Uso de capacete e gravidade de lesões em motociclistas vítimas de acidentes de trânsito nas capitais brasileiras: uma análise do Viva Inquérito 2017

Rayone Moreira Costa Veloso Souto Rafael Bello Corassa Cheila Marina de Lima Deborah Carvalho Malta Sobre os autores

RESUMO:

Objetivo:

Analisar o efeito do uso de capacete na gravidade de lesões em condutores e passageiros de motocicletas envolvidos em acidentes de trânsito.

Métodos:

Estudo de corte seccional sobre vítimas de acidentes de transporte terrestre envolvendo motociclistas, atendidos nos serviços de urgência e emergência e participantes do Inquérito de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva Inquérito) 2017.

Resultados:

Verificou-se predomínio de indivíduos na faixa de 18 a 29 anos (46,6%), negros (75,2%) e com ensino médio (50,6%). Em 14,1% dos acidentes houve relato de uso de álcool. O uso do capacete reduziu em 76% a ocorrência de trauma cranioencefálico e em 28% a ocorrência de encaminhamento para outro hospital, internação ou óbito.

Conclusão:

Motociclistas jovens, negros, de baixa escolaridade e do sexo masculino apresentaram-se mais vulneráveis aos acidentes. O uso do capacete mostrou-se protetor para lesões graves.

Palavras-chave:
Causas externas; Acidentes de trânsito; Inquéritos epidemiológicos; Assistência ambulatorial; Gravidade do paciente; Motocicletas

INTRODUÇÃO

Traumatismos causados por acidentes de trânsito resultam em importantes impactos sociais, econômicos, ambientais e na saúde, além de sobrecarregarem os serviços de saúde11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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. Em 2013, as mortes e as lesões por essa causa foram responsáveis por um custo global equivalente a 3% do produto interno bruto (PIB), e em países de renda baixa e média, esse custo chegou a 5% do PIB22. World Health Organization. Global status report on road safety 2015. Genebra: World Health Organization; 2015..

No Brasil, os acidentes de trânsito constituem a segunda causa de morte entre todos os óbitos por causas externas, com maior ocorrência na população de 15 a 39 anos. As principais vítimas fatais são motociclistas, que representam cerca de um terço das mortes por acidentes de trânsito11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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. De 2004 a 2013, houve tendência de crescimento de mortalidade desse grupo, com aumento da taxa média anual de 7,98% (IC95% 5,71 - 10,29)33. Morais Neto OL, Montenegro MMS, Monteiro RA, Rodrigues FR, Botacin CF, Beniz LAF. Perfil e evolução da morbimortalidade de acidentes de transporte terrestre - Brasil, 2004-2013. In: Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas, editor. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde; 2015. p. 345-72.. Entre 2010 e 2017, observou-se redução dos números de óbitos em praticamente todos os grupos de vítimas de acidentes de trânsito, com exceção dos motociclistas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste44. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Mortalidade - Brasil [Internet]. [acessado em 25 out. 2016]. Disponível em: Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi....
.

A causalidade de acidentes em motociclistas envolve múltiplos fatores, como vulnerabilidade em função do tipo de veículo, aumento vertiginoso da frota, falta de segurança viária e veicular, comportamentos de risco22. World Health Organization. Global status report on road safety 2015. Genebra: World Health Organization; 2015.,55. Talving P, Teixeira PG, Barmparas G, Dubose J, Preston C, Inaba K, et al. Motorcycle-related injuries: effect of age on type and severity of injuries and mortality. J Trauma 2010; 68(2): 441-6. https://doi.org/10.1097/TA.0b013e3181cbf303
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, além da utilização crescente desse veículo como instrumento de trabalho, sem abordagem voltada para a segurança laboral66. Diniz EPH, Assunção AÁ, Lima FPA. Prevenção de acidentes: o reconhecimento das estratégias operatórias dos motociclistas profissionais como base para a negociação de acordo coletivo. Ciênc Saúde Coletiva 2005; 10(4): 905-16. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000400014
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. Um dos fatores evitáveis que contribuem para o aumento da gravidade das lesões em motociclistas refere-se à falta de uso de equipamentos de proteção. Lesões cranioencefálicas, por exemplo, estão diretamente relacionadas ao não uso do capacete11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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.

O conhecimento dos fatores que influenciam o uso desses equipamentos de proteção, bem como a eficácia desses dispositivos na prevenção de lesões graves e de mortes é fundamental para o planejamento e o aprimoramento de políticas públicas e de orientações sobre ações de fiscalização e campanhas educativas. Desse modo, este estudo visa descrever as características referentes aos acidentes de trânsito entre motociclistas e analisar os fatores associados ao uso de capacete, bem como o efeito desse uso sobre a gravidade das lesões.

MÉTODOS

Estudo de corte seccional sobre motociclistas vítimas de acidentes de trânsito atendidos nos serviços de urgência e emergência que participaram do Inquérito de Violências e Acidentes em Serviços Sentinela de Urgência e Emergência (Viva Inquérito) 2017. Os dados foram coletados durante 30 dias consecutivos, entre setembro e dezembro de 2017, em serviços habilitados para o atendimento de urgência e emergência no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) de 23 capitais e do Distrito Federal.

O cálculo da amostra considerou o número de atendimentos por causas externas realizados nos serviços no mês de setembro de 2016. Calculou-se uma amostra mínima de dois mil atendimentos, considerando coeficiente de variação < 30,0%, erro padrão < 3 e efeito de delineamento deff = 2. Foi realizada uma etapa de amostragem probabilística para seleção de turnos diurnos e noturnos de 12 horas, por conglomerados em único estágio de seleção, estratificado pelo tipo de estabelecimento (unidade de pronto atendimento, hospital e serviço especializado). O número de turnos em cada serviço foi calculado por meio da divisão do tamanho mínimo da amostra pelo número médio de atendimentos por causas externas efetuados no mesmo serviço em edições anteriores do Viva Inquérito.

Os dados foram coletados em formulário padronizado, que foi aplicado por entrevistadores treinados para a coleta da pesquisa. Foram considerados elegíveis todos os atendimentos por causas externas realizados nos turnos sorteados na amostra, excluindo-se os indivíduos que procuraram atendimento pela mesma ocorrência mais de uma vez, como situações de retornos médicos e/ou complicações da assistência.

Considerou-se como motociclista todo aquele que viaja de motocicleta ou em side-car ou reboque fixado a esse veículo, incluindo condutores e passageiros. A análise restringiu-se aos motociclistas atendidos em serviços públicos de urgência e emergência em decorrência de acidente de transporte. As variáveis analisadas foram sexo (masculino; feminino), faixa etária (0 a 9; 10 a 17; 18 a 29; 30 anos ou mais), raça/cor autodeclarada (branca; negra [preta e parda]; amarela/indígena), escolaridade (até ensino fundamental; ensino médio; ensino superior), tipo de vítima (condutor; passageiro), natureza da lesão (sem lesão física; contusão, entorse/luxação; corte/laceração; traumatismo cranioencefálico (TCE); outros), parte do corpo atingida (cabeça/pescoço/coluna; tronco/membros superiores; membros inferiores; múltiplos órgãos), uso de capacete (sim; não), consumo de bebida alcoólica (sim; não), evento relacionado ao trabalho (sim; não) e evolução (alta/evasão; encaminhamento/internação hospitalar/óbito).

Foram realizadas análises descritivas das características da amostra referentes a acidentes de transporte envolvendo motociclistas segundo características sociodemográficas por condutor e não condutor. Foram descritas as frequências do uso de capacete e analisadas as associações entre o uso do capacete e a gravidade das lesões entre os motociclistas. Foram consideradas proxys da gravidade das lesões a ocorrência de TCE e a evolução do caso para encaminhamento para outro hospital, internação ou óbito). Todas as análises foram estratificadas segundo tipo de vítima (condutores e passageiros), sendo posteriormente realizada a análise agregada de condutores e de passageiros.

Associações bivariadas foram analisadas pelo teste χ2, com correção de Rao-Scott de segunda ordem para amostragens complexas. Razões de proporções e seus intervalos de confiança foram calculadas por meio de regressão de Poisson com variância robusta. Foram ainda realizadas análises multivariadas das associações entre o uso de capacete e a ocorrência de TCE e a evolução do caso, a fim de obter as razões de prevalência ajustadas para outras variáveis que poderiam contribuir para a gravidade da lesão. A seleção das variáveis de ajuste foi realizada com auxílio de um diagrama acíclico direcionado (DAG), sendo mantidas no modelo a idade da vítima e o uso de álcool pelo condutor. Uma vez que apenas o uso de álcool pelo condutor mostrou-se relevante para ajuste, e considerando que não há informações sobre o condutor nos casos em que a pessoa atendida era passageira, essa variável foi incluída apenas nas análises de condutores acidentados.

As análises foram realizadas no módulo survey do programa Stata, versão 14, tendo em vista que se trata de plano de amostragem complexo. Todas as análises foram realizadas considerando nível de significância de 5%.

O Projeto do Viva Inquérito foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Ministério da Saúde, sob Parecer nº 2.234.509, 23/8/2017 - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 67709417.0.0000.0008. A coleta de dados foi realizada após a concordância verbal das vítimas ou de seus responsáveis ou acompanhantes, quando menores de 18 anos ou quando se tratava de vítima inconsciente.

RESULTADOS

Foram registrados 11.802 atendimentos de urgência e emergência por acidentes de transporte, dos quais 7.813 (62,6%) foram acidentes envolvendo motociclistas. Desse total, dez casos foram excluídos da análise pois as vítimas não estavam classificadas como condutores ou passageiros do veículo.

Entre os condutores e os passageiros de motocicletas acidentados, verificou-se predomínio de indivíduos na faixa de 18 a 29 anos (46,6%), negros (75,2%) e com ensino médio (50,9%). Em 14,1% dos acidentes atendidos houve relato de uso de álcool nas seis horas anteriores à ocorrência. Aproximadamente um terço dos acidentes estiveram relacionados ao trabalho. Comparando-se passageiros e condutores acidentados, verificou-se predomínio de homens entre os condutores (86,6%) e mulheres entre os passageiros (64,5%) (Tabela 1).

Tabela 1.
Atendimentos de urgência e emergência de acidentes envolvendo motociclistas, segundo características da vítima, relato de uso de álcool e relação com o trabalho, por tipo de vítima. Serviços selecionados em 23 capitais* e no Distrito Federal em 2017.

As lesões mais frequentes foram contusões, entorses/luxações (33,4%) e cortes/lacerações (29,2%). TCE foi observado em 2,9% dos atendimentos por acidente de motocicleta. Os membros inferiores foram as partes do corpo mais atingidas (42,2%), seguidos por membros superiores/tronco (29,9%) e múltiplos órgãos (16,0%). Lesões na cabeça/pescoço/coluna estiveram presentes em 12,0% dos casos (Tabela 2).

Tabela 2.
Atendimentos de urgência e emergência de acidentes envolvendo motociclistas, segundo características da lesão e do atendimento, por tipo de vítima. Serviços selecionados em 23 capitais* e no Distrito Federal em 2017.

A prevalência média de uso do capacete entre os atendimentos foi de 81,8% (IC95% 79,8 - 83,6), variando de 97,6% (IC95% 95,8 - 98,6) em Cuiabá (MS) a 53,8% (IC95% 45,4 - 62,0) em Belém (PA) (Figura 1).

Figura 1.
Frequência de uso de capacete no total de condutores e passageiros atendidos por acidentes de motocicleta em serviços selecionados em 23 capitais* e no Distrito Federal em 2017.

Verificaram-se menores proporções de uso do capacete entre jovens menores de 18 anos de idade, negros (RP = 0,93; IC95% 0,90 - 0,96) e que relataram ter usado álcool (RP = 0,74; IC95% 0,70 - 0,79), e maiores proporções de uso do equipamento entre indivíduos com maior escolaridade, envolvidos em acidentes relacionados ao trabalho (RP = 1,20; IC95% 1,15 - 1,25) e entre condutores (RP = 1,11; IC95% 1,07 - 1,15) em relação aos passageiros (Tabela 3).

Tabela 3.
Atendimentos de urgência e emergência de acidentes envolvendo motociclistas, segundo características sociodemográficas de condutores, com uso de capacete. Serviços selecionados em 23 capitais* e no Distrito Federal em 2017.

Os indivíduos que usaram o capacete tiveram redução de 76% (RP = 0,24; IC95% 0,18 - 0,32) na ocorrência do trauma cranioencefálico. O uso de capacete reduziu ainda em 28% encaminhamentos para outros serviços, internações ou óbitos (RP = 0,72; IC95% 0,62 - 0,83), em relação à alta/evasão (Tabela 4).

Tabela 4.
Atendimentos de urgência e emergência de acidentes envolvendo motociclistas, segundo tipo de lesão, evolução e tipo de vítima. Serviços selecionados em 23 capitais* e no Distrito Federal em 2017.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo apontaram para a vulnerabilidade de motociclistas aos acidentes e para a importância do uso do capacete na redução da gravidade das lesões. Apesar da relevância destes achados, é importante ressaltar que o estudo abrange apenas atendimentos realizados em serviços públicos de urgência e emergência de referência para causas externas e selecionados de forma intencional nos municípios participantes da pesquisa, o que limita a possibilidade de generalização dos resultados.

O estudo demonstrou que jovens de 18 a 29 anos, negros e do sexo masculino foram as principais vítimas dos acidentes de trânsito envolvendo motocicletas, entre os atendimentos de urgência e emergência nas unidades de saúde do SUS selecionadas. Mais de um terço dos eventos estavam relacionados ao trabalho, e 15% dos acidentados estavam sob efeito de álcool. Os membros inferiores foram as partes do corpo mais atingidas, e TCE foi observado em 2,9% da amostra. Indivíduos com maior escolaridade e motociclistas que utilizavam o veículo por motivo de trabalho apresentaram maior probabilidade de estarem usando capacete. Indivíduos que usavam o capacete no momento do acidente tiveram redução de 76% na ocorrência do trauma cranioencefálico e de cerca de 30% em encaminhamentos para outros serviços, internações ou óbitos.

Os acidentes no trânsito envolvendo motocicletas implicam em elevadas taxas de mortalidade no Brasil, conforme apontado por diversos estudos77. Vasconcelos CH, Lima CM, Aquino EC, Montenegro MMS, Souto RMCV, Ramalho WM. Tendência e cenário da mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil, de 2000 a 2015. In: Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável, editor. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde ; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. p. 293-312. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017_analise_situacao_saude_desafios_objetivos_desenvolvimento_sustetantavel.pdf
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,88. Morais Neto OL, Montenegro MMS, Monteiro RA, Siqueira Júnior JB, Silva MMA, Lima CM, et al. Mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil na última década: tendência e aglomerados de risco. Ciênc Saúde Coletiva 2012; 17(9): 2223-36. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012000900002
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,99. Biffe CRF, Harada A, Bacco AB, Coelho CS, Baccarelli JLF, Silva KL, et al. Perfil epidemiológico dos acidentes de trânsito em Marília, São Paulo, 2012. Epidemiol Serv Saúde 2017; 26(2): 389-98. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742017000200016
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,1010. Paixão LMMM, Gontijo ED, Mingoti SA, Costa DAS, Friche AAL, Caiaffa WT. Óbitos no trânsito urbano: qualificação da informação e caracterização de grupos vulneráveis. Cad Saúde Pública 2015; 31(Supl. 1): 92-106. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00081314
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,1111. Organização Pan-Americana de Saúde. Trânsito: um olhar da saúde para o tema [Internet]. Brasília: OPAS; 2018 [acessado em 05 set. 2019]. Disponível em: http://iris.paho.org/xmlui/handle/123456789/49709
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, com tendência crescente de 2000 a 201577. Vasconcelos CH, Lima CM, Aquino EC, Montenegro MMS, Souto RMCV, Ramalho WM. Tendência e cenário da mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil, de 2000 a 2015. In: Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável, editor. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde ; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. p. 293-312. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017_analise_situacao_saude_desafios_objetivos_desenvolvimento_sustetantavel.pdf
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O cenário brasileiro revela uma epidemia de mortes de motociclistas por acidentes de trânsito resultante de múltiplos fatores, como o rápido crescimento da frota de motocicletas no país, a infraestrutura viária precária, o compartilhamento das vias, além de questões comportamentais como excesso de velocidade, uso de álcool e não uso de capacete1616. Organização Pan-Americana de Saúde. Salvar vidas. Pacote de medidas técnicas para segurança no trânsito [Internet]. Brasília: OAPS; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.afro.who.int/pt/publications/salvar-vidas-pacote-de-medidas-tecnicas-para-seguranca-no-transito
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,1717. Organização Pan-Americana de Saúde. Capacetes: manual de segurança no trânsito para os gestores e profissionais de saúde [Internet]. Brasília: OPAS ; 2007 [acessado em 08 set. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=document&layout=default&alias=206-capacetes-manual-seguranca-no-transito-para-os-gestores-e-profissionais-saude-6&category_slug=saude-e-ambiente-707&Itemid=965
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,1818. Veronese AM, Oliveira DLLC. Os riscos dos acidentes de trânsito na perspectiva dos moto-boys: subsídios para a promoção da saúde. Cad Saúde Pública 2006; 22(12): 2717-21. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006001200021
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. Destaca-se que o crescimento da frota de motociclistas, nas últimas décadas, ocorreu principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e em municípios de pequeno porte. Isso se deu em consequência da substituição de meios de transporte não motorizados, como bicicletas e animais, pelas motocicletas22. World Health Organization. Global status report on road safety 2015. Genebra: World Health Organization; 2015.,77. Vasconcelos CH, Lima CM, Aquino EC, Montenegro MMS, Souto RMCV, Ramalho WM. Tendência e cenário da mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil, de 2000 a 2015. In: Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável, editor. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde ; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. p. 293-312. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017_analise_situacao_saude_desafios_objetivos_desenvolvimento_sustetantavel.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
, em função do menor custo de manutenção1212. Bacchieri G, Barros AJD. Acidentes de trânsito no Brasil de 1998 a 2010: muitas mudanças e poucos resultados. Rev Saúde Pública 2011; 45(5): 949-63. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000069
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, da maior fluidez em congestionamentos, da falta de qualidade do transporte coletivo1313. Bastos YGL, Andrade SM, Soares DA. Características dos acidentes de trânsito e das vítimas atendidas em serviço pré-hospitalar em cidade do Sul do Brasil, 1997/2000. Cad Saúde Pública 2005; 21(3): 815-22. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2005000300015
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,1414. Souza HNF, Malta DC, Freitas MIF. Narrativas de motociclistas acidentados sobre riscos e os diversos meios de transporte. Interface 2018; 22(67): 1159-71. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622017.0333
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e de incentivos fiscais para a compra dos veículos77. Vasconcelos CH, Lima CM, Aquino EC, Montenegro MMS, Souto RMCV, Ramalho WM. Tendência e cenário da mortalidade por acidentes de transporte terrestre no Brasil, de 2000 a 2015. In: Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável, editor. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde ; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. p. 293-312. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017_analise_situacao_saude_desafios_objetivos_desenvolvimento_sustetantavel.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
,1515. Scarpetta J, Gonçalves OO. Incentivos fiscais e o aumento de custos da saúde pública: o caso da “epidemia” de motocicletas no Brasil. Veredas Direito 2015; 12(24): 227. http://dx.doi.org/10.18623/rvd.v12i24.486
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.

O elevado número de acidentes de motociclistas relacionados ao trabalho demanda o aprofundamento de estudos sobre as relações de trabalho e as estratégias referentes à segurança no trabalho11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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. Nesse sentido, configuram fatores de risco adicionais para esses acidentes as exigências e as pressões dos empregadores e dos clientes por serviços mais rápidos, as excessivas jornadas de trabalho e as precárias relações laborais, além da infraestrutura viária inadequada66. Diniz EPH, Assunção AÁ, Lima FPA. Prevenção de acidentes: o reconhecimento das estratégias operatórias dos motociclistas profissionais como base para a negociação de acordo coletivo. Ciênc Saúde Coletiva 2005; 10(4): 905-16. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000400014
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
,1717. Organização Pan-Americana de Saúde. Capacetes: manual de segurança no trânsito para os gestores e profissionais de saúde [Internet]. Brasília: OPAS ; 2007 [acessado em 08 set. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=document&layout=default&alias=206-capacetes-manual-seguranca-no-transito-para-os-gestores-e-profissionais-saude-6&category_slug=saude-e-ambiente-707&Itemid=965
https://www.paho.org/bra/index.php?optio...
,1818. Veronese AM, Oliveira DLLC. Os riscos dos acidentes de trânsito na perspectiva dos moto-boys: subsídios para a promoção da saúde. Cad Saúde Pública 2006; 22(12): 2717-21. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006001200021
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,1919. Morais Neto OL, Andrade AL, Guimarães RA, Mandacarú PMP, Tobias GC. Regional disparities in road traffic injuries and their determinants in Brazil, 2013. Int J Equity Health [Internet]. 2016 [acessado em 17 out. 2019]; 15. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1186/s12939-016-0433-6
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.118...
,2020. Silva DW, Soares DA, Andrade SM. Atuação profissional de motoboys e fatores associados à ocorrência de acidentes de trânsito em Londrina-PR. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2008 [acessado em 17 out. 2019]; 17(2). Disponível em: http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742008000200010
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.512...
. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), inquérito de representatividade nacional da população domiciliada, realizada em 2013, apontaram que 30% dos acidentes de trabalho, cerca de 1,9 milhões de acidentes, foram em função do deslocamento para o serviço2121. Malta DC, Stopa SR, Silva MMA, Szwarcwald CL, Franco MS, Santos FV, et al. Acidentes de trabalho autorreferidos pela população adulta brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Ciênc Saúde Coletiva 2017; 22(1): 169-78. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017221.17862015
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.

A associação de álcool e direção ocorreu em cerca de 15% dos eventos. A condução de veículo sob efeito de álcool tem sido considerada um dos principais fatores de risco para a ocorrência de acidentes de trânsito, pois afeta os reflexos do condutor e aumenta as escolhas de risco, como a transgressão à legislação de trânsito2121. Malta DC, Stopa SR, Silva MMA, Szwarcwald CL, Franco MS, Santos FV, et al. Acidentes de trabalho autorreferidos pela população adulta brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Ciênc Saúde Coletiva 2017; 22(1): 169-78. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017221.17862015
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,2222. Organização Pan-Americana de Saúde. Beber e dirigir: manual de segurança viária para profissionais de trânsito e de saúde [Internet]. Brasília: OPAS ; 2007 [acessado em 15 ago. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=document&layout=default&alias=1484-beber-e-dirigir-prevencao-manual-seguranca-transito-para-profissionais-transito-e-saude-4&category_slug=acidentes-e-violencias-086&Itemid=965
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. Segundo resultados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), pesquisa telefônica representativa da população com telefonia fixa das capitais brasileiras, realizada em 2018, a frequência de adultos que referiam conduzir veículos motorizados após consumo de bebida alcoólica foi de 11,4% para o conjunto de capitais brasileiras, variando de 5,7% no Recife a 24,1% em Teresina2323. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico - Vigitel 2018. Brasil: Ministério da Saúde; 2018 [acessado em 27 ago. 2019]. Disponível em: Disponível em: http://svs.aids.gov.br/download/Vigitel/
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. Em 2013, dados da PNS 2013 mostraram que entre 30 e 39% das pessoas maiores de 18 anos que relataram beber e conduzir automóveis ou motocicletas referiram dirigir após o consumo de bebida alcoólica2424. Macinko J, Mullachery P, Silver D, Jimenez G, Morais Neto OL. Patterns of Alcohol Consumption and Related Behaviors in Brazil: Evidence from the 2013 National Health Survey (PNS 2013). PLoS One 2015; 10(7): e0134153. http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0134153
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, sendo a chance de acidente de trânsito entre os que bebem e dirigem duas vezes maior2525. Damacena GN, Malta DC, Boccolini CS, Souza Júnior PRB, Almeida WS, Ribeiro LS, et al. Consumo abusivo de álcool e envolvimento em acidentes de trânsito na população brasileira, 2013. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3777-86. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.25692015
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. Além disso, os condutores que se acidentaram após uso do álcool eram majoritariamente jovens do sexo masculino2525. Damacena GN, Malta DC, Boccolini CS, Souza Júnior PRB, Almeida WS, Ribeiro LS, et al. Consumo abusivo de álcool e envolvimento em acidentes de trânsito na população brasileira, 2013. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3777-86. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.25692015
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As características das lesões, com elevado número de cortes, lacerações e TCE associado ao elevado percentual de internação, encaminhamento para outro hospital e óbito, revelam a magnitude e a gravidade das lesões em motociclistas. Além disso, ressalta-se que TCE está diretamente relacionado ao não uso do capacete11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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As motocicletas são consideradas uma das formas mais perigosas de transporte motorizado em virtude do pequeno tamanho do veículo e da ausência da estrutura e dos dispositivos de proteção presentes nos carros, resultando em maior exposição dos ocupantes ao impacto e maior vulnerabilidade a traumas múltiplos e de maior gravidade2626. Golias ARC, Caetano R. Acidentes entre motocicletas: análise dos casos ocorridos no estado do Paraná entre julho de 2010 e junho de 2011. Ciênc Saúde Coletiva 2013; 18(5): 1235-46. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000500008
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,2727. Keall MD, Newstead S. Analysis of factors that increase motorcycle rider risk compared to car driver risk. Accid Anal Prev 2012; 49: 23-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.aap.2011.07.001
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. Essa vulnerabilidade é ainda maior quando há divisão do espaço das vias com veículos de grande porte1616. Organização Pan-Americana de Saúde. Salvar vidas. Pacote de medidas técnicas para segurança no trânsito [Internet]. Brasília: OAPS; 2018 [acessado em 08 set. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.afro.who.int/pt/publications/salvar-vidas-pacote-de-medidas-tecnicas-para-seguranca-no-transito
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, resultando em um risco de morte 30 vezes maior, quando comparado ao risco que ocupantes de outros tipos de veículos motorizados estão expostos2828. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras: caracterização, tendências e custos para a sociedade - Relatório de pesquisa [Internet]. Brasília: IPEA [acessado em 27 ago. 2019]; 2015. Disponível em: Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=26277
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,2929. U.S. Department of Transportation, National Highway Transportation Safety Administration. Traffic Safety Facts 2010 Data: Motorcycles. Report No.: DOT HS 811 639 [Internet]. Washington, D.C.: National Center for Statistics and Analysis [acessado em 20 mar. 2015]. Disponível em: Disponível em: http://www-nrd.nhtsa.dot.gov/Pubs/811639.pdf
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. Assim, os motociclistas sofrem de maneira desproporcional os riscos no trânsito e as lesões causadas nos acidentes.

O estudo atual demonstrou que uma parcela importante das vítimas atendidas não usava capacete, apesar de sua obrigatoriedade no país3030. Brasil, Departamento Nacional de Trânsito. Código de Trânsito Brasileiro: instituído pela Lei nº 9.503, de 23-9-97. 3ª ed. Brasília: DENATRAN; 2008.,3131. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências: Brasil, grandes regiões e unidades da Federação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2015. 98 p.,3232. Brasil. Ministério da Saúde. Viva: Vigilância de Violências e Acidentes, 2008 e 2009 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde; 2010 [acessado em 28 ago. 2019]. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva_2008_2009_violencias_acidentes.pdf
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. Promulgar e fazer cumprir as leis para enfrentar os fatores de risco é uma medida eficaz para reduzir as mortes e as lesões por acidentes de trânsito3333. Elvik R, editor. The handbook of road safety measures. 2ª ed. Bingley: Emerald; 2009. 1124 p., com grande impacto sobre a gravidade desses acidentes3434. Peden MM, World Health Organization, editors. World report on road traffic injury prevention. Genebra: World Health Organization ; 2004. 217 p.. Este estudo reforça a importância do capacete como item de segurança na prevenção de lesões graves. Estes achados vão ao encontro de evidências da Organização Mundial da Saúde, que apontam para o efeito protetor do uso do capacete, com redução de 70% nas chances de TCE e de até 40% nas chances de morte1717. Organização Pan-Americana de Saúde. Capacetes: manual de segurança no trânsito para os gestores e profissionais de saúde [Internet]. Brasília: OPAS ; 2007 [acessado em 08 set. 2019]. Disponível em: Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=document&layout=default&alias=206-capacetes-manual-seguranca-no-transito-para-os-gestores-e-profissionais-saude-6&category_slug=saude-e-ambiente-707&Itemid=965
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O estudo revelou ainda que motociclistas jovens, negros, de baixa escolaridade e do sexo masculino estão mais vulneráveis aos acidentes com motocicletas. O uso do capacete mostra-se protetor de lesões graves, revelando a importância da intensificação das medidas educativas e da fiscalização ostensiva11. Mascarenhas MDM, Souto RMCV, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Montenegro MMS. Características de motociclistas envolvidos em acidentes de transporte atendidos em serviços públicos de urgência e emergência. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(12): 3661-71. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.24332016
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, focadas em motociclistas e com abordagem voltada para uso de capacete, tendo em vista ser um equipamento eficiente na proteção de gravidade de lesão.

No Brasil, entre as estratégias de enfrentamento do problema, destaca-se o Programa Vida no Trânsito (PVT), que constitui a principal resposta nacional aos desafios da meta global da Organização as Nações Unidas para segurança no trânsito e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O PVT é uma estratégia de gestão e governança focada em ações integradas, orientadas por evidências e análises integradas de dados locais, realizadas por meio de planos intersetoriais, visando reduzir a morbimortalidade por lesões de trânsito3535. Morais Neto OL de, Silva MMA, Lima CM de, Malta DC, Silva Jr. JB da. Projeto Vida no Trânsito: avaliação das ações em cinco capitais brasileiras, 2011-2012. Epidemiol Serv Saúde 2013; 22(3): 373-82. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000300002
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. Além disso, o programa busca promover a mobilidade segura e sustentável nos espaços públicos de circulação das pessoas. São estratégias prioritárias do programa a qualificação da informação para orientar as ações; a implementação de ações intersetoriais e integradas nos eixos de fiscalização, educação, infraestrutura, atenção às vítimas e promoção da saúde; intervenções visando ao aumento do uso de equipamentos de proteção, à redução de velocidade e da direção sob efeito do álcool e ao aprimoramento da legislação; a melhoria do transporte urbano sustentável e da infraestrutura viária; a priorização de grupos de vítimas vulneráveis (motociclistas, pedestres, ciclistas e outros identificados localmente); e o fortalecimento da intersetorialidade nas três esferas de gestão3636. Brasil. Ministério da Saúde. Guia Vida no Trânsito. Brasília: Ministério da Saúde, 2017..

Ressalta-se que, embora o Brasil tenha alcançado uma redução dos óbitos por acidentes de trânsito entre 2010 e 2017, as taxas de mortalidade de motociclistas continuam em ascensão, apresentando-se como um desafio permanente para o enfrentamento das mortes e das lesões no trânsito do país. Dessa forma, recomendam-se o fortalecimento e a expansão de programas de intervenção que enfatizem a intersetorialidade, o uso de informação qualificada e o planejamento e a execução de ações baseadas em evidências e na realidade local, a exemplo do Programa Vida no Trânsito.

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  • Fonte de financiamento: nenhuma

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    25 Out 2019
  • Revisado
    24 Dez 2019
  • Aceito
    07 Jan 2020
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