 anos foi baseada em um motivo especial, como o dos ciclos solares acima descritos. Mas a história é um pouco diferente, e bem mais terrena.

Em algum momento, durante a realização das primeiras visitas à coorte de nascimentos de Pelotas de 1982, planejamos iniciar um novo estudo de coorte de nascimentos. O objetivo central foi permitir a comparação das tendências temporais das características da população materno-infantil e dos principais indicadores de saúde, e pareceu-nos que um intervalo de uma década entre cada estudo perinatal era a opção mais interessante. Portanto, começamos a nos preparar para iniciar um novo estudo em 1992.

Entretanto, um atraso no processo de financiamento, solicitado à Comunidade Econômica Européia, retardou o início do trabalho de campo, que teve de ser transferido para 1993. E como o intervalo de tempo entre os dois estudos de coortes de nascimento terminou sendo de 11 anos, resolvemos então manter esta periodicidade, programando o estudo da próxima coorte para 2004. Desta vez, o financiamento não atrasou, e o novo estudo foi efetivamente realizado em 2004. Estava mantida, portanto, a tradição dos 11 anos.

A metodologia seguida nos acompanhamentos de 1993 foi bem diversa daquela de 1982, muito embora tenhamos mantido, dentro do possível, a mesma estrutura de questionários e das medidas antropométricas, a fim de possibilitar a comparação dos resultados. Enquanto em 1982 a primeira visita de acompanhamento foi realizada aos 12 meses de idade, com visitas subseqüentes com cerca de 20 e 43 meses, na coorte de 1993 decidimos concentrar maior atenção aos acontecimentos do primeiro ano de vida, realizando visitas domiciliares aos 3 e 6 meses de vida, além da visita aos 12 meses e, posteriormente, aos 48 meses.

A realização de um trabalho de campo tão intensivo foi possível porque em 1993 já tínhamos uma estrutura de pesquisa bem consolidada, com um novo Centro de Pesquisas Epidemiológicas, no qual já trabalhava um grupo crescente e entusiasta de novos pesquisadores, que aportaram novas idéias e hipóteses que foram agregadas ao novo projeto. O início de nosso programa de Pós-graduação em Epidemiologia, em 1991, permitiu a incorporação de diversos alunos de mestrado nas fases iniciais da nova coorte.

O presente fascículo temático conta uma parte desta história, com artigos que se referem à visita realizada aos 11 anos de idade (de novo o número...).

E para manter a tradição dos 11 anos, já estamos contando com toda a energia eletromagnética do mundo para iniciar uma nova coorte de nascimento em Pelotas em 2015.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br