Resumo
Este artigo situa-se no contexto do Programa Mais Médicos (PMM) para o Brasil. Buscou conhecer a percepção sobre a educação a distância (EAD) e as contribuições no cotidiano das práticas de saúde no estado do Rio Grande do Sul. Por meio de abordagem qualitativa e do uso da metodologia de grupos focais, contou com a participação de médicos do PMM, alunos do curso de especialização em Saúde da Família da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Os resultados indicam que, embora a EAD ainda seja uma novidade para a maioria dos profissionais participantes do PMM, isso não foi um fator impeditivo para a identificação das potencialidades nessa modalidade de ensino, contribuindo para a formação e para a qualificação das práticas cotidianas dos profissionais, tanto em relação a sua atuação clínica individual quanto na condução do trabalho em equipe.
Palavras-chave:
Atenção primária à saúde; Educação a distância; Educação permanente em saúde.
Introdução
No Brasil, ao longo das últimas três décadas, tem-se buscado o avanço da universalização e a melhoria da condição do acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), com o desenvolvimento de iniciativas pactuadas na área da Saúde e da Educação. Logo, não é possível pensar no avanço da saúde sem pensar na integração com a educação, tanto no que se refere às práticas educativas para a população quanto à Educação Permanente em Saúde (EPS) para os profissionais desta área.
Saúde é direito universal garantido na Constituição Federal do Brasil de 1988. Desde então, busca-se garantir esse direito com a proposição e manutenção de tecnologias e práticas do SUS, que, assim como outros sistemas de saúde de diversos países, tem dificuldades na sua operacionalização, devido a problemas com escassez e má distribuição de profissionais de saúde no seu território. Situações como o déficit de médicos, principalmente, na Atenção Primária em Saúde (APS), são recorrentes e agravadas por um perfil de formação que muitas vezes não atende às necessidades de saúde da população. Essa condição dificulta o desenvolvimento das ações preconizadas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), modelo de atenção fundamental para expansão e consolidação da Atenção Básica11 Thumé E, Wachs LS, Soares MU, Cubas MR, Fassa MEG, Tomasi E, et al. Reflexões dos médicos sobre o processo pessoal de aprendizagem e os significados da especialização à distância em saúde da família. Cienc Saude Colet. 2016; 21(9):2807-14.,22 Oliveira FP, Vanni T, Pinto HA, Santos JTR, Figueiredo AM, Araújo SQ, et al. Mais Médicos: um programa brasileiro em uma perspectiva internacional. Interface (Botucatu). 2015; 19(5):623-34..
Muitas iniciativas têm sido desenvolvidas ao longo dos últimos anos, buscando a efetivação do SUS como um sistema de saúde bem-sucedido, resolutivo e de fácil acesso. Entre as diversas políticas e programas existentes, a Política Nacional de Atenção Básica33 Ministério da Saúde (BR). Portaria n° 2.436, de 21 de Setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde SUS). Brasília: Ministério da Saúde; 2017. merece destaque e direciona a Saúde da Família como estratégia prioritária para a expansão e a consolidação da Atenção Básica. Tal política considera os termos “Atenção Básica” e “Atenção Primária à Saúde”, nas atuais concepções, como equivalentes.
Historicamente, o provimento e a distribuição de médicos no território brasileiro não acompanharam o crescimento e a necessidade da população. O Brasil é um país de dimensões continentais, com realidades distintas, motivo pelo qual se aumenta a dificuldade de fixação de profissionais médicos em diversas regiões, especialmente nas localidades que estão distantes dos grandes centros populacionais. Isso posto, evidencia-se a necessidade de se pensar em estratégias, por meio de políticas públicas e programas, que tenham objetivo de induzir a formação e a distribuição de profissionais que possam proporcionar um nível de saúde elevado, de acordo com os preceitos contidos na legislação do SUS.
Seguindo a premissa da necessidade de reduzir a carência de médicos na APS e a desigualdade da distribuição dos profissionais nas regiões do país, o Ministério da Saúde (MS), em 2013, instituiu o Programa Mais Médicos (PMM). Esse programa apresentou uma previsão de duração de três anos, com possibilidade de prorrogação, constituído de três dimensões de atuação: melhoria da estrutura física da rede de Atenção Básica em saúde; reformas educacionais das escolas de Medicina e residência médica; e o provimento de médicos em regiões prioritárias para o SUS44 Presidência da República (BR). Lei nº 12.871, de 22 de Outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis nº 8.745, de 9 de Dezembro de 1993, e nº 6.932, de 7 de Julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 23 Out 2013..
Nessa perspectiva, uma das dimensões do programa comporta, também, a formação de médicos na área de Atenção Básica, mediante integração ensino-serviço. Há, inclusive, formação por meio de intercâmbio internacional e qualificação por meio da EPS, bem como cursos de pós-graduação na modalidade stricto sensu em Atenção Básica e Saúde da Família.
De fato, o MS também tem investido esforços para proporcionar ofertas educativas por meio da modalidade da EAD. Como estratégia nacional, apresentou-se a criação de uma rede nacional de cooperação: a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). Instituída em 18 de junho de 2008, é formada por instituições públicas de ensino, que oferecem cursos de curta duração e de especialização lato sensu, utilizando como uma das suas principais ferramentas a modalidade de EAD55 Dahmer A, Portella FF, Tubelo RA, Mattos LB, Gomes MQ, Costa MR, et al. Regionalização dos conteúdos de um curso de especialização em Saúde da Família, a distância: experiência da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS/UFCSPA) em Porto Alegre, Brasil. Interface (Botucatu). 2017; 21(61):449-63..
Portanto, este estudo objetivou conhecer a percepção sobre a EAD dos participantes de um curso de especialização em Saúde da Família, oferecido no âmbito da UNA-SUS, e identificar em que medida isso reverbera em mudanças no cotidiano das práticas profissionais de médicos participantes do PMM no estado do Rio Grande do Sul.
Contextualização
Com o propósito de qualificar a estrutura e os recursos humanos para o SUS, assim como de prover profissionais para a APS, que em seu processo histórico sofre com o déficit de profissionais, o PMM surge com o objetivo de assegurar a presença de médicos nas equipes de saúde da APS, essencialmente em localidades distantes de centros populacionais, tendo a participação de médicos de diversas nacionalidades44 Presidência da República (BR). Lei nº 12.871, de 22 de Outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis nº 8.745, de 9 de Dezembro de 1993, e nº 6.932, de 7 de Julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 23 Out 2013..
Além do incremento em estrutura e do provimento de profissionais, uma das finalidades do PMM é o aperfeiçoamento dos médicos na APS mediante a oferta de curso de especialização por instituições públicas de educação superior, com a proposta de desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Os participantes do referido programa são considerados bolsistas, sendo matriculados em uma instituição de ensino superior vinculada à UNA-SUS, para ter acesso aos cursos de aperfeiçoamento e especialização lato sensu. No fim de dezembro de 2015, o relatório da Organização Pan-Americana de Saúde apontou que, do total de 11.404 médicos do PMM, 10.115 (88,70%) concluíram ou estavam cursando a especialização66 Molina J, Tasca R, Suárez J. Monitoramento e avaliação do Projeto de Cooperação da OPAS/OMS com o Programa Mais Médicos: reflexões a meio caminho. Cienc Saude Colet. 2016; 21(9):2925-33..
A Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) é integrante da rede UNA-SUS e ofertou um conjunto de recursos educacionais aos participantes do PMM, como o curso de especialização, de caráter obrigatório e requisito para permanência no programa. O curso, com carga horária de 360 horas, é organizado em dois eixos, com a abordagem de temas pertinentes à organização do SUS e da APS. É acessado por meio de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), no qual estão disponíveis recursos audiovisuais, materiais de apoio e referenciais teóricos atualizados. Seu produto final consiste em um portfólio reflexivo organizado em cinco capítulos, com temas indicados previamente, no qual o aluno é convocado a relatar sua experiência ou prática de acordo com os conteúdos trabalhados durante a trajetória do curso.
Dentre as orientações do PMM, destaca-se a EPS, em que os profissionais devem organizar a carga horária semanal das atividades profissionais, com oito horas para dedicação aos estudos teóricos, e ser submetidos às avaliações posteriormente. O Eixo Formação do PMM é uma etapa importante na busca por mudanças no perfil profissional para a qualificação de recursos humanos no SUS. O objetivo da formação complementar, então, é proporcionar conhecimentos essenciais e necessários à atuação no contexto da APS brasileira. Dessa forma, a modalidade de EAD foi a estratégia definida, pois possibilita alcançar a formação e a qualificação desses profissionais em todo o território brasileiro77 Campos GWS, Pereira Júnior N. A atenção primária e o programa mais médicos do sistema único de saúde: conquistas e limites. Cienc Saude Colet. 2016; 21(9):2655-63..
O cotidiano da atuação dos profissionais da saúde é dinâmico, o que exige gerenciamento de seu tempo para buscar e manter a qualificação profissional e acadêmica à luz da EPS. Todavia, não existe mais a necessidade de frequentar presencialmente a sala de aula regular, o que poderia ser um fator desfavorável quando se tem uma rotina intensa de trabalho. Assim, novos métodos de ensino-aprendizagem surgem para discutir esse paradigma em relação ao modelo educacional formal e tradicional, como a prática da modalidade EAD.
A modalidade de EAD permite atingir um grande número de pessoas distribuídas em diversas localidades. A partir daí, proporciona ao profissional a aquisição do conhecimento, permitindo que demonstre capacidade crítico-reflexiva, habilidades e competências para o desenvolvimento de suas funções88 Silva AN, Santos AMG, Cortez EA, Cordeiro BC. Limites e possibilidades do ensino à distância (EaD) na educação permanente em saúde: revisão integrativa. Cienc Saude Colet. 2015; 20(4):1099-107.. Possibilita, também, que sejam utilizados novos conteúdos, práticas pedagógicas e recursos didáticos que estimulem e facilitem a produção de conhecimento a partir da autoaprendizagem. Aliado a isso, nota-se o aumento da disponibilidade de recursos educacionais de livre acesso, efetivando a democratização dos processos de EPS para os profissionais e contribuindo para estabelecer espaços de discussão e socialização sobre os conceitos abordados nesses processos.
Considerando as possibilidades da EAD e das tecnologias de comunicação e informação, pode-se trabalhar o desenvolvimento profissional e humano, por meio do uso de mídias variadas, bem como tecer discussões significativas sobre temas necessários no cotidiano da APS. Logo, um dos elementos essenciais nessa modalidade é a comunicação, que é potencializada, dados os avanços tecnológicos que têm facilitado o acesso ao diálogo, conteúdo e informações em tempo real, em seu próprio local de atuação. Essa interatividade fomenta e fortalece o processo de ensino-aprendizagem virtual, na medida em que oportuniza a discussão dos conteúdos por meio dos recursos educacionais em multimídia que podem ser compartilhados, como dispositivos audiovisuais, videoaulas e conteúdos interativos99 Rangel-S ML, Barbosa AO, Riccio NCR, Souza JS. Redes de aprendizagem colaborativa: contribuição da Educação a Distância no processo de qualificação de gestores do Sistema Único de Saúde - SUS. Interface (Botucatu). 2012; 16(41):545-56..
Para Dahmer55 Dahmer A, Portella FF, Tubelo RA, Mattos LB, Gomes MQ, Costa MR, et al. Regionalização dos conteúdos de um curso de especialização em Saúde da Família, a distância: experiência da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS/UFCSPA) em Porto Alegre, Brasil. Interface (Botucatu). 2017; 21(61):449-63., a EAD representa uma ferramenta importante para a qualificação dos profissionais em países em desenvolvimento e de grande extensão como o Brasil, haja vista a facilidade de alcançar profissionais em regiões com menores recursos financeiros e distantes dos grandes centros urbanos. Essa modalidade acaba se tornando um meio que possibilita superar as carências da formação permanente dos profissionais da Saúde inseridos na APS, influenciando na reconfiguração das práticas profissionais. Nessa perspectiva, a EAD tem sido utilizada como possibilidade de educação, contribuindo para a redução da carência de formação na APS, propiciando o acesso ao ensino nas regiões afastadas dos grandes centros urbanos, onde está inserida grande parte dos profissionais participantes do PMM.
Metodologia
A metodologia deste estudo baseou-se nos princípios da pesquisa exploratório-descritiva, de abordagem qualitativa, com a participação de médicos integrantes do PMM que são alunos do curso de Especialização em Saúde da Família da UFCSPA/UNA-SUS. Os dados foram gerados durante o mês de agosto de 2017, quando ocorreu a apresentação dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos de uma turma do estado do Rio Grande do Sul. Os critérios para participação no estudo foram: ser aluno do curso de Especialização em Saúde da Família; residir e atuar no PMM no estado do Rio Grande do Sul; e assinar os termos de Autorização para Publicação e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A obtenção de dados deu-se por meio da técnica de grupo focal, pela possibilidade de, na discussão em grupo com os participantes da pesquisa, conhecer diferentes percepções e atitudes acerca de um fato, prática, produto ou serviço. Ademais, obteve-se uma riqueza de dados, por meio da discussão entre os demais participantes e da possibilidade dialógica no compartilhamento de informações, possibilitando ao grupo ir além das respostas de um instrumento fechado1010 Flick U. O desenho da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed; 2009..
Foram convidados, por e-mail e presencialmente, 48 alunos ativos e aptos para a apresentação do TCC, quantidade referente ao total de alunos de uma turma pertencente ao estado do Rio Grande do Sul. Desse número, 19 alunos tiveram a disponibilidade de participação. O convite por e-mail se deu pela possibilidade de envio da proposta do estudo previamente. Além disso, esse meio de comunicação é utilizado com frequência nos processos de EAD. O motivo de recusa de participação se deu pela indisponibilidade de tempo após a apresentação de TCC, visto que muitos profissionais deveriam retornar aos seus munícipios de origem com o transporte disponibilizado pelas prefeituras.
As questões que foram introduzidas para a discussão nos grupos foram as seguintes: Quais são as facilidades e dificuldades que a modalidade EAD apresenta? Quais são as contribuições da EAD na prática profissional? Para o cumprimento ao anonimato, garantido aos sujeitos do estudo, foram-lhes atribuídos códigos “S”, seguidos da numeração corresponde à ordem de registro da participação. Os encontros ocorreram na UFCSPA, com a divisão dos participantes em quatro grupos. Ocorreram ao todo quatro encontros, ou seja, um encontro com cada grupo, com a duração de uma hora e trinta minutos em cada sessão, sob a coordenação do pesquisador, e contaram com a participação de uma observadora e um assistente para auxílio no registro do áudio/vídeo.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFCSPA, sob o parecer no 2.073.438. Todos os aspectos que envolvem a pesquisa estão de acordo com a Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Os depoimentos obtidos foram gravados, transcritos e editados. A análise foi realizada com base no método da análise de conteúdo temática, visto que esta atende aos pressupostos da investigação qualitativa, possibilitando identificar e analisar temas a respeito de determinado assunto1111 Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qual Res Psychol. 2006; 3(2):77-101.. Desse modo, os resultados foram organizados segundo os seguintes temas: vantagens e facilidades da EAD, dificuldades da EAD e percepções e contribuições do curso de especialização na prática profissional.
Resultados e discussão
Do total de participantes (n=19), nove (47,36%) eram de nacionalidade cubana, oito (42,12%) de nacionalidade brasileira, um (5,26%) de nacionalidade peruana e um (5,26%) de nacionalidade boliviana. Quanto ao país de formação na graduação em Medicina, 13 (68,42%) formaram-se em Cuba, quatro (21,06%) no Brasil, um (5,26%) na Argentina e um (5,26%) na Bolívia.
A figura 1 apresenta a distribuição dos participantes segundo o município de atuação dos profissionais no Rio Grande do Sul.
Distribuição dos profissionais participantes segundo munícipio de atuação. UNA-SUS - UFCSPA, 2017.
Do total de participantes (n=19), 12 (63,15%) não possuíam nenhuma experiência na modalidade de EAD anteriormente. Referente ao acesso à internet, 13 (68,42%) possuíam disponibilidade de acesso no local de trabalho, e todos os 19 (100%) participantes tinham acesso à internet em seu domicílio.
Vantagens e facilidades da Educação a Distância
Os diálogos nas sessões de grupo focal trouxeram, como primeiro ponto de destaque sobre a EAD, certo medo e desconhecimento da modalidade de ensino. A maioria dos profissionais estava em sua primeira experiência com a EAD e em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA):
Em Cuba eu não tive essa experiência. (S5)
No início foi muito difícil! A gente tinha alguns conhecimentos de informática, mas nunca teve a oportunidade de fazer um curso a distância, foi a primeira vez, por isso deu um pouco de trabalho, mas depois a gente foi perguntando e as coisas foram se ajeitando e deu tudo certo. (S9)
Esses relatos, na sua maioria, são atribuídos às características dos participantes da pesquisa, que refletem o perfil dos profissionais do PMM. Mais da metade dos participantes da pesquisa são médicos da cooperação entre Brasil e Cuba. Oliveira22 Oliveira FP, Vanni T, Pinto HA, Santos JTR, Figueiredo AM, Araújo SQ, et al. Mais Médicos: um programa brasileiro em uma perspectiva internacional. Interface (Botucatu). 2015; 19(5):623-34. apresenta que, entre todos os médicos contratados pelo PMM, 11.150 são oriundos da cooperação, representando cerca de 80% do total dos participantes do PMM. Em alguns municípios, os cooperados representam 100% dos médicos que atuam na APS, enquanto em outras localidades equivalem apenas a 5% ou menos66 Molina J, Tasca R, Suárez J. Monitoramento e avaliação do Projeto de Cooperação da OPAS/OMS com o Programa Mais Médicos: reflexões a meio caminho. Cienc Saude Colet. 2016; 21(9):2925-33.. Em certas unidades de saúde, trabalham, conjuntamente, médicos brasileiros e de outras nacionalidades, o que potencializa e auxilia em momentos de trocas de informação, dúvidas e dificuldades no que tange às situações cotidianas e relacionadas à EAD. De fato, essa modalidade de ensino amplia as possibilidades de compartilhamentos e discussões dos conteúdos com a equipe no ambiente de trabalho.
Um dos aspectos elencados pelos profissionais foi a possibilidade de estudar em qualquer lugar. Isso tem relação com o perfil dos participantes do PMM, que, na sua maioria, são profissionais que migram para as cidades nas quais foram designados para atuar, porém, acabam por se movimentar em períodos de férias e recesso. Assim, podem continuar acessando o curso e realizando as atividades de formação em qualquer destino, também sem precisar de deslocamento para a instituição que promove o curso. Aliado a isso, o fato de ter o conteúdo disponível a qualquer momento faz com que os alunos tenham a possibilidade de organizar seu tempo e de construir o próprio plano de estudos, incentivado a proatividade do aluno:
Uma coisa favorável é que onde você está você consegue acessar o material, eu mesmo entrei de licença maternidade e optei por continuar o curso e consegui dar continuidade e o tempo que sobra tu consegue se organizar, acessar e realizar as tarefas. (S8)
Eu estou em uma cidade, viajo no final de semana para outra, então esta é uma vantagem de um curso de especialização a distância, e que você faz o download dos arquivos, e pela internet consegue continuar avançando. (S11)
O fato de estar afastado do local de atuação ou domicílio não se mostrou um fator impeditivo para que os alunos realizassem suas atividades ou se mantivessem em contato com os tutores e colegas. O uso de fóruns para troca de experiências propicia estar conectado com os colegas, dialogando em discussões propostas pelos tutores, de acordo com o conteúdo programático do curso. Rangel99 Rangel-S ML, Barbosa AO, Riccio NCR, Souza JS. Redes de aprendizagem colaborativa: contribuição da Educação a Distância no processo de qualificação de gestores do Sistema Único de Saúde - SUS. Interface (Botucatu). 2012; 16(41):545-56. destaca a interatividade presente nesses processos, com a possibilidade de os sujeitos participarem ativamente, compartilhando reações, experiências e discutindo conceitos e situações-problema.
Os alunos destacaram a variedade de recursos educacionais que podem ser utilizados na modalidade de EAD como um fator positivo. O curso de Especialização em Saúde da Família ofertado pela UFCSPA/UNA-SUS está organizado em dois eixos temáticos. No primeiro, são abordados conteúdos do campo de Saúde Coletiva; no segundo eixo, são trabalhados conteúdos voltados à prática clínica. Os conteúdos possibilitam estabelecer relações das experiências profissionais e da atuação no território. O projeto pedagógico do curso organizou seus eixos de conhecimento a partir de um trabalho de pesquisa e desenvolvimento multiprofissional, o que resultou em um conteúdo esteticamente agradável, buscando manter a atenção e estimular os alunos a se envolverem com os conteúdos, fundamentais à sua prática. Isso se reflete na fala dos participantes da pesquisa, ao citarem a qualidade e diversidade dos recursos educacionais44 Presidência da República (BR). Lei nº 12.871, de 22 de Outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis nº 8.745, de 9 de Dezembro de 1993, e nº 6.932, de 7 de Julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 23 Out 2013.: "O curso tem bastante material didático, o que mostra qualidade, os vídeos, as aulas, eu achei muito bom porque mostraram a realidade que nós vivemos" (S3).
O material pedagógico do curso busca utilizar o maior número de recursos educacionais, possibilitando que o processo de ensino-aprendizagem seja efetivo e atraente para os profissionais. Para tanto, é necessária a integração de diferentes áreas do conhecimento, resultando em uma construção conjunta, levando em consideração o conhecimento das áreas pedagógicas, de Design e da área da Saúde1212 Carvalho RA, Struchiner M. Conhecimentos e expertises de universidades tradicionais para o desenvolvimento de cursos a distância da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS). Interface (Botucatu). 2017; 21(63):991-1003.. Isso resulta em um material que estimula os profissionais, e, como o relato a seguir, cria a possibilidade de utilização e compartilhamento com o resto da equipe de ESF:
De uma forma bem direta, até as tabelas apresentadas eu imprimia e mantinha na unidade. (S15)
Realmente o material eu aproveitava com a equipe, foi bastante útil. (S19)
Esses relatos demonstram que os objetos educacionais do curso também foram utilizados em processos de EPS, não apenas pelos profissionais médicos participantes do PMM, mas também por toda a equipe, especialmente os conteúdos que compõem o Eixo 1 - Campo de Saúde Coletiva. Isso se deve ao fato de que o material é direcionado a todos os profissionais de saúde que constituem a equipe na APS, visto que o conteúdo é de uso das áreas de Enfermagem, Medicina e Odontologia.
Mesmo com o desconhecimento da modalidade de EAD, houve o entendimento de que o processo educativo pode ser realizado em diversos momentos e o de que o compartilhamento dos materiais e recursos pode ser uma ferramenta para os processos de EPS.
A EAD apresenta diversas potencialidades, como sua utilização e incorporação aos processos de formação e de qualificação dos profissionais de saúde, principalmente em um país de grande extensão como o Brasil. Contudo, ainda existem obstáculos a serem superados, dentre os quais se destaca o desconhecimento dessa modalidade de ensino, já que 63,15% dos participantes desta pesquisa afirmaram estar em sua primeira experiência em EAD: "Então, foi uma experiência nova para nós. A gente tinha alguns conhecimentos da informática, essas coisas, mas nunca tivemos essa oportunidade de fazer um curso a distância em Cuba" (S3).
Para auxiliar na adaptação, o curso inicia com a oferta de um módulo de Introdução à EAD, em que o aluno é instrumentalizado e ambientado ao uso das ferramentas do AVA. Esse módulo tem como objetivo auxiliar o aluno nos primeiros momentos do curso, apresentando as ferramentas de comunicação e interação e colocando-o em contato com o tutor, personagem importante no processo de ensino-aprendizagem na modalidade EAD.
Nesse sentido, o papel da EAD é facilitar o acesso do aluno à informação, tornando-o mais proativo na formação acadêmica e profissional. No curso, cada aluno é um agente de sua própria formação e deve criar, dentro de certos limites, seu próprio perfil de aprendizado:
Tem a questão da proatividade, você tem que se dedicar um pouco mais. (S8)
Eu acho que educação a distância é boa. Mas depende também do estilo do aluno. (S9)
Um aspecto citado pelos alunos é que a experiência em um curso na modalidade de EAD possibilita uma maior reflexão do aluno em detrimento do ensino presencial, em que se pode recair em uma educação “bancária”, ou seja, o professor entrega e deposita o conteúdo sobre os alunos. Essa reflexão aponta para uma competência necessária ao processo de aprendizagem. Segundo Behar1313 Behar PA, Silva KKA. Mapeamento de competências: um foco no aluno da educação a distância. Renote. 2012; 10(3):14., isso se deve à possibilidade de momentos de abstração, reflexão e análise crítica das situações, atividades e modos de agir no processo de ensino-aprendizagem1212 Carvalho RA, Struchiner M. Conhecimentos e expertises de universidades tradicionais para o desenvolvimento de cursos a distância da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS). Interface (Botucatu). 2017; 21(63):991-1003..
Acho muito interessante que a gente acaba refletindo muito mais do que no ensino presencial, em que o conhecimento acaba sendo um pouco absorvido, e nos permite fazer algumas reflexões sobre os conteúdos apresentados. (S10)
Desse modo, as facilidades da modalidade EAD se mostram motivadoras para os alunos, incentivando o diálogo, a troca de experiências e a utilização da plataforma em qualquer momento, possibilitando um melhor aproveitamento do tempo disponível, além do compartilhamento dos materiais e recursos educativos com os demais profissionais de saúde.
Dificuldades da Educação a Distância
A dependência de uma boa conexão com a internet é um fator desfavorável, que comprometeu o acesso de alguns profissionais durante a realização do curso. Apesar de 100% dos participantes possuírem acesso, alguns profissionais trabalham em áreas mais distantes do centro das cidades, em zonas rurais, o que muitas vezes impossibilita o acesso ao curso no que se refere à qualidade de conexão para acompanhar os recursos como vídeos e animações.
Os profissionais participantes do PMM têm disponíveis oito horas semanais exclusivas para a realização das atividades de formação, consideradas como EPS. Porém, essa carga horária muitas vezes não foi suficiente para a realização de todas as atividades programadas para aquela semana, devido à qualidade da conexão. A participação em fóruns também exigiu frequência diária do aluno no AVA, para que tivesse um melhor acompanhamento das discussões do grupo de alunos e tutor.
Temos oito horas na semana para o curso, porém, eu tinha que entrar diariamente, pois começava as atividades e não terminava. (S2)
Outro ponto destacado pelos participantes é referente aos encontros presenciais durante a especialização. O curso prevê, em seu cronograma, um mínimo de três encontros presenciais, para provas e para apresentação do TCC. Muitos profissionais ressaltaram que, estando em municípios distantes da capital e da universidade, seria difícil incluir mais encontros presenciais para manter o acompanhamento da especialização. Outros acreditam que mais encontros presenciais poderiam auxiliar durante o curso, para a resolução de atividades e de dúvidas, principalmente em relação à dificuldade de se acompanhar um curso na modalidade EAD:
Eu acho que talvez o tempo foi muito largo entre os encontros no decorrer da especialização. (S7)
Foi bom, por exemplo, muitos de nós que moramos a longa distância do polo presencial, imagina ter que vir de certo tempo aqui para fazer o curso. (S10)
No entanto, mesmo com o número reduzido de encontros presenciais, o uso de ferramentas que buscam a aproximação dos alunos com o curso também são destaques positivos nas falas dos participantes. O fórum permite uma aproximação de profissionais atuantes em territórios e realidades totalmente distintas, possibilitando a discussão de casos, problemas e situações. Os trechos a seguir exemplificam a potencialidade dos fóruns na proposição de ideias e soluções para situações-problema do cotidiano da Atenção Primária:
Conforme eu posto algo no fórum, por exemplo, escrevo uma situação de minha unidade de saúde e eu tenho oportunidade de compartilhar e discutir isso com meus colegas de outras cidades. (S5)
Durante as sessões de grupo focal, os alunos abordaram alguns aspectos da relação tutor-aluno. A dificuldade de comunicação foi destacada como ponto desfavorável nessa relação, visto que a resposta do tutor não tem a exigência de ser realizada em tempo real. Essa percepção pode estar relacionada, ainda, com o modelo de ensino tradicional, em que o aluno imediatamente questiona o professor em sala de aula e obtém a resposta.
A EAD apresenta a possibilidade de estabelecer o diálogo assíncrono e síncrono. A fim de atender ao imediatismo da necessidade de resposta, há a disponibilidade do recurso de chats, aumentando a interação síncrona tutor-aluno. Logo, entre as funções principais do tutor, salienta-se a orientação do aluno, para que este possa ser gestor de seu próprio conhecimento. Contudo, o tutor auxilia na mediação dos conteúdos apresentados e no desenvolvimento de atividades avaliativas, como elaboração de textos reflexivos, projetos e atividades formativas, como meio de moderar e incentivar a participação em fóruns, quizes e textos colaborativos.
Toda comunicação tutor-aluno foi realizada pelo AVA, por meio de chats, mensagens diretas entre ambos e postagem em fóruns. Esses processos de interação ficam registrados e podem ser monitorados. Ainda assim, alguns alunos demonstram que o contato presencial pode ser mais efetivo no momento de esclarecer dúvidas ou discutir conceitos: "Eu acho que, sobretudo nós que estamos acostumados com o professor em sala de aula, com o contato direto com a pessoa facilitaria" (S18).
Contudo, alguns alunos, mesmo com a diversidade na disponibilidade de recursos de comunicação, ainda têm preferência pela interação presencial, o que poderia ajudar no processo de ensino-aprendizagem na modalidade a distância.
Percepções sobre a EAD e as contribuições do curso de especialização na prática profissional
Uma das contribuições fundamentais trazidas pelos alunos foi o incentivo na melhoria do processo de trabalho e no cotidiano das práticas desenvolvidas na ESF. O processo de mudança na prática dos profissionais não depende apenas dos sujeitos em serviço e dos processos formativos, é necessário considerar a organização e as condições de trabalho, fatores que potencializam o processo educativo, dando subsídios para a aplicação prática do conhecimento construído ao longo do processo formativo1313 Behar PA, Silva KKA. Mapeamento de competências: um foco no aluno da educação a distância. Renote. 2012; 10(3):14..
Logo, essa mudança de práticas passa pela possibilidade de diálogo com demais profissionais, na busca por soluções já aplicadas em outros serviços, pela troca de saberes entre aluno e tutor, dada a experiência deste no campo da saúde e nas práticas específicas da APS no Brasil. Tais possibilidades acompanharam as reflexões dos alunos, como observados em seus relatos.
O estado do Rio Grande do Sul tem uma vasta área geográfica, constituído por 497 municípios, sendo o mais populoso da região Sul. Por conseguinte, os profissionais participantes do PMM ficam espalhados em municípios distantes entre si, com diferenças regionais, socioeconômicas e culturais, embora as situações de adoecimento populacional sejam semelhantes. A situação relatada, então, resulta na troca de informações e de experiências na potencialização da resolução de problemas que estão no cotidiano da atuação na APS, com a utilização do AVA. Isso foi confirmado pelos alunos, quando relatam que o uso dos fóruns e dos chats possibilitou a discussão e a resolução de problemas específicos em seu território, mostrando que, mesmo estando distante geograficamente, a realidade apresentou semelhanças:
Havia colegas em situações semelhantes, mas que estavam lá tentando fazer algo melhor [...]. A questão mesmo do uso dos fóruns, né, a gente vendo que um coloca, o que o outro escreve, você vê novas propostas e consegue identificar o que dá para implantar na tua unidade. (S17)
O curso de especialização em Saúde da Família não foi a única oferta educativa disponível para os profissionais participantes do PMM, pois existem diversas opções de plataformas e portais, com cursos de curta duração tutorados ou autoinstrucionais para profissionais da saúde. O portal da UNA-SUS oferta regularmente diversos cursos, com conteúdos baseados no dia a dia de trabalho dos profissionais do SUS e em suas reais necessidades. Alguns profissionais se motivaram a buscar conhecimentos em cursos de acordo com a necessidade da população do seu território ou de temas emergentes de prevenção de doenças, de tratamento, de manutenção e de promoção da saúde.
Recebi por e-mail os cursos que estavam sendo ofertados, e consegui fazer um total de dez cursos, com temas como nutrição na APS, dengue, entre outros... o que foi fenomenal para poder trabalhar a Educação em Saúde para a população que eu atendo. (S5)
De acordo com o perfil dos alunos, sendo em sua maioria profissionais estrangeiros ou brasileiros formados em outros países, houve a necessidade de se trabalhar os aspectos referentes ao histórico e à organização do SUS, de maneira detalhada, durante todo o primeiro eixo de formação. Já no segundo eixo, são abordados os aspectos da clínica de Medicina de Família, apresentando o conteúdo essencial para auxiliar os profissionais no manejo de agravos que não são prevalentes ou que estão erradicados em seus países de origem.
Como estrangeiros e estando atuando em um país com um sistema de saúde totalmente diferente, aprendemos sobre doenças que nós só conhecíamos na literatura, doenças que foram erradicadas lá (em nosso país) e que ainda aqui temos. (S12)
A regionalização dos conteúdos também foi um ponto destacado. Dada a necessidade de formação em larga escala, o curso é ofertado a seis unidades federativas, além do Rio Grande do Sul. Sendo assim, os conteúdos do Eixo 2 - Casos Clínicos são direcionados conforme as especificidades regionais e locais, considerando os agravos de saúde mais prevalentes em determinada região de atuação do profissional da área da saúde, bem como as características socioculturais da população atendida, o que propicia chances de se atingir uma aprendizagem mais significativa44 Presidência da República (BR). Lei nº 12.871, de 22 de Outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis nº 8.745, de 9 de Dezembro de 1993, e nº 6.932, de 7 de Julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 23 Out 2013.. O fato de os conteúdos abordarem aspectos relacionados ao contexto local dos profissionais permitiu a troca de experiências, seja em momentos informais ou nas ferramentas de interação disponíveis no AVA: "Também troquei ideias com os profissionais que moram em outras partes do Brasil e o material ofertado é muito diferente, os conteúdos não são os mesmos do curso" (S5).
Como o perfil de participantes do PMM é formado em sua maioria por profissionais estrangeiros, houve a necessidade de se abordar os conteúdos de uma maneira que introduzisse a discussão sobre o campo da APS, mas que se direcionasse ao contexto brasileiro, com os protocolos instituídos pelo MS, além de referências atualizadas sobre a situação de saúde e os agravos predominantes. Sobre isso, os profissionais destacam as diferenças de conduta e manejo de agravos, de acordo com sua experiência prévia: "Aprendemos muito sobre as condutas e tratamentos aqui no Brasil, que diferem bastante em algumas coisas do que já conhecíamos" (S7).
Vale salientar, ainda, que o uso das ferramentas de gestão e planejamento possibilitou aos alunos uma imersão na complexidade do SUS, a partir da realidade do território vivido na ESF:
O curso ajudou bastante na estruturação das práticas desenvolvidas na ESF, de como organizar a equipe e a agenda com a demanda espontânea, com os grupos, que o curso traz muito isso também. (S15)
Em vários momentos ele instiga a pensar e a levar algumas situações pra dentro da unidade, a fazer questionamentos, né, tentar ver com outros olhos algumas situações, levei muitas coisas do curso pra dentro da unidade e nós acabamos mudando muito ao longo desse ano a forma de trabalhar e mudando pra melhor. (S14)
Assinala-se que um dos objetivos do curso é a EPS dos profissionais da saúde, não só os que estão cursando, mas também de toda a equipe, dada a possibilidade de compartilhamento dos recursos e utilização dos temas nos momentos de educação em serviço.
Conclusões
Este estudo buscou conhecer a percepção dos profissionais do PMM sobre a EAD, assim como sobre contribuições do curso no cotidiano das práticas profissionais, no decorrer do processo de formação em Saúde da Família. A modalidade de EAD se apresenta como uma ferramenta fundamental para a consolidação da EPS e para qualificação dos profissionais que atuam na APS, seja pela distribuição destes em locais distantes dos grandes centros de formação ou pela possibilidade de organização da agenda de estudo no seu cotidiano. Além da troca de experiências relacionadas aos processos de trabalho com os demais alunos, a modalidade EAD também permite o compartilhamento de materiais com a equipe de saúde.
Embora a EAD ainda seja uma novidade para a maioria dos profissionais participantes do PMM, conforme relatos, não foi um fator impeditivo para a identificação das potencialidades nessa modalidade de ensino. Todavia, as dificuldades são inerentes aos processos formativos, principalmente quando se torna necessária a adaptação a uma nova metodologia de ensino. Como uma grande vantagem da modalidade EAD, foi citada a possibilidade de acessar o material do curso em qualquer local, aproveitando também momentos de EPS com a equipe, potencializando-se assim a qualificação da APS, por meio de compartilhamento de conteúdo atualizado, dinâmico e interativo.
No que se refere a dificuldades, citou-se a comunicação com os tutores, visto que muitos profissionais ainda têm uma percepção sobre a necessidade da presencialidade do ensino, em que ocorre o contato com o professor em tempo real. Na EAD, a organização de tempo e das tarefas a serem realizadas é necessária, considerando que o aluno envia sua dúvida para o tutor e recebe o feedback pelo AVA.
Destaca-se a possibilidade de repensar os modos de potencializar a EPS no contexto das concepções e práticas dos profissionais de saúde, bem como ratifica o uso da modalidade EAD como ferramenta potente e democratizante do acesso à qualificação do profissional e da sua atuação nos serviços de saúde, ao acolher profissionais de diferentes regiões geográficas; e oportunizar a formação em serviço, a adequação dos recursos didáticos à realidade local do profissional e a interlocução com outras realidades diversas. Não se coloca em questão a modalidade de ensino utilizada em si, mas seu potencial para atender uma política de formação como o PMM e seus desdobramentos imediatos na realidade social atendida pelos profissionais de saúde em formação.
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- 4Presidência da República (BR). Lei nº 12.871, de 22 de Outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis nº 8.745, de 9 de Dezembro de 1993, e nº 6.932, de 7 de Julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 23 Out 2013.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
04 Fev 2019
Histórico
- Recebido
07 Fev 2018 - Aceito
24 Set 2018