Sob o signo da criatividade e por iniciativa de Frederico Simões Barbosa e Luiz Fernando Ferreira, nascia em 1985 a revista Cadernos de Saúde Pública (CSP). Eram tempos de efervescência de ideias e projetos políticos essenciais à luta pela democracia e pela Reforma Sanitária no Brasil. A publicação de periódicos especializados fez parte do projeto de constituir a área de saúde coletiva, e a criação de CSP veio somar ao esforço de estabelecimento de pontes entre a academia e os serviços de saúde.
Desde o início, CSP tem se pautado pela busca de reunir qualidade acadêmica e promoção de debates sobre temas relevantes, com ênfase nas discussões sobre os desafios na implementação do SUS. Ao mesmo tempo, vem participando das mais valiosas iniciativas de editoria científica no país, aderindo na primeira hora à política de acesso aberto ao conhecimento. Na consulta às estatísticas da base SciELO, constata-se que CSP alcançou a marca de mais de 24 milhões de acessos (em 1o de março de 2014), o que significa tratar-se do periódico com mais artigos procurados em um universo de três centenas de revistas. Decisivo para este resultado foi a participação ativa de todas as equipes dedicadas à tão árdua tarefa nesses 30 anos e o apoio institucional da Ensp/Fiocruz, que tem CSP como uma de suas mais importantes realizações.
Uma característica de CSP é o convívio entre a forte profissionalização e a preservação do que poderíamos chamar de artesanato intelectual, conferindo à sua editoria um tom bastante pessoal. É interessante pensar nesse aspecto recorrendo a uma breve digressão. Os modelos clássicos de periódicos científicos datam do Século XVII, e se firmaram como alternativa à comunicação científica anterior veiculada por cartas entre sábios ou em atas e memórias de sociedades científicas. Desde suas origens, a linguagem dos periódicos foi caracterizada pela impessoalidade e constituiu uma das características da própria construção do cientista como categoria social. Ora, CSP não destoa desse modelo e pode-se mesmo afirmar que contribuiu para sua consolidação no Brasil. Contudo, seus leitores sempre foram brindados com o apuro estético e o toque pessoal de seus editores. Basta lembrar a busca pela afirmação nacional e internacional da revista e os instigantes editoriais do período de duas décadas em que Carlos Coimbra Jr. foi Editor. Isso sem falar nos calendários cuidadosamente por ele preparados, verdadeiros achados de pesquisa, reunindo conhecimentos e também sensibilidades que constituem a saúde coletiva. Desde 2013, com a editoria de Marilia Sá Carvalho, Claudia Travassos e Cláudia Medina Coeli, a qualidade e a criatividade permanecem como características do periódico e passamos a vê- lo em tom cor de rosa, referência às relações entre ciência e gênero, como acentuaram as editoras em dezembro do ano passado (vol.29, n.12). No balanço feito por elas destacam-se novidades como a Seção Perspectivas, pautada pelo confronto de visões sobre assuntos polêmicos. Ressalta-se também a busca por inovar na forma de divulgar conhecimentos, em um contexto marcado por desafiadoras tecnologias de comunicação. Mas o mais importante é ver um periódico que efetivamente se institucionalizou e por isto mesmo pode ser repensado e ganhar novas cores, o que só aumenta a nossa responsabilidade em apoiá- lo e contribuir para que CSP se aprimore como mosaico da interdisciplinaridade da saúde coletiva e no estabelecimento de vínculos criativos entre conhecimento científico, políticas de saúde e percepção pública sobre o papel da ciência.
Nísia Trindade Lima
Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
lima@fiocruz.br
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Mar 2014