TRABALHO EM EQUIPE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: FUNDAMENTOS HISTÓRICO-POLÍTICOS

Alciene Pereira da Silva Sobre o autor
2012

A atenção primária se caracteriza por um conjunto de ações - promoção e proteção à saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção - a serem desenvolvidas por meio de práticas realizadas por equipes que assumem a responsabilidade sanitária, tendo em conta a dinâmica territorial onde é implantada.

O livro Trabalho em Equipe na Atenção Primária à Saúde: Fundamentos Histórico-políticos, de autoria de Marcelo Dalla Vecchia, parte da ideia central de que a integralidade das ações coletivas em saúde no Brasil é fragilizada especialmente pela forma mercantilista e privatista do serviço médico, em detrimento dos princípios e diretrizes gerais do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa premissa é uma chave importante que é bem manejada pelo autor, e que vem auxiliar na compreensão do desempenho global do SUS no Brasil.

O autor aponta, nesse cenário, para a alocação inadequada de recursos humanos e financeiros e para o protagonismo desproporcional da atenção médico-hospitalar em detrimento do trabalho coletivo na Atenção Primária em Saúde, como entraves importantes para a consolidação, ampliação e melhoria no sistema público de saúde brasileiro.

A obra está dividida em duas partes. A primeira, discute a relevância estratégica da divisão social e técnica do trabalho em saúde coletiva, o papel da clínica anatomopatológica nos estudos sobre saúde e doença, bem como seus aspectos conceituais. Posteriormente analisa os aspectos históricos, institucional, político e econômico do SUS.

O autor parte de premissas marxianas para discutir o trabalho em saúde e seus desdobramentos, especialmente a questão da reprodução ideológica inscrita no âmbito dos profissionais da medicina, por um lado, e por outro a natureza transformadora da atividade humana no contexto produtivo, inclusive em relação aos serviços de saúde. Ao enfatizar a influência hospitalar na política do trabalho em saúde, Dalla Vecchia analisa a participação do médico na construção de hierarquias e estruturas de poder que impingem no sistema como um todo.

A segunda parte do trabalho enfoca o desenvolvimento das políticas públicas no Brasil no tempo, correlacionando aspectos histórico-políticos no contexto nacional com as condições de reprodução social da força de trabalho em saúde. O autor reitera, ainda, a contribuição dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada na construção do SUS e a consolidação da saúde como um direito social, indicando os movimentos pendulares que ora fragilizam ora reforçam a integralidade das ações em saúde, com referência a reformas políticas e aos modelos de atenção no âmbito do SUS.

Nesse sentido, o livro contextualiza a discussão da universalidade da atenção à saúde, procurando apresentar a dicotomia entre assistência médica individual e as ações coletivas, assinalando que a atenção primária e o reconhecimento da saúde como direito do cidadão e dever do Estado foram também produtos de uma crítica à inadequação da educação médica, levada a cabo no âmbito da reforma sanitária brasileira.

Dalla Vecchia propõe integrar a análise socioeconômica sobre as relações de classes e conflitos sociais às reiteradas discussões relativas à promoção da saúde, associando o processo de trabalho em atenção básica com qualidade de vida, saúde, equidade e democracia.

Ao optar por analisar o trabalho do profissional de saúde com base em uma abordagem marxiana, Dalla Vecchia inova, arejando a literatura especializada que em geral segue uma perspectiva funcionalista ou até mesmo meramente formalista, enumerando aspectos derivados de áreas contíguas, como gestão pública ou administração de negócios, subdimensionando o importante aspecto das relações de poder.

É uma obra recomendada para estudantes de graduação e pós-graduação e profissionais de saúde que tenham interesse na temática, ainda mais considerando a proposta do autor de focar a dimensão do trabalho em saúde baseando-se em um contraponto teórico-metodológico às perspectivas tradicionais.

O uso da categoria espaço na análise de situações de saúde não se limita à mera localização de eventos de saúde, isto porque o lugar confere a cada elemento constituinte do espaço um valor particular. As potencialidades e limites do uso do espaço nessas análises decorrem da diversidade de seus próprios conceitos e conteúdos, pois o espaço é, ao mesmo tempo, produto e produtor de diferenciações sociais e ambientais, processo que tem importantes reflexos sobre a saúde dos grupos sociais envolvidos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2016
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br