Oficina de bonecxs sexuadxs – um relato de experiência

Taller de muñecxs sexuadxs – un relato de experiencia

Stela Nazareth Meneghel Vatsi Meneghel Danilevicz Evirlene de Souza Fonseca Sobre os autores

Resumos

Este texto relata a experiência de oficinas de bonecxs sexuadxs realizadas em cursos e atividades de extensão, com o objetivo de discutir temas ligados a gênero, sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos, e estimular o uso de bonecxs para a identificação de violência sexual e para a promoção à saúde. O processo de construção de bonecxs instiga problematizações sobre gênero e permite explorações em relação à corporeidade, quando se contrasta o ideal do corpo perfeito com o corpo real. As oficinas são encontros dialógicos nos quais as pessoas conversam, contam episódios de suas vidas e falam sobre sexualidade, violências e resistências enquanto costuram. Esse relato refere-se a sete oficinas, das quais participaram estudantes e profissionais, atingindo mais de cem pessoas. As oficinas permitiram um espaço de reflexão, diálogo e criação e podem ser consideradas um dispositivo de educação permanente em saúde.

Oficinas; Bonecos sexuados; Sexualidade; Corporeidade


Este texto relata la experiencia de talleres de muñecxs sexuadxs realizados en cursos y actividades de extensión con el objetivo de discutir temas relacionados a género, sexualidad, derechos sexuales y reproductivos e incentivar el uso de muñecxs para la identificación de violencia sexual y para la promoción de la salud. El proceso de construcción de muñecxs instiga problematizaciones sobre género y permite exploraciones con relación a la corporeidad cuando se contrasta el ideal del cuerpo perfecto con el cuerpo real. Los talleres son encuentros dialógicos en los cuales las personas conversan, cuentan episodios de sus vidas y hablan sobre sexualidad, violencias y resistencias mientras cosen. Este relato se refiere a siete talleres, en los que participaron estudiantes y profesionales. alcanzando más de cien personas. Los talleres permitieron un espacio de reflexión, diálogo y creación y pueden considerarse un dispositivo de educación permanente en salud.

Oficinas; Muñecos; Sexualidad; Corporeidad


Apresentando os bonecxs

Os bonecos são objetos estéticos de caráter lúdico-pedagógico e simbólico-poético que acompanham a história da humanidade e são encontrados nas mais variadas culturas 11. Silva DL. O processo criativo com os bonecos de luva: magia, mimetismo, ludicidade e símbolo (dissertação). Salvador (BA): Escola de Teatro/UFBA; 2004. . Há uma infinidade de possibilidades de confecção e uso de bonecos, desde as marionetes movidas com fios, os títeres, os fantoches animados com as mãos, os bonecos de sombra projetados por meio da luz até as bruxas de pano. Eles foram e ainda são usados em festividades e comemorações religiosas, mas também em atividades culturais, dramatizações, jogos e outras brincadeiras de caráter erudito ou popular.

O Mamulengo, boneco de madeira ou pano, movido por vara, faz parte do repositório popular brasileiro e é apresentado em feiras e espetáculos de rua, apreciado pelo povo, que se diverte com a dramatização, entremeada de diálogos, improvisação, humor crítico e deboches 22. Cebulski MC. Teatro de formas animadas. Guarapuava: Unicentro; 2013. .

As bonecas estão presentes na socialização de gênero das meninas, subjetivadas para desempenharem os papéis considerados femininos: casamento, maternidade e cuidado. Das bruxas feitas de papel, pano ou espigas de milho às atuais reproduções sofisticadas de louça e plástico, elas veiculam padrões culturais do universo feminino. Na contemporaneidade, o modelo de beleza hegemônico de magreza e brancura objetifica e padroniza os corpos das mulheres 33. Carvalho A, Baraldo K, Santos F, Ortega R. Brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas. Psicol Cienc Prof. 1993;13(1-4):30-3.

4. Azevedo TMC. Brinquedos e gênero na educação infantil. Um estudo etnográfico na educação infantil no Estado do Rio de Janeiro [tese]. São Paulo (SP): Instituto de Psicologia/USP; 2003.
-55. Finco D. Questões de gênero na educação da pequena infância brasileira. Studi Sulla Form [Internet]. 2015 [citado 22 Ago 2017]; 18(1):47-57. Disponível em: http://fupress.net/index.php/sf/article/view/17329/16424.
http://fupress.net/index.php/sf/article/...
.

Os bonecos podem representar um recurso potente para os processos de aprendizagem, porém, geralmente, são apresentados prontos, havendo poucos espaços para a sua construção, devido à presença, cada vez menor, das atividades artísticas nos currículos escolares 66. Silveira SM. Teatro de bonecos na educação. Perspectiva (Florianópolis). 1997; 15(27):135-45. .

No campo da saúde, o corpo humano constituiu um dos primeiros modelos usados para o estudo da anatomia e prática médica. Na Idade Média, não era permitida a sua manipulação e os anatomistas buscavam, clandestinamente, os corpos nos cemitérios. Liberado com a Modernidade, o corpo humano vem sendo substituído por símiles, produzidos pela indústria de equipamentos médicos.

Assim, entraram em cena os bonecos sexuados produzidos por empresas com fins comerciais e veiculados como recursos para a clínica, apresentados como “famílias compostas por um casal de avós, um casal de filhos, um casal de pais e uma empregada. Somente o bebê não possui órgãos sexuais”(d(d)https://www.elo7.com.br/familia-terapeutica -bonecos-sexuados/dp/9237B5?pp=1&pn=2& utm_content=marketplace &utm_source=onsite&utm _medium=recomendados &utm_campaign=loja-ferias).

A descrição se aplica a um modelo de família considerada “normal”, composta por duas gerações de casais heterossexuais, brancos e de classe média, tendo naturalizada a figura da “empregada”, reproduzindo o classismo e, mesmo, o racismo presentes na sociedade.

Os bonecos sexuados são considerados ferramenta de apoio ao trabalho de profissionais do campo jurídico, psiquiátrico e da saúde para realizar o diagnóstico de violências sexuais em crianças, mesmo não havendo consenso sobre a efetividade do seu uso 77. Echeburúa E, Guerricaechevarria C. Abuso sexual en la infancia: víctimas y abusadores. Barcelona: Ariel; 2000.

8. Lopez JRC. La credibilidad del testimonio infantil ante supuestos de abuso sexual: indicadores psicosociales [tese]. Girona (ES): Universidad de Girona; 2004.
-99. Silva Júnior AP. Dano psíquico em crianças vítimas de abuso sexual sem comprovação de ato libidinoso ou conjunção carnal [dissertação]. Brasília (DF): Instituto de Psicologia/UNB; 2006. .

A possibilidade de uso dos bonecos como dispositivo de identificação de violências sexuais e o fato de eles não serem disponibilizados nos serviços de saúde motivou a construção de oficinas de criação de bonecxs sexuadxs. As experiências apresentadas neste artigo referem-se a oficinas de bonecxs sexuadxs, realizadas em espaços de promoção da saúde, pautadas na ideia de que eles podem auxiliar a identificação de violências e no desejo de disponibilizá-los para equipes de unidades básicas de saúde.

(Des)norteamento metodológico

A construção de bonecxs ocorre em formato de oficina, considerada um espaço coletivo de criação e experimentação. As oficinas partem de um tema e de uma proposta de atuação prática, dando ao grupo liberdade de organizar e, inclusive, modificar a ideia inicial.

A oficina é uma ferramenta de intervenção psicossocial e educativa que pode ser usada com os mais variados coletivos, grupos etários e propósitos. Designa um espaço físico/temporal de construção de objetos e de transformação de materiais, para recriá-los em novas formas e significados, fazendo com que elementos como a argila e a sucata tornem-se produtos artísticos ou personagens de histórias. A oficina possibilita uma intencionalidade educativa, criadora, não competitiva, coletiva, fazendo com que, mesmo quando a produção é individual, ocorra uma interação constante entre o grupo, uma entreajuda, um fazer grupal 66. Silveira SM. Teatro de bonecos na educação. Perspectiva (Florianópolis). 1997; 15(27):135-45.,1010. Rauter C. Oficinas para quê? In: Amarante P, organizador. Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2000. p. 267-88.

11. Meneghel SN, Barbiani R, Brener C, Teixeira G, Steffen H, Silva LB, et al. Cotidiano ritualizado: grupos de mulheres no enfrentamento à violência de gênero. Cienc Saude Colet. 2005; 10(1):111-8.
-1212. Meneghel SN. Contadores de historias - una experiencia de grupos de mujeres. Athenea Digit (Barcelona). 2014; 14(4):113-28. .

Este texto pauta-se na experiência de sete oficinas realizadas nos seguintes espaços: Congresso Brasileiro da Abrasco (Porto Alegre, 2012), no qual participaram dez estudantes de graduação, além de um médico e uma enfermeira; Congressos da Rede Unida (Rio de Janeiro, 2012, Manaus, 2015). No primeiro estiveram 31 estudantes e profissionais de saúde e em Manaus participaram dez mulheres que trabalhavam com reciclagem e duas estudantes; Seminário Internacional Fazendo Gênero (Florianópolis, 2017), em que estiveram presentes 15 estudantes e profissionais; Cooperação Brasil-Cuba-Haiti (Porto-Príncipe, 2013), 15 enfermeiras participaram da oficina. Também foram promovidos cursos de extensão e o Programa de Ensino Trabalho (PET/Violências, Porto Alegre, 2013-15), em que trabalhamos com 25 adolescentes do Ensino Fundamental de ambos os sexos e com seis profissionais de uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF), composta por: duas agentes comunitárias, um agente, um técnico, uma enfermeira e uma profissional de segurança. Ao todo, foram mais de cem pessoas, sem contar as oficineiras e oficineiros que animaram as atividades.

As oficinas ocorreram em, ao menos, um encontro de quatro a seis horas, quando realizadas em congressos ou eventos, ou em várias sessões, quando elas faziam parte de projetos de extensão de duração mais longa. A ideia era de que os grupos não ultrapassassem 15 pessoas, embora vários tivessem ocorrido com um número maior de participantes. Não houve restrições em relação à idade, escolaridade ou ocupação, e foram realizadas oficinas de bonecxs com: estudantes do Ensino Fundamental, universitários/as, usuários/as de serviços de saúde, professores/as, profissionais da saúde, serviço social e setor jurídico-policial, além de militantes de ONGs e de movimentos sociais.

As oficinas iniciam com uma roda de conversa em que as pessoas se apresentam e colocam as motivações para participarem da atividade. A seguir, abre-se a caixa de ferramentas dos animadores e animadoras, exibindo bonecxs já construídos em outros encontros e disponibilizando os materiais que serão usados para a elaboração dos atuais: papel para confeccionar os moldes, tecidos e retalhos para o corpo e roupas, lãs, agulhas, alfinetes, tesouras, linhas, tintas, enchimento e ornamentos variados. Se a oficina é de curta duração, os moldes ou o tecido são fornecidos já desenhados e cortados, no entanto, quando há tempo, a elaboração do molde é realizada individualmente, respeitando a singularidade de cada participante. Os tecidos reproduzem as cores da pele humana, ma,s também, foram disponibilizadas outras cores, texturas e estampas. Também houve a possibilidade de se usar um amplo leque de cores, o que permitiu pautar a diversidade étnica e racial.

A confecção de bonecxs começa com o desenho do molde em papel e, após, a marcação no tecido. O tecido é cortado, alinhavado, costurado (geralmente a mão) e enchido com flocos ou espuma. Em seguida são costurados os cabelos, a face é pintada ou bordada, os órgãos sexuais são elaborados, costurados ou colados no corpo, e, por fim, é confeccionada e colocada a vestimenta. Quando os bonecxs ficam prontos, em roda de conversa, cada participante o/a apresenta, dá-lhe um nome, conta “sua” história imaginária e avalia o processo vivido, levando-os/as consigo ao final da atividade.

Usamos a nomenclatura “x” para a designação das oficinas de bonecxs que realizamos, mas mantivemos a flexão de gênero original conforme o uso de autores e autoras citados ou quando poderia dificultar a leitura e entendimento do texto. Conforme coloca Beatriz Preciado 1313. Preciado B. Manifiesto contra-sexual: prácticas subversivas de identidad sexual. Madrid: Editorial Obra Prima; 2002. , acerca do uso de marcadores neutros para o gênero (x, @), não se trata de privilegiar uma marca, tampouco inventar um novo pronome, mas de questionar as tecnologias da escrita sobre sexo/gênero e tentar mudar as posições de enunciação.

Nesse texto, apresentam-se depoimentos, efeitos do processo e fotografias tomadas em algumas das oficinas. Essas oficinas não constituíram atividade de pesquisa, mas encontros de extensão ou atividade pontual em eventos. Mesmo assim, todos os participantes assinaram Termo de Cessão de Uso de Imagens, autorizando a divulgação de fotos.

Costurando e conversando: retratos

A realização de oficinas pautadas em atividades manuais e artísticas, no caso a confecção de bonecxs, propicia a interação entre os membros do grupo, o diálogo e a troca de experiências. Bonecxs constituem objetos significativos que estimulam uma conexão entre o mundo individual, singular e subjetivo com o mundo da cultura e das representações sociais, permitindo, ao grupo, transitar pelo campo do simbólico, acessando, compartilhando e remodelando memórias, emoções e significados 1414. Vigotsky L. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes; 1999. .

Na apresentação inicial, as pessoas contam os seus interesses e motivações para a construção de bonecxs:

“Eu vim para esta oficina porque me interesso pelo corpo, pela estética do corpo, pelas possibilidades plásticas que ele oferece; Eu trabalho com mulheres em situação de violência; Queria saber como se faz para aplicar com crianças que sofrem violência sexual.” (Abrasco, 2012, Rede Unida, 2012)

Nas oficinas de bonecxs sexuadxs, ao mesmo tempo em que se trabalha com as mãos, desenhando, cortando, alinhavando e costurando, a conversa corre solta e mesclam-se questões práticas ligadas ao fazer técnico, mas também reflexões teórico-conceituais relacionadas aos temas elencados no grupo.

Em relação a gênero, assumimos a posição que atribui ao patriarcado a manutenção do sistema de dominação/exploração das mulheres, sem refutar aspectos culturais, sobretudo no que se refere à capacidade das mulheres de resistirem aos padrões instituídos 1212. Meneghel SN. Contadores de historias - una experiencia de grupos de mujeres. Athenea Digit (Barcelona). 2014; 14(4):113-28. . Entendemos gênero, com base nas reflexões de Joan Scott 1515. Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educ Real. 1995; 20(2):71-99. , que propõe a desnaturalização da oposição binária entre homens e mulheres e o entendimento de que identidades sexuais são plurais e construídas histórica e socialmente. O conceito de gênero, incluindo o seu caráter performativo, representa uma recusa ao essencialismo biológico imposto aos corpos sexuados e se contrapõe à ideia de uma sexualidade única e heterossexual.

A sexualidade compreende o ordenamento e a normatização social dos usos do corpo referente às práticas sexuais, por meio de um conjunto de regras que variam de acordo com o local e época. Esse conjunto de regras proíbe alguns atos e prescreve outros, define de qual é e de qual deve ser o sexo de cada indivíduo, e determina como e com quem tais atos podem ou não ser praticados 1616. Lhomond B. Sexualidade. In: Hirata H, Laborie F, Doaré H, Senotier D, organizadoras. Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: UNESP; 2009. p. 231-5. . Para Foucault 1717. Foucault M. A história da sexualidade: a vontade de saber. 11a ed. Rio de Janeiro: Graal; 1988. vol 1. , a sexualidade é uma invenção social, constituída com base em múltiplos discursos sobre o sexo, que regulam, normalizam e produzem “verdades”.

O fato de os bonecxs serem “sexuados” instiga a discussão sobre as atribuições sociais em relação às feminilidades e masculinidades, em que a costura é uma atividade feminina, ou como ouvimos em algumas falas: “mulher costura, homem não”. Nesses coletivos tão diversos, refletiu-se acerca de gênero, estereótipos sexuais, corporeidade, sexualidade e violências.

O corpo, por sua vez, enunciado pelo discurso feminista é “um agente da cultura”, uma superfície na qual as normas e as hierarquias são inscritas e reforçadas por uma linguagem concreta 1818. Bordo SR. O corpo e a reprodução da feminilidade: uma apropriação feminista de Foucault. In: Jaggar AM, Bordo SR, organizadoras. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos; 1997. p. 19-41. . Para o feminismo francês, na sua vertente da “écriture feminine” 1919. Jaggar AM, Bordo SR, organizadoras. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos; 1997. , o corpo humano é um texto, um signo e não apenas um pedaço de matéria carnal. Essa ideia é bastante inspiradora para a criação dos bonecxs, cujos corpos podem servir como matéria de inscrição de signos, de metáforas, de uma poética, embora também possam servir para revelar feridas e denunciar opressões, cerceamentos e violências.

A primeira oficina de bonecxs ocorreu no Seminário Rotas Críticas IV, juntamente ao Congresso da Rede Unida no Rio de Janeiro, e dela participaram mais de trinta pessoas. Para esse evento, levamos nossas máquinas de costura objetivando auxiliar o processo e o grupo propôs uma divisão de tarefas, organizando uma “linha de montagem”, na qual alguns cortavam o tecido, outros costuravam e, após, outro grupo fazia o enchimento, colocava os cabelos, os órgãos sexuais e as vestimentas. Na avaliação dessa oficina, observamos quanto o grupo organiza o processo de trabalho e recria a técnica de modo singular, e quanto os bonecxs – que inicialmente pensávamos como instrumento para auxiliar o diagnóstico de violência sexual na infância – foram repensados como dispositivos para alavancar outras discussões com outros temas e grupos etários.

Nessa primeira experiência, alguns participantes relataram que já confeccionavam bonecxs em grupos de jovens e idosos, e que eles constituíam o gatilho para pensar e repensar o corpo que temos e o corpo que queremos. Assim como x bonecx feito artesanalmente, o corpo humano não é perfeito, por essa razão, ele permite questionar a noção do “belo”, pautada nos conceitos de harmonia e no equilíbrio de formas geometricamente perfeitas. Essa desconstrução atinge os valores estéticos tradicionais, que desqualificam a arte popular considerando-a grotesca, irregular ou distorcida 2020. Monzine C. Aesthetics of African art. New York: Center for African Art; 1986. , e os bonecxs ajudam a compreender as limitações e contingências impostas pelo tempo ou pela vida ao corpo de cada um, produzindo uma aceitação entre o corpo “ideal” e o corpo “real”.

Figura 1
Corpos, sexualidades, gêneros

Uma segunda experiência com bonecxs, descrita em outro texto 2121. Meneghel SN, Fonseca ES, Silva B. Oficina de bonecos: experiências de um Programa de Educação pelo Trabalho. In: Ferla AA, organizador. Integração entre Universidade e Sistemas locais de Saúde: experimentações e memórias de educação pelo trabalho. Porto Alegre: Rede Unida; 2017. p. 312-35. v. 1. , ocorreu durante o Programa de Educação para o Trabalho (PET Violências) realizado em um dos territórios de pobreza, população negra e elevados índices de violência da cidade de Porto Alegre. No itinerário do PET Violências, foram realizadas duas oficinas de bonecxs sexuadxs: a primeira dirigida a estudantes de uma escola inserida em uma das regiões mais violentas do território e, por isso, conhecida como “Carandiru”; e a segunda, a pedido dos profissionais de saúde da ESF em que a escola estava localizada.

A política de educação sexual proposta pelos Ministérios da Educação e da Saúde para ser desenvolvida nas escolas propõe o esclarecimento acerca da sexualidade, dos direitos sexuais e reprodutivos e de gênero, compreendido como a apropriação social do sexo biológico 2222. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para implantação do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. . Essa política visa estimular o respeito às diferenças e à desconstrução de padrões hegemônicos que reforçam os preconceitos e a intolerância para com a diversidade. Porém, a maioria das escolas apresenta dificuldades em efetivar essa proposta e repassa a responsabilidade às famílias, que, por sua vez, não conseguem conversar, abertamente, sobre sexualidade.

Escolhemos a oficina de bonecxs para trabalhar com estudantes do Ensino Fundamental, pensando em uma proposta participativa, que poderia (ou não) estimular uma conversa sobre sexualidade e promoção da saúde, pautada na arte e na ludicidade, evitando o modelo normativo utilizado tradicionalmente em atividades de prevenção de ISTs/aids. A oficina foi realizada com 25 alunos que cursavam a 7ª série do Ensino Fundamental, com idades entre 14 e 16 anos. Ficamos favoravelmente surpresos com a participação de meninos, que não demonstraram preconceitos de gênero em relação à costura. Os rapazes contaram que homens em suas famílias (pais, irmãos, avô) também costuravam, fazendo-nos ver que esse preconceito era nosso, parecendo não afetar as camadas populares.

A confecção, nomeação e colocação dos órgãos sexuais nos bonecxs consiste no momento das oficinas em que há mais questionamentos, constrangimentos e risadas, indicando a dificuldade de lidar com a questão. Esse comportamento apareceu não apenas na oficina que realizamos na escola com jovens do Ensino Fundamental, mas também naquelas em que o grupo era adulto.

As crianças e os jovens aprendem a diferenciação de gênero, e a reprodução do sexismo, ou a discriminação baseada no sexo/gênero de uma pessoa, observando os adultos e, como eles, reproduzem um vocabulário permeado por preconceitos e estereótipos 2323. Maia ACB, Pastana M, Pereira PC, Spaziani RB. Projeto de intervenção em educação sexual com educadoras e alunos de uma pré-escola. Rev Cienc Extensao [Internet]. 2011 [citado 22 Ago 2017]; 7(2):115-29. Disponível em: http://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/419.
http://ojs.unesp.br/index.php/revista_pr...
. Observamos o uso de nomes populares, às vezes ofensivos, para designar os órgãos sexuais. Na escola, na medida em que as perguntas eram respondidas e usava-se a denominação social ou cientificamente “correta” para o aparelho genital masculino e feminino, eles também passaram a usá-los e as risadinhas desapareceram.

Muitas perguntas foram formuladas neste momento:

“Como faço a vagina da bonecx? De que tamanho deve ser o pênis do bonecx? Sexo anal pode engravidar? Como costuro o pênis no bonecx? Quando devo transar com meu namorado? O que fazer quando uma mulher não consegue sair de uma relação abusiva? Onde devo colocar os pelos [pubianos]?” (Oficineirxs, 2013-17)

Figura 2
As linhas do corpo

Em todos os grupos, conversou-se, abertamente, sobre sexualidade, questionando-se, quando possível, os padrões normativos e o viés medicalizador com que ainda se aborda esse tema em relação às atividades de promoção da saúde. Percebemos que o bonecx facilita, pela ludicidade que o envolve: quebrar a rigidez das normas societárias de gênero, explorar territórios desconhecidos, fazer perguntas, mesmo que óbvias, adentrar em assuntos espinhosos, explorar o tema da sexualidade, enfim, falar sobre sexo 2424. Kishimoto TM, organizador. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira; 1998. .

Ainda no território onde se realizava o PET Violências, foi realizada uma oficina com a equipe da ESF, atendendo a uma solicitação das/os trabalhadoras/es da saúde, por ocasião da apresentação das atividades realizadas na escola. Assim, iniciamos a oficina entremeando o trabalho técnico com o lúdico, em um itinerário que finalizou com uma simulação de atendimento de violência sexual que havia ocorrido no território meses antes, e eles não sabiam o que fazer por desconhecimento dos procedimentos. No momento da dramatização, a equipe tinha se apropriado dos protocolos e sabia como atender essas situações. Além disso, eles disponibilizaram, na sala de espera da ESF, um recipiente com preservativos, com livre acesso às/aos usuárias/os independentemente da faixa etária, indicando que o dispositivo “oficina de bonecxs” prestou-se à proposta de educação permanente em saúde.

No seminário da Rede Unida realizado no Amazonas, a proposta da oficina foi enriquecida com a ideia de se trabalharem aspectos da cultura local, e incluiu-se a história do Boto Cor-de-rosa, um personagem do folclore amazonense, embebido na cultura patriarcal, que é responsabilizado quando ocorre uma gravidez em moça solteira e não se sabe quem é o pai. O Boto alavancou uma reflexão sobre a moral sexual, em que o ônus de uma gravidez não desejada recai sobre uma mulher estigmatizada em um país onde o aborto é criminalizado. Essa oficina realizada com mulheres catadoras em Manaus desencadeou no grupo, além da fruição da história do Boto recontada na oficina, o desejo da costura como geração de renda, e elas afirmaram o desejo de costurar “bonecxs e botos cor-de-rosa” para vender na feira.

A história do Boto trouxe a ideia de agregar às oficinas elementos da cultura em que os bonecxs estavam sendo criados, podendo ser histórias do folclore, de artistas locais e do próprio grupo. Esses elementos foram brotando espontaneamente e, em oficinas com adolescentes, surgiram bonecxs representando seres fantásticos: o Saci-Pererê, a Sereia e o Diabo. Porém, ao se buscar aprofundar a discussão sobre essas figuras, não houve interesse em discutir os significados desses elementos, parecendo que a sua representação bastou para cumprir a função simbólica e artística.

Figura 3
Bonecxs sexuadxs e o Boto Cor-de-Rosa

Nas oficinas foram costurados bonecxs de todas as cores, auxiliando a pautar o tema da diversidade étnica e racial. Algumas tinturas foram criadas in loco e aplicadas sobre os bonecxs, outros foram adornados com tatuagens e piercings e tiveram cabelos trançados, tingidos, com colorações e texturas diversas, incluindo uma proposta de usar alpiste como enchimento para que florescessem cabelos vegetais. As bonecas receberam turbantes e roupas étnicas, reafirmando identidades: “Eu fiz uma boneca negra de dreads e turbante. Pois é necessário reafirmar os direitos das mulheres negras, sobretudo na universidade” (Oficineira, fazendo Gênero, 2017).

Ainda em relação à corporeidade, em um dos grupos, uma enfermeira que trabalha em Unidade de Tratamento de Câncer representou uma boneca mastectomizada, dizendo-se sensibilizada com mulheres que sofrem mutilação e não têm acesso à reconstrução das mamas. Em outro grupo, fisioterapeutas fizeram bonecxs com membros amputados, alavancando uma discussão sobre deficiências e limitações.

No 13º Mundos de Mulheres e Fazendo Gênero 11, em Santa Catarina, foi proposta uma oficina com objetivo de problematizar os papéis sexuais e a educação diferenciada de gênero; entender os determinantes e efeitos da violência sexual; construir bonecxs sexuadxs e discutir possibilidades para o seu uso. Participaram estudantes e profissionais pertencentes às áreas da educação, direito, saúde, psicologia, serviço social, procedentes de várias regiões do país. Nessa e em outras oficinas, as mulheres eram a maioria, mas, em muitas destas, havia homens interessados na experiência. Eles denunciaram e romperam interdições dirigidas ao masculino, questionando os papéis de gênero em que “homem não costura” e afirmando que “homem, sim, costura!”.

Figura 4
Imaginários livres

Em relação ao sexo/gênero dos bonecxs, observamos que, geralmente, os homens fizeram bonecxs masculinos, enquanto as mulheres e meninas os fizeram de ambos os sexos. Elas construíram bonecas grávidas e outras com bebês, mas também exploraram outras performances e montaram bonecxs LGBTTS, transexuais e travestis.

A ocupação das mãos na costura permite que assuntos como a sexualidade e as violências, geralmente envoltas em preconceitos, tabus e vergonha, venham à tona de modo espontâneo e aberto. O ato de costurar, em que cada um possui autonomia para conduzir o trabalho, estimula a conversa franca e o protagonismo do grupo, que descarta explicações que não parecem plausíveis ou suficientes, como: a culpabilização, a patologização e a medicalização de comportamentos sociais. O coro de vozes acompanha a elaboração dos bonecxs, e a aparente desorganização dos materiais sobre a mesa funciona como uma sementeira, acenando para o poder da arte de organizar mundos e romper tabus.

O jogo teatral [e o bonecx, acréscimo nosso], ao cruzar o limite entre o real e o imaginário, não pretende reproduzir uma cópia fiel ou técnica da realidade, ao contrário, ele a analisa e interroga, criando espaço para a palavra e para o intercâmbio, permitindo um maior conhecimento de si e do outro, e potencializando as possibilidades de expressão no domínio da arte e da criação 11. Silva DL. O processo criativo com os bonecos de luva: magia, mimetismo, ludicidade e símbolo (dissertação). Salvador (BA): Escola de Teatro/UFBA; 2004. .

Muitos foram os diálogos encetados nos grupos, casos, histórias, experiências, exemplos, permitindo que as desigualdades e iniquidades de gênero, classe social e raça pudessem ser questionadas. Houve denúncia de comportamentos misóginos na escola, na universidade e no trabalho: “meus colegas machistas costumam ser agressivos, desqualificando os estudos de gênero”, além de reflexões sobre a prática profissional de mulheres que atendem situações de violência e a impotência que às vezes as acomete: "Atendi um caso de uma mulher que vivia em cárcere privado, sofrendo violência de gênero há trinta anos. [...] Foi muito difícil, pois senti forte sensação de impotência, afinal apenas notificar a violência não muda a situação vivida pela mulher” (Oficineira, Fazendo Gênero, 2017).

Nos itinerários dessas oficinas, o capitalismo racista e patriarcal foi denunciado como o principal agente das violências perpetradas contra corpos feminizados, acirrando o processo de submissão e exploração das mulheres:

“O corpo de uma mulher nunca é dela mesma. O corpo é do Estado, é do homem, pai, namorado, marido, amigo. Não pode aparecer nu porque assim a mulher é considerada vadia, só pode aparecer numa revista pornográfica para um homem se masturbar olhando. É para o consumo masculino.” (Oficineira, Fazendo Gênero, 2017)

Como já descortinado em outras oficinas 1111. Meneghel SN, Barbiani R, Brener C, Teixeira G, Steffen H, Silva LB, et al. Cotidiano ritualizado: grupos de mulheres no enfrentamento à violência de gênero. Cienc Saude Colet. 2005; 10(1):111-8.,2525. Meneghel SN, Barbiani R, Steffen H, Wunder AP, Roza MD, Rotermund J, et al. Impacto de grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade de gênero. Cad Saude Publica. 2003; 19(4):955-63.,2626. Ramão SR, Meneghel SN, Oliveira C. Nos caminhos de Iansã: cartografando a subjetividade de mulheres em situação de violência de gênero. Psicol Soc. 2005; 17(2):79-87. e por outros autores 2727. Sawaia SM. Narrativas orais e experiências: as crianças do Jardim Piratininga. In: Oliveira Z, organizadora. A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez; 2000. p. 31-49.

28. Dionisio GH, Yasui S. Oficinas expressivas, estética e invenção. In: Amarante P, Nocam F, organizadores. Saúde mental e arte. Práticas, saberes e debates. São Paulo: Zagodoni; 2012. p. 53-65.
-2929. Reis AC. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo. Psicol Cienc Prof. 2014; 34(1):142-57. , o processo grupal e a arte são capazes de produzir efeitos terapêuticos. Esses efeitos, certamente, se devem ao fato de que a criação artística realizada em contextos grupais possibilita a expressão e a ressignificação de feridas e mágoas, depositadas no espaço protegido do grupo e metaforizadas nas imagens e símbolos.

Além disso, como em outros grupos e depoimentos 11. Silva DL. O processo criativo com os bonecos de luva: magia, mimetismo, ludicidade e símbolo (dissertação). Salvador (BA): Escola de Teatro/UFBA; 2004. , os materiais produzidos em oficinas podem adquirir outros usos e penetrar em outros espaços não imaginados ao se planejar a atividade. Isso ocorre quando eles são levados para as casas das/os oficineiras/os e passam a fazer parte das relações familiares, sendo confeccionados por outras pessoas ou usados como objetos lúdicos e brinquedos para as crianças. Nessas oficinas, a costura, considerada atividade criativa e mesmo artística, passa a ser valorizada como uma habilidade útil para o dia a dia e uma possibilidade de profissionalização para jovens ou de complementação de renda para adultos.

Nas oficinas, em nenhum momento, deixou-se de acreditar e apostar no potencial criativo do outro. Do mesmo modo, as/os oficineiras/os, quando se dão conta da potência da arte, introduzem a técnica em sua caixa de ferramentas. Esse fato aconteceu no itinerário dessas oficinas e várias/os participantes declararam o desejo de reproduzir e multiplicar a experiência, organizando oficinas de bonecxs sexuadxs, modificadas, adaptadas e recriadas para trabalhar em outros grupos e contextos.

Nesse sentido, modificou-se o próprio objetivo inicial da oficina que era o de utilizar bonecxs como recursos auxiliares no diagnóstico de violência sexual. Os itinerários e discussões grupais permitiram vislumbrar outras perspectivas para eles e minimizou-se a função de instrumento para o diagnóstico de violência sexual, escapando-se do “grande mercado de diagnósticos” 2828. Dionisio GH, Yasui S. Oficinas expressivas, estética e invenção. In: Amarante P, Nocam F, organizadores. Saúde mental e arte. Práticas, saberes e debates. São Paulo: Zagodoni; 2012. p. 53-65. , para deixar abertos à criatividade de cada participante os usos que darão aos bonecx(s) e à experiência de fazê-los.

Figura 5
Aos mundos

Ainda efeitos e possibilidades

Acreditamos que as oficinas relatadas neste trabalho validaram as possibilidades de uso de bonecxs sexuadxs em atividades de promoção de saúde e na discussão de temas ligados ao corpo e à sexualidade humana.

Outra decorrência que brotou no trabalho grupal, alavancada pela figura imagética e simbólica do bonecx, foi o compartilhar de experiências, histórias e afetos. Muitas/os oficineiras/os declararam que se sentiram “convocados” pelos bonecxs para revelar no grupo experiências de preconceitos e violências sofridos ao longo da vida, incluindo sexismo, homofobia, bullying e discriminação. Fizeram perguntas, trocaram respostas e afirmaram a importância de não se esquecer da arte, do lúdico e da criação artística no trabalho social.

Os bonecos possuem o poder de enfeitiçar os olhos, produzindo um encantamento no sentido de fruição e prazer estético. Isso acontece em uma oficina, na rua ou em sala de aula, mesmo que seja uma simples apresentação, mesmo que os bonecos sejam muito simples. Do teatro grego aos dias atuais, há uma espécie de magia que os faz adquirir vida, trazendo encantamento onde quer que estejam 11. Silva DL. O processo criativo com os bonecos de luva: magia, mimetismo, ludicidade e símbolo (dissertação). Salvador (BA): Escola de Teatro/UFBA; 2004. . Este foi um dos efeitos que não fazia parte de nossas ideias iniciais, mas que apareceu em todas as oficinas, independentemente da faixa etária, da situação social e, mesmo, da duração temporal da oficina. Os bonecxs funcionaram como um espelho, projeção ou alter ego para as/os participantes, que se identificaram com eles, batizaram-nos, produziram histórias e, magicamente, os fizeram viver.

“Sobre a minha boneca ainda sei pouco [...] enquanto costurava surgiram muitas questões: se estaria representando a mim mesma, ou se estaria construindo um modelo para trabalhar a sexualidade.” (Oficineira, Fazendo gênero, ٢٠١٧)

Assim, a confecção de bonecxs constitui uma forma de mimese, em que a pessoa, ao fazê-los, se retrata, faz um espelho de si e do mundo que a cerca. Para Ana Maria Amaral 3030. Amaral AM. O ator e seus duplos: máscaras, bonecos, objetos. São Paulo: SENAC; 2002. , a cópia vem carregada de energia vital, o que explica a fascinação dos humanos ao se verem representados, fazendo com que, ao olharem sua própria imagem, reassegurem a sua existência.

Figura 6
Costuras do tempo

A realização de oficinas de bonecxs sexuadxs para se discutir gênero, sexualidade e corporeidade amplia a compreensão desses temas, fugindo de abordagens focadas no biológico, apostando na criatividade, ludicidade e invenção conferidas pelas dimensões simbólicas e poéticas, que fazem parte do processo de criação. O sorriso satisfeito das/os oficineiras/os, levando, orgulhosamente, seus bonecxs para casa ao final das oficinas, confirmou a potência da arte.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2017
  • Aceito
    16 Abr 2018
UNESP Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br