Mudanças na atividade física total, de lazer e deslocamento na maior cidade da América Latina, 2003-2015

Tatiane Kosimenko Ferrari Figueiredo Ricardo Goes de Aguiar Alex Antonio Florindo Maria Cecília Goi Porto Alves Marilisa Berti de Azevedo Barros Moisés Goldbaum Gerson Ferrari Regina Mara Fisberg Chester Luiz Galvão Cesar Sobre os autores

RESUMO:

Objetivo:

Analisar a prevalência de inatividade física e o tempo médio de prática de atividade física total e por domínios (lazer e deslocamento), de acordo com sexo, faixa etária e escolaridade, em residentes de área urbana do munícipio de São Paulo, entre os anos de 2003 e 2015.

Métodos:

Utilizaram-se dados dos Inquéritos Domiciliares de Saúde no Município de São Paulo (2013: n = 2.514; 2015: n = 4.043). O International Physical Activity Questionnaire foi utilizado para mensurar a atividade física total, de lazer e deslocamento. Resultados foram apresentados em períodos de < 10 minutos/semana, inatividade física e minutos/semana, conforme período de avaliação, faixa etária, sexo e escolaridade.

Resultados:

As prevalências dos períodos < 10 minutos/semana em 2003 e 2015 foram 22,5 e 28,9% para total; 56,7 e 58,3% para lazer; e 35,2 e 39,9% para deslocamento, com mudança significativa no total em adolescentes, de 10,3 para 18,8%. Para inatividade física, as prevalências foram 54,9 e 61,6% para total; 78,2 e 78,9% para lazer; e 72 e 79,9% para deslocamento, com mudanças significativas no deslocamento em adultos, de 67,8 para 77,4%. Para as médias de atividade física total, houve diminuição significativa para adolescentes do sexo feminino (138,2 minutos/semana) e adultos com escolaridade de 0–8 (122,6 minutos/semana) e 9–11 anos (96,7 minutos/semana); no deslocamento, houve diminuição para adolescentes do sexo feminino (95 minutos/semana) e adultos do sexo masculino (95 minutos/semana) e feminino (82 minutos/semana).

Conclusão:

Não foram encontradas diminuições na prevalência dos períodos < 10 minutos/semana e na inatividade física no lazer. A inatividade física no deslocamento ficou ainda maior.

Palavras-chave:
Atividade física; Comportamento sedentário; Epidemiologia; Vigilância

INTRODUÇÃO

Apesar de os benefícios da prática regular de atividade física (AF)11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018. serem indicados e divulgados, a inatividade física ainda é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas e mortalidade por todas as causas11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018.33. Ekelund U, Tarp J, Steene-Johannessen J, Hansen BH, Jefferis B, Fagerland MW, et al. Dose-response associations between accelerometry measured physical activity and sedentary time and all cause mortality: systematic review and harmonised meta-analysis. BMJ 2019; 366: l4570. https://doi.org/10.1136/bmj.l4570
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O cumprimento das recomendações atuais de AF ou até mesmo a sua realização em períodos contínuos de pelo menos 10 minutos semanais são fundamentais para melhorar a saúde e prevenir doenças crônicas não transmissíveis em todos os grupos etários, etnias e níveis de escolaridade11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018.. Porém, evidências44. Cruz MSD, Bernal RTI, Claro RM. [Trends in leisure-time physical activity in Brazilian adults (2006-2016)]. Cad Saude Publica 2018; 34(10): e00114817. https://doi.org/10.1590/0102-311x00114817
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,55. Ferrari G, Rezende LFM, Wagner GA, Florindo AA, Peres MFT. Physical activity patterns in a representative sample of adolescents from the largest city in Latin America: a cross-sectional study in São Paulo. BMJ Open 2020; 10(9): e037290. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-037290
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demonstram que alguns estratos populacionais têm maiores oportunidades de alcançar as recomendações para a prática de AF. No Brasil, a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) revelou que homens e aqueles com 9 anos ou mais de estudo praticam mais AF de lazer que as mulheres e aqueles com 8 anos ou menos de estudo44. Cruz MSD, Bernal RTI, Claro RM. [Trends in leisure-time physical activity in Brazilian adults (2006-2016)]. Cad Saude Publica 2018; 34(10): e00114817. https://doi.org/10.1590/0102-311x00114817
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Uma área de interesse em saúde pública é saber ou conhecer em quais domínios as pessoas são mais ou menos fisicamente ativas, ou praticam ou não alguma atividade física. Avaliar os padrões de AF por domínios pode fornecer uma compreensão mais completa desse comportamento complexo, uma vez que os diferentes domínios de AF são influenciados por fatores distintos66. Sugiyama T, Cerin E, Owen N, Oyeyemi AL, Conway TL, Van Dyck D, et al. Perceived neighbourhood environmental attributes associated with adults recreational walking: IPEN Adult study in 12 countries. Health Place 2014; 28: 22-30. https://doi.org/10.1016/j.healthplace.2014.03.003
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,77. Deforche B, Van Dyck D, Verloigne M, De Bourdeaudhuij I. Perceived social and physical environmental correlates of physical activity in older adolescents and the moderating effect of self-efficacy. Prev Med 2010; 50(Supl. 1): S24-29. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2009.08.017
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Promover a AF em habitantes que vivem em metrópoles é um desafio ainda maior. São Paulo está entre as dez cidades mais urbanizadas do mundo88. Demographia World Urban Areas: 15th Annual Edition: 201904. Demographia. St. Louis M-IUA; 2019., caracterizada por diversas origens culturais e socioeconômicas, além de ampla variação na distribuição de doenças e estilos de vida. Nos últimos anos, a cidade de São Paulo passou por um processo de urbanização, além de uma transição demográfica, epidemiológica e socioeconômica99. Greene J, Guanais F. An examination of socioeconomic equity in health experiences in six Latin American and Caribbean countries. Rev Panam Salud Publica 2018; 42: e127. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.127
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. No entanto, o tráfego desorganizado, o aumento das taxas de criminalidade e a desigualdade social ainda persistem99. Greene J, Guanais F. An examination of socioeconomic equity in health experiences in six Latin American and Caribbean countries. Rev Panam Salud Publica 2018; 42: e127. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.127
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, fatos que produzem mudanças nos padrões de AF em todas as idades1010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar: 2015. Rio de Janeiro: IBGE; 2016. 132 p.,1111. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília: Ministério da Saúde; 2019. 132 p.. Revisões sistemáticas indicam que a maioria dos estudos sobre a prática regular de AF foi realizada em países de alta renda1212. Van Hecke L, Loyen A, Verloigne M, van der Ploeg HP, Lakerveld J, Brug J, et al. Variation in population levels of physical activity in European children and adolescents according to cross-European studies: a systematic literature review within DEDIPAC. Int J Behav Nutr Phys Act 2016; 13: 70. https://doi.org/10.1186/s12966-016-0396-4
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,1313. Loyen A, Van Hecke L, Verloigne M, Hendriksen I, Lakerveld J, Steene-Johannessen J, et al. Variation in population levels of physical activity in European adults according to cross-European studies: a systematic literature review within DEDIPAC. Int J Behav Nutr Phys Act 2016; 13: 72. https://doi.org/10.1186/s12966-016-0398-2
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. No Brasil, um aumento na prática de AF de lazer foi observado entre 2006 e 2016 em mulheres e naqueles com maior tempo de escolaridade, quando comparados aos homens e àqueles com menor escolaridade44. Cruz MSD, Bernal RTI, Claro RM. [Trends in leisure-time physical activity in Brazilian adults (2006-2016)]. Cad Saude Publica 2018; 34(10): e00114817. https://doi.org/10.1590/0102-311x00114817
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. Entretanto, poucos estudos mostraram o padrão de AF total e por domínio em adolescentes, adultos e idosos que vivem em metrópoles de países de baixa e média renda1414. Ferrari GLM, Kovalskys I, Fisberg M, Gómez G, Rigotti A, Sanabria LYC, et al. Original research Socio-demographic patterning of self-reported physical activity and sitting time in Latin American countries: findings from ELANS. BMC Public Health 2019; 19(1): 1723. https://doi.org/10.1186/s12889-019-8048-7
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No contexto urbano da cidade de São Paulo, caracterizado pela fragmentação social e desigualdades nas oportunidades de realização de AF, o Novo Plano Diretor surgiu como uma iniciativa eficaz para promover AF, aumentando a rede de ciclovias no município1515. São Paulo. Prefeitura. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Disponível em: [Internet]. São Paulo: Prefeitura [acessado em 12 abr. 2020]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/urbanismo/legislacao/plano_diretor/index.php?p=201105
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. As ciclovias representam uma oportunidade para incentivar o uso equitativo e sustentável dos espaços públicos, pois têm o potencial de alterar os comportamentos de AF de deslocamento1616. Hensley M, Mateo-Babiano D, Minnery J. Healthy places, active transport and path dependence: a review of the literature. Health Promot J Austr 2014; 25(3): 196-201. https://doi.org/10.1071/he14042
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Portanto, compreender os padrões de AF por domínio, por grupo de idade, sexo, nível educacional e em dois períodos de tempo da maior cidade da América Latina pode fornecer novas informações sobre como as políticas e intervenções afetam a AF1717. Turi BC, Codogno JS, Fernandes RA, Lynch KR, Kokubun E, Monteiro HL. Time trends in physical activity of adult users of the Brazilian National Health System: 2010-2014. Longitudinal study. São Paulo Med J 2017; 135(4): 369-75. https://doi.org/10.1590/1516-3180.2017.0025190317
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,1818. Ferreira RW, Varela AR, Monteiro LZ, Hafele CA, Santos SJD, Wendt A, et al. Sociodemographic inequalities in leisure-time physical activity and active commuting to school in Brazilian adolescents: National School Health Survey (PeNSE 2009, 2012, and 2015). Cad Saude Publica 2018; 34(4): e00037917. https://doi.org/10.1590/0102-311x00037917
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. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a prevalência de inatividade física e o tempo médio de prática de atividade física total e por domínios (lazer e deslocamento), de acordo com sexo, faixa etária e escolaridade em residentes de área urbana do munícipio de São Paulo, entre os anos de 2003 e 2015.

MÉTODOS

Desenho do estudo

Trata-se de um estudo transversal, de base populacional, que utilizou dados dos Inquéritos Domiciliares de Saúde no Município de São Paulo (ISA-Capital) de 2003 e 2015, nos quais a amostra do estudo refere-se à população residente em área urbana do município de São Paulo. O ISA é realizado com o objetivo de avaliar o estado de saúde da população do município, segundo suas condições de vida e abordando indicadores de estilo de vida e doenças crônicas1919. Cesar CLG, Barros MBA, Alves MCGP, Carandina L, Goldbaum M. Saúde e Condição de Vida em São Paulo - Inquérito Multicêntrico de Saúde no Estado de São Paulo - ISA-SP. São Paulo: USP/FSP; 2005. Resenha de Almeida MF. Ciênc Saúde Coletiva 2006; 11(4): 1131. https://doi.org/10.1590/S1413-81232006000400033
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. Na cidade de São Paulo, foram elaboradas edições em 2001, 2003, 2008 e 2015. O inquérito é conduzido por pesquisadores das universidades públicas paulistas e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Para a população do presente estudo, foram selecionadas pessoas de ambos os sexos, adolescentes (12–19 anos), adultos (20–59 anos) e idosos (≥ 60 anos), totalizando 2.514 participantes em 2003 e 4.043 em 2015.

Em ambos os períodos de avaliação, foram utilizadas amostragens probabilísticas estratificadas, com sorteio em dois estágios: setores censitários e domicílios. Em 2003, foram considerados seis grupos de estratificação, de acordo com faixa etária e sexo: menores de 1 ano (independentemente do sexo), de 1 a 11 anos (independentemente do sexo), mulheres de 12 a 19, mulheres de 20 a 59, mulheres de 60 anos ou mais, homens de 12 a 19 anos, homens de 20 a 59 e homens de 60 anos ou mais. Foi determinado que a amostra total seria de 3.360 pessoas, sendo 420 entrevistas por grupo. Em cada setor censitário, foi planejada a obtenção de sete entrevistas por grupo de interesse. Para se precaver da perda de 20% de unidades da amostra em virtude da não resposta, foi previsto o sorteio de 8,75 pessoas em cada grupo (7/0,8 = 8,75). Assim, foi definido um número mínimo de 420 entrevistas em cada um dos grupos de estudo, possibilitando estimar proporções de 0,50, com erro de amostragem de 0,058, considerando um nível de confiança de 95% e um efeito de delineamento de 1,5.

Já para 2015, foram considerados 20 grupos de estratificação, de acordo com faixa etária, sexo e coordenadoria regional de saúde: de 12 a 19 anos (independentemente do sexo), mulheres de 20 a 59, homens de 20 a 59 e de 60 anos ou mais (independentemente do sexo) em cada uma das cinco coordenadorias regionais de saúde (norte, centro-oeste, sudeste, sul e leste). Determinou-se que a amostra total seria de 4.250 pessoas. Definiu-se um número mínimo de 150 entrevistas em cada um dos grupos de estudo, possibilitando estimar proporções de 0,50, com erro de amostragem de 0,10, considerando um nível de confiança de 95% e um efeito de delineamento de 1,5. Todos os domicílios sorteados foram visitados pelo menos três vezes. A taxa de resposta por domicílio foi de 0,76 e, considerando a realização de entrevistas na população elegível contatada nesses domicílios, a taxa de resposta foi de 0,74. No total, foram realizadas 4.043 entrevistas. Mais detalhes sobre o processo completo de amostragem foram publicados anteriormente2020. Alves M, Escuder MML, Goldbaum M, Barros MBA, Fisberg RM, Cesar CLG. Sampling plan in health surveys, city of São Paulo, Brazil, 2015. Rev Saude Publica 2018; 52: 81. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2018052000471
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Participantes que não moravam no município e no domicílio, moradores de rua, pessoas institucionalizadas e pessoas abaixo da idade de interesse foram excluídos do estudo. Os inquéritos são semelhantes, mas os planos de amostragem utilizados nos dois anos possuem aspectos distintos em razão do interesse de aperfeiçoamento do processo de coleta de dados com base em experiências adquiridas. Ainda assim, a possibilidade de comparação entre as várias edições é preservada. Todos os participantes ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (no 2.667.916).

Atividade física

Para a avaliação da AF, foi utilizado o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão longa, referente às atividades praticadas nos últimos sete dias2121. Craig CL, Marshall AL, Sjöström M, Bauman AE, Booth ML, Ainsworth BE, et al. International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity. Med Sci Sports Exerc 2003; 35(8): 1381-95. https://doi.org/10.1249/01.mss.0000078924.61453.fb
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. O IPAQ é validado para analisar a AF de pessoas com 14 anos ou mais2121. Craig CL, Marshall AL, Sjöström M, Bauman AE, Booth ML, Ainsworth BE, et al. International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity. Med Sci Sports Exerc 2003; 35(8): 1381-95. https://doi.org/10.1249/01.mss.0000078924.61453.fb
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2323. Hagströmer M, Bergman P, De Bourdeaudhuij I, Ortega FB, Ruiz JR, Manios Y, et al. Concurrent validity of a modified version of the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ-A) in European adolescents: The HELENA Study. Int J Obes (Lond) 2008; 32(Supl. 5): S42-48. https://doi.org/10.1038/ijo.2008.182
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. Somente os domínios de lazer e de deslocamento foram incluídos no presente estudo, em virtude da maior relevância para orientar políticas e programas de saúde pública2424. Hallal PC, Gomez LF, Parra DC, Lobelo F, Mosquera J, Florindo AA, et al. Lessons learned after 10 years of IPAQ use in Brazil and Colombia. J Phys Act Health 2010; 7(Supl. 2): S259-264. https://doi.org/10.1123/jpah.7.s2.s259
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Os dados foram analisados para o tempo gasto separadamente nos domínios de AF no lazer e no deslocamento e para tempo de AF total. Para a definição da AF total, foi considerada a soma do tempo de prática no lazer e deslocamento. Para a AF no lazer, foram analisadas a frequência semanal e a duração (de pelo menos 10 minutos contínuos) de caminhada, AF moderada e AF vigorosa. Para a AF no deslocamento, foram analisadas a frequência semanal e a duração (de pelo menos 10 minutos contínuos) de caminhada e uso de bicicleta para fins de deslocamento. Com base nesses escores de prática de AF, os resultados foram apresentados de três maneiras: período < 10 min/sem (categórica – não praticavam pelo menos 10 minutos de AF para atividade física total e por domínios), inatividade física (categórica – não atingiam as recomendações internacionais de AF, considerando o tempo total de prática e para os domínios analisados) e min/sem (contínua – tempo médio de prática, em minutos por semana).

O ponto de corte < 10 min/sem de AF foi utilizado pelos seguintes motivos:

  • duração mínima de tempo considerada nas perguntas do IPAQ2121. Craig CL, Marshall AL, Sjöström M, Bauman AE, Booth ML, Ainsworth BE, et al. International physical activity questionnaire: 12-country reliability and validity. Med Sci Sports Exerc 2003; 35(8): 1381-95. https://doi.org/10.1249/01.mss.0000078924.61453.fb
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    ;

  • praticar pelo menos 10 min/sem contínuos de AF (por domínio ou total) diminui os riscos de doenças cardiovasculares, obesidade e mortalidade por todas as causas11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018.,2525. Arem H, Moore SC, Patel A, Hartge P, Berrington de Gonzalez A, Visvanathan K, et al. Leisure time physical activity and mortality: a detailed pooled analysis of the dose-response relationship. JAMA Intern Med 2015; 175(6): 959-67. https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2015.0533
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    ,2626. Paul P, Carlson SA, Carroll DD, Berrigan D, Fulton JE. Walking for Transportation and Leisure Among U.S. Adults--National Health Interview Survey 2010. J Phys Act Health 2015; 12(Supl. 1): S62-9. https://doi.org/10.1123/jpah.2013-0519
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    ;

  • correlação moderada com medidas objetivas de AF (r = 0,44)2727. Garriguet D, Tremblay S, Colley RC. Comparison of Physical Activity Adult Questionnaire results with accelerometer data. Health Rep 2015; 26(7): 11-7..

Para o cumprimento das recomendações, foi utilizado o ponto de corte de 150 min/sem para as pessoas com 18 anos ou mais e o ponto de corte de 420 min/sem (60 min/dia) para as pessoas entre 12 e 17 anos, conforme as recomendações atuais de AF11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018.. No geral, as recomendações internacionais de AF estão relacionadas à AF total, que incluem os quatro domínios11. U.S. Department of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans. 2ª ed. Washington, D.C.: U.S. Department of Health and Human Services; 2018.. Porém, os resultados foram apresentados separadamente para os domínios de lazer e deslocamento e pela soma de ambos em virtude da relevância para a elaboração de políticas públicas e as diferentes relações com doenças cardiovasculares2828. Pitanga FJG, Matos SMA, Almeida MDC, Barreto SM, Aquino EML. Leisure-Time Physical Activity, but not Commuting Physical Activity, is Associated with Cardiovascular Risk among ELSA-Brasil Participants. Arq Bras Cardiol 2018; 110(1): 36-43. https://doi.org/10.5935/abc.20170178
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,2929. Vaara JP, Kyröläinen H, Fogelholm M, Santtila M, Häkkinen A, Häkkinen K, et al. Associations of leisure time, commuting, and occupational physical activity with physical fitness and cardiovascular risk factors in young men. J Phys Act Health 2014; 11(8): 1482-91. https://doi.org/10.1123/jpah.2012-0504
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.

Variáveis independentes

Para as variáveis independentes, os participantes do estudo foram categorizados de acordo com o sexo (masculino ou feminino) e a escolaridade (0–8, 9–11 ou ≥ 12 anos de estudo). Foram consideradas a escolaridade do entrevistado para os adultos (≥ 20 anos) e a escolaridade do chefe da família para os adolescentes (12–19 anos).

Análise estatística

Para a análise dos dados, foram calculadas as médias, os desvios padrões e os intervalos de confiança de 95% (IC95%) de AF em min/sem, conforme grupo etário, sexo e escolaridade. Todas as comparações foram feitas por meio da análise das sobreposições dos IC95%3030. Lee S, Davis WW, Nguyen HA, McNeel TS, Brick JM, Flores-Cervantes I. Examining Trends and Averages Using Combined Cross-Sectional Survey Data from Multiple Years. CHIS Methodology Paper 2007: 1. https://doi.org/10.13140/RG.2.2.15153.79203
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, sendo considerado diferença significativa quando não houve sobreposição dos IC95%; e sem diferença quando um dos IC95% foi parcialmente englobado pelo outro. Foi utilizado o pacote estatístico Stata (Stata, versão 14, StataCorp, College Station, Texas, EUA), que permite incorporar os aspectos referentes ao delineamento complexo da amostra — estratos, conglomerados e ponderações — por meio do módulo survey.

RESULTADOS

No ano de 2003, 846 participantes foram excluídos do estudo devido aos critérios de exclusão adotados (n = 2.514 ⸻ adolescentes, n = 847; adultos, n = 795; idosos, n = 872), uma vez que essa amostra também incluía pessoas menores de 1 ano. No ano de 2015, não houve perda de participantes (n = 4.043 ⸻ adolescentes, n = 859; adultos, n = 2.165; idosos, n = 1.019). A proporção dos adolescentes foi semelhante entre os sexos nos dois períodos de avaliação (masculino 50,8% e feminino 49,2%, em 2003; masculino 50,6% e feminino 49,4%, em 2015). Já entre os adultos e idosos, a proporção foi maior no sexo feminino tanto em 2003 (adultos: masculino 46,1% e feminino 53,9%; idosos: masculino 39,7% e feminino 60,3%) quanto em 2015 (adultos: masculino 47,6% e feminino 52,4%; idosos: masculino 40,3%; feminino 59,7%).

As prevalências dos períodos < 10 min/sem em 2003 e 2015 foram: 22,5 e 28,9% para AF total; 56,7 e 58,3% para AF de lazer; e 35,2 e 39,9% para AF de deslocamento. Foi encontrado um aumento significativo na prevalência de períodos < 10 min/sem apenas na AF total de adolescentes (de 10,3 para 18,8%). Não foram encontradas mudanças significativas na AF de lazer e deslocamento de adolescentes, adultos e idosos nem na AF total de adultos e idosos. Ou seja, as prevalências de pessoas que não fazem o mínimo de AF contínua para ser considerado no escore semanal não foram alteradas nesses grupos e ficou ainda maior para a AF total de adolescentes (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência de períodos < 10 min/sem de atividade física total, no lazer e no deslocamento. ISA-Capital 2003 e 2015, São Paulo, Brasil.

As prevalências de inatividade física em 2003 e 2015 foram: 54,9 e 61,6% para AF total; 78,2 e 78,9% para AF no lazer; e 72 e 79,9% para AF no deslocamento. Foi encontrado um aumento significativo na prevalência de inatividade física apenas na AF de deslocamento de adultos (de 67,8 para 77,4%). Não foram encontradas mudanças significativas na AF de lazer e total de adolescentes, adultos e idosos nem na AF de deslocamento de adolescentes e idosos (Tabela 2).

Tabela 2
Prevalência de inatividade física total, no lazer e no deslocamento. ISA-Capital 2003 e 2015, São Paulo, Brasil.

As médias da AF total foram de 341 min/sem em 2003 e 283,6 min/sem em 2015. Foram encontradas diminuições significativas da AF total nos adolescentes do sexo feminino (358,8 e 220,6), nos adultos no geral (320,9 e 264,7), adultos do sexo feminino (251,3 e 210,9) e nos adultos com escolaridade de 0–8 anos (298,6 e 176,4) e 9–11 anos (357,7 e 261) (Tabela 3).

Tabela 3
Tempo médio de atividade física total (min/sem), de acordo com grupo etário, sexo e escolaridade. ISA-Capital 2003 e 2015, São Paulo, Brasil.

As médias da AF no lazer foram 161,9 min/sem em 2003 e 164,7 min/sem em 2015. Não foram encontradas mudanças significativas da AF de lazer na amostra total, por faixa etária, sexo ou escolaridade (Tabela 4).

Tabela 4
Tempo médio de atividade física no lazer (min/sem), de acordo com grupo etário, sexo e escolaridade. ISA-Capital 2003 e 2015, São Paulo, Brasil.

As médias da AF no deslocamento foram de 179,6 min/sem em 2003 e 118,9 min/sem em 2015. Foram encontradas diminuições significativas da AF de deslocamento somente nos adolescentes do sexo feminino (201 e 106 min/sem) e nos adultos do sexo masculino (222,7 e 125,5 min/sem) e feminino (174,6 e 92,6 min/sem). Não foram encontradas mudanças significativas em relação aos níveis de escolaridade (Tabela 5).

Tabela 5
Tempo médio de atividade física no deslocamento (min/sem), de acordo com grupo etário, sexo e escolaridade. ISA-Capital 2003 e 2015, São Paulo, Brasil.

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi analisar a prevalência de inatividade física e o tempo médio de prática de atividade física total e por domínios (lazer e deslocamento) de acordo com sexo, faixa etária e escolaridade em residentes de área urbana do munícipio de São Paulo, entre os anos de 2003 e 2015. A prevalências dos períodos < 10 min/sem para AF total aumentou apenas nos adolescentes e não foram encontradas mudanças significativas no lazer e deslocamento em nenhuma faixa etária. Já para as prevalências de inatividade física, foram encontrados aumentos significativos somente para deslocamento nos adultos. Para as médias de AF total (min/sem), foram encontradas diminuições significativas nos adolescentes do sexo feminino, adultos no geral, adultos do sexo feminino e adultos com escolaridade de 0–8 e 9–11 anos. As médias (min/sem) da AF no lazer não sofreram mudanças significativas. Já para as médias da AF de deslocamento, foram encontradas diminuições significativas somente nos adolescentes do sexo feminino e nos adultos de ambos os sexos.

São Paulo tem sido descrita como uma metrópole com uma grande expansão urbana desorganizada. Nos últimos anos, houve um aumento da violência e uma diminuição dos espaços públicos abertos55. Ferrari G, Rezende LFM, Wagner GA, Florindo AA, Peres MFT. Physical activity patterns in a representative sample of adolescents from the largest city in Latin America: a cross-sectional study in São Paulo. BMJ Open 2020; 10(9): e037290. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-037290
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,99. Greene J, Guanais F. An examination of socioeconomic equity in health experiences in six Latin American and Caribbean countries. Rev Panam Salud Publica 2018; 42: e127. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.127
https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.127...
. Esses fatos podem explicar a maior prevalência de inatividade física da população em comparação com outras regiões1818. Ferreira RW, Varela AR, Monteiro LZ, Hafele CA, Santos SJD, Wendt A, et al. Sociodemographic inequalities in leisure-time physical activity and active commuting to school in Brazilian adolescents: National School Health Survey (PeNSE 2009, 2012, and 2015). Cad Saude Publica 2018; 34(4): e00037917. https://doi.org/10.1590/0102-311x00037917
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. No entanto, nos últimos anos, diferentes intervenções têm buscado mudar esse cenário. Em 2014, o Novo Plano Diretor da cidade foi implementado para reduzir as iniquidades ambientais1515. São Paulo. Prefeitura. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Disponível em: [Internet]. São Paulo: Prefeitura [acessado em 12 abr. 2020]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/urbanismo/legislacao/plano_diretor/index.php?p=201105
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/...
. Posteriormente, foram implementados programas como o Ruas de Lazer, em que as ruas são fechadas para a passagem de carros e abertas à população. Também houve programas como o Ciclofaixas de Lazer, em que parte das ruas e avenidas são abertas exclusivamente aos ciclistas. Finalmente, áreas verdes como praças e parques também foram expandidas e valorizadas como importantes espaços públicos para a AF1616. Hensley M, Mateo-Babiano D, Minnery J. Healthy places, active transport and path dependence: a review of the literature. Health Promot J Austr 2014; 25(3): 196-201. https://doi.org/10.1071/he14042
https://doi.org/10.1071/he14042...
.

Corroborando outros estudos3131. Guthold R, Stevens GA, Riley LM, Bull FC. Global trends in insufficient physical activity among adolescents: a pooled analysis of 298 population-based surveys with 1.6 million participants. Lancet Child Adolesc Health 2020; 4(1): 23-35. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(19)30323-2
https://doi.org/10.1016/S2352-4642(19)30...
,3232. Guthold R, Stevens GA, Riley LM, Bull FC. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1.9 million participants. Lancet Glob Health 2018; 6(10): e1077-e1086. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(18)30357-7
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, os padrões de AF total, no lazer e no deslocamento foram maiores no sexo masculino. Os homens tendem a participar com mais frequência de AF de alta intensidade, enquanto as mulheres apresentam-se mais propensas a se envolver em atividades de intensidade leve a moderada3333. Vilhjalmsson R, Kristjansdottir G. Gender differences in physical activity in older children and adolescents: the central role of organized sport. Soc Sci Med 2003; 56(2): 363-74. https://doi.org/10.1016/s0277-9536(02)00042-4
https://doi.org/10.1016/s0277-9536(02)00...
. Além disso, os homens relatam maior apoio social e de amigos, menos barreiras para o envolvimento e maior percepção de autoeficácia para AF3434. Mielke GI, Silva ICM, Kolbe-Alexander TL, Brown WJ. Shifting the Physical Inactivity Curve Worldwide by Closing the Gender Gap. Sports Med 2018; 48(2): 481-9. https://doi.org/10.1007/s40279-017-0754-7
https://doi.org/10.1007/s40279-017-0754-...
. Já as mulheres mostram atitudes mais negativas em relação à AF e percebem ambientes menos favoráveis para a sua prática3535. Sallis JF, Prochaska JJ, Taylor WC. A review of correlates of physical activity of children and adolescents. Med Sci Sports Exerc 2000; 32(5): 963-75. https://doi.org/10.1097/00005768-200005000-00014
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. As intervenções na AF, principalmente no lazer, são importantes para aumentar a AF total das mulheres, sendo necessário identificar as preferências, razões e barreiras enfrentadas pelas mulheres para participar dessas atividades.

Diferentemente do que foi encontrado no presente estudo, a prática da AF no lazer de adultos aumentou nos últimos 20–30 anos3636. Knuth AG, Hallal PC. Temporal trends in physical activity: a systematic review. J Phys Act Health 2009; 6(5): 548-59. https://doi.org/10.1123/jpah.6.5.548
https://doi.org/10.1123/jpah.6.5.548...
. Esses resultados também foram consistentes com os identificados em estudos realizados em países de alta renda3737. Juneau CE, Potvin L. Trends in leisure-, transport-, and work-related physical activity in Canada 1994-2005. Prev Med 2010; 51(5): 384-6. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2010.09.002
https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2010.09....
3939. Stamatakis E, Chaudhury M. Temporal trends in adults’ sports participation patterns in England between 1997 and 2006: the Health Survey for England. Br J Sports Med 2008; 42(11): 901-8. https://doi.org/10.1136/bjsm.2008.048082
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. Quanto à AF no deslocamento, os dados são derivados de várias fontes, como estudos populacionais e pesquisas de transporte, mas comparar informações de diferentes países é algo difícil, pois os instrumentos não são padronizados e são usados vários tipos de indicadores, como deslocamento ativo para escola ou trabalho, AF no deslocamento, prática de caminhada e uso de bicicleta. Além disso, no geral, os dados para tendências temporais da AF em países de baixa e média renda são escassos e, quando disponíveis, apresentam-se inconsistentes4040. Hallal PC, Andersen LB, Bull FC, Guthold R, Haskell W, Ekelund U, et al. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet 2012; 380(9838): 247-57. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(12)60646-1
https://doi.org/10.1016/s0140-6736(12)60...
.

O estudo de Guthold et al.3232. Guthold R, Stevens GA, Riley LM, Bull FC. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1.9 million participants. Lancet Glob Health 2018; 6(10): e1077-e1086. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(18)30357-7
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avaliou a prevalência de inatividade física em populações de 168 países em 2001 e 2016. A prevalência da inatividade física encontrada foi de 27,5% em 2016, com uma diferença entre os sexos (23,4% no sexo masculino e 31,7% no sexo feminino), e as prevalências de inatividade física permaneceram estáveis entre 2001 e 2016. Assim como no presente estudo, os resultados não apresentaram mudanças em relação à inatividade física durante os períodos de avaliação, sendo os resultados ainda piores em se tratando do sexo feminino e dos menos escolarizados.

Com o objetivo de melhorar os níveis de AF da população, o Ministério da Saúde vem financiando o desenvolvimento de intervenções na comunidade em diversos municípios. Em 2006, foi lançada a Política Nacional de Promoção da Saúde4141. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. e, em 2012, foi implementado o Plano Estratégico Brasileiro de Combate às Doenças Crônicas Não Transmissíveis, com vigência até 20224242. Malta DC, Oliveira TP, Santos MA, Andrade SS, Silva MM, Grupo Técnico de Monitoramento do Plano de D. Progress with the Strategic Action Plan for Tackling Chronic Non-Communicable Diseases in Brazil, 2011-2015. Epidemiol Serv Saúde 2016; 25(2): 373-90. https://doi.org/10.5123/s1679-49742016000200016
https://doi.org/10.5123/s1679-4974201600...
,4343. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil: 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.. Ambas as intervenções oferecem aulas gratuitas, facilitam o acesso às instalações e fornecem equipamentos para a prática de AF4444. Reis RS, Yan Y, Parra DC, Brownson RC. Assessing participation in community-based physical activity programs in Brazil. Med Sci Sports Exerc 2014; 46(1): 92-8. https://doi.org/10.1249/MSS.0b013e3182a365ae
https://doi.org/10.1249/MSS.0b013e3182a3...
. Porém, apesar do cenário atual, com os esforços e as intervenções já existentes, os resultados do presente estudo mostraram que os níveis de AF e inatividade física não sofreram mudanças. Essas intervenções provavelmente aumentam a conscientização da população sobre a importância da AF para a saúde, mas ainda não foram eficazes para mudar o comportamento e promover um aumento da AF.

Embora este estudo tenha uma amostra de base populacional e com dois pontos de avaliação, algumas limitações devem ser consideradas: a utilização de um método indireto para avaliação da AF, que pode sub ou superestimar a qualidade e a quantidade de AF realizada; em virtude da baixa/moderada validade do IPAQ para adolescentes, é necessário ter cautela na interpretação dos resultados para esse grupo4545. Ferrari GLM, Kovalskys I, Fisberg M, Gomez G, Rigotti A, Sanabria LYC, et al. Anthropometry, dietary intake, physical activity and sitting time patterns in adolescents aged 15-17 years: an international comparison in eight Latin American countries. BMC Pediatr 2020; 20(1): 24. https://doi.org/10.1186%2Fs12887-020-1920-x
https://doi.org/10.1186%2Fs12887-020-192...
; os resultados do presente estudo são válidos apenas para áreas urbanas do município de São Paulo.

Após mais de uma década, não houve mudanças significativas nas prevalências de períodos de < 10 min/sem para AF de lazer, deslocamento e total. Em relação às prevalências de inatividade física, foram encontrados aumentos significativos somente para o deslocamento em adultos. As médias (min/sem) da AF no lazer não sofreram mudanças significativas entre os dois períodos de avaliação. Já para as médias da AF de deslocamento, foram encontradas diminuições significativas somente nos adolescentes do sexo feminino e adultos de ambos os sexos. Para AF total (min/sem), foram encontradas diminuições significativas nos adolescentes do sexo feminino, adultos no geral, adultos do sexo feminino, adultos com escolaridade de 0–8 e 9–11 anos. Essas informações são fundamentais para a melhoria das políticas e dos programas já existentes, principalmente pela possibilidade de dar maior atenção aos grupos que foram identificados no presente estudo com os resultados mais preocupantes.

  • Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os pesquisadores do grupo Inquéritos Domiciliares de Saúde no Município de São Paulo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    13 Ago 2020
  • Revisado
    24 Jan 2021
  • Aceito
    22 Fev 2021
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