Associação entre insegurança alimentar e desenvolvimento infantil aos 18 meses do lactente na zona urbana de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

Association between food insecurity and infant development at age 18 months in the urban area of Pelotas, Rio Grande do Sul State, Brazil

Asociación entre inseguridad alimentaria y desarrollo infantil de lactantes de 18 meses en el área urbana de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

Caroline Nickel Ávila Jéssica Puchalski Trettim Bárbara Borges Rubin Carolina Coelho Scholl Fernanda Teixeira Coelho Mariana Bonati de Matos Janaína Vieira dos Santos Motta Ricardo Tavares Pinheiro Luciana de Avila Quevedo Sobre os autores

Resumo:

O objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre a insegurança alimentar domiciliar e o desenvolvimento infantil aos 18 meses na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Realizou-se estudo longitudinal com uma amostra de base populacional de 465 mães e lactentes. Os desenvolvimentos cognitivo, motor, socioemocional e de linguagem dos lactentes foram avaliados através da terceira edição da Escala Bayley do Desenvolvimento do Bebê e da Criança Pequena. A insegurança alimentar foi mensurada por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar que classifica os domicílios em segurança alimentar ou insegurança alimentar leve, moderada ou grave. Os resultados mostraram que, após análise ajustada, apenas os desenvolvimentos motor e socioemocional sofreram efeito da insegurança alimentar aos 18 meses. A cada aumento do nível de insegurança alimentar, o escore de desenvolvimento motor diminuiu, em média, 2,30 pontos (IC95%: -4,31; -0,48) aos 18 meses de idade. Similarmente, a cada aumento do nível de insegurança alimentar, o escore de desenvolvimento socioemocional decresceu, em média, 4,05 pontos (IC95%: -7,34; -0,76). Os resultados evidenciam, portanto, que a insegurança alimentar foi associada a menores desenvolvimentos motor e socioemocional aos 18 meses do lactente, enfatizando a importância do direito à alimentação adequada e da existência de ambientes que forneçam experiências estimulantes para o desenvolvimento infantil.

Palavras-chave:
Desenvolvimento Infantil; Segurança Alimentar e Nutricional; Insegurança Alimentar; Saúde Materno-Infantil

Abstract:

This study aimed to evaluate the association between household food insecurity and child development at age 18 months in the municipality of Pelotas, Rio Grande do Sul State, Brazil. This longitudinal study was carried out with a population-based sample of 465 mothers and infants from Pelotas. Infants’ cognitive, motor, socioemotional, and language developments were assessed by the Bayley Scales of Infant and Toddler Development, third edition. The Brazilian Food Insecurity Scale was used to define food safety/insecurity, which classifies households into four categories: food security or mild, moderate, or severe food insecurity. The results of the adjusted analysis showed that food insecurity only affected motor and socioemotional developments at age 18 months. Each increase in food insecurity score decreased that of motor development by 2.30 points on average (95%CI: -4.31; -0.48) at age 18 months. Similarly, each increase in food insecurity score decreased that of socioemotional development by 4.05 points on average (95%CI: -7.34; -0.76). Results show that food insecurity was associated with lower motor and socioemotional developments at age 18 months and stress the importance of the right to adequate food and to environments that provide stimulating experiences for child development.

Keywords:
Child Development; Food and Nutrition Security; Food Insecurity; Maternal and Child Health

Resumen:

El objetivo de este estudio fue evaluar la asociación entre la inseguridad alimentaria en el hogar y el desarrollo infantil a los 18 meses en la ciudad de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Este es un estudio longitudinal con una muestra poblacional de 465 madres y lactantes de la ciudad de Pelotas. Los desarrollos cognitivo, motor, socioemocional y del lenguaje de los lactantes se evaluaron mediante la tercera edición de la Escala Bayley de Desarrollo de Bebés y Niños. La inseguridad alimentaria se midió utilizando la Escala Brasileña de Inseguridad Alimentaria, que clasifica a los hogares en seguridad alimentaria o inseguridad alimentaria (leve, moderada o grave). Los resultados mostraron que, después de un análisis ajustado, solo los desarrollos motor y socioemocional sufrieron el efecto de la inseguridad alimentaria a los 18 meses. Cada aumento en el nivel de inseguridad alimentaria llevó a una disminución en la puntuación de desarrollo motor en un promedio de 2,30 puntos (IC95%: -4,31; -0,48) a los 18 meses de edad. Del mismo modo, cada aumento en el nivel de inseguridad alimentaria llevó a una disminución en la puntuación de desarrollo socioemocional en un promedio de 4,05 puntos (IC95%: -7,34; -0,76). Los resultados muestran que la inseguridad alimentaria se asoció con menores desarrollos motor y socioemocional a los 18 meses del lactante, lo que indica la importancia del derecho a una alimentación adecuada y la existencia de entornos que brinden experiencias estimulantes para el desarrollo infantil.

Palabras-clave:
Desarrollo Infantil; Seguridad Alimentaria y Nutricional; Inseguridad Alimentaria; Salud Materno-Infantil

Introdução

A insegurança alimentar é uma condição caracterizada por preocupação e angústia, por parte dos moradores do domicílio, diante da incerteza de dispor regularmente de alimentos nutricionalmente adequados e seguros para o consumo. Essa condição pode ser classificada em três níveis: leve, moderada e grave. Considera-se insegurança alimentar leve quando há preocupação quanto à adequação do abastecimento alimentar doméstico, havendo redução da qualidade dos alimentos, aumento dos padrões de adaptação alimentar e pouca ou nenhuma redução na ingestão de alimentos. O nível moderado caracteriza-se pela redução da ingestão alimentar, principalmente entre os adultos, podendo atingir também as crianças em algumas famílias. Já o nível grave é definido pela redução do consumo alimentar por todos os membros da família, inclusive as crianças. Nessa última, pode decorrer uma subalimentação devido à real escassez de alimentos 11. Bickel G, Nord M, Price C, Hamilton W, Cook J. Measuring food security in the United States: guide to measuring household food security. Alexandria: Office of Analysis, Nutrition, and Evaluation, U.S. Department of Agriculture; 2000.,22. Segall-Corrêa AM, Pérez-Escamilla R, Maranha LK, Sampaio MFA. (In)Segurança alimentar no Brasil: validação de metodologia para acompanhamento e avaliação. Relatório técnico. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2004..

Considerada um problema persistente no cenário brasileiro, a insegurança alimentar voltou a aumentar a partir de 2015 após anos de diminuição, quando o país saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) ao apresentar menos de 5% da população em situação de subalimentação 33. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The state of food insecurity in the world. Roma: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2014.. Esse aumento nos últimos anos pode ser atribuído à crise político-econômica iniciada em 2015, aos desmontes das políticas de segurança alimentar e nutricional, e à pandemia que se instalou em 2020, agravando ainda mais a situação de insegurança alimentar e suas consequências para a população 44. Brito FRSS, Baptista TWF. Sentidos e usos da fome no debate político brasileiro: recorrência e atualidade. Cad Saúde Pública 2021; 37:e00308220..

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre os anos de 2017 e 2018, revelou-se que 36,7% dos domicílios - o equivalente a 25,3 milhões - apresentavam algum grau de insegurança alimentar 55. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: perfil das despesas no Brasil - indicadores selecionados de alimentação, transporte, lazer e inclusão financeira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2021.. Mais recentemente, o segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil66. Rede PENSSAN. II VIGISAN - Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil. Insegurança alimentar nos estados, suplemento I. São Paulo: Rede PENSSAN; 2022. mostrou que mais da metade da população brasileira vivia nessa condição, sendo que 30,7% compreendiam os níveis moderado a grave. Ainda, quase um terço dos domicílios brasileiros com crianças menores de cinco anos de idade está nessa condição 77. Chapanski VR, Costa MD, Fraiz GM, Höfelmann DA, Fraiz FC. Insegurança alimentar e fatores sociodemográficos em crianças de São José dos Pinhais, Paraná, 2017: estudo transversal. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30:e2021032.,88. Stavski M, Monteiro F, Retondario A. Insegurança alimentar em crianças que frequentam creches públicas em Ponta Grossa, PR. Segur Aliment Nutr 2022; 29:e022003..

A insegurança alimentar pode causar prejuízos no desenvolvimento infantil por meio de vários mecanismos. Atrasos no desenvolvimento global e na dimensão socioemocional são observados na literatura 99. Weigel MM, Armijos RX. Association of household food insecurity with developmental delay in preschool children: 2018 Ecuadorian Nutrition and Health National Survey. J Nutr Sci 2023; 12:e89.. Crianças nessa condição podem se tornar menos ativas, mais distraídas e irritadas, reduzindo o nível de interações estimulantes com seus cuidadores e comprometendo seu desenvolvimento 1010. Milner EM, Fiorella KJ, Mattah BJ, Bukusi E, Fernald LCH. Timing, intensity, and duration of household food insecurity are associated with early childhood development in Kenya. Matern Child Nutr 2018; 14:e12543.,1111. Tanner EM, Finn-Stevenson M. Nutrition and brain development: social policy implications. Am J Orthopsychiatry 2002; 72:182-93.. Além disso, uma situação persistente de insegurança alimentar pode resultar em níveis mais baixos de diferentes habilidades cognitivas e emocionais. Entretanto, prejuízos já são observados uma vez que a criança tenha vivenciado a condição 1212. Aurino E, Wolf S, Tsinigo E. Household food insecurity and early childhood development: longitudinal evidence from Ghana. PLoS One 2020; 15:e0230965..

As crianças com insegurança alimentar são mais propensas a ter dietas de baixa qualidade que podem levar a deficiências de vitaminas e minerais essenciais. Tais deficiências caracterizam o que chamamos de “fome oculta”, isto é, o indivíduo tem acesso a alimentos com quantidade suficiente de calorias, mas escassos em micronutrientes essenciais, como vitaminas e minerais. A fome oculta não se manifesta de forma visível, como os sintomas da fome clássica, dificultando sua detecção precoce e podendo levar a comprometimentos significativos no funcionamento cerebral e nas capacidades cognitivas e motoras a longo prazo 1313. Muniz HKM, Andrade MLSS, Marques LG, Silva AC, Oliveira HMNS, Diniz MLP, et al. Os fatores que potencializam o erro alimentar e as suas consequências na qualidade de vida das crianças. Revista Eletrônica Acervo Saúde 2023; 23:e11472.,1414. Black RE, Victora CG, Walker SP, Bhutta ZA, Christian P, de Onis M, et al. Maternal and child undernutrition and overweight in low-income and middle-income countries. Lancet 2013; 382:427-51.,1515. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Situação Mundial da Infância 2019. Crianças, alimentação e nutrição: crescendo bem em um mundo em mudança. Brasília: Fundo das Nações Unidas para a Infância; 2019.. A literatura tem demonstrado que o consumo calórico adequado e o gasto energético basal estão diretamente associados ao desempenho cognitivo e motor, sendo fundamentais para a manutenção das funções cerebrais e para a plasticidade neuronal 1616. Georgieff MK, Ramel SE, Wewerka SW. Nutrition and neurodevelopment in the preterm infant: a review. Pediatr Res 2020; 87:194-201.,1717. Nyaradi A, Foster JK, Hickling S, Li J, Ambrosini GL, Jacques A, et al. Prospective associations between dietary patterns and cognitive performance during adolescence. J Child Psychol Psychiatry 2021; 62:509-19..

O desenvolvimento infantil é um processo que se inicia na vida intrauterina e envolve aspectos como o crescimento físico, a maturação neurológica e as aquisições de habilidades relacionadas ao comportamento e às esferas cognitiva, motora, afetiva e social. O período compreendido pelos primeiros mil dias de vida de um lactente - 270 dias referentes à gestação e 730 dias relacionados aos primeiros 24 meses de idade - é consagrado como uma fase primordial para o desenvolvimento e o crescimento infantil em níveis adequados 1818. Abanto J, Duarte D, Feres M. Primeiros mil dias do bebê na saúde bucal. Nova Odessa: Editora Napoleão; 2019.. Esse período constitui uma janela de oportunidades que podem impactar na qualidade de vida do lactente, em prejuízos no estado de saúde/doença ao longo da vida e no desenvolvimento infantil em curto prazo 1919. Mozetic RM, Silva SDC, Ganen AP. A importância da nutrição nos primeiros mil dias. Revista Eletrônica Acervo Saúde 2016; 8:876-84.. A partir disso, os primeiros anos de vida são marcados pela importante formação e aceleração do desenvolvimento dessas habilidades 2020. Papalia DE, Martorell G. Desenvolvimento humano. 14ª Ed. Porto Alegre: Artmed; 2021., que visam torná-lo competente para responder às suas necessidades e às necessidades do meio em que vive 2121. Miranda LP, Resegue R, Figueiras AC. Children and adolescents with developmental disabilities in the pediatric outpatient clinic. J Pediatr (Rio J.) 2003; 79:33-42..

Nesse contexto, a literatura evidencia diversos estudos que avaliam as habilidades acadêmicas de crianças e adolescentes em fases pré-escolar e escolar, não considerando os primeiros mil dias de vida e nem a gravidade da insegurança alimentar. Além disso, a maioria dos estudos foram realizados em países com contextos socioculturais diferentes do Brasil 2222. Oliveira KHD, Almeida GM, Gubert MB, Moura AS, Spaniol AM, Hernandez DC, et al. Household food insecurity and early childhood development: systematic review and meta-analysis. Matern Child Nutr 2020; 16:e12967.,2323. Gallegos D, Eivers A, Sondergeld P, Pattinson C. Food insecurity and child development: a state-of-the-art review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:8990.. Dessa forma, considerando a importância dos primeiros mil dias de vida para o crescimento e o desenvolvimento do lactente, este estudo pretende preencher essa lacuna, avaliando a associação entre a presença de insegurança alimentar domiciliar e o desenvolvimento infantil do lactente aos 18 meses na cidade de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul.

Métodos

Trata-se de um estudo longitudinal aninhado a um estudo de coorte intitulado Transtornos Neuropsiquiátricos Maternos no Ciclo Gravídico-Puerperal: Detecção e Intervenção Precoce e suas Consequências na Tríade Familiar, composto por sete fases de avaliação 2424. Pinheiro RT, Souza LDM, Trettim JP, Matos MB, Pinheiro KAT, Cunha GK, et al. Antenatal depression: efficacy of a pre-post therapy study and repercussions in motor development of children during the first 18 months postpartum. Study: "Pregnancy care, healthy baby". J Psychiatr Res 2022; 148:63-72..

O processo de amostragem foi realizado em múltiplos estágios, tendo sido selecionados, de forma sistemática, 50% dos setores censitários da zona urbana de Pelotas, delimitados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Primeiro, foram listados os 488 setores censitários da zona urbana, de acordo com a malha do Censo Demográfico de 2010, para posterior sorteio de 244 setores. Entre os anos de 2016 e 2018, cada setor sorteado recebeu a visita de um entrevistador treinado para a listagem de todos os domicílios com gestantes de até 24 semanas. Foram identificadas 1.073 gestantes nos primeiros dois trimestres de gravidez, no qual 983 participaram da primeira avaliação. Entre os anos de 2018 e 2020, aos 18 meses do lactente, todas as mães e seus filhos que participaram da primeira fase de avaliação foram contatadas e convidadas a participar da quarta fase. Mulheres com deficiência visual e aquelas que apresentavam alguma incapacidade de compreender e/ou responder o questionário foram excluídas da amostra.

A amostra deste estudo foi composta por 465 mães e seus respectivos filhos que participaram da quarta fase de avaliação (18 meses pós-parto) e que eram residentes na zona urbana da cidade de Pelotas. Esse município fica no extremo sul do Brasil, o qual tem uma população estimada de 325.685 habitantes, sendo o quarto mais populoso do estado 2525. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2022: população e domicílios - primeiros resultados. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2023.. De acordo com o último Censo Demográfico, Pelotas contém mais de 6.700 crianças com idades entre 1 e 2 anos residindo nas zonas urbana e rural 2525. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2022: população e domicílios - primeiros resultados. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2023.. A partir disso, nossa amostra representa 6,9% dessas crianças.

Para avaliar o desenvolvimento dos lactentes aos 18 meses de vida foi utilizada a terceira edição da Escala Bayley do Desenvolvimento do Bebê e da Criança Pequena (Bayley Scales of Infant and Toddler Development, Third Edition - Bayley-III), em sua versão traduzida para o Brasil 2626. Bayley N. Bayley Escalas do Desenvolvimento do Bebê e da Criança Pequena. 3ª Ed. São Paulo: Pearson; 2018.. Trata-se de uma escala administrada individualmente que avalia os cinco principais domínios de desenvolvimento em crianças entre 16 dias e 42 meses de idade. É dividida em: cognição, linguagem (receptiva e expressiva), motricidade (grossa e fina), socioemocional e comportamento adaptativo. Os três primeiros domínios são avaliados por meio da observação durante a aplicação dos itens com a criança, e os dois últimos são avaliados por meio de questionários respondidos pelos pais ou cuidadores. Para este estudo, foram utilizados os domínios cognitivo, motor, de linguagem e socioemocional. Todas as escalas foram administradas por profissionais da saúde devidamente treinados na aplicação do instrumento. Cada dimensão apresenta um escore bruto que é transformado em escore composto, de acordo com a idade da criança e ajustado para prematuridade. A partir dos escores compostos, é possível determinar uma classificação em percentil. Entretanto, uma vez que as tabelas normativas são baseadas em uma amostra norte-americana e considerando que tal classificação não tem validação para a população brasileira, para este estudo, foi utilizado o escore composto tratado como contínuo para a realização das análises. Os escores compostos das escalas variam de 40 a 160 pontos. Para a interpretação dos resultados, quanto maior o escore, melhor o desenvolvimento infantil.

Para mensurar a insegurança alimentar, foi utilizada a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Ela é composta por 14 itens sobre a experiência vivenciada pela família com relação à suficiência alimentar nos últimos três meses que antecederam a entrevista, sendo oito destinados a famílias sem indivíduos menores de 18 anos e um adicional de seis itens para famílias que contêm pelo menos um indivíduo menor de 18 anos residente no domicílio. As perguntas têm duas alternativas (não e sim), em que cada resposta afirmativa representa um ponto. A pontuação final da escala é resultante da somatória dos pontos, sendo classificada em segurança alimentar (0 pontos), insegurança alimentar leve (1-5 pontos em famílias com menores de 18 anos ou 1-3 em famílias sem indivíduos menores), insegurança alimentar moderada (6-10 pontos nas famílias com menores de 18 anos ou 4-6 nas famílias sem indivíduos menores) e insegurança alimentar grave (11-14 pontos nas famílias com menores de 18 anos ou 7-8 nas famílias sem indivíduos menores) 11. Bickel G, Nord M, Price C, Hamilton W, Cook J. Measuring food security in the United States: guide to measuring household food security. Alexandria: Office of Analysis, Nutrition, and Evaluation, U.S. Department of Agriculture; 2000.,22. Segall-Corrêa AM, Pérez-Escamilla R, Maranha LK, Sampaio MFA. (In)Segurança alimentar no Brasil: validação de metodologia para acompanhamento e avaliação. Relatório técnico. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2004.. Para fim das análises deste estudo, as categorias de insegurança alimentar moderada e grave foram agrupadas em uma só categoria.

As seguintes variáveis independentes foram consideradas no presente estudo para fins de controle de confundidores: idade materna em anos (≤ 26, 27-32, ≥ 33); escolaridade materna em anos (≤ 8, ≥ 9); sexo do lactente (masculino, feminino); cor da pele do lactente (branca, preta, parda); prematuridade < 37 semanas (não, sim); baixo peso ao nascer < 2.500g (não, sim); intercorrências no nascimento (não, sim); lactente frequenta creche (não, sim); pai biológico vive no domicílio (não, sim); tempo de amamentação em meses (menor que 12, 12 ou mais) e insegurança alimentar na gestação (segurança alimentar, insegurança alimentar leve, insegurança alimentar moderada e grave).

As análises estatísticas foram realizadas no programa IBM SPSS 26.0 (https://www.ibm.com/). Para a análise descritiva foram apresentadas as frequências absolutas e relativas. Nas análises bivariadas, foi utilizado análise de variância (ANOVA) com post hoc de Bonferroni para comparar as médias dos escores de desenvolvimento infantil e as diferentes categorias de insegurança alimentar. Os pressupostos da ANOVA foram testados pelo teste de Levene que revelou homocedasticidade dos dados (p > 0,05). No ajuste de possíveis fatores de confusão, foi utilizada a regressão linear com cinco níveis hierárquicos de ajuste (nível 1 - características maternas; nível 2 - características do nascimento do lactente; nível 3 - variáveis lactente frequenta creche e pai biológico vive no domicílio; nível 4 - tempo de amamentação; e nível 5 - insegurança alimentar na gestação). Em todas as análises, assumiu-se um nível de significância de 5% e um poder de 80%.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel; parecer nº 47807915.4.0000.5339) e todas as mães consentiram a sua participação e a do lactente através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Todos os participantes identificados com insegurança alimentar (moderada e grave) foram encaminhados ao Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) mais próximo de sua residência e todos os lactentes identificados com baixo escore de desenvolvimento infantil foram encaminhados para o ambulatório de pediatria da UCPel.

Resultados

A amostra foi composta por 465 mães e seus filhos aos 18 meses pós-parto. A maioria das mulheres tinha entre 27 e 32 anos de idade (34,6%) e nove anos ou mais de escolaridade (75%). Com relação aos lactentes, a maioria era do sexo feminino (51,6%) e de cor da pele branca (72,5%), 54 (13,4%) nasceram prematuros, 38 (9,4%) nasceram com baixo peso e 47 (11,5%) tiveram algum tipo de intercorrência no nascimento. A maioria dos lactentes não frequentava creche (66,9%), vivia com o pai biológico no domicílio (81,7%) e foi amamentado por 12 meses ou mais (61,1%) (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização da amostra segundo as variáveis de características de mães e lactentes aos 18 meses de idade na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2016-2020.

Quanto à segurança alimentar, 38 (8,2%) lactentes estavam em situação de insegurança alimentar moderada/grave aos 18 meses. A média do desenvolvimento cognitivo dos lactentes foi de 96,1 pontos (desvio padrão - DP: 14,1), do desenvolvimento motor foi de 99,4 pontos (DP: 11,0), da linguagem foi 95,7 pontos (DP: 15,4) e a do desenvolvimento socioemocional foi de 100,4 pontos (DP: 19,8).

A Figura 1 apresenta as médias (M) de desenvolvimento infantil de acordo com as categorias de segurança alimentar. Com relação ao desenvolvimento cognitivo, lactentes com insegurança alimentar moderada/grave tiveram pior desempenho (M = 90,4; DP: 11,6) em comparação aos lactentes com segurança alimentar (M = 96,9; DP: 14,6; p = 0,021). Quanto ao desenvolvimento motor, lactentes com insegurança alimentar moderada/grave também tiveram pior desempenho (M = 95,1; DP: 11,5) do que lactentes com segurança alimentar (M = 99,9; DP: 10,6; p = 0,029). Da mesma forma, lactentes com insegurança alimentar moderada/grave tiveram pior desempenho no desenvolvimento da linguagem (M = 89,5; DP: 11,9) em comparação aos lactentes com segurança alimentar (M = 96,3; DP: 16,0; p = 0,028). Considerando o desenvolvimento socioemocional, lactentes com insegurança alimentar leve tiveram pior desempenho (M = 95,5; DP: 17,5) quando comparados aos lactentes com segurança alimentar (M = 102,5; DP: 19,7; p = 0,005).

Figura 1
Médias do desenvolvimento infantil aos 18 meses de acordo com a presença de insegurança alimentar no mesmo período.

Após a análise ajustada, apenas os desenvolvimentos motor e socioemocional sofreram efeito da insegurança alimentar aos 18 meses. A cada aumento do nível de insegurança alimentar, o escore de desenvolvimento motor diminuiu, em média, 2,30 pontos (intervalo de 95% de confiança - IC95%: -4,13; -0,48) aos 18 meses de idade. Similarmente, a cada aumento do nível de insegurança alimentar, o escore de desenvolvimento socioemocional decresceu, em média, 4,05 pontos (IC95%: -7,34; -0,76) (Tabela 2).

Tabela 2
Regressão linear ajustada dos escores de desenvolvimento infantil de acordo com a insegurança alimentar de lactentes aos 18 meses de idade na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2016-2020.

Discussão

Este estudo fornece dados sobre os desenvolvimentos cognitivo, motor, de linguagem e socioemocional de lactentes aos 18 meses de vida e sua relação com a condição de insegurança alimentar. Os resultados aqui apresentados sugerem que a insegurança alimentar pode produzir efeitos adversos sobre os desenvolvimentos motor e socioemocional dos lactentes nessa idade.

O contexto de insegurança alimentar tem papel importante no desenvolvimento infantil. A relação entre a presença de insegurança alimentar e a diminuição do escore do desenvolvimento motor dos lactentes foi evidenciada por este estudo. Tal achado é consistente com pesquisas que demonstram os efeitos negativos da insegurança alimentar e da fome oculta no desenvolvimento motor infantil 1515. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Situação Mundial da Infância 2019. Crianças, alimentação e nutrição: crescendo bem em um mundo em mudança. Brasília: Fundo das Nações Unidas para a Infância; 2019.,2727. Weffort VRS, Lamounier JA. Hidden hunger - a narrative review. J Pediatr (Rio J.) 2024; 100 Suppl 1:S10-7.. Milner et al. 1010. Milner EM, Fiorella KJ, Mattah BJ, Bukusi E, Fernald LCH. Timing, intensity, and duration of household food insecurity are associated with early childhood development in Kenya. Matern Child Nutr 2018; 14:e12543. revelaram que crianças com insegurança alimentar são mais propensas a apresentar atrasos no alcance de marcos motores importantes, como ficar em pé, caminhar e equilibrar-se. A falta de nutrientes essenciais prejudica o desenvolvimento adequado dos músculos e do sistema nervoso, cruciais para o desenvolvimento motor 1414. Black RE, Victora CG, Walker SP, Bhutta ZA, Christian P, de Onis M, et al. Maternal and child undernutrition and overweight in low-income and middle-income countries. Lancet 2013; 382:427-51..

De forma similar, foi encontrada associação entre a insegurança alimentar e o desenvolvimento socioemocional do lactente. Esse achado é consistente com pesquisas recentes, incluindo uma revisão que evidencia uma relação direta entre a falta de acesso regular a alimentos nutritivos e o impacto adverso no bem-estar emocional e comportamental de crianças e adolescentes, sugerindo que a insegurança alimentar pode ter efeitos duradouros no desenvolvimento socioemocional, afetando a capacidade das crianças de formar relacionamentos saudáveis e a sua autoestima 2323. Gallegos D, Eivers A, Sondergeld P, Pattinson C. Food insecurity and child development: a state-of-the-art review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:8990.. Nesse sentido, a condição de insegurança alimentar está fortemente associada a desafios psicossociais 2828. Myers CA. Food insecurity and psychological distress: a review of the recent literature. Curr Nutr Rep 2020; 9:107-18., como o estresse familiar devido à condição de restrição alimentar, e pode levar à redução do nível de interações estimulantes dos lactentes com seus cuidadores, comprometendo seu desenvolvimento socioemocional 1010. Milner EM, Fiorella KJ, Mattah BJ, Bukusi E, Fernald LCH. Timing, intensity, and duration of household food insecurity are associated with early childhood development in Kenya. Matern Child Nutr 2018; 14:e12543.,1111. Tanner EM, Finn-Stevenson M. Nutrition and brain development: social policy implications. Am J Orthopsychiatry 2002; 72:182-93.. Esses resultados sublinham a importância de abordagens integradas que não apenas garantam o acesso adequado a alimentos, mas também promovam um ambiente emocionalmente seguro para o desenvolvimento saudável dos lactentes.

A insegurança alimentar influencia a saúde e o desenvolvimento por meio dos seus efeitos na nutrição e como componente do estresse familiar geral, contribuindo para um ambiente disfuncional físico e psicoemocional que representa um risco para o desenvolvimento ideal do lactente. É possível, portanto, que a associação entre insegurança alimentar e os desenvolvimentos motor e socioemocional dos lactentes aos 18 meses esteja relacionada ao tempo de exposição da família à condição de insegurança alimentar. Ou seja, é possível que a insegurança alimentar exponha efeitos mais imediatos nos desenvolvimentos motor e socioemocional em comparação aos desenvolvimentos cognitivo e de linguagem, que podem demandar mais tempo de exposição à insegurança alimentar para expor algum tipo de associação. Nessa perspectiva, a insegurança alimentar está associada ao desenvolvimento infantil não apenas por fatores nutricionais, mas também por questões psicoemocionais que afetam a unidade familiar como um todo 2929. Perez-Escamilla R, Vianna RPT. Food insecurity and the behavioral and intelectual development of children: a review of the evidence. J Appl Res Child 2012; 3:9..

Nos primeiros cinco anos de vida ocorrem mudanças marcantes nos hábitos alimentares e nos desenvolvimentos cognitivo, linguístico, social e emocional, caracterizando-se como de maior vulnerabilidade biológica. Por isso, é prioritário garantir a esse grupo etário o acesso regular e permanente à alimentação, pois experimentar restrição alimentar quantitativa importante, ou episódios que configuram situação de fome durante esse período, reflete negativamente no desenvolvimento neuropsicomotor dos futuros cidadãos do país 3030. Poblacion AP, Marín-León L, Segall-Corrêa AM, Silveira JA, Taddei JAAC. Insegurança alimentar em domicílios brasileiros com crianças menores de cinco anos. Cad Saúde Pública 2014; 30:1067-78..

Neste estudo, não foi encontrada associação entre insegurança alimentar e desenvolvimento cognitivo e de linguagem infantil. É importante ressaltar que a associação entre essas variáveis não é uma conclusão universal entre os estudos disponíveis na literatura 2222. Oliveira KHD, Almeida GM, Gubert MB, Moura AS, Spaniol AM, Hernandez DC, et al. Household food insecurity and early childhood development: systematic review and meta-analysis. Matern Child Nutr 2020; 16:e12967.,2323. Gallegos D, Eivers A, Sondergeld P, Pattinson C. Food insecurity and child development: a state-of-the-art review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:8990.. Estudos utilizam diferentes metodologias e escalas para medir tanto a insegurança alimentar quanto os desenvolvimentos cognitivo e de linguagem. Essa variação pode levar a resultados inconsistentes entre os estudos, dependendo de como as variáveis são definidas e medidas. Além disso, a gravidade e a duração da insegurança alimentar podem variar significativamente entre os estudos e dentro das populações estudadas. Isso pode influenciar a magnitude dos efeitos observados nos desenvolvimentos cognitivo e de linguagem dos lactentes, podendo ser mais sutis ou só se tornarem aparentes ao longo do tempo. Ainda, as populações estudadas variam em termos de composição demográfica, contexto socioeconômico e cultural. Essas diferenças podem influenciar como a insegurança alimentar afeta os desenvolvimentos cognitivo e de linguagem 2222. Oliveira KHD, Almeida GM, Gubert MB, Moura AS, Spaniol AM, Hernandez DC, et al. Household food insecurity and early childhood development: systematic review and meta-analysis. Matern Child Nutr 2020; 16:e12967.,2323. Gallegos D, Eivers A, Sondergeld P, Pattinson C. Food insecurity and child development: a state-of-the-art review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:8990..

Este estudo apresenta algumas limitações; entre estas, destaca-se a perda de acompanhamento ocorrida devido à pandemia de COVID-19, resultando em uma amostra menor do que a estimada. Vale ressaltar ainda que, uma vez que a amostra deste estudo compreende apenas mães e seus filhos residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, não há representatividade amostral da população geral do município. Além disso, apesar de ser de um estudo longitudinal com variáveis coletadas em outras fases do acompanhamento, a associação entre a insegurança alimentar e o desenvolvimento infantil é transversal, impossibilitando a relação temporal, uma vez que existe a possibilidade de causalidade reversa para as associações entre essas variáveis. E pode haver, ainda, viés de memória relacionado às questões sobre insegurança alimentar, visto que se referem aos últimos três meses que antecederam a entrevista. Por fim, não foram coletadas informações sobre aleitamento materno exclusivo.

Contudo, a realização deste estudo salienta aspectos positivos. Destaca-se o fato de ser um estudo de base populacional, que acompanha mães e filhos desde a gestação. Além disso, para avaliar o desenvolvimento infantil, foi utilizada a Bayley-III, em sua versão traduzida para o Brasil, garantindo a possibilidade de comparabilidade de aplicação em outros países. A avaliação do desenvolvimento dos lactentes foi realizada por profissionais de saúde, discentes de um programa de pós-graduação previamente treinados, e permitiu a identificação precoce de problemas e atrasos no desenvolvimento, possibilitando, após a avaliação, orientações de estímulos adequados a fim de evitar prejuízos futuros no desenvolvimento. Da mesma forma, a EBIA é considerada um método direto de medir a condição domiciliar de insegurança alimentar e foi proposta e validada para sua utilização no Brasil por Segall-Corrêa et al. 22. Segall-Corrêa AM, Pérez-Escamilla R, Maranha LK, Sampaio MFA. (In)Segurança alimentar no Brasil: validação de metodologia para acompanhamento e avaliação. Relatório técnico. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2004. por meio da adaptação da escala do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos 11. Bickel G, Nord M, Price C, Hamilton W, Cook J. Measuring food security in the United States: guide to measuring household food security. Alexandria: Office of Analysis, Nutrition, and Evaluation, U.S. Department of Agriculture; 2000., o que também garante a possibilidade em comparabilidade.

De maneira geral, os resultados deste estudo apontam importantes efeitos produzidos pela associação entre a insegurança alimentar e os desenvolvimentos motor e socioemocional dos lactentes aos 18 meses de idade. Abordar essa questão por meio de políticas públicas e intervenções específicas é crucial para garantir o desenvolvimento saudável e o bem-estar dos lactentes. Em vista disso, para a efetivação do adequado desenvolvimento infantil e da segurança alimentar e nutricional deve-se considerar o direito à alimentação de qualidade em quantidades suficientes por meio do aprimoramento de políticas públicas de alimentação e nutrição. Além disso, a realização do direito da educação infantil irá propiciar a existência de ambientes sociais que forneçam diferentes e enriquecedoras experiências estimulantes para que o desenvolvimento infantil adequado se torne uma realidade para todos os lactentes. Por fim, a realização de novos estudos é encorajada para melhor compreensão dos mecanismos pelos quais a insegurança alimentar afeta o desenvolvimento infantil e para identificar estratégias eficazes de mitigação.

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação Bill & Melinda Gates, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela possibilidade de desenvolver o projeto e pelo financiamento.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Fev 2025
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    14 Nov 2023
  • Revisado
    15 Ago 2024
  • Aceito
    27 Ago 2024
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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