Resumos
Esta composição visa registrar e divulgar o I Encontro Arte, Saúde e Cultura: construindo uma política pública de interface, por meio da publicação da fala de abertura, juntamente com fotos que apresentam alguns recortes das participações e apresentações que ocorreram ao longo deste acontecimento. O Encontro foi organizado pelo Grupo de Trabalho Arte, Saúde e Cultura, constituído por: representantes das Secretarias de Saúde e Cultura do Município de São Paulo, trabalhadores da rede de saúde e cultura, sociedade civil organizada e comunidade acadêmica.
Políticas Públicas; Cultura; Saúde; Arte; Interface
This paper presents a composition between text and images that aims to record and publicize the I Encontro Arte, Saúde e Cultura: construindo uma política pública de interface (I Meeting Art, Culture and Health: building an interface public policy), through the opening speech, along with pictures that show some clippings of participations and presentations that took place during the event. The Meeting was organized by the Working Group Art, Culture and Health, consisting of representatives of the Departments of Health and Culture of the Municipality of São Paulo, workers of the network of health and culture, civil society and academia.
Public Policies; Culture; Health; Arts; Interface
Esta composición tiene como objetivos registrar y divulgar lo I Encuentro Arte, Salud y Cultura: construyendo una política pública de interfaz, a través de la publicación del discurso de apertura, juntamente con las fotos mostrando algunos de los recortes de las participaciones e presentaciones que han ocurrido a lo largo de este acontecimiento. El Encuentro fue organizado por el Grupo de Trabajo Arte, Salud y Cultura, hecho por representantes de las Secretarias de Salud y Cultura de la ciudad de São Paulo, trabajadores da la red de salud y cultura, la sociedad civil organizada y la comunidad académica.
Política Pública; Cultura; Salud; Arte; Interfaz
Introdução
No dia 1º de dezembro de 2014, na Praça das Artes, no centro de São Paulo, aconteceu o I Encontro Arte, Saúde e Cultura: construindo uma política municipal de interface. O Encontro foi organizado pelo Grupo de Trabalho Arte, Saúde e Cultura, constituído por representantes: das Secretarias de Saúde e Cultura do Município de São Paulo, da sociedade civil organizada, de trabalhadores da rede de saúde e cultura, e da comunidade acadêmica. O evento contou com a presença do então Secretário Municipal da Cultura, Juca Ferreira, e do Secretário Adjunto da Secretaria Municipal da Saúde, Paulo Puccini, além do ator Sergio Mamberti, histórico militante dos direitos culturais no Brasil. Diversos grupos e trabalhadores da rede de saúde e cultura de São Paulo construíram um painel múltiplo e heterogêneo, expressão da riqueza de ações nesta interface na cidade.
A metodologia do Encontro priorizou espaços de troca e debate, organizados em quatro estações nas quais os participantes puderam transitar construindo livremente sua forma de contribuição. Os temas trabalhados visavam abranger a complexidade de um diálogo transdisciplinar que se fortalece nas composições de diferentes saberes e experiências: 1. os territórios da arte, cultura e saúde; 2. diversidade e grupos heterogêneos; 3. financiamento, fomentos, editais e legislação; 4. formação, matriciamento e participação popular. A partir das estações, o encontro produziu um material a ser sistematizado e coletivizado entre os diversos realizadores de saúde e cultura da cidade, de forma a criar subsídios para a realização da I Conferência Municipal de Arte, Saúde e Cultura.
Intervenção fotográfica urbana “É de dentro e de fora”, realizada pelo Ponto de Cultura É de Lei que se apresentou no Evento.
Caixa de Poemas. instalação da Oficina de Escrita e Imagem do Hospital do Servidor Público Municipal
A riqueza das trocas que tiveram lugar neste encontro evidenciou a importância de registrar e divulgar seu acontecimento para um público mais amplo. Daí a iniciativa de publicarmos a fala de abertura do evento, proferida por Isabel Cristina Lopes em nome do GT Arte, Saúde e Cultura, conforme segue, juntamente com fotos de Renata Buelau e Isabela Valent que pudessem dar visibilidade a algumas das performances e participações.
Fala de Abertura do “I Encontro Arte, Saúde, Cultura: construindo uma política municipal de Interface”, por Isabel Cristina Lopes
“Há uma memória política que alimenta e enraíza nosso propósito aqui hoje. Foi no final da década de 1980, no então Governo de Luiza Erundina, com Marilena Chauí e Carlos Neder à frente das Secretarias de Cultura e Saúde, respectivamente, que ocorreu a primeira iniciativa desta amálgama entre saúde e cultura, através do surgimento dos Centros de Convivência e Cooperativas (CECCO) em nossa Cidade. Os CECCOs, localizados em espaços públicos facilitadores de encontros, como os Parques Municipais, têm por premissa a promoção e o desenvolvimento do potencial criativo e ativo, sobretudo de pessoas em situação de vulnerabilidade social e/ou de saúde. Em agrupamentos heterogêneos que ali se constituem pela tarefa da arte, da artesania e do esporte, busca-se, acima de tudo, a fruição, a ampliação de laços afetivos e de pertencimento. Os encontros dali decorrentes caracterizam-se por uma força transformadora que promove novas formas de se fazer política pública, religando saberes. Todos os envolvidos descobrem saberes e potências: trabalhadores da saúde sabidos para além de suas especificidades, fazedores de arte e esporte sabidos de mundos internos e novos territórios humanos, e também sabido o povo frequentador destes espaços que se descobre desejante.
Na época de seu surgimento, artistas, artesãos, educadores físicos e mestres de práticas orientais trabalhavam em conjunto com assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros, criando um novo ofício que ia além da prática assistencial. Um ofício da ordem da provocação criativa e ativa de sujeitos que despontavam para a criação, para a descoberta de um corpo de dores e amores, para a produção de bens e de subjetividades.
Uma nova conjugação entre saúde e cultura aconteceu em 2003, por iniciativa do poder legislativo, de autoria do parlamentar Nabil Bonduki, com o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), numa tentativa de consolidação de uma Política de Cidadania Cultural na cidade. Anos depois, em 2006, na extinta Secretaria de Participação e Parcerias, o Secretário José Pólice Neto, cria o programa Ofício Social, que, entre outras ações formadoras, contratou artistas, esportistas, mestres da cultura popular para os serviços de saúde municipais, que poderiam, assim, se ocupar desses encontros de saberes promotores de emancipação e saúde.
Nesta genealogia reavivada, a composição do Grupo de Trabalho inaugura, aqui, com ineditismo, a possibilidade de diferentes atores sociais – Secretarias Municipais de Cultura e Saúde, comunidade científica (por meio do Laboratório de Estudos e Pesquisa da Arte, Corpo e Terapia Ocupacional da FMUSP), trabalhadores e gestores da rede de saúde e de cultura, organizações não governamentais (Ponto de Cultura É de Lei) e a sociedade civil organizada (Projeto Cidadãos Cantantes, Rede dos Fazedores de Arte) – inscreverem, com outros representantes desses segmentos, seu compromisso e, acima de tudo, seu desejo de estabelecer uma verdadeira Política Pública de interface: robusta, enraizada e de corresponsabilização de todos na construção de um bem comum.
A receptividade dos dois Secretários Municipais presentes nos impulsiona a construir uma carta de intenções que referende estratégias de multiplicação dessa discussão nos territórios da cidade, e, deste modo, crie as condições para a realização da I Conferência Municipal de Arte, Saúde e Cultura, que terá como meta indicar compromissos intersetoriais e diretrizes para o poder público neste campo.
Nossas fontes jorram fartas, desde as políticas de valorização de um protagonismo cigano, quilombola, indígena, feminino, voltado a novas economias afetivas e solidárias, até as experiências de mais de três décadas da Escola Municipal de Iniciação Artística (EMIA) – que é escola, mas está na Secretaria de Cultura, que é da Cultura mas habita um Parque Municipal. Esta escola atende a infância de toda a cidade; infância de todas as cores, credos, filiações e condições mais amplas ou mais estreitas de se ir pelo mundo. As diversas linguagens que lá se experimenta, por vezes ao mesmo tempo – música, dança, teatro, artes visuais – promovem, nesses pequenos cidadãos e em suas famílias, improváveis diálogos instauradores de harmonia e novas sonoridades. Será isso prenúncio de saúde? Outras experiências que trabalham com população de rua e a redução de danos no uso de drogas, constroem roteiros e histórias na linguagem cinematográfica. No Ponto de Cultura É de Lei, sujeitos ressignificam trajetos e afirmam: a arte existe para que a verdade não nos destrua.
Mas a emoção só não se completa no gozo necessário e de direito, pelo ainda frágil lugar que o artista, o fazedor cultural, ocupa. É preciso que este personagem, que não é onírico, que vive do ofício de nos ajudar a sonhar e de nos reconhecermos mais saudáveis e menos doentes, mais amantes do caos que dá a luz a uma estrela dançante – como diz o filósofo Nietzsche – tenha um lugar garantido e reconhecido nas políticas desta interface.
Para avançarmos em encontros da diversidade arte, saúde e cultura, carecemos de esteio: desde a formação com apoio da comunidade popular e da comunidade científica, a garantia de valorização dos profissionais, até, e sobretudo, as políticas de financiamento, fomentos que incentivem verdadeiramente a inauguração de um novo modo de fazer que qualifique o SUS, a cultura viva em seu campo simbólico, existencial e material.
Nossa maior tarefa, hoje, é a de provocarmos encontros. Encontros da diversidade, das inúmeras tribos que habitam nossa cidade, que habitam nosso inconsciente coletivo, que habitam nosso imaginário popular e, por vezes, nos assustam em sua diferença, afastando a possibilidade de encontros criativos. A produção de homogeneidade, por um lado, protege as relações de surpresas e desconfortos diante do desconhecido, mas, por outro, subtrai da vida a chance de Alice, a chance de se perder e se achar inusitadamente, a chance do encontro com o chapeleiro lucidamente maluco, com o coelho senhor de um tempo que nos escapa, da rainha de copas que tem morada cativa em cada um de nós; subtrai de cada um essa maravilhosa chance de poetizar a vida, de reivindicar a vida, de se colocar impacientemente diante da vida.
Temos fome de novos paradigmas para o bem viver, para o bem encontrar, para o bem sonhar, para o bem fazer. Se são as interfaces de um fazer coletivo, fraterno e auspicioso, não o sabemos, mas o intuímos, o desejamos, pois a fragmentação, a dor, o isolamento, a abstinência, seja ela qual for, desumanizam e impedem o canto universal: o choro de quem nasce, o choro que vibra em diversas tessituras absolutamente compreensíveis do oriente ao ocidente, entre palestinos e israelenses, chineses e americanos, russos e ucranianos, africanos e europeus, aborígenes, indígenas, indianos, tibetanos, japoneses ou iranianos, venezuelanos ou chilenos, argentinos, brasileiros: nordestinos ou paulistanos. Todos somos filhos de Deus, como revela a poesia de André Abujamra, e falamos a mesma língua!!
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Apr-Jun 2015
Histórico
- Recebido
02 Mar 2015 - Aceito
10 Mar 2015