EDITORIAL EDITORIAL
Prioridades da pesquisa em epidemiologia na região do Pantanal brasileiro
Rivaldo Venâncio da CunhaI; Marina Atanaka-SantosII
IFiocruz Cerrado Pantanal/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil. rivaldo_venancio@uol.com.br
IIInstituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil. marina.atanaka@gmail.com
O Pantanal brasileiro está localizado no centro da América do Sul, na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai. Sua área é de 150.355km2, considerada a maior planície alagável do mundo. Está situado ao sul de Mato Grosso e noroeste de Mato Grosso do Sul e, de acordo com o Censo de 2010, conta com mais de 400 mil habitantes e crescimento populacional de 9,3% na última década.
O Bioma do Pantanal apresenta uma diversidade biológica decorrente de múltiplas e complexas interações interdependentes. Somada à biodiversidade física há peculiaridades demográficas além dos pantaneiros, como os povos indígenas, populações de fronteira da Bolívia e Paraguai, de outros países latino-americanos que ali chegam em busca de oportunidades e turistas de todas as partes do mundo.
As interações entre pessoas e culturas, mediadas pelo ciclo hidrológico e econômico, delineiam situações específicas no modo de vida e saúde, criando oportunidades e necessidades de pesquisas em epidemiologia.
Nesse cenário, cabe destacar a carência de pesquisas que busquem conhecer a situação de saúde, a dinâmica de manutenção e possível ocorrência de agentes causadores de doenças decorrentes de contatos com ambientes que podem apresentar vulnerabilidades e abrigar reservatórios de doenças, especialmente aquelas transmitidas por vetores. Há necessidade de estudos visando a conhecer a receptividade local e o impacto da presença de aves migratórias oriundas de outras regiões do mundo, que podem ser portadoras de novos agentes infecciosos, como por exemplo, o vírus causador da Febre do Nilo Ocidental.
A baixa altitude da região, com média de 100m acima do mar, e o fato de estar circundada por terras com altitudes de 600 a 700 metros expõem a população pantaneira a contaminantes ambientais, como por exemplo, os agrotóxicos utilizados nas extensas plantações do agronegócio, cujas magnitude e impacto merecem ser estudados. Igualmente importante é a avaliação do impacto ambiental e seu potencial nocivo para a saúde humana, decorrente da implantação em larga escala da cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Se o agrotóxico emerge enquanto problema nas últimas décadas, persiste o risco de enfermidades por veiculação hídrica devido a água consumida pela população rural do pantanal que, diferentemente de outras populações rurais, convive com enchentes periódicas.
A região fronteiriça amplia as facilidades para a aquisição de drogas lícitas e ilícitas que representam novas e crescentes ameaças à saúde, especialmente da juventude pantaneira, exigindo estudos para melhor caracterizar o perfil destes usuários.
O Pantanal brasileiro, considerado Patrimônio Natural da Humanidade, sofre efeitos antropúrgicos como mudanças no processo produtivo, forma de ocupação do solo e intensificação do fluxo de pessoas que são potencializadas pelas permanências relacionadas à precariedade nas condições de vida, ofertas de saneamento e de serviços de saúde. Essa situação demanda pesquisas epidemiológicas que considerem as especificidades do bioma local. Temáticas como doenças emergentes e reemergentes, poluição ambiental, causas externas, modos de vida e condições de saúde da população pantaneira necessitarão estar estreitamente imbricadas com mudança climática e convivência global.