O sistema “fazer ciência” refere-se ao conjunto de processos, instituições, práticas e atores envolvidos na produção, na validação e na disseminação do conhecimento científico. Ele abrange desde a formulação de perguntas de pesquisa até a aplicação dos resultados na sociedade. A divulgação científica é cada vez mais reconhecida como componente essencial desse sistema.

Em parte, essa valorização se deve à chamada “infodemia”, acentuada durante a pandemia de COVID-19, mesmo em ambientes dedicados à comunicação científica. Nesse contexto, o excesso de informação se torna ruído, gerando descrédito para a ciência e os cientistas, com efeitos deletérios para a saúde da população.

A queda nas coberturas vacinais, por exemplo, já foi identificada como uma das dez questões a serem enfrentadas no âmbito da saúde global em 2019 ¹1. World Health Organization. Ten threats to global health in 2019. https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019 (accessed on 02/Feb/2024).
https://www.who.int/news-room/spotlight/... . Essa queda foi gerada e intensificada por movimentos ativamente antivacina, que incentivam os receios sobre segurança e eficácia, e criam uma falsa contradição entre liberdade individual e bem coletivo ²2. Carvalho EM, Santos Junior MA, Neves LFF, Oliveira TM, Massarani L, Carvalho MS. Vacinas e redes sociais: o debate em torno das vacinas no Instagram e Facebook durante a pandemia de COVID-19 (2020-2021). Cad Saúde Pública 2022; 38:e00054722.. A pandemia destacou a urgência de fortalecer a comunicação pública da ciência, visando tornar acessiveis os resultados de pesquisas, especialmente diante de movimentos anticiência ³3. Camargo Jr. K, Grant R. Public health, science, and policy debate: being right is not enough. Am J Public Health 2015; 105:232-5..

Os periódicos têm papel fundamental na comunicação da ciência produzida. Aqui não estamos falando de periódicos predatórios, que na verdade publicam qualquer coisa, basta pagar. A revisão por pares ainda é o melhor mecanismo de avaliação, mesmo considerando suas limitações ⁴4. Carneiro CFD, Queiroz VGS, Moulin TC, Carvalho CAM, Haas CB, Rayêe D, et al. Comparing quality of reporting between preprints and peer-reviewed articles in the biomedical literature. Res Integr Peer Rev 2020; 5:16.^,55. Carvalho MS, Travassos C, Coeli CM. Valorizando a revisão por pares. Cad Saúde Pública 2014; 30:2485-6.. A partir desse capital é que se estabelece o potencial de divulgação científica dos periódicos, base da proposta de CSP.

Com isso, CSP se alinha à Política de Divulgação Científica da Fundação Oswaldo Cruz ⁶6. Fundação Oswaldo Cruz. Política de divulgação científica da Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2021., que ressalta a importância do compartilhamento do conhecimento científico e de sua incorporação pela sociedade, que por definição deve ter o direito de acesso a tal conhecimento. Essa política vai ao encontro das práticas de ciência aberta. Ambas compartilham o objetivo de democratizar o conhecimento e ampliar o acesso à informação. Enquanto o acesso aberto ao conhecimento se preocupa em garantir infraestrutura e difundir os valores do acesso livre ⁷7. Budapest Open Access Initiative. The Budapest Open Access Initiative: 20th anniversary recommendations. https://www.budapestopenaccessinitiative.org/boai20/ (accessed on 02/Feb/2024).
https://www.budapestopenaccessinitiative... , a divulgação científica se encarrega de comunicar e traduzir esse conhecimento, contribuindo para uma sociedade mais informada e engajada. Juntas, elas reforçam o papel da ciência como bem público não comercial, princípio que orienta a política editorial de CSP.

Em 2018, CSP assumiu o compromisso de ampliar a divulgação de seus artigos, investindo em diferentes frentes de comunicação científica: redes sociais, contato com a imprensa e produção audiovisual ⁸8. Mansur V, Guimarães C, Carvalho MS, Lima LD, Coeli CM. From academic publication to science dissemination. Cad Saúde Pública 2021; 37:e00140821.. Ao final de 2024, a revista está presente no Facebook, Instagram e X (antigo Twitter). No entanto, os algoritmos dessas plataformas tendem a criar bolhas de conteúdo, baseadas em curtidas e compartilhamentos, dificultando a ampliação do alcance para além dos “pares” ⁹9. Chagas C, Massarani L. Manual de sobrevivência para divulgar ciência e saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2020.. Além disso, CSP decidiu se afastar do X, devido aos ataques de seu proprietário contra o Estado Democrático de Direito brasileiro ¹⁰10. Elon Musk, dono do X, ataca Alexandre de Moraes e ameaça reativar contas bloqueadas pela Justiça. G1 2024; 7 apr. https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/04/07/elon-musk-dono-do-x-ataca-alexandre-de-moraes-e-ameaca-reativar-contas-bloqueadas-pela-justica.ghtml.
https://g1.globo.com/politica/noticia/20... .

Com a pandemia de COVID-19, os esforços de divulgação foram intensificados e o programa Entrevista com Autores foi criado, com o objetivo de disseminar rapidamente a ciência publicada em regime de fast-track. O programa, disponível no YouTube e em diversas plataformas de áudio, apresenta entrevistas mensais com autores de artigos selecionados pela Editoria. Até o mês de novembro, o podcast contava com mais de 4 mil plays e ultrapassava 20 mil visualizações no YouTube.

CSP conta ainda com três grandes parceiros jornalísticos: a Agência Bori, serviço que apoia a cobertura da imprensa de todo o país à luz de evidências científicas ¹¹11. Agência Bori. Quem somos. https://abori.com.br/quem-somos/ (accessed on May/2024).
https://abori.com.br/quem-somos/... ; Outra Saúde, especializada em matérias e reportagens na área da saúde ¹²12. Outras Palavras. Sobre OUTRA SAÚDE. https://outraspalavras.net/outra-saude-quem-somos/ (accessed on May/2024).
https://outraspalavras.net/outra-saude-q... ; e Nexo Políticas Públicas, plataforma acadêmico-jornalística do Nexo Jornal ¹³13. Nexo Políticas Públicas. Sobre o Nexo Políticas Públicas. https://pp.nexojornal.com.br/sobre/politicas-publicas (accessed on May/2024).
https://pp.nexojornal.com.br/sobre/polit... . Ao todo, 75 matérias foram publicadas por meio dessas colaborações.

Compreendemos que os leitores desses veículos são, muitas vezes, pessoas já familiarizadas com a saúde e a ciência. Entretanto, essas parcerias impulsionam significativamente a divulgação dos manuscritos, uma vez que mais de 400 matérias foram republicadas ao longo desses anos por veículos de alcance nacional, como Agência Brasil, Folha de S.Paulo e O Globo.

A divulgação científica em CSP busca atrair novos leitores e ampliar o público interessado em ciência e saúde. No entanto, avaliar o impacto real das diferentes mídias utilizadas é um desafio, especialmente diante das constantes mudanças e opacidade nos algoritmos das redes sociais.

É necessário questionar até que ponto a revista realmente amplia seu público nessas plataformas ou se, ao contrário, acaba favorecendo os interesses das próprias redes em direcionar conteúdo a perfis já estabelecidos ¹⁴14. DeNardis L, Hackl AM. Internet governance by social media platforms. Telecomm Policy 2015; 39:761-70.. Persiste, assim, o debate sobre a efetividade das redes sociais em ampliar o alcance da ciência. De modo geral, apesar do ainda limitado conhecimento sobre o impacto concreto dessa forma de divulgação científica, a presença nesses meios é estratégica, pois representam espaços amplamente frequentados por jovens, sejam futuros pesquisadores ou não. Dessa forma, acredita-se que essa interação contribui para o letramento científico, integrando o conhecimento científico às práticas cotidianas dessa geração em formação, o que se revela fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade informada e crítica ¹⁵15. Borges DSL, DaMatta RA. Letramento científico e seus desdobramentos na literatura nacional e internacional. SciELO Preprints 2023; 5 may. https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/6006.
https://preprints.scielo.org/index.php/s... .

Após cinco anos de investimentos contínuos em divulgação científica, CSP busca agora avaliar seu alcance e impacto, investigando questões como: quem são os leitores alcançados pelo periódico nas redes sociais? Qual é o volume de acessos aos artigos originados a partir de cada plataforma? Quem é, de fato, o público efetivamente atingido? No ano em que a revista comemora 40 anos, essas questões estão sendo analisadas com atenção, buscando aperfeiçoar estratégias e consolidar o papel de CSP na divulgação científica.

Encerramos este ano especial de celebração com gratidão a todos que colaboraram com o periódico em sua trajetória, e renovamos nosso compromisso com sua missão: disseminar conhecimento científico de qualidade, superar o isolamento acadêmico, fortalecer o diálogo e promover o avanço da ciência em prol da sociedade. Boas festas!

Referências bibliográficas

Datas de Publicação

Histórico