Resumos
O doutorado consiste em um longo percurso e uma das dificuldades é evidenciar o deslocamento da aprendizagem e possibilitar um processo autoanalítico ao doutorando. Assim, este artigo tem como objetivo apresentar a utilização do diário de pesquisa no percurso de doutoramento como um potente instrumento para o acompanhamento do aprendizado e de análise de implicação do estudante/pesquisador no desenvolvimento de sua pesquisa. Trata-se de um relato de experiência que utiliza o referencial teórico e metodológico da análise institucional. O diário foi escrito no período de janeiro de 2014 a setembro de 2017 e possibilitou mapear a trajetória do pesquisador, sendo também utilizado como um instrumento de análise de implicação com as diversas instituições que o atravessaram nesse percurso. Acreditamos que a utilização do diário possibilita o acompanhamento dos deslocamentos do processo de aprendizagem do(a)s estudantes de pós-graduação e pesquisadores.
Ensino de pós-graduação; Acompanhamento da aprendizagem; Diário; Análise institucional
El doctorado consiste en una larga trayectoria y una de las dificultades es poner en evidencia el desplazamiento del aprendizaje y posibilitar un proceso auto-analítico al doctorando. Por lo tanto, esta producción tiene el objetivo de presentar la utilización del diario de investigación en la trayectoria de doctorado como un potente instrumento para el acompañamiento del aprendizaje y del análisis de la implicación del estudiante/investigador en el desarrollo de su investigación. Se trata de un relato de experiencia que utiliza el referencial teórico y metodológico del Análisis Institucional. El diario fue escrito en el período de enero de 2014 a septiembre de 2017 y posibilitó mapear la trayectoria del investigador, utilizándose también como un instrumento de análisis de implicación con las diversas instituciones que lo atravesaron en esa trayectoria. Creemos que la utilización del diario posibilita el acompañamiento de los desplazamientos del proceso de aprendizaje de los estudiantes de postgrado e investigadores.
Enseñanza de postgrado; Acompañamiento del aprendizaje; Diario; Análisis institucional
Introdução
A pós-graduação vem se tornando um relevante componente da formação profissional na medida em que diversos profissionais, empregados ou não, vêm procurando-a como estratégia formativa11. Lopes A, Menezes I. A construção de si como investigador: reflexões sobre os processos de formação pós-graduada. Educ Rev. 2018; 34(71):103-24.. Ela possui como uma de suas funções formar sujeitos que estejam aptos para o desenvolvimento da docência e da pesquisa em seus diferentes contextos. Assim, espera-se que estes estejam comprometidos com a formação de outros futuros profissionais22. Oliveira SSB, Oliveira Filho EC, Bentes AN. A elevação da qualidade da pós-graduação: uma proposta da Universidade Federal do Amazonas. RBPG Rev Bras Pos-Grad. 2014; 11(23):107-26..
É possível identificar doutorandos relatando o sentimento de insegurança, medo e estresse durante o percurso de doutoramento. As diversas responsabilidades a serem assumidas, as mudanças nos papéis profissionais (especialista prático para cientista pesquisador) e as expectativas posteriores ao curso do doutorado criam, por si só, diversos desafios a serem percorridos pelo doutorando em sua formação33. Murray C, Stanley M, Wright S. The transition from clinician to academic in nursing and allied health: a qualitative meta-synthesis. Nurse Educ Today. 2014; 34(3):389-95.,44. Ünal A, Interpeler SS; Öncü YA. Percepção de estudantes de doutorado em enfermagem sobre planejamento de carreira e prioridades de pesquisa. Acta Paul Enferm. 2018; 31(5):525-34..
Considera-se que o processo de doutoramento é composto por uma trajetória árdua e que perpassa um longo percurso, exigindo disciplina e dedicação no desenvolvimento de um projeto de pesquisa e preparação para a vida de pesquisador e professor universitário.
Parece-nos que a análise institucional pode contribuir nessa perspectiva formativa e de acompanhamento do processo do conhecimento pelo doutorando por meio do emprego de seus princípios na prática cotidiana e da proposição dos diários como instrumentos de registro, análise e pesquisa. Eles possibilitam o delineamento da trajetória de formação, auxiliam a autoanálise do doutorando e o registro de seu movimento durante o processo de doutoramento.
Esses instrumentos possuem o potencial de produzir reflexão sobre a própria prática, na medida em que o ato de escrever possibilita um processo analítico daquilo que foi vivido, permitindo o registro dos não ditos com o objetivo de refletir sobre a não neutralidade do pesquisador no processo de pesquisar55. Pezzato LM, L’Abbate S. O uso de diários como ferramenta de intervenção da análise institucional: potencializando reflexões no cotidiano da saúde bucal coletiva. Physis. 2011; 21(4):1297-314..
Existem vários tipos de diários: o diário íntimo, de viagem, filosófico, de formação, de momentos, institucional, de pesquisa, entre outros. Todos eles, de certa forma, proporcionam ao diarista “tornar-se também ‘sujeito do processo de escrita’, pois ao escrevermos, inscrevemos nossas subjetividades”66. Jesus AF, Pezzato LM, Abrahão AL. O uso do diário como ferramenta estratégica da análise institucional para abordar o cotidiano do profissional de saúde: o caso do dom queixote. In: L’Abbate S, Mourão LC, Pezzato LM. Análise institucional & saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 206-35. (p. 209-10), sendo que na leitura ou releitura desse instrumento habita a possibilidade de torná-las conscientes.
O diário de pesquisa, segundo a análise institucional, consiste em uma narrativa do pesquisador, dentro de seu contexto histórico-social, que viabiliza restituir, de maneira escrita, o trabalho de campo, as aproximações e distanciamentos com o objeto de pesquisa e o ato de pesquisar em si. A escrita diarística possibilita um tipo de reflexão própria do ato de escrever, desnaturalizando a ideia da neutralidade ao pesquisar e permitindo a exposição das experiências cotidianas, fragilidades e dificuldades concretas vivenciadas no percurso de pesquisador77. Lourau R. Implicação: um novo paradigma? In: Altoé S. René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004. p. 246-58..
Por meio dessa escrita, o estudante/pesquisador realiza um processo autoanalítico de suas implicações que, para a análise institucional, representam as relações que os sujeitos estabelecem com as instituições, sendo estas as normas e regras construídas e estabelecidas socialmente88. Lourau R. A análise institucional. 3a ed. Petrópolis: Vozes; 2014.. Isso advém da crítica louraudiana aos conceitos freudianos de transferência e de contratransferência às situações coletivas, ampliando sua abrangência ao meio social77. Lourau R. Implicação: um novo paradigma? In: Altoé S. René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004. p. 246-58.. Essa implicação comporta três dimensões: psicoafetiva (libidinal), histórica-existencial (ideológica) e estrutural-profissional (organizacional)99. Barbier R. A pesquisa-ação na instituição educativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1985..
A dimensão libidinal está relacionada ao desejo dos sujeitos. Isso “tende a questionar a ideia de que o desejo e a subjetividade estão centrados nos indivíduos e resultariam, em nível coletivo, da interação de fatos individuais”1010. Guatarri F, Rolnik S. Micropolítica: cartografias do desejo. 8a ed. Petrópolis: Vozes; 2013. (p. 232). A dimensão libidinal é, portanto, encontrada na concepção de desejo social.
A dimensão ideológica é muito articulada à libidinal e indica as crenças dos sujeitos. Para Marx e Engels1111. Marx K, Engels F. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo; 2007., a ideologia é o sistema de ideias e representações que dominam a mente de um indivíduo ou de um grupo social dialeticamente. A dialética tem suas origens na antiguidade “dos pré-socráticos, dos socráticos (Sócrates, Platão e Aristóteles), dos estoicos (Plotino, Santo Agostinho)”1212. Sanfelice JL. Dialética e pesquisa em educação. In: Lombardi JC, Saviani D. Educação e Marxismo. 2a ed. São Paulo: Cortez; 2005. (p. 50) e era entendida como o princípio no qual, em um mesmo objeto ou ato social, não se poderia encontrar seu contrário. Esse conceito de dialética, acompanhando o desenvolvimento histórico da sociedade, foi se alterando até atingir o ponto atual, que compreende como central a ideia de unidade dos contrários, ou ainda, assume a possibilidade concreta da existência da contradição.
Portanto, a ideologia não consiste em algo consciente e individual,mas sim produzida a partir da existência social dos sujeitos1313. Garcia LBR. A ideologia e o poder disciplinar como formas de dominação. Trans/Form/Ação. 1988; 11:53-9.. É justamente porque o pesquisador está totalmente engajado no aqui e agora de sua pesquisa que não pode escapar dessa dimensão da implicação99. Barbier R. A pesquisa-ação na instituição educativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1985..
A dimensão organizacional diz respeito à base material e temporal nas quais o sujeito se encontra inserido. É por excelência a dimensão que consiste na “busca de elementos que tenham um significado em referência ao trabalho social do pesquisador e suas raízes socioeconômicas na sociedade contemporânea”99. Barbier R. A pesquisa-ação na instituição educativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1985. (p. 117).
Então, o diário de pesquisa, ao possibilitar “uma escrita transversal, com diversos registros que permitem explorar a complexidade do tema em questão”66. Jesus AF, Pezzato LM, Abrahão AL. O uso do diário como ferramenta estratégica da análise institucional para abordar o cotidiano do profissional de saúde: o caso do dom queixote. In: L’Abbate S, Mourão LC, Pezzato LM. Análise institucional & saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 206-35. (p. 211), torna possível trazer para o primeiro plano a problematologia da implicação: o extratexto da escritura diarística77. Lourau R. Implicação: um novo paradigma? In: Altoé S. René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004. p. 246-58.. Ou seja, ele autoriza emergir aquilo que fica de fora e que dificilmente compõe as produções científicas e os trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses. Dessa forma, o que era relegado a notas de rodapé passa a compor o produto final enquanto um trabalho a ser incorporado e analisado dentro do contexto da produção científica66. Jesus AF, Pezzato LM, Abrahão AL. O uso do diário como ferramenta estratégica da análise institucional para abordar o cotidiano do profissional de saúde: o caso do dom queixote. In: L’Abbate S, Mourão LC, Pezzato LM. Análise institucional & saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 206-35..
Portanto, devido à dificuldade de identificar e analisar o conhecimento apreendido no decurso de doutoramento, os deslocamentos alcançados nessa trajetória e a implicação no desenvolvimento de uma pesquisa; e levando em consideração as contribuições da utilização do diário de pesquisa, delineamos esta produção. O presente artigo consiste em um relato de experiência que tem por objetivo apresentar a utilização do diário de pesquisa no percurso de doutoramento como um potente instrumento para o acompanhamento da aprendizagem e de análise de implicação do estudante/pesquisador no desenvolvimento de sua pesquisa.
Esta produção possui relevância científica ao refletir sobre a utilização de um instrumento destinado ao acompanhamento e desenvolvimento de pesquisas, atribuindo enfoque aos processos inerentes ao ato de pesquisar; por exemplo, as relações ideológicas, libidinais e organizacionais com o objeto e campo de intervenção.
O diário e a pesquisa desenvolvidos no contexto de doutoramento
Este relato de experiência faz referência ao diário de pesquisa escrito pelo primeiro autor no período de janeiro de 2014 a setembro de 2017 e contemplou as reconstituições subjetivas deste, mostrando, entre outros elementos, a contradição entre a temporalidade da produção pessoal e a institucional, ou burocrática1414. Lourau R. René Lourau na UERJ: análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ; 1993.. O relato consistiu como narrativa do pesquisador implicado com e na pesquisa, em seu contexto histórico-social, possibilitando a reflexão sobre e com a sua atividade de diarista55. Pezzato LM, L’Abbate S. O uso de diários como ferramenta de intervenção da análise institucional: potencializando reflexões no cotidiano da saúde bucal coletiva. Physis. 2011; 21(4):1297-314., permitindo o desenvolvimento de um mapeamento da trajetória do pesquisador, desde a inserção até a saída do doutorado.
O enfoque desta produção consiste em trazer elementos não da pesquisa empírica desenvolvida por um dos autores em seu processo de doutoramento, mas da experiência na utilização do diário de pesquisa como um potente instrumento condutor da realização de estudos científicos e, sobretudo, para o processo autoanalítico do pesquisador como parte que afeta e é afetada pela pesquisa desenvolvida. Contudo, vale explicitar que outros instrumentos também foram utilizados na produção dos dados da pesquisa (aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com parecer nº 1568447), tais como: entrevistas semiestruturadas e encontros grupais com os mesmos sujeitos do estudo.
O emprego do diário de pesquisa permitiu o aprimoramento da concepção e condução dos estudos que compuseram a pesquisa de doutorado, evidenciando sua potencialidade como procedimento metodológico na pesquisa. Ele foi empregado como instrumento de registro de experiência, análise e ordenação das vivências como um esforço para compreendê-las, possibilitando ao pesquisador a apreensão do próprio contexto de vida e a experiência do ato de pesquisar em suas diferentes dimensões. Além disso, pôde ser utilizado para o registro dos procedimentos de análise, de reflexões e decisões na condução da pesquisa.
A análise do diário ocorreu em diferentes momentos da pesquisa. Normalmente, antes dos encontros com a tese, com os sujeitos na realização das entrevistas ou quando estes se encontravam nos grupos. Eram em situações em que o pesquisador necessitava olhar para o processo da pesquisa por uma perspectiva transdutiva1515. Lourau R. Implication transduction. Paris: Anthropos; 1997., ou seja, analisar a sua relação com o objeto do estudo (relação sujeito-objeto), buscando uma metaestabilidade ou assunção de maneira a propiciar uma (auto)análise que pudesse ser compreendida e explicitada. Esse processo se dava, portanto, individualmente e fundamentado por alguns princípios da análise institucional (sobretudo, o de implicação), caminhando na perspectiva de compreender as relações e as produções dos contextos analisados66. Jesus AF, Pezzato LM, Abrahão AL. O uso do diário como ferramenta estratégica da análise institucional para abordar o cotidiano do profissional de saúde: o caso do dom queixote. In: L’Abbate S, Mourão LC, Pezzato LM. Análise institucional & saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 206-35.. A partir dessa análise, havia o diálogo com os sujeitos envolvidos na pesquisa nos momentos de grupo e restituição dos dados, vislumbrando um compartilhamento e aprofundamento analítico1616. Monceau G. A socioclínica institucional para pesquisas em educação e em saúde. In: L’Abbate S, Mourão LC, Pezzato LM. Análise institucional & saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 91-103..
Outros princípios utilizados nesse processo foram o de analisador (aquilo que “faz a instituição falar”); instituído (forças que tendem a manter as coisas da forma como elas se encontram); instituinte (forças pulsantes, que geram movimento) e institucionalização (resultado do processo dialético das duas forças anteriores)77. Lourau R. Implicação: um novo paradigma? In: Altoé S. René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004. p. 246-58.,88. Lourau R. A análise institucional. 3a ed. Petrópolis: Vozes; 2014.,1414. Lourau R. René Lourau na UERJ: análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ; 1993..
Vale destacar que os manuais de metodologia científica, ao apresentarem os instrumentos disponíveis para as pesquisas de campo, exploram seus usos e finalidades. No entanto, não definem como os pesquisadores vivem suas experiências e dificuldades nesse processo1717. Bellato R, Araújo LFS, Faria APS, Santos EJF, Castro P, Souza SPS, et al. A história de vida focal e suas potencialidades na pesquisa em saúde e em enfermagem. Rev Eletrônica Enferm. 2008; 10(3):849-56.. Assim, destaca-se o pensamento de Bourdieu1818. Bourdieu P. O poder simbólico. 15a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2011., que ressalta a necessidade de explicitar:
[...] como se processa realmente o trabalho em pesquisa [tornando possível] fazer uma ideia do que se passa na intimidade do “laboratório” ou, mais modestamente, da oficina – no sentido do artífice ou do pintor do Quattrocento: com todas as hesitações, todos os embaraços, todas as renúncias, etc.1818. Bourdieu P. O poder simbólico. 15a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2011. (p. 19)
A reflexão sobre os dados produzidos foi organizada com o intuito de possibilitar ao grupo analisá-los coletivamente, bem como suas respectivas implicações, e refletir sobre os próprios processos de trabalho. Além disso, o processo de restituição colaborou com a análise das implicações do pesquisador no desenvolvimento de sua pesquisa. Essas considerações foram todas redigidas no diário de pesquisa para serem relidas posteriormente, no momento de escrita final da tese, possibilitando o delineamento do acompanhamento da formação na pós-graduação vivenciada pelo doutorando naquela época.
Ou seja, a escrita diarística possibilita parar para olhar de outra forma a prática profissional e o ato de pesquisar. Permite ainda “olhar de novo e escrever, olhar, pensar e escrever, essa forma de transferir o material do pensamento e apresentá-lo ao outro por meio de sinais gráficos”1919. L’Abbate S, Pezzato LM, Dóbies DV, Botazzo C. O diário institucional nas práticas profissionais em saúde. Mnemosine. 2019; 15(1):40-61. (p. 58), provocando constantes análises e reanálises do processo empírico do desenvolvimento da pesquisa.
O diário de pesquisa como um aliado no acompanhamento da aprendizagem
Compreende-se o acompanhamento como um ato de cuidar de quem aprende a cuidar de algo que é coletivo, entrando em um processo recíproco de fidelidade e interrelação2020. Cornu L. Accompagner: entrer en compagnie. Educ Perm. 2015; (205):1-12..
Já a aprendizagem é decorrente da interação social e do compartilhamento de significados socialmente construídos, acontecendo em diferentes contextos históricos, sociais e culturais. A aprendizagem se dá pela interação entre o organismo e o seu meio, sendo que a aquisição do conhecimento ocorre por meio de um processo construído durante toda a vida do sujeito2121. Soeiro E, Oliveira JM, Gomes R, Feliciano AB, Massaro A, Malvezzi E, et al. Caderno do projeto: desenvolvimento da gestão de programas de residência e da preceptoria no SUS – DGPSUS 2018-2020. São Paulo: Hospital Sírio-Libanês, Ministério da Saúde; 2019..
Portanto, pode-se dizer que o diário de pesquisa possibilita um acompanhamento do processo de aprendizagem do estudante/pesquisador, pois ele é um aliado daquele que se encontra implicado “com” e “em” seu objeto e sua pesquisa, e essa reciprocidade e inter-relação é recebida pelo diário por meio dos códigos, ou seja, da escrita em si.
Ele potencializa movimentos transformadores, uma vez que possibilita outras formas de relações dentro da pesquisa, originando a ideia das reflexões com aquilo que foi possível de ser produzido e o que ainda não foi, além dos efeitos dessa experiência2222. Mendes R, Pezzato LM, Sacardo DP. Pesquisa-intervenção em promoção da saúde: desafios metodológicos de pesquisar “com”. Cienc Saude Colet. 2016; 21(6):1737-45..
É relevante explicitar que o emprego do diário de pesquisa sempre consistirá em um instrumento de acompanhamento da trajetória do pesquisador, independentemente do momento em que a pesquisa for desenvolvida, afinal, cada pesquisa se encontra inscrita em um momento e contexto social, político e de vida do pesquisador e das pessoas que fizerem parte da pesquisa.
Disseram que eu teria que construir um diário de pesquisa. Mas como iniciar esse diário? [...] parece que esse é desenvolvido pelos analistas institucionais na construção de suas pesquisas [...]. (Diário de Pesquisa, janeiro de 2014)
Revisitar meu diário tem possibilitado a identificação de um certo amadurecimento pessoal e profissional [...] parece que, no início, eu nem sabia escrever direito. (Diário de Pesquisa, agosto de 2017)
Nessa direção, e tomando o diário de pesquisa como um potente instrumento de análise das implicações do pesquisador, apontamos para a necessidade destas serem analisadas permanentemente, porque os efeitos e ideologias podem influenciar as diferentes tomadas de decisão no andamento da pesquisa, no cotidiano do trabalho, nas relações e no percurso da vida como um todo2323. Spagnol CA, L’Abbate S, Monceau G, Jovic L. Dispositif socioanalytique : instrument d’intervention et de collecte de données en recherche qualitative en soins infirmiers. Rech Soins Infirm. 2016; (124):108-17..
Tomando como base o pensamento de Freire2424. Freire P. Educação e atualidade brasileira. 3a ed. São Paulo: Editora Cortez, Instituto Paulo Freire; 2012. e o transpondo ao processo educativo desenvolvido na pós-graduação em uma perspectiva dialógica, tem-se esse conceito como central para a análise do diário de pesquisa, uma vez que se faz “com” e não “para” o pesquisador. Essa prática se baseia na ideia de que os pesquisadores e os sujeitos são igualmente portadores de cultura, ou seja, o pesquisador não é aquele que dá respostas, mas quem auxilia as pessoas na problematização da realidade2424. Freire P. Educação e atualidade brasileira. 3a ed. São Paulo: Editora Cortez, Instituto Paulo Freire; 2012. e, ao redigir sobre suas dificuldades, seus alcances, fragilidades e potencialidades no desenvolvimento da pesquisa, possibilita a percepção do ainda não percebido1919. L’Abbate S, Pezzato LM, Dóbies DV, Botazzo C. O diário institucional nas práticas profissionais em saúde. Mnemosine. 2019; 15(1):40-61..
Nessa perspectiva, é impossível crer que o conhecimento em si seja capaz de reproduzir ou conscientizar. Pelo contrário, pois, sendo as pessoas seres culturais, precisam tomar nas mãos o conhecimento. No pensamento freireano, é próprio dos seres humanos “estarem”, e isso direciona para uma série de conhecimentos do mundo em que se está.
Confesso que preciso me dedicar mais à minha pesquisa. Tem sido tão difícil viver este momento [...] O futuro não sei o que esperar [...] e a única certeza que tenho é que o tempo está passando e os meus prazos também. (Diário de Pesquisa, julho de 2016)
Dessa forma, é próprio dos seres humanos estarem, como consciência de si e do mundo, em relações de enfrentamento com sua realidade em que, historicamente, dão-se as situações-limite. E esse enfrentamento com a realidade para a superação dos obstáculos só pode ser feito historicamente2525. Freire P. Pedagogia do oprimido. 62a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2016. (p. 105).
Dito de outra forma, o diário de pesquisa que se propõe verdadeiramente transformador não pode fundar-se em uma concepção de seres humanos completamente vazios a quem o mundo deva encher, mas, ao contrário, é preciso compreender os sujeitos como corpos conscientes. A possibilidade de apreender o mundo por meio da pesquisa é um processo dialético que garante que o conhecimento não seja alienado e que se construa a partir do contexto cultural.
Análise da implicação do doutorando/pesquisador por meio do diário de pesquisa: acompanhamento dos deslocamentos
A implicação, no contexto do diário de pesquisa, encontra-se ligada ao implícito do texto, o que não consiste, necessariamente, no inconsciente ou naquilo que se encontra escondido. Está vinculada aos níveis ou modos de escrita que são recomendados no mundo acadêmico e científico, “autorizados” ou “proibidos” pelas instituições que atravessam e interferem o cotidiano do pesquisador77. Lourau R. Implicação: um novo paradigma? In: Altoé S. René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec; 2004. p. 246-58..
Os escritos diarísticos possibilitaram revelar exatamente os mecanismos de funcionamento das instituições, tornando evidente o potencial da análise de implicação para a singularização das práticas, vislumbrando a superação das possíveis capturas normatizadoras e de reprodução de supostas ações de sucesso1919. L’Abbate S, Pezzato LM, Dóbies DV, Botazzo C. O diário institucional nas práticas profissionais em saúde. Mnemosine. 2019; 15(1):40-61..
O diário de pesquisa proporcionou reconhecer a vivência cotidiana e real desse campo (não o “como fazer”, mas o “como foi feito”). Esse conhecimento permitiu a melhor compreensão das condições de produção da vida intelectual, evitando a construção do “lado mágico” ou “ilusório” da pesquisa (fantasias geradas por uma leitura “asséptica” dos resultados finais da tese)1414. Lourau R. René Lourau na UERJ: análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ; 1993..
Assim, ele revelou, antes de procedimentos estáticos de análise e interpretação dos dados, um conjunto vivo de escolhas, percursos e desdobramentos teóricos.
A partir de hoje tomarei meu projeto nas mãos [...] talvez foi necessário passar por esse processo avaliativo doloroso (apesar de não concordar nenhum pouco com a forma com que foi feito) para reconhecer que preciso protagonizar mais minhas escolhas [...] seria este um processo de análise da minha implicação? (Diário de Pesquisa, janeiro de 2015)
Gatti2626. Gatti B. Algumas considerações sobre procedimentos metodológicos nas pesquisas educacionais. Eccos Rev Cient. 1999; 1(1):63-79. afirma que a organização e o desenvolvimento da pesquisa explicitam a forma como olhamos para nossos objetos, os anseios que temos ao “olhar as coisas do mundo”.
A construção do conhecimento por meio da investigação exige grande esforço teórico e conceitual para a delimitação de métodos claros e consistentes. A pesquisa, como possibilidade epistemológica, tem especificidades e singularidades, tendo como cerne a compreensão de determinado objeto e, consequentemente, o objetivo de transformar as práticas atuais.
O processo de delineamento da pesquisa-intervenção foi construído a partir do momento de ingresso do escritor do diário no doutorado, em 2014, e todo o resgate desse percurso só foi possível de ser feito por meio da leitura atenta e analítica do diário.
A escrita aconteceu no momento em que o escritor ainda não tinha esclarecimentos necessários sobre o seu uso no interior do arcabouço teórico e metodológico da análise institucional. Porém, começar a escrever e reler a escrita a partir do conhecimento adquirido sobre o que deveria ser um diário de pesquisa, na ótica desse referencial, foi um aprendizado que se deu, exatamente, por meio da prática, ou seja, escrevendo.
Hoje, proponho escrever meu percurso de doutorando. Acho que será interessante retornar a estas páginas ao final do doutorado. Talvez algumas conexões possam ser estabelecidas, ou não. Tudo é muito incerto e a dificuldade de escrever me parece óbvia. (Diário de Pesquisa, janeiro de 2014)
Existe uma forte tendência em separarmos o saber (teoria) do fazer (prática), atribuindo à teoria uma posição superior em relação à prática, quando afirmamos que aquela orienta esta. Esquecemos o caminho inverso e também verdadeiro de que a prática suscita e valida a teoria2727. Ayres JRCM. Extensão universitária: aprender fazendo, fazer aprendendo. Rev Med. 2015; 94(2):75-80..
Na mesma direção, Freire2525. Freire P. Pedagogia do oprimido. 62a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2016. assume a relação dialética entre teoria e prática como instrumento para a reflexão crítica, fugindo do objetivismo e do subjetivismo entendidos, respectivamente, como ativismo vazio e discurso idealizado. Assim, a pesquisa que se pretende crítica exige do pesquisador – ou melhor, dos envolvidos no processo de pesquisa – um constante exercício de pensar a ação tendo como base o universo teórico e de ressignificar a teoria por meio da prática.
O processo de escolha daquilo que entra ou não no diário de pesquisa, por si só, já é gerador de um processo reflexivo que passa a ser analítico quando se questionam as resistências em registrar determinadas coisas e as facilidades em registrar outras.
Uma questão que interfere diretamente no processo de escrita científica, por exemplo, são os requisitos destinados ao financiamento dos projetos de pesquisa. Isso é evidente ao observarmos que muitos pós-graduandos se inserem no doutorado procurando por financiamento para o desenvolvimento de sua pesquisa, sendo que tal fato faz com que eles direcionem sua escrita e construção de projeto para algo que seja “financiável”, ou seja, são tendenciados a atender uma demanda mercadológica.
A obtenção do dinheiro e o quanto viver em um sistema capitalista interfere na forma de escrever e em nossas ações e estratégias de produção são elementos que atravessam também o cotidiano do doutorando e, consequentemente, o desenvolvimento de sua pesquisa:
Às vezes acho que seria interessante se eu me dedicasse apenas ao desenvolvimento da minha pesquisa de doutorado. Ter uma bolsa me ajudaria muito a me dedicar, exclusivamente, a esse processo [...] não consigo entender o porquê de tanta denegação. Eu escrevo bem, meu projeto está bem fundamentado. (Diário de Pesquisa, novembro de 2014)
Meu projeto continua sendo praticamente o mesmo [...] Hoje tenho bolsa e compreendo os interesses existentes por detrás da instituição pesquisa [...] nem sempre o que é bem escrito é financiável. (Diário de Pesquisa, novembro de 2016)
Há que se destacar a abrupta redução do financiamento em pesquisa e de bolsas de pós-graduação nos últimos anos. Notícias recentes referentes a “erros no sistema” da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) indicam o “desaparecimento” de mais de seis mil bolsas de pós-graduação. Além dessas, cerca de dois mil cancelamentos de bolsas foram notificados à Associação Nacional de Pós-Graduação no mês de abril de 20202828. Brasil. Associação Nacional de Pós-Graduação [Internet]. São Paulo; 2020 [citado 6 Jul 2020]. Disponível em: http://www.anpg.org.br/categoria/noticias/
http://www.anpg.org.br/categoria/noticia... .
O dinheiro colocou em evidência a vontade, ou seja, a dimensão libidinal da implicação do pesquisador com a pesquisa. Não é tarefa fácil dedicar-se ao aprofundamento teórico (que requer tempo e concentração) e desenvolver atividades paralelas com a finalidade de garantir meios para a sobrevivência. Quando falamos da implicação em pesquisa, “nós referimos a todas as condições de pesquisa. Condições materiais, onde o dinheiro tem participação econômica e libidinal”1414. Lourau R. René Lourau na UERJ: análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ; 1993. (p. 16).
A dimensão organizacional da implicação com a pesquisa foi um processo que dificultou, por algum tempo, a identificação da tese entre tantas ações, objetivos e projetos diferentes desenvolvidos em concomitância. Mudar o objeto de estudo e transformá-lo consiste em um fator que compõe o ato de pesquisar. Esse processo de amadurecimento pessoal, profissional e científico constituiu a tese de doutorado defendida, pois o objeto de estudo final não apareceu a priori e esse percurso foi retratado, delineado e analisado por meio do diário de pesquisa. Dois momentos redigidos no diário mostram claramente o antagonismo e o nítido deslocamento (antes e depois) do processo de aprendizagem:
Eu tenho que ser capaz de diferenciar o que é minha tese [...]. Às vezes acho que o desenvolvimento de vários projetos ao mesmo tempo atrapalha minha formação como doutor. E minha tese? Como ela vai ser? (Diário de Pesquisa, março de 2015)
Eu não segui o mesmo caminho que todos os estudantes de doutorado seguem. Tive a experiência de desenvolver vários projetos ao mesmo tempo e acho que foi uma grande diferença no meu processo de formação como doutor. (Diário de Pesquisa, julho de 2017)
A participação em outros projetos de pesquisa permitiu ao pesquisador ter mais tempo para analisar as implicações com a pesquisa e ampliar a visão sobre as interferências institucionais às quais ele estava exposto. Tal fato só foi perceptível por meio da leitura posterior do diário de pesquisa, já no momento de escrita da tese. Esse processo final possibilitou um movimento de “ir e vir”, colocando em evidência os deslocamentos da aprendizagem. Nas palavras de Romagnoli2929. Romagnoli RC. O conceito de implicação e a pesquisa-intervenção institucionalista. Psicol Soc. 2014; 26(1):44-52.:
[...] a implicação permite capturar o aspecto “trans” dos planos que constituem o objeto de estudo, traçando os efeitos que eles causam no campo e as (des)estabilizações que o campo produz no pesquisador2929. Romagnoli RC. O conceito de implicação e a pesquisa-intervenção institucionalista. Psicol Soc. 2014; 26(1):44-52.. (p. 50)
A análise da implicação com a instituição universitária também foi possível de ser evidenciada por meio das relações estabelecidas com os pares dentro da universidade. Afinal, a instituição fala por meio dos profissionais que fazem parte das organizações1414. Lourau R. René Lourau na UERJ: análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: NAPE, UERJ; 1993..
As relações parecem desiguais [...]. Existem diferenças entre os componentes do grupo que não consigo identificar muito bem de onde vêm. (Diário de Pesquisa, abril de 2015)
As relações de poder atravessam cotidianamente o desenvolvimento das atividades do grupo [...] existe claramente uma divisão técnica e social do trabalho. (Diário de Pesquisa, março de 2017)
É possível perceber que a implicação com a instituição universitária foi se tornando mais nítida e compreensível durante o percurso de doutoramento pela oportunidade de poder observar as relações que eram estabelecidas com os colegas, ambientes universitários, professores e estudantes; e de analisá-las dentro do diário de pesquisa.
Esse processo só foi possível graças a aberturas analíticas alcançadas ao longo do caminho, mesmo diante dos diversos obstáculos. Isso ajudou no percurso e finalização da tese e essa proposta responde ao fato de que “mesmo diante de impossibilidades objetivas, devemos investir em um diálogo real e na luta pela transformação.”3030. Silva JAM, Peduzzi M. Educação no trabalho na atenção primária à saúde: interfaces entre a educação permanente em saúde e o agir comunicativo. Saude Soc. 2011; 20(4):1018-32. (p. 92).
Essa aprendizagem vai ao encontro das proposições freireanas, pois prevê a relação homem/mulher-mundo como cerne para o desenvolvimento do ser humano em sua práxis. Essa tendência progressista entende a educação como prática cultural na qual os educandos e os professores buscam a apreensão da realidade pela consciência crítica voltada, sobretudo, à transformação. Toda ação educativa aqui se relaciona organicamente com a análise do meio, ou seja, a relação professores-estudantes não poderia ser compreendida se ignorássemos o contexto institucional.
Toda a formulação de Freire sobre o(a) homem/mulher e o mundo decorre de um fundamento básico: o mundo não é, o mundo está sendo. Isso significa assumir o caráter inconcluso dos sujeitos sociais. É evidente, na obra de Paulo Freire, o pressuposto de que o professor e o estudante se formam no processo educativo: “quem forma se forma e re-forma e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.”3131. Freire P. Pedagogia da autonomia. 60a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2019. (p. 23).
Considerações finais
Por meio desta produção, refletimos sobre o diário de pesquisa como elemento formativo e de autoanálise do estudante/pesquisador. Para tanto, apresentamos o instrumento metodológico em suas variadas possibilidades e a forma como o utilizamos para o acompanhamento do aprendizado.
Ele pode ser utilizado como uma ferramenta na prática da pesquisa, por meio da qual o pesquisador registra suas experiências na investigação, explicitando elementos comumente descartados na pesquisa tradicional, tais como inquietações, dúvidas, sentimentos, reações, reflexões teóricas suscitadas pela base empírica em análise e as suas análises de implicação. Possui uma constituição singular que pode revelar os caminhos, as escolhas e os movimentos percorridos na pesquisa ao longo de todo o processo, auxiliando em questões centrais, tornando-se locus para aprendizagem e valorizando as reflexões sobre as constantes imersões e emersões no e do campo de intervenção.
O diário de pesquisa possui uma finitude e termina no momento em que a investigação finaliza. Contudo, permanece vivo ao possibilitar a elucidação do processo de aprendizagem do sujeito, consistindo-se em um instrumento receptor e propulsor de pensamentos, interpretações, reflexões e análises. Ou seja, ele possibilita uma confrontação com a realidade humana; e gera interferências e perturbações, fazendo com que as instituições apareçam por meio da escrita.
Não se pode inferir, a partir deste relato de experiência, se o emprego do diário de pesquisa associado a outras abordagens teórico-metodológicas possibilita os alcances e deslocamentos da aprendizagem aqui apresentados. Tal fato, certamente, corresponde a um dos limites desta produção. Porém, é ínfima a existência de trabalhos científicos que abordam o uso do diário como um instrumento de acompanhamento e análise de dados, explicitando a singularidade trazida por esta produção na contribuição com as diversas modalidades de pesquisas.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
16 Out 2020 - Data do Fascículo
2020
Histórico
- Recebido
09 Dez 2019 - Aceito
02 Jul 2020