RESUMO
Objetivo:
Estimar a probabilidade da ocorrência de infecção pelos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) em diferentes estratos socioeconômicos da população de Recife, Nordeste do Brasil.
Métodos:
Estudo realizado com base em amostras obtidas em um inquérito de residentes de um grande centro urbano que teve base populacional e amostragem estratificada com seleção aleatória dos domicílios por meio do pacote “Amostra Brasil” no software R. A pesquisa do antígeno de superfície do HBV (HBsAg) e do anti-HCV foi realizada por testes imunocromatográficos. Nos casos positivos para HBsAg, foram realizadas pesquisas do anti-HBc e do HBeAg por quimioluminescência, bem como do HBV-DNA, por meio de PCR em tempo real. Para os casos positivos para anti-HCV, foi repetida a pesquisa desse anticorpo por quimioluminescência e do HCV-RNA por PCR em tempo real. A ocorrência de casos HBsAg e anti-HCV na população geral foi estimada com base em uma distribuição teórica binomial negativa.
Resultados:
Dentre 2.070 amostras examinadas, cinco (0,24%) foram HBsAg e duas (0,1%) anti-HCV positivas. A maioria dos casos tinha cor de pele autorreferida como preta/parda (6/7), nível de escolaridade até o ensino médio (6/7), companheiro fixo (5/7) e morava em área de baixo estrato socioeconômico (5/7).
Conclusão:
A ocorrência de HBsAg e anti-HCV foi inferior às anteriormente encontradas em estudos de base populacional e pouco menor do que as estimativas mais recentes. Indivíduos que apresentam menor condição socioeconômica devem ser alvo prioritário das políticas públicas de saúde.
Palavras-chave:
Hepatite B; Hepatite C; Hepatites virais; Estrato socioeconômico
INTRODUÇÃO
As hepatites virais B e C constituem um dos principais problemas de saúde pública no mundo, com estimativa de dezenas de milhões de infectados por cada um desses agentes. Essas enfermidades proporcionam elevada morbidade e mortalidade por cirrose e carcinoma hepatocelular em todo o planeta11. Ferraz ML, Strauss E, Perez RM, Schiavon L, Ono SK, Guimarães MP, et al. Brazilian Society of Hepatology and Brazilian Society of Infectious Diseases Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Hepatitis B. Braz J Infect Dis 2020; 24(5): 434-51. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2020.07.012
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2020.07.0... ,22. Block PD, Lim JK. Chronic Hepatitis B Virus: what an internist needs to know: serologic diagnosis, treatment options, and Hepatitis B virus reactivation. Med Clin North Am. 2023; 107(3): 435-47. https://doi.org/10.1016/j.mcna.2022.12.002
https://doi.org/10.1016/j.mcna.2022.12.0... .
A incidência da infecção pelo HBV vem diminuindo nos últimos anos, possivelmente devido à ampliação da oferta de imunização e da terapia antiviral a partir da década de 199033. Ott JJ, Stevens GA, Groeger J, Wiersma ST. Global epidemiology of hepatitis B virus infection: new estimates of age-specific HBsAg seroprevalence and endemicity. Vaccine 2012; 30(12): 2212-9. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2011.12.116
https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2011.1... . Já a incidência da infecção pelo HCV vem diminuindo em virtude da maior disponibilidade dos testes para diagnóstico e do tratamento com os novos antivirais de ação direta, na última década44. Benzaken AS, Girade R, Catapan E, Pereira GFM, Almeida EC, Vivaldini S, et al. Hepatitis C disease burden and strategies for elimination by 2030 in Brazil. A mathematical modeling approach. Braz J Infect Dis 2019; 23(3): 182-90. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.010
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.0... ,55. Polaris Observatory HCV Collaborators. Global change in hepatitis C virus prevalence and cascade of care between 2015 and 2020: a modelling study. Lancet Gastroenterol Hepatol 2022; 7(5): 396-415. https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00472-6
https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00... . Todavia o nível de endemicidade para ambas as infecções virais ainda difere nas regiões do planeta, sendo maior entre os países menos desenvolvidos e nas populações de baixa renda, sobretudo da Ásia e África55. Polaris Observatory HCV Collaborators. Global change in hepatitis C virus prevalence and cascade of care between 2015 and 2020: a modelling study. Lancet Gastroenterol Hepatol 2022; 7(5): 396-415. https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00472-6
https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00...
6. Nayagam S, Thursz M, Sicuri E, Conteh L, Wiktor S, Low-Beer D, et al. Requirements for global elimination of hepatitis B: a modelling study. Lancet Infect Dis 2016; 16(12): 1399-408. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(16)30204-3
https://doi.org/10.1016/S1473-3099(16)30... -77. Bruggmann P, Berg T, Øvrehus AL, Moreno C, Brandão Mello CE, Roudot-Thoraval F, et al. Historical epidemiology of hepatitis C virus (HCV) in selected countries. J Viral Hepat 2014; 21 Suppl 1: 5-33. https://doi.org/10.1111/jvh.12247
https://doi.org/10.1111/jvh.12247... . Em todo o mundo, o menor nível socioeconômico tem sido relacionado a uma maior exposição às infecções pelo HBV e HCV55. Polaris Observatory HCV Collaborators. Global change in hepatitis C virus prevalence and cascade of care between 2015 and 2020: a modelling study. Lancet Gastroenterol Hepatol 2022; 7(5): 396-415. https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00472-6
https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00... ,88. Guimarães LCC, Brunini S, Guimarães RA, Galdino-Júnior H, Minamisava R, Cunha VE, et al. Epidemiology of hepatitis B virus infection in people living in poverty in the central-west region of Brazil. BMC Public Health 2019; 19(1): 443. https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-8
https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-...
9. Zampino R, Boemio A, Sagnelli C, Alessio L, Adinolfi LE, Sagnelli E, et al. Hepatitis B virus burden in developing countries. World J Gastroenterol 2015; 21(42): 11941-53. https://doi.org/10.3748/wjg.v21.i42.11941
https://doi.org/10.3748/wjg.v21.i42.1194... -1010. Jindal N, Goyal LD, Singh C. Sociodemographic features associated with Hepatitis C Virus (HCV) in pregnant females: a tertiary care centre study from Malwa region of Punjab (North India). J Family Med Prim Care 2021; 10(7): 2679-683. https://doi.org/10.4103/jfmpc.jfmpc_2372_20
https://doi.org/10.4103/jfmpc.jfmpc_2372... .
O Brasil, atualmente, é classificado como um país de baixa endemicidade para as infecções pelos HBV e HCV, como também compõe a lista de países signatários das metas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminação das hepatites virais até o ano de 203011. Ferraz ML, Strauss E, Perez RM, Schiavon L, Ono SK, Guimarães MP, et al. Brazilian Society of Hepatology and Brazilian Society of Infectious Diseases Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Hepatitis B. Braz J Infect Dis 2020; 24(5): 434-51. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2020.07.012
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2020.07.0... ,44. Benzaken AS, Girade R, Catapan E, Pereira GFM, Almeida EC, Vivaldini S, et al. Hepatitis C disease burden and strategies for elimination by 2030 in Brazil. A mathematical modeling approach. Braz J Infect Dis 2019; 23(3): 182-90. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.010
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.0... -55. Polaris Observatory HCV Collaborators. Global change in hepatitis C virus prevalence and cascade of care between 2015 and 2020: a modelling study. Lancet Gastroenterol Hepatol 2022; 7(5): 396-415. https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00472-6
https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00... ,1111. World Health Organization. Combating hepatitis B and C to reach elimination by 2030: advocacy brief. Geneve: World Health Organization; 2016., embora se configure como um país com acentuada iniquidade social1212. GBD 2016 Healthcare Access and Quality Collaborators. Measuring performance on the Healthcare Access and Quality Index for 195 countries and territories and selected subnational locations: A systematic analysis from the Global Burden of Disease Study 2016. Lancet 2018; 391(10136): 2236-71. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)30994-2
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)30... .
Estudos de prevalência das hepatites virais B e C conduzidos no Brasil são escassos1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877.,1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... e a maioria aborda grupos populacionais específicos, a exemplo de doadores de sangue, pacientes em hemodiálise, pessoas privadas de liberdade ou em situação de pobreza88. Guimarães LCC, Brunini S, Guimarães RA, Galdino-Júnior H, Minamisava R, Cunha VE, et al. Epidemiology of hepatitis B virus infection in people living in poverty in the central-west region of Brazil. BMC Public Health 2019; 19(1): 443. https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-8
https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-... ,1515. Weis-Torres SMS, Fitts SMF, Cardoso WM, Higa Junior MG, Lima LA, Bandeira LM, et al. High level of exposure to hepatitis B virus infection in a vulnerable population of a low endemic area: a challenge for vaccination coverage. Int J Infect Dis 2020; 90: 46-52. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2019.09.029
https://doi.org/10.1016/j.ijid.2019.09.0... ,1616. Cordeiro VM, Martins BCT, Teles SA, Martins RMB, Cruvinel KPS, Matos MAD, et al. Decline in hepatitis B and C prevalence among hemodialysis patients in Tocantins, Northern Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2018 30; 60: e36. https://doi.org/10.1590/S1678-9946201860036
https://doi.org/10.1590/S1678-9946201860... . Além disso, não se encontram na literatura recente estudos sobre a soroprevalência das hepatites virais B e C de base populacional, de acordo com os estratos socioeconômicos da população brasileira.
Uma soroteca, proveniente de um inquérito de soroprevalência de arboviroses conduzido em diferentes estratos socioeconômicos populacionais na cidade do Recife, Nordeste do Brasil, foi utilizada para estimar a probabilidade da ocorrência de infecção pelos vírus das hepatites B e C entre os participantes deste inquérito.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo realizado a partir de amostras obtidas em estudo anterior1717. Braga C, Martelli CMT, Souza WV, Luna CF, Albuquerque MFPM, Mariz CA, et al. Seroprevalence of Dengue, Chikungunya and Zika at the epicenter of the congenital microcephaly epidemic in Northeast Brazil: a population-based survey. PLoS Negl Trop Dis 2023; 17(7): e0011270. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0011270
https://doi.org/10.1371/journal.pntd.001... , que teve base populacional e amostragem estratificada com seleção aleatória das unidades (domicílios) por meio do pacote “Amostra Brasil” no software R1818. Cordeiro R, Stephan C, Donalísio MR. AmostraBrasil: um pacote R para amostragem domiciliar em municípios brasileiros. Cad Saúde Pública 2016; 32(11): e00069516. https://doi.org/10.1590/0102-311X00069516
https://doi.org/10.1590/0102-311X0006951... .
O inquérito populacional foi realizado em uma amostra de residentes do Recife, com idade entre 5 e 65 anos, no período de setembro de 2018 a fevereiro de 20191717. Braga C, Martelli CMT, Souza WV, Luna CF, Albuquerque MFPM, Mariz CA, et al. Seroprevalence of Dengue, Chikungunya and Zika at the epicenter of the congenital microcephaly epidemic in Northeast Brazil: a population-based survey. PLoS Negl Trop Dis 2023; 17(7): e0011270. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0011270
https://doi.org/10.1371/journal.pntd.001... .
O município de Recife tem população estimada de 1.645.727 habitantes e uma área territorial de 218.843 km², dividida em 94 bairros distribuídos em seis regiões político-administrativas1919. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados: Recife; código: 2611606 [Internet]. 2021 [cited on Aug 19, 2023]. Available at: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pe/recife.html
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estado... . A cidade está situada na terceira área metropolitana mais densamente povoada do país e é considerada a capital brasileira com maior índice de desigualdade social, segundo os últimos três censos demográficos2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico brasileiro: 2010 características da população e dos domicílios: resultados do universo. Recife: IBGE; 2010.. Embora haja segregação espacial de classes sociais em algumas áreas, pobreza e riqueza coexistem proximamente no mesmo espaço da cidade. Cerca de 40% das famílias do município possuem rendimento mensal per capita de até ½ salário mínimo, o que equivale a aproximadamente 136,4 dólares americanos, caracterizando situação de vulnerabilidade social de relevante parcela da população1919. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados: Recife; código: 2611606 [Internet]. 2021 [cited on Aug 19, 2023]. Available at: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pe/recife.html
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estado... .
Sumariamente, a amostragem do inquérito, estratificada em três níveis socioeconômicos (alto, intermediário e baixo), foi por conglomerado, com seleção em dois estágios. Inicialmente, foi realizado o sorteio dos setores censitários em cada nível socioeconômico (primeiro estágio) e, em seguida, foi feita a seleção aleatória dos domicílios nos setores sorteados (segundo estágio).
Todos os moradores dos domicílios sorteados, na faixa etária do estudo, foram convidados a participar. Após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento/Assentimento Livre e Esclarecido, informações individuais e relativas aos domicílios foram obtidas por meio de entrevista utilizando questionário padronizado. Em seguida, obteve-se uma amostra de sangue venoso de 10 mL nos adultos e 5 mL nas crianças para a realização dos testes sorológicos. As amostras de sangue foram acondicionadas em tubos de coleta à vácuo com gel separador ativador de coágulo e armazenadas no Laboratório de Virologia e Terapia Experimental, do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde foram processadas e congeladas em deep-freezer a -80° C.
A pesquisa das hepatites virais B e C foi realizada com base nas amostras de soro de todos os participantes do inquérito de arboviroses. Utilizou-se o kit HBsAg, da marca Bioclin, por método imunocromatográfico para determinação rápida e qualitativa de antígeno de superfície do HBV, e o teste rápido da marca Abon, por imunocromatografia de fluxo lateral, que permite a detecção qualitativa do anticorpo anti-HCV. Nos casos positivos para o HBsAg, foram realizadas as pesquisas do anti-HBc e do HBeAg por quimioluminescência (Architect, Abbott), bem como do HBV-DNA, por meio de PCR em tempo real (Alinity TM m, Abbott). Para os casos positivos para o anti-HCV, foi repetida a pesquisa deste anticorpo por quimioluminescência (Architect, Abbott) e do HCV-RNA por PCR em tempo real (Alinity TM m, Abbott).
Foram avaliadas as seguintes variáveis de exposição:
- A)
relacionadas ao indivíduo — idade (categorizada em dois grupos: ≤40 anos e >40 anos), sexo, cor da pele autorreferida (branca, preta e parda), prática sexual com parceiro fixo (sim e não) e transfusão de sangue (sim e não);
- B)
relacionadas ao domicílio — estrato socioeconômico com base na informação sobre o percentual de chefes de família com renda inferior a dois salários mínimos, incluindo os sem renda, utilizando dados do Censo Demográfico de 20102020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico brasileiro: 2010 características da população e dos domicílios: resultados do universo. Recife: IBGE; 2010. (categorizado em: alto, intermediário e baixo), número de moradores por domicílio (categorizados em: até 3 moradores, entre 3 e 5 moradores e >5 moradores), tipo de domicílio (apartamento e casa), sexo do chefe da família, renda em salários mínimos do chefe de família (≤2 e >2 salários mínimos) e nível de escolaridade completo com aprovação do chefe de família (ensino fundamental, médio e superior).
O gerenciamento dos dados foi realizado utilizando a plataforma eletrônica REDCap, hospedada no IAM, Fiocruz-PE, e a análise dos dados foi realizada utilizando o programa Stata, versão 15 e o software R v. 4.0.2. Foi realizada a análise descritiva e a apresentação da distribuição das variáveis através de tabelas. Empregou-se o teste Qui-quadrado de Pearson com correção de Rao-Scott2121. Lumley T. Survey: analysis of complex survey samples [Internet]. 2017 [cited on Jul 28, 2023]. Available at: https://CRAN.R-project.org/package=survey
https://CRAN.R-project.org/package=surve... para comparar as características dos domicílios selecionados e entre os estratos socioeconômicos. Utilizou-se uma distribuição binomial negativa2222. Lawless JF. Negative binomial and mixed Poisson regression. Can J Stat 1987; 15(3): 209-25. https://doi.org/10.2307/3314912
https://doi.org/10.2307/3314912... destinada a estimar a probabilidade de ocorrência de um determinado evento, HBsAg e anti-HCV, dada a ocorrência de um observado número de “sucessos” na repetição de “n” experimentos (examinados). Ressaltando-se que não se pretendeu estimar parâmetros como prevalência envolvendo eventos raros, a estimação de probabilidades estaria livre de vieses amostrais. Este estudo obedeceu aos preceitos éticos da Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, e foi aprovado pelo sistema CEP/Conep sob o CAAE n° 51880021.0.0000.8807.
RESULTADOS
Dados do inquérito mostram que, entre os 892 domicílios estudados, um total de 2.070 indivíduos foram avaliados, dos quais 416 (20,1%) pertenciam ao estrato socioeconômico alto, 726 (35,1%) ao estrato intermediário e 928 (44,8%) ao estrato socioeconômico baixo. Foi verificado um número médio de moradores por dormitório de 1,61 (±0,03).
A maioria dos domicílios visitados era do tipo casa (74,5%) e tinha até três moradores (56,7%). Foi observado percentual maior de domicílios com cinco moradores ou mais no estrato socioeconômico baixo (15,1%). Os chefes de família do estrato alto tiveram maior escolaridade (67,5%) e renda (74,2%) quando comparados aos dos estratos socioeconômicos intermediário e baixo, respectivamente (Tabela 1).
Características dos domicílios selecionados segundo estratos socioeconômicos em Recife (PE), Brasil, 2019.
A distribuição dos marcadores de acordo com estrato socioeconômico é apresentada na Figura 1. Do total de 2.070 amostras analisadas, cinco (0,24%) foram HBsAg e duas (0,1%) foram anti-HCV positivas. Não foi detectado mais de um caso por domicílio. Dado a ocorrência de dois casos do anti-HCV em 2.070 amostras analisadas, a probabilidade de ocorrência de casos é menor de 1,5 x 1044. Benzaken AS, Girade R, Catapan E, Pereira GFM, Almeida EC, Vivaldini S, et al. Hepatitis C disease burden and strategies for elimination by 2030 in Brazil. A mathematical modeling approach. Braz J Infect Dis 2019; 23(3): 182-90. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.010
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.04.0... (p=0,039). Em relação ao HBsAg, os cinco casos positivos demonstram uma probabilidade de ocorrência menor que 1 x 10³ (p=0,059).
Fluxograma da testagem para o HBsAg e o anti-HCV segundo estrato socioeconômico em Recife (PE), Brasil, 2019.
A ocorrência das hepatites virais B e C, de acordo com sexo e faixas etárias, com seus respectivos intervalos de confiança, são apresentadas na Tabela 2. A maioria dos positivos para o HBsAg ou anti-HCV era de cor preta ou parda (6/7), tinha nível de escolaridade até o ensino médio (6/7), tinha um companheiro (5/7) e era do baixo estrato socioeconômico (5/7). Nenhum dos sete positivos referiu passado de transfusão de sangue ou derivados.
Ocorrência da infecção pelo vírus da hepatite viral B e C de acordo com sexo e faixas etárias. Recife (PE), Brasil, 2019.
Os resultados da pesquisa do HBeAg e do HBV-DNA dos cinco casos identificados são apresentados na Tabela 3. Entre os dois casos anti-HCV positivo, um apresentou a pesquisa do HCV-RNA indetectável (referia tratamento antiviral prévio), e no outro a amostra biológica foi insuficiente para a pesquisa do RNA viral.
Características demográficas e resultados do HBeAg e carga viral dos cinco pacientes com HBsAg positivo. Recife (PE), Brasil, 2019.
DISCUSSÃO
A ocorrência de HBsAg e de anti-HCV neste estudo foi menor do que a descrita em outros estudos brasileiros de base populacional1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877.,2323. Focaccia R, da Conceição OJ, Sette Jr H, Sabino E, Bassit L, Nitrini DR, et al. Estimated prevalence of viral hepatitis in the general population of the Municipality of São Paulo, measured by a serologic survey of a stratified, randomized and residence-based population. Braz J Infect Dis 1998; 2(6): 269-84. PMID: 11103019.. Observou-se que a maior parte dos positivos residia no estrato socioeconômico baixo, cuja renda mensal do chefe da família era menor do que dois salários mínimos.
O primeiro inquérito de base populacional sobre a prevalência das hepatites virais A, B e C, em âmbito nacional, foi conduzido entre os anos de 2005 e 2009, quando foi verificado uma prevalência global pelo HBV menor que 1% e pelo HCV de 1,38% no conjunto das capitais de cada macrorregião do país e no Distrito Federal1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877.,1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... . Na região Nordeste, particularmente, foi observado prevalência total do HBV1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877. de 5,5%, aproximadamente 20 vezes maior do que o observado no presente estudo (0,24%), e uma prevalência do HCV1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... de 0,68%, bem próximo, porém um pouco maior do que foi verificado na nossa população (0,10%).
Outros estudos de prevalência das hepatites virais de base populacional foram conduzidos no Brasil. Estudo realizado em uma grande metrópole da região Sudeste, em 1996, verificou prevalência do HBsAg de 1,04% e do anti-HCV de 1,42%2323. Focaccia R, da Conceição OJ, Sette Jr H, Sabino E, Bassit L, Nitrini DR, et al. Estimated prevalence of viral hepatitis in the general population of the Municipality of São Paulo, measured by a serologic survey of a stratified, randomized and residence-based population. Braz J Infect Dis 1998; 2(6): 269-84. PMID: 11103019.. Posteriormente, em 1999, outro estudo de base populacional, realizado em uma pequena cidade da região semiárida da Bahia, constatou prevalência do HBsAg de 2,6% e do anti-HCV de 0,4%2424. Almeida D, Tavares-Neto J, Vitvitski L, Almeida A, Mello C, Santana D, et al. Serological markers of hepatitis A, B and C viruses in rural communities of the semiarid Brazilian northeast. Braz J Infect Dis 2006; 10(5): 317-21. https://doi.org/10.1590/s1413-86702006000500003
https://doi.org/10.1590/s1413-8670200600... . Passados 14 anos do último inquérito nacional1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877.,1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... , os nossos resultados, avaliando 2.070 indivíduos da capital pernambucana, evidenciam uma redução na ocorrência das hepatites virais B e C nestes últimos anos. Certamente, tal fato se deveu à introdução da vacinação contra o HBV no calendário vacinal nacional e a melhoria da assistência aos casos, com a oferta de terapêuticas antivirais, a exemplo dos análogos nucleosídeos/nucleotídeos e antivirais de ação direta contra o HBV e o HCV, respectivamente33. Ott JJ, Stevens GA, Groeger J, Wiersma ST. Global epidemiology of hepatitis B virus infection: new estimates of age-specific HBsAg seroprevalence and endemicity. Vaccine 2012; 30(12): 2212-9. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2011.12.116
https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2011.1... ,2525. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e hepatites virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas de hepatite B e coinfecções. Brasília: Ministério da Saúde; 2023.. Essas medidas contribuíram de forma substancial para redução da ocorrência dessas infecções, mormente nos países industrializados.
Corroborando resultados de estudos de prevalência nacionais e internacionais, que têm evidenciado a associação de fatores socioeconômicos, como o baixo nível de escolaridade e a baixa renda familiar88. Guimarães LCC, Brunini S, Guimarães RA, Galdino-Júnior H, Minamisava R, Cunha VE, et al. Epidemiology of hepatitis B virus infection in people living in poverty in the central-west region of Brazil. BMC Public Health 2019; 19(1): 443. https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-8
https://doi.org/10.1186/s12889-019-6828-... ,2626. Portari-Filho LH, Álvares-da-Silva MR, Gonzalez A, Ferreira AP, Villela-Nogueira CA, Mendes-Correa MC, et al. How are HCV-infected patients being identified in Brazil: a multicenter study. Braz J Infect Dis 2019; 23(1): 34-9. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.01.006
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2019.01.0...
27. Flores YN, Yee Jr HF, Leng M, Escarce JJ, Bastani R, Salmerón J, et al. Risk factors for chronic liver disease in Blacks, Mexican Americans, and Whites in the United States: results from NHANES IV, 1999-2004. Am J Gastroenterol 2008; 103(9): 2231-8. https://doi.org/10.1111/j.1572-0241.2008.02022.x
https://doi.org/10.1111/j.1572-0241.2008... -2828. Omland LH, Osler M, Jepsen P, Krarup H, Weis N, Christensen PB, et al. Socioeconomic status in HCV infected patients – risk and prognosis. Clin Epidemiol 2013; 5: 163-72. https://doi.org/10.2147/CLEP.S43926
https://doi.org/10.2147/CLEP.S43926... , a maior parte dos casos foi identificada no estrato socioeconômico baixo e tinha menor nível de escolaridade. Estimativas recentes mostraram que a maioria das infecções pelo HBV e pelo HCV estão distribuídos pelos países com precárias condições socioeconômicas55. Polaris Observatory HCV Collaborators. Global change in hepatitis C virus prevalence and cascade of care between 2015 and 2020: a modelling study. Lancet Gastroenterol Hepatol 2022; 7(5): 396-415. https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00472-6
https://doi.org/10.1016/S2468-1253(21)00... , onde o acesso à educação e à saúde, incluindo vacinas e medicamentos, são muito limitados, propiciando a persistência da transmissão.
Neste estudo, não se observou diferença estatisticamente significante entre a ocorrência de ambos os marcadores e a idade dos participantes, corroborando com estudos anteriores1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877.,1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... . No que se refere ao sexo, as diferenças também foram semelhantes em relação a ocorrência dos marcadores virais B e C. Os nossos resultados corroboram com o estudo conduzido em todas as macrorregiões brasileiras, entre os anos de 2005 e 2009, quando foram pesquisados anticorpos da hepatite C na população1414. Pereira LMMB, Martelli CMT, Moreira RC, Merchan-Hamman E, Stein AT, Cardoso MRA, et al. Prevalence and risk factors of Hepatitis C virus infection in Brazil, 2005 through 2009: a cross-sectional study. BMC Infect Dis 2013; 13: 60. https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60
https://doi.org/10.1186/1471-2334-13-60... , mas divergem do estudo realizado em três regiões do Brasil, entre os anos de 2004 e 2005, que constatou uma associação positiva entre o sexo masculino e a infecção pelo HBV em todas as regiões estudadas1313. Pereira LMMB, Martelli CMT, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, Lima MLC, et al. Population-based multicentric survey of hepatitis B infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg 2009; 81(2): 240-7. PMID: 19635877..
Vale destacar que, entre os cinco pacientes com HBsAg positivo, dois apresentavam viremias bastante elevadas e, em ambos, o HBeAg também resultou positivo. Todos os pacientes com marcadores positivos foram orientados a procurar serviços médicos de referência, inclusive o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
O rastreamento de marcadores de infecção para o HBV e o HCV em uma soroteca proveniente de uma amostra populacional, cujo tamanho foi calculado para estimar a soroprevalência de arboviroses, constitui uma limitação deste estudo. Dada a disponibilidade da soroteca constituída com base em uma amostra aleatória da população geral, saudável a priori, não nos parece existir vieses que comprometam a validade do estudo.
Ressalta-se que estudos de prevalência envolvendo hepatites virais B e C em indivíduos saudáveis são raros, antigos e apresentam amostra menor, quando comparado ao nosso, com muito raras exceções. Por exemplo, estudo realizado no final da década de 1990 para avaliação da prevalência das hepatites virais A, B, C e E, na cidade de São Paulo, com população, na época, estimada em 9,6 milhões de habitantes, incluiu aleatoriamente 1.059 amostras de soros2323. Focaccia R, da Conceição OJ, Sette Jr H, Sabino E, Bassit L, Nitrini DR, et al. Estimated prevalence of viral hepatitis in the general population of the Municipality of São Paulo, measured by a serologic survey of a stratified, randomized and residence-based population. Braz J Infect Dis 1998; 2(6): 269-84. PMID: 11103019.. Em geral, os estudos mais recentes, com maior prevalência desses marcadores, foram conduzidos em grupos específicos da população, que têm maior risco de infecção, a exemplo dos profissionais do sexo2929. Frade PCR, Raiol NC, Costa LM, Pinheiro LML, Silva-Oliveira GC, Pinho JRR, et al. Factors associated with exposure to hepatitis B virus in female sex workers from the Marajó Archipelago, northern Brazil. Int J STD AIDS 2019; 30(11): 1127-8. https://doi.org/10.1177/0956462419868641
https://doi.org/10.1177/0956462419868641... , dentre outros1515. Weis-Torres SMS, Fitts SMF, Cardoso WM, Higa Junior MG, Lima LA, Bandeira LM, et al. High level of exposure to hepatitis B virus infection in a vulnerable population of a low endemic area: a challenge for vaccination coverage. Int J Infect Dis 2020; 90: 46-52. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2019.09.029
https://doi.org/10.1016/j.ijid.2019.09.0... ,1616. Cordeiro VM, Martins BCT, Teles SA, Martins RMB, Cruvinel KPS, Matos MAD, et al. Decline in hepatitis B and C prevalence among hemodialysis patients in Tocantins, Northern Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2018 30; 60: e36. https://doi.org/10.1590/S1678-9946201860036
https://doi.org/10.1590/S1678-9946201860... .
A exclusão de indivíduos com mais de 65 anos constituiu outra limitação, considerando a relação da infecção pelo HCV com o aumento da idade3030. Martins T, Machado DFGP, Schuelter-Trevisol F, Trevisol DJ, Silva RAV, Narciso-Schiavon JL, et al. Prevalence and factors associated with HCV infection among elderly individuals in a southern Brazilian city. Rev Soc Bras Med Trop 2013; 46(3): 281-7. https://doi.org/10.1590/0037-8682-0026-2013
https://doi.org/10.1590/0037-8682-0026-2... . No entanto não se observou na ocorrência de ambos os marcadores diferenças estatisticamente significantes quanto à idade.
Em síntese, os resultados deste estudo evidenciaram uma redução da ocorrência das hepatites virais B e C em um grande centro urbano da região Nordeste, que, de certo modo, refletem a situação atual da região. Ao mesmo tempo, os nossos resultados alertam para a necessidade de intensificação da vigilância epidemiológica e aprimoramento da rede assistencial dirigidas aos casos de HBV e HCV na população com menor condição socioeconômica. Após o diagnóstico nosológico, os indivíduos devem ser encaminhados para reavaliação e possível tratamento, acessível nos serviços de referência, para que se alcance a eliminação dessas viroses em nosso país até 2030, como foi proposto pela OMS1111. World Health Organization. Combating hepatitis B and C to reach elimination by 2030: advocacy brief. Geneve: World Health Organization; 2016..
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- FONTE DE FINANCIAMENTO: Este estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): números de concessão 303953/2018-7 para C.B. e 302696/2021-0 para M.F.P.M.A.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
01 Jul 2024 - Data do Fascículo
2024
Histórico
- Recebido
05 Set 2023 - Revisado
19 Mar 2024 - Aceito
26 Mar 2024