Fatores associados à capacidade para o trabalho em idosos: revisão sistemática

Juleimar Soares Coelho de Amorim Silvana Salla Celita Salmaso Trelha Sobre os autores

Resumo

OBJETIVO:

Sintetizar as evidências acerca dos fatores associados à manutenção da capacidade de trabalho durante o processo de envelhecimento.

MÉTODOS:

Foram consultadas as bases de dados SciELO, LILACS e PubMed, buscando-se estudos em português, inglês e espanhol publicados no período de 2000 a 2013. Os descritores utilizados abarcaram termos relacionados à capacidade para o trabalho, envelhecimento e idosos. Foram incluídos estudos observacionais quantitativos, que investigaram a capacidade laboral e o efeito do envelhecimento. Foram excluídos estudos interessados em analisar curso clínico de doenças relacionadas ao envelhecimento e/ou trabalho e publicações sob a forma de editoriais, entrevistas, projetos, notas clínicas e dados preliminares ou conceituais.

RESULTADOS:

Obteve-se um total de 924 artigos, sendo que 27 foram incluídos na análise e em seguida dois estudos de intervenção e oito repetidos foram excluídos. As variáveis que apresentaram correlações negativas com a capacidade para o trabalho foram idade, tabagismo, tempo de serviço e demanda física na atividade ocupacional. A satisfação com a vida, renda suficiente, prática de atividade física, voluntariado e demanda mental de trabalho foram considerados associações positivas que protegem os idosos da perda funcional.

CONCLUSÃO:

O trabalho foi relatado como mecanismo de proteção contra a depressão, incapacidade e fragilidade, mantendo o bem-estar, bom nível cognitivo e independência nas atividades diária. São necessários maiores investimentos na saúde dessa população no que diz respeito à capacidade musculoesquelética e cardiorrespiratória e a prática de atividade física deve ser encorajada por políticas de incentivo à promoção da saúde.

Capacidade para o trabalho; Avaliação da capacidade para o trabalho; Índice de capacidade para o trabalho; Trabalhadores; Idoso; Envelhecimento


INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população tem sido descrito como um fenômeno mundial, e o Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, tem apresentado um crescimento acelerado nas últimas décadas1. Caramano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição demográfica. In: Freitas EV et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 88-105.. Em 1977, os idosos correspondiam a 4,9% da população economicamente ativa (PEA); em 1988, a 9%, e as expectativas são de que, em 2020, pelo menos 13% da po pulação economicamente ativa esteja na terceira idade202 . Lopes do Nascimento RF, Argimon IIL, Lopes RMF. Atualidades sobre o idoso no mercado de trabalho. 2006. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos. (Acessado em 18 de maio de 2013).
http://www.psicologia.pt/artigos/textos...
. O rendimento do trabalho do idoso é fundamental na composição de sua renda pessoal e familiar, de forma que dificilmente se possam esperar mecanismos compensatórios que permitam a queda da sua participação no mercado de trabalho303 . Wajnman S, Oliveira AMHC, Oliveira EL. Os idosos no mercado de trabalho: tendências e consequências. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Arq_23_Cap_14.pdf. (Acessado em 23 de maio de 2013).
http://www.ipea.gov.br/agencia/images/st...
.

A capacidade para o trabalho (CT) é a base para o bem-estar, e as variáveis que a afetam podem ser influenciadas por fatores relacionados ao indivíduo, ao ambiente e à vida fora do trabalho, conforme o modelo conceitual multidimensional4. Gould R, Ilmarinen J, Järvisalo J, Koskinens S. Dimensions of work ability. Helsinki, Finland: Finnish Centre for Pensions, Waasa Graphics Oy; 2008.. Embora o envelhecimento funcional frequentemente se faça notar antes do envelhecimento cronológico, em estudos nacional5. d'Orsi E, Xavier AJ, Ramos LR. Trabalho, suporte social e lazer protegem idosos da perda funcional: Estudo Epidoso. Rev Saúde Pública 2011; 45(4): 685-92. e internacional6. Soer R, Brouwer S, Geertzen JH, van der Schans CP, Groothoff JW, Reneman MF. Decline of functional capacity in healthy aging workers. Arch Phys Med Rehabil 2012; 93(12): 2326-32., há evidências de que o trabalho formal ou voluntário7 . Martinez IL, Frick K, Glass TA, Carlson M, Tanner E, Ricks M, et al. Engaging older adults in high impact volunteering that enhances health: recruitment and retention in the Experience Corps(r) Baltimore. J Urban Health. 2006; 83(5): 941-952.é um importante protetor de incapacidade e está relacionado à manutenção do bem-estar, da atividade física e do estilo de vida ativo entre a população idosa7. Martinez IL, Frick K, Glass TA, Carlson M, Tanner E, Ricks M, et al. Engaging older adults in high impact volunteering that enhances health: recruitment and retention in the Experience Corps(r) Baltimore. J Urban Health. 2006; 83(5): 941-952. , 8. Seitsamo J, Tuomi K, Martikainen R. Activity, functional capacity and well-being in ageing Finish workers. Occupational Medicine 2007; 57(2): 85-91. .

No idoso, devido a uma maior suscetibilidade a condições que reduzem sua capacidade para o trabalho, é frequente a sua associação com prejuízos nas funções do corpo, dificuldades no desempenho das atividades laborais e restrição na participação social. Porém, tem-se notado que os estudos não são consistentes no que diz respeito aos fatores que promovem a sustentabilidade da CT em idosos, evidenciando uma lacuna na literatura que precisa ser preenchida para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à saúde do idoso que se mantém no trabalho.

A identificação e estratificação de riscos em grupos individuais expostos a determinados fatores e condições que os colocam em situação de prioridade para a dispensação de cuidados de saúde são ferramentas importantes na análise de situação de saúde. Em vista do processo acelerado de envelhecimento populacional associado ao aumento da participação do idoso no mercado de trabalho, o objetivo desta revisão sistemática foi sintetizar as evidências acerca dos fatores associados à manutenção da capacidade para o trabalho durante o processo de envelhecimento.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura, de natureza exploratória e com abordagem quantitativa, que utilizou a combinação dos descritores "avaliação da capacidade de trabalho" AND "idoso" OR "envelhecimento" AND "trabalhadores" e seus equivalentes em inglês e espanhol, de acordo com os descritores em saúde (DeCS). Foram rastreados artigos que tivessem as palavras-chave pes quisadas no título ou resumo e publicados entre os anos 2000 e 2013. A busca ocorreu entre os dias 29 de março e 25 de abril de 2013. Foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados indexadas MedLine, SciELO e LILACS.

Diferentemente do termo "desempenho no emprego", o conceito de capacidade para o trabalho nesta revisão baseou-se nos estudos de Ilmarinen9. Ilmarinen J, Tuomi K, Eskelinen L, Nygård CH, Huuhtanen P, Klockars M. Background and objectives of the Finnish research project on aging workers in municipal occupations. Scand J Work Environ Health. 1991; 17Suppl 1: 7-11., discutido por Sampaio e Augusto1010 . Sampaio RF, Augusto VG. Envelhecimento e trabalho: um desafio para a agenda da reabilitação. Rev Bras Fisioter 2012; 16(2): 94-101., pelo qual é a combinação entre os recursos humanos em relação às demandas físicas, mentais e sociais da atividade laboral, incorporando recursos do indivíduo, fatores relacio nados ao trabalho e ao ambiente fora do trabalho.

SELEÇÃO DE ARTIGOS

A seleção dos artigos encontrados com a busca nas diferentes bases de dados foi realizada em três etapas distintas. Primeiramente, selecionaram-se os artigos com resumos disponíveis, com metodologia quantitativa (coorte ou transversal), destinados à avaliação de CT e o efeito do envelhecimento. Foram excluídos artigos cuja amostra não continha pessoas idosas, os interessados em analisar curso clínico de doenças relacionadas ao envelhecimento e/ou trabalho e os publicados sob a forma de editoriais, entrevistas, projetos, notas clínicas, dados preliminares ou conceituais, descritivos e revisões.

Os artigos encontrados nos periódicos deveriam conter os termos relacionados acima, não necessariamente todos, porém o termo "avaliação da capacidade para o trabalho" foi fator de inclusão primária, sendo que deveriam estar relacionados com o envelhecimento, com indivíduos saudáveis e/ou capazes de continuar com o seu trabalho, não podendo ter foco em doenças.

EXTRAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com os estudos previamente definidos, foi realizada uma leitura de forma exploratória e utilizou-se um formulário próprio, desenvolvido especificamente para analisar os artigos da revisão e extrair os dados. Essa ferramenta foi baseada nas recomendações da Cochrane Library1111 . Higgins JPT, Green S, editors. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions 4.2.6 [updated September 2006] . In: The Cochrane Library, Issue 4, 2006. Chichester, UK: John Wiley & Sons, Ltd., ajustada conforme interesse dos autores. A extração dos dados conside rou:

  • delineamento e local de desenvolvimento do estudo;

  • aspectos da metodologia do estudo;

  • período de seguimento;

  • resultados;

  • variáveis que apresentaram associação com a CT. Essas variáveis foram distribuídas em sessões sociodemográficas (idade, sexo, escolaridade, estado conjugal, renda, participação social e atividade física), clínico-funcionais (estado de saúde, presença de doenças, hábitos de vida, funcionalidade física e mental) e laborais (horas/semana de dedicação ao trabalho, tempo de exposição e tipos de exigências do trabalho física ou mental).

A seleção dos artigos foi realizada por dois revisores inde pendentes, com base nas informações do título e do resumo dos artigos. Caso houvesse alguma discordância, os revisores liam o estudo na íntegra, discutiam e ainda passavam para um terceiro revisor. Após essa etapa, os dados foram consolidados em um banco de dados. As variáveis relacionadas à CT dos artigos foram categorizadas conforme modelo didático descrito por Sampaio e Augusto1010 . Sampaio RF, Augusto VG. Envelhecimento e trabalho: um desafio para a agenda da reabilitação. Rev Bras Fisioter 2012; 16(2): 94-101. e apresentadas nesta revisão caso houvesse uma relação estatisticamente significante com a medida de desfecho apontada pelos estudos.

RESULTADOS

Na busca realizada, foram obtidos 924 artigos após definição dos descritores e aplicação dos critérios de inclusão. As características dos artigos selecionados são apresentadas nas Tabelas 1 e 2. Dentre os 17 estudos incluídos, o número de estudos longitudinais com seguimento representou a minoria (35,2%), com tempo médio de acompanhamento de 4,8 anos (DP ± 3,9 anos). Embora tenham sido selecionados apenas estudos que incluíram idosos na amostra, o resultado revela que somente 35,2% desses estudos investigaram indivíduos acima de 60 anos de idade que exerciam alguma atividade laboral. O Brasil representou o país com maior número de publicações sobre o tema, representando 41,1% dos estudos analisados, porém desenvolveu apenas estudos transversais (64,7% do total).

Tabela 1
Fatores associados à capacidade de trabalho em profissionais com diferentes faixas etárias, segundo estudos longitudinais, ano e país.
Tabela 2
Fatores associados à capacidade de trabalho em profissionais com diferentes faixas etárias, segundo estudos transversais, ano e país.

Os instrumentos para avaliação de desfecho mais utilizados pelos artigos foram: Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) (35,2%), autopercepção de saúde (35,2%), SF-12 (23,5%), escala de avaliação das atividades de vida diária (AVD), de satisfação com a vida, e Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) (17,6%).

Estar satisfeito com a vida (17,6%), maior renda (11,7%), praticar atividade física (11,7%), exercer voluntariado (5,8%) e demanda mental de trabalho (5,8%) foram apresentadas como associações positivas aos fatores determinantes contra a perda funcional (Tabela 3). A Tabela 4 demonstra as principais associações negativas, apontadas como variáveis de risco, que apresentaram correlações com a CT. Destacam-se as variáveis maior idade (41,1%), não ter companheiro, demanda física no trabalho (11,7%), ser tabagista e tempo prolongado de serviço em anos (5,8%). As variáveis escolaridade, estado de saúde, comorbidade, funcionalidade, cognição e número de horas de trabalho na semana não apresentaram associações estatisticamente significativas.

Tabela 3
Fatores associados positivamente conforme as sessões sociodemográficas, clínico-funcional e laboral.
Tabela 4
Fatores associados negativamente conforme as sessões sociodemográficas, clínico-funcional e laboral.

DISCUSSÃO

A relação entre envelhecimento e trabalho vem sendo abordada sob diferentes aspectos. Nesta revisão, reforçamos que o idoso continua inserido no ambiente de trabalho, o que leva a uma boa expectativa do seu futuro. Ressaltam-se as principais associações que influenciam negativamente a CT, como idade, tabagismo, tempo de serviço em anos e demanda física do trabalho. A associação positiva entre os fatores que podem manter uma boa CT no envelhecimento tendem para a satisfação com a vida, melhores condições financeiras, prática de atividade física regular, exercício de trabalho voluntário e exercício da atividade ocupacional com predominância de demanda mental, protegendo os idosos de declínios funcionais.

Diante da heterogeneidade da amostra, do número reduzido de artigos incluídos ao final desta revisão e dos diferentes tratamentos estatísticos aplicados, ficamos cerceados para inferências quanto à magnitude e o impacto dos fatores associados à CT em idosos, pois a tendência dos resultados não pode ser precisamente medida, situação frequentemente encontrada em revisões sistemáticas de estudos observacionais1212 . Egger M, Smith GD, Altman DG. Systematic reviews in health care: meta-analysis in context. London: Publishing Group, 2007.. Entretanto, nesta revisão 41,1% dos estudos apresentaram as estimativas de risco relativo, odds ratio ou risco atribuível, que são medidas importantes para verificar a associação entre as exposições e desfechos. O poder estatístico não é o melhor indicador para analisar a susceptibilidade do estudo para ser tendencioso1212 . Egger M, Smith GD, Altman DG. Systematic reviews in health care: meta-analysis in context. London: Publishing Group, 2007., sendo necessário também averiguar a composição e o tamanho da amostra. Poucos estudos analisaram somente idosos e a maioria dos estudos foi de delineamento transversal e, como consequência, a causalidade não pôde ser determinada.

Novos estudos sobre essa temática merecem destaque, e esta revisão não esgota a possibilidade de que outras evidências relevantes não tenham sido localizadas por estarem disponíveis em outras bases, fontes ou idiomas diferentes dos considerados. Porém, a seleção de estudos incluídos considerou apenas publicações em bases de dados que exigem revisão por pares dos artigos submetidos, o que lhes confere maior credibilidade quanto à metodologia empregada.

Schwingel1313 . Schwingel A, Niti MM, Tang C, Ng TP. Continued work employment and volunteerism and mental well-being of older adults: Singapore longitudinal ageing studies. Age Ageing 2009; 38(5): 531-7. descreve que os idosos que realizam voluntariado e/ou que continuam ativos e ocupados após a aposentadoria têm melhores condições cognitivas, maior satisfação com a vida, bem-estar e continuam exercendo suas AVDs de forma independente. Os idosos que se envolvem em atividades produtivas têm menos chances de desenvolver síndrome da fragilidade independentemente da idade1414 . Jung Y, Gruenewald TL, Seeman TE, Sarkisian CA. Productive activities and development of frailty in older adults. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009; 65Bi(2): 256-61.. Já os idosos que se aposentam e se tornam inativos apresentam maiores taxas de depressão1313 . Schwingel A, Niti MM, Tang C, Ng TP. Continued work employment and volunteerism and mental well-being of older adults: Singapore longitudinal ageing studies. Age Ageing 2009; 38(5): 531-7..

A permanência no mundo do trabalho parece ser determinada fortemente pela capacidade física. Estudo longitudinal de Savinainen et al.1515 . Savinainen M, Nygard CH, Ilmarinen J. Workload and physical capacity among ageing municipal employees - a 16-year follow-up study. International Journal of Industry Ergonomics 2004; 34: 519-33., concluiu que a força de extensão isométrica de tronco e boa capacidade aeróbica são encontradas na maioria das vezes em trabalhadores com baixa carga de trabalho, menor tempo e intensidade de exposição física à atividade laboral. Esses dados podem explicar o surgimento das doenças e os agravos relacionados ao trabalhol.

A prática de atividade física pode ser uma importante ferramenta de promoção da saúde para os idosos continuarem trabalhando. Nesta revisão, estudos transversais e longitudinais revelam os efeitos desta prática regular sobre o desempenho no trabalho, corroborando assim com as revisões de Kenny1616 . Kenny GP, Yardley JE, Martineau L, Jay O. Physical work capacity in older adults: implications for the aging worker. Am J Ind Med. 2008; 51(8): 610-25. e Crawford1717 . Crawford JO, Graveling RA, Cowie HA, Dixon K. The healthy safety and health promotion needs of older workers. Occupational Medicine 2010; 60(3): 184-92., onde foi evidenciada proteção dos idosos contra a perda funcional no trabalho. O aumento do consumo de oxigênio em 25%, e consequentemente melhora da performance muscular e cardiorrespiratória; a promoção de sociabilidade, bem-estar mental e emocional está diretamente ligada à melhora da saúde autopercebida, e forte associação tem sido evidenciada com a menor taxa de absenteísmo1818 . Seibt R, Spitzer S, Blank M, Scheuch K. Predictors of work ability in occupations with psychological stress. J Public Health. 2009; 17(1): 9-18. - 1919 . Pohjonen T. Perceived work ability of home care workers in relation to individual and work-related factors in different age groups. Occup Med (Lond) 2001; 51(3): 209-17..

A relação de gênero e a participação social não foram evidenciadas nos estudos primários desta revisão, sejam por baixo poder estatístico ou por ausência de associação, ao contrário do que esperávamos. As mulheres estão aumentando a participação no mercado de trabalho, prevalecendo a dupla jornada, justificada por menores rendimentos e por relações de necessidade, e não por satisfação. Esses eventos colocam-nas em desvantagens na manutenção da CT, comparado aos homens2121 . Pérez ER. Saúde e Trabalho dos Idosos em São Paulo: um estudo através da SABE. (Dissertação de Mestrado). Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/dissertacoes/2005/ELISENDA_RENTERIA_PEREZ.pdf.
http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/d...
. Segundo Pèrez2121 . Pérez ER. Saúde e Trabalho dos Idosos em São Paulo: um estudo através da SABE. (Dissertação de Mestrado). Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/dissertacoes/2005/ELISENDA_RENTERIA_PEREZ.pdf.
http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/d...
, cada vez mais se tem observado que as idosas proporcionam ajuda financeira aos filhos adultos, fenômeno chamado de transferência intergeracional.

Em relação à participação social, estudos apontam que o trabalho é uma fonte de manutenção da independência nas AVDs, pois o convívio com outras pessoas proporciona relações fundamentais de cooperação e interatividade. A atividade laboral pode também envolver mecanismos de competição até certo ponto benéficos, uma vez que implicam desafios diários que mantêm o trabalhador ativo e auxiliam na manutenção da capacidade funcional1313 . Schwingel A, Niti MM, Tang C, Ng TP. Continued work employment and volunteerism and mental well-being of older adults: Singapore longitudinal ageing studies. Age Ageing 2009; 38(5): 531-7. , 1414 . Jung Y, Gruenewald TL, Seeman TE, Sarkisian CA. Productive activities and development of frailty in older adults. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009; 65Bi(2): 256-61. , 2121 . Pérez ER. Saúde e Trabalho dos Idosos em São Paulo: um estudo através da SABE. (Dissertação de Mestrado). Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/dissertacoes/2005/ELISENDA_RENTERIA_PEREZ.pdf.
http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/d...
, 2222 . Gómez-Lomelí ZM, Dávalos-Guzmán JC, Celis-de la Rosa AJ, Ozozco-Valerio MJ. . Gac Med Mex 2010; 146(2): 90-7..

A demanda mental de trabalho foi evidenciada como associação positiva que pode proteger os idosos da perda de CT. A relação inversa também é verdadeira, em que o trabalho preserva a função cognitiva durante o envelhecimento. A memória, o aprendizado, a atenção e o processamento de informações sofrem influências com o tipo de trabalho e com o próprio envelhecimento, podendo ser revertidos com o desenvolvimento da competência para executar o trabalho2020 . Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Capacidade para o trabalho: revisão de literatura. Cien Saude Colet. 2010; 15(1): 1553-61.. Essas mudanças não ocorrem de forma sistemática, podendo ser compensadas pela experiência, pela habilidade de trabalhar de forma independente e do maior vínculo ao emprego que trabalhadores com mais idade tendem a apresentar2020 . Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Capacidade para o trabalho: revisão de literatura. Cien Saude Colet. 2010; 15(1): 1553-61.. É recomendado, então, que altas demandas de produtividade, estresse, pressão de tempo e decisões complexas sejam evitadas por idosos, mas que a carga horária de trabalho seja ajustada a fim de favorecer o processo de inclusão social2323 . Luis BL, Diaz S. Revisión bibliográfica de la capacidad funcional en trabajadores mayores de 65 años. Med Segur Trab 2011; 57(222): 63-76..

O declínio da função sensorial e a deterioração do desempenho muscular podem explicar os acidentes de trabalho. A revisão de Luis e Díaz2323 . Luis BL, Diaz S. Revisión bibliográfica de la capacidad funcional en trabajadores mayores de 65 años. Med Segur Trab 2011; 57(222): 63-76. aponta que quedas continuam sendo um dos eventos mais frequentes. Esses dados fornecem informações importantes ao nosso estudo, em que nenhum dos artigos selecionados tratou da relação entre essas variáveis, possivelmente porque excluímos estudos envolvendo os acidentes de trabalho.

A avaliação da CT deve incluir a capacidade física, mental e social, bem como outras deficiências2424 . Chan G, Tan V, Koh D. Ageing and fitness to work. Occup Med 2000; 50(7): 483-91.. Além de medidas clínicas ou laboratoriais, vários autores têm sugerido o uso do ICT como meio prático de acompanhar as mudanças relacionadas ao envelhecimento funcional de trabalhadores. Nos estudos incluídos nesta revisão, 35,2% adotaram o ICT como medida de desfecho, determinando quais trabalhadores necessitam de apoio dos serviços de saúde. Costa et al.2525 . Costa AF, Puga-Leal R, Nunes IL. An exploratory study of the work ability index (WAI) and its components in a group of computer workers. Work. 2011; 39(4): 357-67. demonstram relação negativa entre todos os itens do ICT a idade e apontam que o uso deste instrumento pode tornar o local de trabalho mais bem adaptado para os idosos. Apesar de a versão brasileira ter sido traduzida2626 . Tuomi K, Ilmarinen J, Jahkola A, Katajarinne L; Tulkki A. Índice de capacidade para o trabalho. São Carlos: EduFSCar; 2005., validada e apresentar boas propriedades psicométricas2727 . Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Validade e confiabilidade da versão brasileira do Índice de Capacidade para o Trabalho. Rev Saúde Pública 2009; 43(3): 525-32., ainda não foram desenvolvidos estudos longitudinais para estabelecer valores normativos de acordo com os escores do ICT para a população geral e em idosos.

Nossos achados corroboram um estudo desenvolvido por van den Berg et al.2828 . van den Berg T, Robroek SJ, Plat JF, Koopmanschap MA, Burdorf A. The importance of job control for workers with decreased work ability to remain productive at work. Int Arch Occup Environ Health 2011; 84(6): 705-12., ao analisar os determinantes da CT relacionados ao instrumento. Diferentemente do nosso estudo, os autores ressaltam sobrepeso, alterações no equilíbrio corporal, baixa renda, altas demandas mentais e falta de autonomia no trabalho como associações negativas para a perda da capacidade para o trabalho.

CONCLUSÃO

Esta revisão mostra uma escassez de estudos em idosos inseridos no meio de trabalho, apesar da grande importância do tema e de numerosas publicações relacionadas às doenças. De mesmo modo, poucos estudos relataram a valorização do trabalhador idoso como um indivíduo saudável e/ou capaz de continuar suas atividades laborais.

A permanência da pessoa que envelhece no mercado de trabalho se torna cada vez mais emergente, uma vez que os sistemas de Seguridade e Previdência Social têm mostrado sua falência. Entretanto, continuar trabalhando requer cuidado e adequações para que danos indesejáveis aos idosos sejam evitados ou minimizados. O trabalho foi considerado positivamente neste estudo como um importante mecanismo de proteção contra a depressão, incapacidade e fragilidade, mantendo o bem-estar, bom nível cognitivo e independência nas atividades diária. Porém, para que isso ocorra, são necessários maiores investimentos na saúde dessa população, principalmente no que diz respeito à capacidade musculoesquelética e cardiorrespiratória, e a prática de atividade física no ambiente de trabalho deve ser encorajada por políticas de incentivo como estratégia de promoção da saúde. O consumo de álcool, longas jornadas de trabalho e demanda física da atividade laboral associaram-se negativamente com a CT, o que poderá favorecer o envelhecimento funcional precoce. No entanto, mais estudos longitudinais, principalmente brasileiros, são necessários para determinar a causalidade desses fatores à saúde do idoso.

Referências bibliográficas

  • 1
    Caramano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição demográfica. In: Freitas EV et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 88-105.
  • 02
    Lopes do Nascimento RF, Argimon IIL, Lopes RMF. Atualidades sobre o idoso no mercado de trabalho. 2006. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos. (Acessado em 18 de maio de 2013).
    » http://www.psicologia.pt/artigos/textos
  • 03
    Wajnman S, Oliveira AMHC, Oliveira EL. Os idosos no mercado de trabalho: tendências e consequências. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Arq_23_Cap_14.pdf. (Acessado em 23 de maio de 2013).
    » http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Arq_23_Cap_14.pdf
  • 4
    Gould R, Ilmarinen J, Järvisalo J, Koskinens S. Dimensions of work ability. Helsinki, Finland: Finnish Centre for Pensions, Waasa Graphics Oy; 2008.
  • 5
    d'Orsi E, Xavier AJ, Ramos LR. Trabalho, suporte social e lazer protegem idosos da perda funcional: Estudo Epidoso. Rev Saúde Pública 2011; 45(4): 685-92.
  • 6
    Soer R, Brouwer S, Geertzen JH, van der Schans CP, Groothoff JW, Reneman MF. Decline of functional capacity in healthy aging workers. Arch Phys Med Rehabil 2012; 93(12): 2326-32.
  • 7
    Martinez IL, Frick K, Glass TA, Carlson M, Tanner E, Ricks M, et al. Engaging older adults in high impact volunteering that enhances health: recruitment and retention in the Experience Corps(r) Baltimore. J Urban Health. 2006; 83(5): 941-952.
  • 8
    Seitsamo J, Tuomi K, Martikainen R. Activity, functional capacity and well-being in ageing Finish workers. Occupational Medicine 2007; 57(2): 85-91.
  • 9
    Ilmarinen J, Tuomi K, Eskelinen L, Nygård CH, Huuhtanen P, Klockars M. Background and objectives of the Finnish research project on aging workers in municipal occupations. Scand J Work Environ Health. 1991; 17Suppl 1: 7-11.
  • 10
    Sampaio RF, Augusto VG. Envelhecimento e trabalho: um desafio para a agenda da reabilitação. Rev Bras Fisioter 2012; 16(2): 94-101.
  • 11
    Higgins JPT, Green S, editors. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions 4.2.6 [updated September 2006] . In: The Cochrane Library, Issue 4, 2006. Chichester, UK: John Wiley & Sons, Ltd.
  • 12
    Egger M, Smith GD, Altman DG. Systematic reviews in health care: meta-analysis in context. London: Publishing Group, 2007.
  • 13
    Schwingel A, Niti MM, Tang C, Ng TP. Continued work employment and volunteerism and mental well-being of older adults: Singapore longitudinal ageing studies. Age Ageing 2009; 38(5): 531-7.
  • 14
    Jung Y, Gruenewald TL, Seeman TE, Sarkisian CA. Productive activities and development of frailty in older adults. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009; 65Bi(2): 256-61.
  • 15
    Savinainen M, Nygard CH, Ilmarinen J. Workload and physical capacity among ageing municipal employees - a 16-year follow-up study. International Journal of Industry Ergonomics 2004; 34: 519-33.
  • 16
    Kenny GP, Yardley JE, Martineau L, Jay O. Physical work capacity in older adults: implications for the aging worker. Am J Ind Med. 2008; 51(8): 610-25.
  • 17
    Crawford JO, Graveling RA, Cowie HA, Dixon K. The healthy safety and health promotion needs of older workers. Occupational Medicine 2010; 60(3): 184-92.
  • 18
    Seibt R, Spitzer S, Blank M, Scheuch K. Predictors of work ability in occupations with psychological stress. J Public Health. 2009; 17(1): 9-18.
  • 19
    Pohjonen T. Perceived work ability of home care workers in relation to individual and work-related factors in different age groups. Occup Med (Lond) 2001; 51(3): 209-17.
  • 20
    Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Capacidade para o trabalho: revisão de literatura. Cien Saude Colet. 2010; 15(1): 1553-61.
  • 21
    Pérez ER. Saúde e Trabalho dos Idosos em São Paulo: um estudo através da SABE. (Dissertação de Mestrado). Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/dissertacoes/2005/ELISENDA_RENTERIA_PEREZ.pdf.
    » http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/dissertacoes/2005/ELISENDA_RENTERIA_PEREZ.pdf
  • 22
    Gómez-Lomelí ZM, Dávalos-Guzmán JC, Celis-de la Rosa AJ, Ozozco-Valerio MJ. . Gac Med Mex 2010; 146(2): 90-7.
  • 23
    Luis BL, Diaz S. Revisión bibliográfica de la capacidad funcional en trabajadores mayores de 65 años. Med Segur Trab 2011; 57(222): 63-76.
  • 24
    Chan G, Tan V, Koh D. Ageing and fitness to work. Occup Med 2000; 50(7): 483-91.
  • 25
    Costa AF, Puga-Leal R, Nunes IL. An exploratory study of the work ability index (WAI) and its components in a group of computer workers. Work. 2011; 39(4): 357-67.
  • 26
    Tuomi K, Ilmarinen J, Jahkola A, Katajarinne L; Tulkki A. Índice de capacidade para o trabalho. São Carlos: EduFSCar; 2005.
  • 27
    Martinez MC, Latorre MRDO, Fischer FM. Validade e confiabilidade da versão brasileira do Índice de Capacidade para o Trabalho. Rev Saúde Pública 2009; 43(3): 525-32.
  • 28
    van den Berg T, Robroek SJ, Plat JF, Koopmanschap MA, Burdorf A. The importance of job control for workers with decreased work ability to remain productive at work. Int Arch Occup Environ Health 2011; 84(6): 705-12.
  • 29
    Wilkie R, Cifuentes M, Pransky G. Exploring extensions to working life: job lock and predictors of decreasing work function in older workers. Disabil Rehabil 2011; 33(19-20): 1719-27.
  • 30
    Monteiro MS, Ilmarinen J, Filho HRC. Work ability of workers in different age groups in a public health institution in Brazil. Int J Occup Saf Ergon 2006; 12(4): 417-27.
  • 31
    van den Berg TIJ, Elders LAM, Zwart BCH, Burdof A. The effects of work-related and individual factors on the work ability index: a systematic review. Occup Environ Med 2009; 66(4): 211-20.
  • 32
    Mohren DCL, Jansen NWH, Kant IJ. Need for recovery from work in relation to age: a prospective cohort study. Int Arch Occup Envirom Health 2010; 83(5): 553-61.
  • 33
    Souza LM, Lautert L, Fabiani E. Qualidade de vida e trabalho voluntário em idosos. Rev Esc Enferm USP 2011; 45(3): 665-71.
  • 34
    Monteiro MS, Alexandre NMC, Milani D, Fujimura F. Work capacity evaluation among nursing aides. Rev Esc Enferm USP 2011; 45(5): 1177-82.
  • 35
    Almeida JR, Elias ET, Magalhães MA, Vieira AJD. Efeito da idade sobre a qualidade de vida e saúde dos catadores de materiais recicláveis de uma associação em Governador Valadares, Minas Gerais, Brasil. Cien Saude Colet. 2009; 14(6): 2169-80.
  • 36
    Raffone AM, Hennington EA. Avaliação da capacidade funcional dos trabalhadores de enfermagem. Rev Saúde Pública 2005; 39(4): 669-76.
  • 37
    Giatti L, Barreto SM. Saúde, trabalho e envelhecimento no Brasil. Cad Saúde Pública 2003; 19(3): 759-71.

  • Fonte de financiamento: nenhuma.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    13 Ago 2013
  • Revisado
    03 Abr 2014
  • Aceito
    09 Maio 2014
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br