Vacina para hepatite B entre trabalhadores da saúde: fatores associados às dimensões do Modelo de Crenças em Saúde

Yvanilson Costas Farias Junior Fernanda de Oliveira Souza Deisy Vital dos Santos Margarete Costa Heliotério Paloma de Sousa Pinho Tânia Maria de Araújo Sobre os autores

RESUMO

Objetivo:

Investigar a associação entre as dimensões do Modelo de Crenças em Saúde (MCS) e a vacinação completa para hepatite B entre trabalhadores da saúde (TS).

Métodos:

Estudo epidemiológico de corte transversal com TS da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Realizaram-se análises uni e bivariada a fim de testar a associação entre a variável desfecho (vacinação completa para hepatite B a partir do autorrelato) e as variáveis das dimensões do MCS. Foram calculadas razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).

Resultados:

Participaram do estudo 453 TS. A prevalência de vacinação completa para hepatite B foi de 56,9%. No modelo final de análise, estiveram associadas à vacinação completa para hepatite B as variáveis: chance de pegar hepatite B (RP=1,73) – relativa à dimensão de suscetibilidade; gravidade da doença (RP=0,74) – relativa à dimensão de gravidade; diminuição do risco de absenteísmo (RP=1,29) – relativa à dimensão de benefícios; não dispêndio de tempo para se vacinar (RP=1,41) e não preocupação acerca de eventos atribuíveis à vacinação ou imunização (RP=1,43) – relativas à dimensão de barreiras.

Conclusão:

A completude do esquema vacinal para hepatite B, referida pelos TS investigados, revela uma prevalência abaixo da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, a qual acompanha o cenário nacional de baixas coberturas apresentado para outras faixas etárias. A compreensão sobre percepção de risco e gravidade da hepatite B pode contribuir para o aumento da prevalência de vacinação para essa infecção.

Palavras-chave:
Modelo de crenças de saúde; Vacinas contra hepatite B; Pessoal de saúde; Atitude do pessoal de saúde; Vacinação; Estudos transversais

INTRODUÇÃO

A hepatite B é uma infecção viral de transmissão vertical, parenteral e sexual, todavia, imunoprevenível11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 3,5% da população mundial vive com a infecção pelo vírus da hepatite B (VHB)22. World Health Organization. Global hepatitis report 2017 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2017 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://apps.who.int/iris/handle/10665/255016
https://apps.who.int/iris/handle/10665/2...
. No Brasil, entre 2000 e 2022, diagnosticaram-se 276.646 casos de hepatite B. Em 2022, a taxa de detecção foi de 4,3 casos/100 mil habitantes33. Brasil. Boletim epidemiológico de hepatites virais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2022 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/boletim-epidemiologico-de-hepatites-virais-2022-numero-especial/view
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-...
.

A vacinação para hepatite B está no calendário de vacinação em todos os ciclos de vida, incluindo indivíduos adultos (20 a 59 anos), disponível de forma universal e gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS). Trabalhadores da saúde (TS) brasileiros são um grupo-alvo de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI), para saúde e segurança do próprio trabalhador e das populações assistidas11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
. A vacinação também está recomendada pela Norma Regulamentadora 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde (NR 32)44. Brasil. Norma Regulamentadora no 32 [Internet]. 2020 [Access on Dec. 27, 2023]. Available at: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-32-nr-32
https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt...
. Em TS, a prevalência da infecção global pelo VHB varia de 4,8 a 11,1% e pode ser até três vezes maior comparada à população geral55. Morais LQ, Motta-Castro ARC, Frota OP, Contrera L, Carvalho PRT, Fernandes FRP. Hepatite B em profissionais de enfermagem: prevalência e fatores ocupacionais de risco. Rev Enferm UERJ. 2016, 24(3): e11143. https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.11143
https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.111...
.

Apesar da imprescindibilidade da completude do esquema vacinal para hepatite B, medida profilática mais eficaz contra a infecção11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
, inquéritos em distintas partes do país demonstraram que nem todos os TS completaram o esquema vacinal nem verificaram a soroconversão por meio do exame Anti-HBs. No município de Montes Claros, no estado de Minas Gerais, 47,5% dos TS da Estratégia da Saúde da Família não completaram o esquema vacinal para hepatite B e apenas 16,4% estavam imunes à infecção pelo VHB66. Martins AMEBL, Costa FM, Ferreira RC, Santos Neto PE, Magalhaes TA, Sá MAB, et al. Fatores associados à imunização contra Hepatite B entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Enferm 2015; 68(1): 84-92. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680112p
https://doi.org/10.1590/0034-7167.201568...
. Em cinco municípios do estado da Bahia, 40,3% dos TS não receberam as três doses recomendas da vacina77. Souza FO, Araújo TM. Exposição ocupacional e vacinação para hepatite B entre trabalhadores da atenção primária e média complexidade. Rev Bras Med Trab 2018; 16(1): 36-43. https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
https://doi.org/10.5327/Z167944352018009...
. Considerando a baixa cobertura vacinal, acredita-se que TS estejam hesitantes para se vacinar contra a hepatite B.

A hesitação vacinal foi classificada como uma das dez ameaças à saúde global desde 201988. World Health Organization. Ten threats to global health in 2019 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019
https://www.who.int/news-room/spotlight/...
, sendo definida como atraso no recebimento ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade nos serviços de vacinação99. Araújo TM, Souza FO, Pinho PS, Werneck GL. Beliefs and sociodemographic and occupational factors associated with vaccine hesitancy among health workers. Vaccines (Basel). 2022; 10(12): 2013. https://doi.org/10.3390/vaccines10122013
https://doi.org/10.3390/vaccines10122013...
. Diversas são as razões para hesitação vacinal para hepatite B entre TS: dúvidas sobre eficácia e segurança da vacina; negligência; receio de reações adversas; informações escassas sobre transmissão da infecção; ausência de percepção de risco; esquecimento e dificuldade de acesso ao imunizante66. Martins AMEBL, Costa FM, Ferreira RC, Santos Neto PE, Magalhaes TA, Sá MAB, et al. Fatores associados à imunização contra Hepatite B entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Enferm 2015; 68(1): 84-92. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680112p
https://doi.org/10.1590/0034-7167.201568...
,77. Souza FO, Araújo TM. Exposição ocupacional e vacinação para hepatite B entre trabalhadores da atenção primária e média complexidade. Rev Bras Med Trab 2018; 16(1): 36-43. https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
https://doi.org/10.5327/Z167944352018009...
,1010. Auta A, Adewuyi EO, Kureh GT, Onoviran N, Adeloye D. Hepatitis B vaccination coverage among health-care workers in Africa: a systematic review and meta-analysis. Vaccine 2018; 36(32 Pt B): 4851-60. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2018.06.043
https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2018.0...

11. Alshammari TM, Aljofan M, Subaie G, Hussain T. Knowledge, awareness, attitude, and practice of health-care professionals toward hepatitis B disease and vaccination in Saudi Arabia. Hum Vaccin Immunother 2019; 15(12): 2816-23. https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
https://doi.org/10.1080/21645515.2019.16...
-1212. Yuan Q, Wang F, Zheng H, Zhang G, Miao N, Sun X, et al. Hepatitis B vaccination coverage among health care workers in China. PLoS One 2019; 14(5): e0216598. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0216598
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
.

Em investigação anterior, realizada com a atual população do estudo, constatou-se que 43,1% dos TS hesitaram em vacinar-se contra hepatite B, 14,6% não se vacinaram, 2,7% receberam apenas uma dose e 5,8% receberam duas, enquanto os demais não sabiam ou não responderam o número de doses recebidas1313. Farias Junior YC, Souza FO, Heliotério MC, Araújo TM, Pinho PS. Hepatitis B vaccination and serology among health personnel in a municipality in the Recôncavo Baiano, Brazil, 2019. Rev Bras Med Trab 2023; 21(4): e2022975. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-975
http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-9...
.

A hesitação vacinal no Brasil e no mundo é investigada por distintos modelos teóricos, como o Modelo de Crenças em Saúde (MCS), que visa compreender os motivos pelos quais indivíduos adotam ou não comportamentos relacionados à saúde1414. Rosenstock IM. Historical origins of the health belief model. Health Educ Monogr 1974; 2(4): 328-35. https://doi.org/10.1177/109019817400200403
https://doi.org/10.1177/1090198174002004...
. Aplicando-se à vacinação, o modelo pode auxiliar na compreensão da relação entre comportamento e utilização/aceitação de vacinas.

Na década de 1950, psicólogos sociais estadunidenses desenvolveram o MCS a fim de compreender os motivos pelos quais a população não aderia a ações de Saúde Pública1515. Coleta MFD. O modelo de crenças em saúde (HBM): uma análise de sua contribuição à psicologia da saúde. Temas Psicol 1999; 7(2): 175-82.. No MCS, quatro dimensões são centrais: suscetibilidade, crença relacionada às chances de experimentar um risco ou contrair determinada condição ou doença; gravidade, crença acerca da severidade de uma condição e suas sequelas se não tratá-la; benefícios, crença na eficácia de uma ação recomendada para mitigar risco ou gravidade do impacto; e barreiras, crenças sobre os custos tangíveis e psicológicos de uma ação recomendada1111. Alshammari TM, Aljofan M, Subaie G, Hussain T. Knowledge, awareness, attitude, and practice of health-care professionals toward hepatitis B disease and vaccination in Saudi Arabia. Hum Vaccin Immunother 2019; 15(12): 2816-23. https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
https://doi.org/10.1080/21645515.2019.16...

12. Yuan Q, Wang F, Zheng H, Zhang G, Miao N, Sun X, et al. Hepatitis B vaccination coverage among health care workers in China. PLoS One 2019; 14(5): e0216598. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0216598
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...

13. Farias Junior YC, Souza FO, Heliotério MC, Araújo TM, Pinho PS. Hepatitis B vaccination and serology among health personnel in a municipality in the Recôncavo Baiano, Brazil, 2019. Rev Bras Med Trab 2023; 21(4): e2022975. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-975
http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-9...

14. Rosenstock IM. Historical origins of the health belief model. Health Educ Monogr 1974; 2(4): 328-35. https://doi.org/10.1177/109019817400200403
https://doi.org/10.1177/1090198174002004...

15. Coleta MFD. O modelo de crenças em saúde (HBM): uma análise de sua contribuição à psicologia da saúde. Temas Psicol 1999; 7(2): 175-82.
-1616. Champion VL, Skinner CS. The health belief model. In: Glanz K, Rimer BK, Viswanath K, eds. Health behavior and health education: theory, research, and practice. New York: John Wiley & Sons; 2008. p. 45-65.. Ademais, há as dimensões de estímulos para ação e autoeficácia, que também podem influenciar na adesão a ações de saúde1717. Neves CR. Instrumentos de avaliação da adesão à vacina contra influenza sazonal: revisão de literatura e adaptação para uso em profissionais de saúde brasileiros [dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2017..

No contexto da vacinação, utilizou-se o MCS para a investigação da adesão às vacinas para COVID-191818. Yenew C, Dessie AM, Gebeyehu AA, Genet A. Intention to receive COVID-19 vaccine and its health belief model (HBM)-based predictors: a systematic review and meta-analysis. Hum Vaccin Immunother 2023; 19(1): 2207442. https://doi.org/10.1080/21645515.2023.2207442
https://doi.org/10.1080/21645515.2023.22...
e Influenza1919. Silva SB, Souza FO, Pinho PS, Santos DV. Health belief model in studies of influenza vaccination among health care workers. Rev Bras Med Trab 2023; 21(2): e2022839. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-839
http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-8...
. Entretanto, a análise da adesão à vacinação para hepatite B, a partir desse modelo, é incipiente, principalmente em relação aos TS: uma das literaturas encontradas não utiliza o MCS em si, apesar de trabalhar com o termo “crenças”2020. Toffano SEM, Lopes LP, Erani FB, Gir E. Crenças de enfermeiros quanto à transmissão ocupacional dos vírus da hepatite B e C. Rev Enferm Cent.-Oeste Min 2012; 2(2): 195-202. https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189
https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189...
e outro inquérito avalia a prevenção dos acidentes com agulhas a partir do MCS2121. Brevidelli MM, Cianciarullo TI. Aplicação do modelo de crenças em saúde na prevenção dos acidentes com agulha. Rev Saúde Pública 2001; 35(2): 193-201. https://doi.org/10.1590/S0034-89102001000200014
https://doi.org/10.1590/S0034-8910200100...
.

Este estudo objetivou investigar a associação entre dimensões do MCS e vacinação completa para hepatite B entre TS.

MÉTODOS

Estudo epidemiológico transversal realizado no período de junho de 2019 a janeiro de 2020, conduzido com amostra representativa, aleatoriamente selecionada, de TS de Atenção Primária à Saúde (APS) e Média Complexidade (MC) do município de Santo Antônio de Jesus no Recôncavo da Bahia. Este estudo integra o projeto multicêntrico “Vigilância e Monitoramento de Doenças Infecciosas entre Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor Saúde”.

A seleção da população do estudo seguiu os procedimentos: levantamento prévio da população de referência e da rede de serviços de saúde para cálculo amostral por meio de listagem nominal; definição de parâmetros para cálculo amostral; estratificação da população por nível de atenção e grupos ocupacionais aplicáveis à amostra; sorteio.

Por tratar-se de uma pesquisa abrangente, realizou-se cálculo amostral como estimativa de prevalências para distintos desfechos em saúde, assim, o tamanho da amostra obtida foi superior ao estimado para a análise da situação vacinal. Para o cálculo amostral, considerou-se a população total de TS vinculados aos serviços (622), prevalência de vacinação completa para hepatite B de 79,2%, erro de 3% e nível de confiança de 95%. A fim de investigar o desfecho de interesse, estimou-se amostra representativa de 332 TS.

Considerando eventuais recusas e perda de informações e como estratégia para garantir o alcance do tamanho amostral para estratos considerados, definiu-se uma lista extra (reserva) por procedimento aleatório para eventual substituição de trabalhadores não encontrados ou recusas. A lista extra limitou-se a 20% da listagem original. Em casos de ausência ou recusa do trabalhador sorteado ou após três tentativas de realização da entrevista, orientou-se o entrevistador a substitui-lo por outro trabalhador do mesmo nível de atenção do serviço, da mesma ocupação e do mesmo sexo daquele trabalhador inicialmente sorteado.

Foram critérios de inclusão: trabalhar nos serviços de APS ou MC, idade mínima de 18 anos e estar trabalhando por mais de 6 meses nos serviços de saúde municipais. Excluíram-se TS afastados, de férias ou de licença.

Dividiram-se os grupos ocupacionais em quatro categorias, considerando a proximidade das características do trabalho e de riscos ocupacionais: assistenciais (técnicos de laboratório, de enfermagem e de saúde bucal; enfermeiros; médicos; dentistas; nutricionistas; psicólogos; farmacêuticos; assistentes sociais; terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas); agentes de saúde (Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias); administrativos (funcionários administrativos e recepcionistas; atendentes de farmácia; coordenadores; subgerentes de projetos especiais e coordenadores de distrito) e apoio operacional (funcionários de serviços gerais; seguranças; músicos; merendeiras; motoristas e condutores; digitadores; técnicos auxiliares de regulação médica; operadores de rádio; inspetores e fiscais sanitários).

A coleta de dados foi realizada por questionário estruturado, elaborado a partir da literatura. A variável “desfecho” foi o autorrelato de vacinação para hepatite B, obtido por meio dos seguintes questionamentos: “Já recebeu vacina contra hepatite B?” e “Em caso afirmativo, você recebeu: 1 dose, 2 doses, 3 doses ou não sabe?”. A vacinação completa para hepatite B foi considerada para TS que responderam, respectivamente, “Sim” e “3 doses”, conforme o esquema vacinal do adulto preconizado pelo PNI11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
.

As variáveis do MCS basearam-se em um instrumento adaptado1717. Neves CR. Instrumentos de avaliação da adesão à vacina contra influenza sazonal: revisão de literatura e adaptação para uso em profissionais de saúde brasileiros [dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2017. e não validado, por tratar-se de um estudo inédito. As variáveis foram divididas nas seguintes dimensões: suscetibilidade (percepção de risco de contrair hepatite B e de exposição laboral à infecção); gravidade (preocupação de contrair hepatite B, das consequências advindas da aquisição da infecção e da seriedade da doença); benefícios (percepção de proteção individual e familiar em relação à vacinação para hepatite B, de diminuição do risco de absenteísmo no trabalho e de ganho pessoal); de estímulos para ação (motivações para aderir à vacinação para hepatite B) e barreiras (dúvidas acerca da vacinação para hepatite B; receio de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização [ESAVI] ou dor; percepção de interferência no cotidiano, associada a dispêndio de tempo ou dificuldade de deslocamento).

Realizaram-se análises estatísticas pelos programas estatísticos Statistical Package for Social Sciences (SPSS) e STATA: Software for Statistics and Data Science. Inicialmente, realizou-se análise univariada, com caracterização da população de acordo com variáveis descritoras e prevalência (autorrelato) de vacinação completa para hepatite B, estimadas frequências absolutas e relativas, a partir do SPSS. No SPSS, realizou-se análise bivariada a fim de testar a associação entre variável dependente (vacinação completa para hepatite B) e variáveis das dimensões do MCS. Calcularam-se razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).

No STATA, realizou-se análise multivariada, que descreveu o efeito simultâneo das variáveis de interesse na completude do esquema de vacinação. Para tal, realizou-se seleção das variáveis baseada em revisão de literatura, verificação de pressupostos do modelo e pré-seleção das variáveis, considerando p≤0,20 na análise bivariada. O modelo de regressão logística com correção da odds ratio (OD) para RP foi realizado a partir da Regressão de Poisson com variância robusta, assim como seus respectivos intervalos de confiança. Para avaliação da medida de significância estatística, utilizou-se teste de χ22. World Health Organization. Global hepatitis report 2017 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2017 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://apps.who.int/iris/handle/10665/255016
https://apps.who.int/iris/handle/10665/2...
de Pearson, adotando p<0,05.

RESULTADOS

Participaram do estudo 453 TS, dos quais 421 tinham informações completas para as variáveis de interesse relacionadas à hepatite B, conformando a amostra, o que representa uma proporção de resposta global de 93%. Acerca da completude do esquema vacinal para hepatite B, 56,9% dos TS relataram vacinação completa. O grupo dos TS assistenciais obteve a maior prevalência de vacinação completa para hepatite B (76,6%), seguido por agentes de saúde (52%), administrativos (46,3%) e apoio operacional (37,8%).

A população do estudo é predominantemente feminina (82,8%) e negra (83,6%); entre 21 e 49 anos (76%); tem companheiro (60,9%) e filhos (73,9%). Sobre escolaridade, 61,8% dos TS tinham até o ensino superior incompleto. Acerca da ocupação, predominaram trabalhadores da APS (77,7%), com vínculo efetivo (72,4%), na ocupação de agentes de saúde (39,4%), seguidos por assistenciais (30,9%), administrativos (21,4%) e apoio operacional (8,3%).

Na análise bivariada, na dimensão de suscetibilidade, apenas a percepção acerca da grande possibilidade de contrair hepatite B associou-se à vacinação completa para hepatite B (RP=1,39; IC95% 1,19–1,62) (Tabela 1). Não houve associação entre fatores da dimensão de gravidade e completude do esquema vacinal para hepatite B (Tabela 2). Sobre a dimensão de benefícios, três variáveis apresentaram associação à completude do esquema vacinal para hepatite B pelos TS: a percepção de que a vacinação para hepatite B protegerá as pessoas que moram com o trabalhador de contrair a infecção (RP=1,22; IC95% 1,04–1,43); o entendimento de que a vacinação para hepatite B pode reduzir as chances de faltar ao trabalho (RP=1,22; IC95% 1,03–1,46); e a compreensão acerca de um ganho pessoal proporcionado pela vacinação para hepatite B (RP=1,88; IC95% 1,14–3,09) (Tabela 3). Não houve associação entre fatores da dimensão de estímulos para ação e completude do esquema vacinal para hepatite B (Tabela 3).

Tabela 1
Prevalência de vacinação completa para hepatite B (três doses) de acordo com a dimensão de suscetibilidade do Modelo de Crenças em Saúde entre trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Santo Antônio de Jesus (BA), 2019–2020.
Tabela 2
Prevalência de vacinação completa para hepatite B (três doses) de acordo com a dimensão de gravidade do Modelo de Crenças em Saúde entre trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Santo Antônio de Jesus (BA), 2019–2020.
Tabela 3
Prevalência de vacinação completa para hepatite B (três doses) de acordo com a dimensão de benefícios e estímulos para ação do Modelo de Crenças em Saúde entre trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Santo Antônio de Jesus (BA), 2019–2020.

Sobre a dimensão de barreiras para a vacinação, cinco fatores estiveram associados ao relato de vacinação completa para hepatite B pelos TS: aqueles que não ficariam em dúvida sobre a vacinação para hepatite B, apesar de notícias afirmarem que a vacina pode acarretar problemas de saúde (RP=1,46; IC95% 1,15–1,85); aqueles que reconheceram que se vacinar não despenderia tempo (RP=1,79; IC95% 1,25–2,56); aqueles que não acreditam que se vacinar interferiria em sua vida cotidiana (RP=1,61; IC95% 1,14–2,26); aqueles que discordaram que se vacinar seria difícil por exigir deslocamento (RP=1,56; IC95% 1,04–2,35); e aqueles que não se preocupam em relação à ocorrência de reação à vacina para hepatite B (RP=1,61; IC95% 1,24–2,09) (Tabela 4).

Tabela 4
Prevalência de vacinação completa para hepatite B (três doses) de acordo com a dimensão de barreiras do Modelo de Crenças em Saúde entre trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Santo Antônio de Jesus (BA), 2019–2020.

No modelo final de análise, as dimensões de suscetibilidade, gravidade, benefícios e barreiras estiveram associadas à vacinação completa para hepatite B entre TS. As variáveis do MCS associadas à vacinação completa para hepatite B, na análise multivariada, foram: “Eu tenho grande chance de pegar hepatite B” (sim) (RP=1,73; IC95% 1,30–2,29) — suscetibilidade; “Se eu pegasse hepatite B, isso seria mais grave que outras doenças” (sim) (RP=0,74; IC95% 0,58–0,93) — gravidade; “Vacinar-me contra hepatite B pode diminuir as chances de faltar ao trabalho” (sim) (RP=1,29; IC95% 1,05–1,59) — benefícios; “Vacinar-se contra hepatite B despenderia muito do meu tempo, pois são necessárias três doses” (não) (RP=1,41; IC95% 1,11–1,79) — barreiras; “Fico preocupado em ter uma reação à vacina da hepatite B” (não) (RP=1,43; IC95% 1,14–1,80) — barreiras (Tabela 5).

Tabela 5
Variáveis obtidas no modelo final de análise de regressão associadas à prevalência de vacinação completa para hepatite B (três doses) entre trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e Média Complexidade. Santo Antônio de Jesus (BA), 2019–2020.

Destaca-se que a perda de 7% de trabalhadores (n=32) nesta amostra, devido à falta de informações para as variáveis relacionadas à hepatite B, demonstrou similaridade com o grupo de trabalhadores respondentes com relação às características de sexo e idade. No grupo de perdas, 78,1% dos TS eram do sexo feminino e 75% tinham entre 21 e 49 anos; assim, minimiza-se a suscetibilidade do estudo a possível viés de seleção por não resposta.

DISCUSSÃO

A prevalência de vacinação completa para hepatite B (autorrelato) entre TS neste estudo (56,9%) foi inferior àquelas constatadas em investigação no estado da Bahia em 2018, com TS da APS e MC (59,7%)77. Souza FO, Araújo TM. Exposição ocupacional e vacinação para hepatite B entre trabalhadores da atenção primária e média complexidade. Rev Bras Med Trab 2018; 16(1): 36-43. https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
https://doi.org/10.5327/Z167944352018009...
, e em inquérito prévio realizado com o mesmo grupo de TS no município de Santo Antônio de Jesus em 2015 (59,9%)2222. Souza FO, Freitas PSP, Araújo TM, Gomes MR. Vacinação contra hepatite B e Anti-HBS entre trabalhadores da saúde. Cad Saúde Colet 2015; 23(2): 172-9. https://doi.org/10.1590/1414-462X201500020030
https://doi.org/10.1590/1414-462X2015000...
. Contudo, a prevalência de vacinação completa para hepatite B foi superior àquela encontrada em estudo com TS da Estratégia Saúde da Família em Montes Claros, no estado de Minas Gerais, em 2015 (52,5%)66. Martins AMEBL, Costa FM, Ferreira RC, Santos Neto PE, Magalhaes TA, Sá MAB, et al. Fatores associados à imunização contra Hepatite B entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Enferm 2015; 68(1): 84-92. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680112p
https://doi.org/10.1590/0034-7167.201568...
.

Associaram-se à maior prevalência de vacinação completa para hepatite B: percepção de risco para a doença; gravidade em relação a outras doenças; percepção de que vacinação poderia reduzir absenteísmo; despreocupação em relação a tempo despendido para vacinar e à ocorrência de ESAVI.

A vacinação para hepatite B é importante estratégia de prevenção, pois 15 a 40% dos infectados desenvolvem insuficiência hepática, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular, comprometendo vida produtiva na população afetada1111. Alshammari TM, Aljofan M, Subaie G, Hussain T. Knowledge, awareness, attitude, and practice of health-care professionals toward hepatitis B disease and vaccination in Saudi Arabia. Hum Vaccin Immunother 2019; 15(12): 2816-23. https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
https://doi.org/10.1080/21645515.2019.16...
. Investigação demonstrou que, em 2005, os custos médios por paciente, no setor público, variavam entre R$ 1.243,17 e R$ 22.022,61, a depender da complicação da hepatite B2323. Castelo A, Pessôa MG, Barreto TCBB, Alves MRD, Araújo DV. Estimativas de custo da hepatite crônica B no sistema único de saúde Brasileiro em 2005. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(6): 486-91. https://doi.org/10.1590/S0104-42302007000600013
https://doi.org/10.1590/S0104-4230200700...
. Após aproximadamente 20 anos, infere-se que esses gastos aumentaram consideravelmente.

A suscetibilidade percebida refere-se aos riscos subjetivos de adquirir determinada condição1616. Champion VL, Skinner CS. The health belief model. In: Glanz K, Rimer BK, Viswanath K, eds. Health behavior and health education: theory, research, and practice. New York: John Wiley & Sons; 2008. p. 45-65.. Assim, percepção de suscetibilidade varia conforme grau de risco ao qual um indivíduo se percebe exposto e se apresenta como condição determinante para adesão à vacinação em geral88. World Health Organization. Ten threats to global health in 2019 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019
https://www.who.int/news-room/spotlight/...
. Sobre vacinação para hepatite B, há associação entre percepção de suscetibilidade e maior adesão à vacinação, a fim de evitar a infecção entre TS77. Souza FO, Araújo TM. Exposição ocupacional e vacinação para hepatite B entre trabalhadores da atenção primária e média complexidade. Rev Bras Med Trab 2018; 16(1): 36-43. https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
https://doi.org/10.5327/Z167944352018009...
,2222. Souza FO, Freitas PSP, Araújo TM, Gomes MR. Vacinação contra hepatite B e Anti-HBS entre trabalhadores da saúde. Cad Saúde Colet 2015; 23(2): 172-9. https://doi.org/10.1590/1414-462X201500020030
https://doi.org/10.1590/1414-462X2015000...
,2424. Assunção AA, Araújo TM, Ribeiro RBN, Oliveira SVS. Vacinação contra hepatite B e exposição ocupacional no setor saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais. Rev Saúde Pública 2012; 46(4): 665-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000042
https://doi.org/10.1590/S0034-8910201200...
.

Possivelmente, essa associação ocorre em virtude da exposição ocupacional, pois TS têm risco até três vezes maior de adquirir infecção por hepatite B em comparação à população geral55. Morais LQ, Motta-Castro ARC, Frota OP, Contrera L, Carvalho PRT, Fernandes FRP. Hepatite B em profissionais de enfermagem: prevalência e fatores ocupacionais de risco. Rev Enferm UERJ. 2016, 24(3): e11143. https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.11143
https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.111...
. Estima-se que o risco de contrair hepatite B após lesão com agulha pode chegar a 30%. Globalmente, a exposição ocupacional é responsável por aproximadamente 40% dos casos de hepatite B e C e por cerca de 66 mil infecções por hepatite B entre TS2525. Nouetchognou JS, Ateudjieu J, Jemea B, Mbanya D. Accidental exposures to blood and body fluids among health care workers in a Referral Hospital of Cameroon. BMC Res Notes 2016; 9: 94. https://doi.org/10.1186/s13104-016-1923-8
https://doi.org/10.1186/s13104-016-1923-...
. Neste estudo, TS que relataram grande chance de contrair a infecção por hepatite B apresentaram 70% de probabilidade a mais de se vacinarem quando comparados a TS sem essa percepção de risco.

Em 2012, investigação com TS do setor municipal de Belo Horizonte e inquérito com TS da APS e da MC em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, em 2015, constataram que trabalhadores da área administrativa e de serviços gerais apresentaram menores taxas de vacinação quando comparados a médicos e enfermeiros2222. Souza FO, Freitas PSP, Araújo TM, Gomes MR. Vacinação contra hepatite B e Anti-HBS entre trabalhadores da saúde. Cad Saúde Colet 2015; 23(2): 172-9. https://doi.org/10.1590/1414-462X201500020030
https://doi.org/10.1590/1414-462X2015000...
,2424. Assunção AA, Araújo TM, Ribeiro RBN, Oliveira SVS. Vacinação contra hepatite B e exposição ocupacional no setor saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais. Rev Saúde Pública 2012; 46(4): 665-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000042
https://doi.org/10.1590/S0034-8910201200...
. Portanto, presume-se que trabalhadores administrativos e de serviços gerais não se percebem em risco em suas ocupações, em razão do contato menos frequente com o usuário do serviço. Entretanto, o risco de contato com material biológico ou superfícies contaminadas não é nulo; assim, a vacinação permanece como medida profilática mais eficaz e segura para prevenir infecção por hepatite B.

A gravidade percebida remete à possibilidade de a doença causar morte, reduzir funcionamento físico ou mental por longos períodos ou desabilitar permanentemente1414. Rosenstock IM. Historical origins of the health belief model. Health Educ Monogr 1974; 2(4): 328-35. https://doi.org/10.1177/109019817400200403
https://doi.org/10.1177/1090198174002004...
. Neste estudo, TS que não compreendem a gravidade da hepatite B obtiveram maior prevalência de vacinação completa para a infecção. Relaciona-se esse cenário à maioria dos participantes deste estudo não ter graduação específica em cursos de saúde (apenas 30,9% eram trabalhadores assistenciais), nos quais disciplinas relacionadas a infecções proporcionam maior compreensão sobre a gravidade da hepatite B.

Em estudo com enfermeiras em dois hospitais no interior do estado de São Paulo, em 2012, 77,3% das participantes relataram receio de adquirir uma infecção grave, como hepatites B e C, e 92,5% consideravam-se suscetíveis a essas infecções2020. Toffano SEM, Lopes LP, Erani FB, Gir E. Crenças de enfermeiros quanto à transmissão ocupacional dos vírus da hepatite B e C. Rev Enferm Cent.-Oeste Min 2012; 2(2): 195-202. https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189
https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189...
. A hepatite B é uma infecção grave, cujas repercussões oneram o sistema de saúde2323. Castelo A, Pessôa MG, Barreto TCBB, Alves MRD, Araújo DV. Estimativas de custo da hepatite crônica B no sistema único de saúde Brasileiro em 2005. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(6): 486-91. https://doi.org/10.1590/S0104-42302007000600013
https://doi.org/10.1590/S0104-4230200700...
.

A dimensão de benefícios caracteriza-se como crença na eficácia da ação recomendada para reduzir risco ou gravidade do impacto1717. Neves CR. Instrumentos de avaliação da adesão à vacina contra influenza sazonal: revisão de literatura e adaptação para uso em profissionais de saúde brasileiros [dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2017.. Neste estudo, maior prevalência de vacinação completa associou-se à redução nas chances de ausentar-se no trabalho. Em 2012, inquérito em dois hospitais paulistas, cujas participantes foram enfermeiras, obteve resultado similar: 100% das trabalhadoras entrevistadas afirmaram que o principal benefício ao se vacinarem contra hepatite B é evitar aquisição da infecção e, consequentemente, mitigar ocorrência de afastamentos do trabalho2020. Toffano SEM, Lopes LP, Erani FB, Gir E. Crenças de enfermeiros quanto à transmissão ocupacional dos vírus da hepatite B e C. Rev Enferm Cent.-Oeste Min 2012; 2(2): 195-202. https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189
https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189...
.

Apesar da validade do benefício percebido para o TS, infere-se que seu pensamento se pauta sob uma óptica financeira, na qual se evita o absenteísmo, a fim de não haver riscos de desemprego. Então, a decisão desses TS de se vacinarem contra hepatite B não esteve atrelada à própria saúde, foi meramente atrelada à questão econômica.

As barreiras no MCS são ações efetivas para redução da ameaça da doença ou condição, contudo, elas podem ser consideradas inconvenientes, dispendiosas, pouco prazerosas ou dolorosas1515. Coleta MFD. O modelo de crenças em saúde (HBM): uma análise de sua contribuição à psicologia da saúde. Temas Psicol 1999; 7(2): 175-82.. Neste estudo, intervalo de até seis meses entre as doses na vacinação para hepatite B não foi fator prejudicial à completude do esquema vacinal para a infecção. Investigação realizada entre TS de hospitais chineses evidenciou que intervalo entre as doses pode acarretar perda de oportunidade para vacinação, pois dos TS que não receberam as três doses da vacina, 40% alegaram que estavam muito ocupados para receber doses seguintes1212. Yuan Q, Wang F, Zheng H, Zhang G, Miao N, Sun X, et al. Hepatitis B vaccination coverage among health care workers in China. PLoS One 2019; 14(5): e0216598. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0216598
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
.

Ademais, neste estudo, houve predomínio de TS da APS (77,7%), fator que pode promover vacinação para hepatite B, pois é rotina dos serviços nesse nível de atenção à saúde, como constatado em investigação anterior com a mesma população nesse município1313. Farias Junior YC, Souza FO, Heliotério MC, Araújo TM, Pinho PS. Hepatitis B vaccination and serology among health personnel in a municipality in the Recôncavo Baiano, Brazil, 2019. Rev Bras Med Trab 2023; 21(4): e2022975. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-975
http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-9...
. Enquanto TS da MC desempenham atividades pouco relacionadas à vacinação e estão distantes da sala de vacina, trabalhadores da APS se vacinam em seus próprios locais de trabalho e há estímulo para atualização dos cartões de vacinação.

TS que não relataram receio acerca da ocorrência de ESAVI alcançaram maior prevalência de vacinação para hepatite B, com probabilidade de 43% a mais de se vacinarem comparados a TS que referiram preocupação acerca de ESAVI. Provavelmente, esse cenário relaciona-se à compreensão acerca da baixa reatogenicidade da vacina para hepatite B: ESAVI são, comumente, leves e transitórios, enquanto graves são raros11. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
, não sendo uma barreira para a vacinação. Em 2011, estudo transversal brasileiro realizado no estado de Minas Gerais constatou apenas 2,1% de incidência de ESAVI na vacina para hepatite B, sendo a quarta vacina com menor incidência2626. Silva SS, Oliveira VC, Ribeiro HCTC, Alves TGS, Cavalcante RB, Guimarães EAA. Análise dos eventos adversos após aplicação de vacinas em Minas Gerais, 2011: um estudo transversal. Epidemiol Serv Saúde 2016; 25(1): 45-54. https://doi.org/10.5123/S1679-49742016000100005
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201600...
.

Em 2019, na Arábia Saudita, inquérito com trabalhadores assistenciais constatou que 31,2% dos TS não completaram o esquema vacinal para hepatite B e acreditavam que a vacina não é segura ou tinham dúvidas sobre sua segurança, enquanto apenas 8% dos trabalhadores da saúde que receberam as três doses recomendadas compartilhavam da mesma crença1111. Alshammari TM, Aljofan M, Subaie G, Hussain T. Knowledge, awareness, attitude, and practice of health-care professionals toward hepatitis B disease and vaccination in Saudi Arabia. Hum Vaccin Immunother 2019; 15(12): 2816-23. https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
https://doi.org/10.1080/21645515.2019.16...
.

Entre as limitações do estudo, há vieses de falsa resposta e recordatório, principalmente, quando TS foram questionados sobre vacinação para hepatite B2727. Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.. A fim de minimizar vieses, solicitou-se cópia dos cartões de vacinação dos TS, estratégia ideal e recomendada para avaliação do desfecho de interesse2828. Costa FM, Cardoso LL, Souto AMR, Gomes DL, Nassau DC, Lafetá KRG, et al. Validação do relato de vacinação contra hepatite B como medida da situação vacinal entre universitários da área da saúde. Rev Norte Mineira de Enferm 2021; 10(2): 112-20. https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100212
https://doi.org/10.46551/rnm231730922021...
. No entanto, demonstrou-se que esses TS conhecem relativamente seus estados vacinais, portanto, considerou-se o autorrelato da vacinação para hepatite B para análise.

Apesar das limitações supracitadas, este estudo distingue-se por incluir não apenas profissionais de saúde, mas também as demais ocupações que trabalham no setor saúde. Logo, embora seja um estudo local, é factível que represente uma problemática existente em distintos lugares do país.

Este estudo evidencia que a taxa de vacinação para hepatite B dessa população está inferior à expectada e aponta como a percepção de risco e gravidade da doença pode potencializar aceitação de vacinas e completude de esquemas vacinais para hepatite B. Portanto, atividades de educação em serviço para TS devem incluir diálogo como estratégia de estímulo à vacinação por meio de abordagens que conscientizem acerca de eventos adversos esperados pós-vacinação e que a possibilidade de adoecer por infecção imunoprevenível, com destaque para a hepatite B, pode acarretar não apenas absenteísmo no trabalho, bem como hospitalização e óbito. Por fim, independentemente da formação ou função desempenhada, o TS deve assimilar as principais formas de transmissão da infecção e reconhecer a vacinação como ferramenta indispensável de prevenção.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a concessão de bolsa de Iniciação Científica a Yvanilson Costa Farias Junior.

  • Fonte de financiamento: Projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); processo no 440691/2016-8.

Referências bibliográficas

  • 1.
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
    » https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_5ed.pdf
  • 2.
    World Health Organization. Global hepatitis report 2017 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2017 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://apps.who.int/iris/handle/10665/255016
    » https://apps.who.int/iris/handle/10665/255016
  • 3.
    Brasil. Boletim epidemiológico de hepatites virais [Internet]. Brasília: Distrito Federal; 2022 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/boletim-epidemiologico-de-hepatites-virais-2022-numero-especial/view
    » https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/boletim-epidemiologico-de-hepatites-virais-2022-numero-especial/view
  • 4.
    Brasil. Norma Regulamentadora no 32 [Internet]. 2020 [Access on Dec. 27, 2023]. Available at: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-32-nr-32
    » https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-32-nr-32
  • 5.
    Morais LQ, Motta-Castro ARC, Frota OP, Contrera L, Carvalho PRT, Fernandes FRP. Hepatite B em profissionais de enfermagem: prevalência e fatores ocupacionais de risco. Rev Enferm UERJ. 2016, 24(3): e11143. https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.11143
    » https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.11143
  • 6.
    Martins AMEBL, Costa FM, Ferreira RC, Santos Neto PE, Magalhaes TA, Sá MAB, et al. Fatores associados à imunização contra Hepatite B entre trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Enferm 2015; 68(1): 84-92. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680112p
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680112p
  • 7.
    Souza FO, Araújo TM. Exposição ocupacional e vacinação para hepatite B entre trabalhadores da atenção primária e média complexidade. Rev Bras Med Trab 2018; 16(1): 36-43. https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
    » https://doi.org/10.5327/Z1679443520180091
  • 8.
    World Health Organization. Ten threats to global health in 2019 [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2019 [Access on Aug. 15, 2023]. Available at: https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019
    » https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019
  • 9.
    Araújo TM, Souza FO, Pinho PS, Werneck GL. Beliefs and sociodemographic and occupational factors associated with vaccine hesitancy among health workers. Vaccines (Basel). 2022; 10(12): 2013. https://doi.org/10.3390/vaccines10122013
    » https://doi.org/10.3390/vaccines10122013
  • 10.
    Auta A, Adewuyi EO, Kureh GT, Onoviran N, Adeloye D. Hepatitis B vaccination coverage among health-care workers in Africa: a systematic review and meta-analysis. Vaccine 2018; 36(32 Pt B): 4851-60. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2018.06.043
    » https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2018.06.043
  • 11.
    Alshammari TM, Aljofan M, Subaie G, Hussain T. Knowledge, awareness, attitude, and practice of health-care professionals toward hepatitis B disease and vaccination in Saudi Arabia. Hum Vaccin Immunother 2019; 15(12): 2816-23. https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
    » https://doi.org/10.1080/21645515.2019.1629255
  • 12.
    Yuan Q, Wang F, Zheng H, Zhang G, Miao N, Sun X, et al. Hepatitis B vaccination coverage among health care workers in China. PLoS One 2019; 14(5): e0216598. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0216598
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0216598
  • 13.
    Farias Junior YC, Souza FO, Heliotério MC, Araújo TM, Pinho PS. Hepatitis B vaccination and serology among health personnel in a municipality in the Recôncavo Baiano, Brazil, 2019. Rev Bras Med Trab 2023; 21(4): e2022975. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-975
    » https://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-975
  • 14.
    Rosenstock IM. Historical origins of the health belief model. Health Educ Monogr 1974; 2(4): 328-35. https://doi.org/10.1177/109019817400200403
    » https://doi.org/10.1177/109019817400200403
  • 15.
    Coleta MFD. O modelo de crenças em saúde (HBM): uma análise de sua contribuição à psicologia da saúde. Temas Psicol 1999; 7(2): 175-82.
  • 16.
    Champion VL, Skinner CS. The health belief model. In: Glanz K, Rimer BK, Viswanath K, eds. Health behavior and health education: theory, research, and practice. New York: John Wiley & Sons; 2008. p. 45-65.
  • 17.
    Neves CR. Instrumentos de avaliação da adesão à vacina contra influenza sazonal: revisão de literatura e adaptação para uso em profissionais de saúde brasileiros [dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2017.
  • 18.
    Yenew C, Dessie AM, Gebeyehu AA, Genet A. Intention to receive COVID-19 vaccine and its health belief model (HBM)-based predictors: a systematic review and meta-analysis. Hum Vaccin Immunother 2023; 19(1): 2207442. https://doi.org/10.1080/21645515.2023.2207442
    » https://doi.org/10.1080/21645515.2023.2207442
  • 19.
    Silva SB, Souza FO, Pinho PS, Santos DV. Health belief model in studies of influenza vaccination among health care workers. Rev Bras Med Trab 2023; 21(2): e2022839. http://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-839
    » https://doi.org/10.47626/1679-4435-2022-839
  • 20.
    Toffano SEM, Lopes LP, Erani FB, Gir E. Crenças de enfermeiros quanto à transmissão ocupacional dos vírus da hepatite B e C. Rev Enferm Cent.-Oeste Min 2012; 2(2): 195-202. https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189
    » https://doi.org/10.19175/recom.v0i0.189
  • 21.
    Brevidelli MM, Cianciarullo TI. Aplicação do modelo de crenças em saúde na prevenção dos acidentes com agulha. Rev Saúde Pública 2001; 35(2): 193-201. https://doi.org/10.1590/S0034-89102001000200014
    » https://doi.org/10.1590/S0034-89102001000200014
  • 22.
    Souza FO, Freitas PSP, Araújo TM, Gomes MR. Vacinação contra hepatite B e Anti-HBS entre trabalhadores da saúde. Cad Saúde Colet 2015; 23(2): 172-9. https://doi.org/10.1590/1414-462X201500020030
    » https://doi.org/10.1590/1414-462X201500020030
  • 23.
    Castelo A, Pessôa MG, Barreto TCBB, Alves MRD, Araújo DV. Estimativas de custo da hepatite crônica B no sistema único de saúde Brasileiro em 2005. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(6): 486-91. https://doi.org/10.1590/S0104-42302007000600013
    » https://doi.org/10.1590/S0104-42302007000600013
  • 24.
    Assunção AA, Araújo TM, Ribeiro RBN, Oliveira SVS. Vacinação contra hepatite B e exposição ocupacional no setor saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais. Rev Saúde Pública 2012; 46(4): 665-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000042
    » https://doi.org/10.1590/S0034-89102012005000042
  • 25.
    Nouetchognou JS, Ateudjieu J, Jemea B, Mbanya D. Accidental exposures to blood and body fluids among health care workers in a Referral Hospital of Cameroon. BMC Res Notes 2016; 9: 94. https://doi.org/10.1186/s13104-016-1923-8
    » https://doi.org/10.1186/s13104-016-1923-8
  • 26.
    Silva SS, Oliveira VC, Ribeiro HCTC, Alves TGS, Cavalcante RB, Guimarães EAA. Análise dos eventos adversos após aplicação de vacinas em Minas Gerais, 2011: um estudo transversal. Epidemiol Serv Saúde 2016; 25(1): 45-54. https://doi.org/10.5123/S1679-49742016000100005
    » https://doi.org/10.5123/S1679-49742016000100005
  • 27.
    Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
  • 28.
    Costa FM, Cardoso LL, Souto AMR, Gomes DL, Nassau DC, Lafetá KRG, et al. Validação do relato de vacinação contra hepatite B como medida da situação vacinal entre universitários da área da saúde. Rev Norte Mineira de Enferm 2021; 10(2): 112-20. https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100212
    » https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100212

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    05 Set 2023
  • Revisado
    15 Mar 2024
  • Aceito
    09 Abr 2024
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br