Prevalências de clamídia e gonorreia entre mulheres trans e travestis de cinco capitais brasileiras, 2019–2021

Katia Cristina Bassichetto Sandro Sperandei Daniel Jason McCartney Carla Gianna Luppi Roberto José Carvalho da Silva Sandra Araújo Laio Magno Maria Luíza Bazzo Gwenda Hughes Philippe Mayaud Inês Dourado Maria Amélia de Sousa Mascena Veras Sobre os autores

RESUMO

Objetivo:

Estimar as prevalências e os fatores associados à detecção de Chlamydia trachomatis (CT) e Neisseria gonorrhoeae (NG) em mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras.

Métodos:

Os dados vieram de um estudo transversal, realizado entre 2019 e 2021, com pessoas recrutadas por RDS (respondent driven sampling) em São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre e Salvador. Analisou-se a detecção de CT e NG, em três sítios de coleta (anorretal, orofaríngeo e uretral). Para identificação dos fatores associados empregaram-se modelos logísticos com efeitos mistos.

Resultados:

Forneceram material biológico para detecção dessas infecções 1.297 participantes recrutadas. As prevalências de CT, NG e coinfecção foram, respectivamente, 11,5, 13,3 e 3,6%. Foram independentemente associados à detecção para CT: trabalho sexual no passado (odds ratio — OR=1,73; intervalos de confiança para 95% — IC95% 1,02–2,95), no momento atual (OR=2,13; IC95% 1,23–3,69) e como atividade parcial (OR=2,75; IC95% 1,60–4,75) e uso de drogas injetáveis na vida (OR=3,54; IC95% 1,49–8,40). Para NG: uso de drogas injetáveis na vida (OR=1,91; IC95% 1,28–2,84) e orientação sexual – heterossexuais (OR=3,44; IC95% 1,35–8,82), homossexuais (OR=5,49; IC95% 1,89–15,97) e bissexuais (OR=3,21; IC95% 1,06–9,68). Para coinfecção: uso de drogas nos últimos 12 meses (OR=2,34; IC95% 1,10–5,00). Ser mais jovem foi associada a todos os desfechos investigados.

Conclusão:

As prevalências estimadas de CT, NG e de coinfecção foram desproporcionalmente mais elevadas entre as mulheres trans e travestis se comparadas à população geral, especialmente entre as mais jovens, que exerciam trabalho sexual e faziam uso de drogas.

Palavras-chave:
Epidemiologia; Infecções sexualmente transmissíveis; Mulher transexual; Travesti; Chlamydia; Gonorreia

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou aproximadamente 374 milhões de novas infecções sexualmente transmissíveis (IST) em 2020, estando entre as mais prevalentes as por Chlamydia trachomatis (CT) e Neisseria gonorrhoeae (NG), com, respectivamente, 128,5 e 82,4 milhões de casos, sendo 29,8 e 13,8 milhões nas Américas. Constituem um problema de saúde pública, gerando elevados custos11. World Health Organization. Global progress report on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections, 2021. Geneva: WHO; 2021.. A coinfecção apresenta grande variação entre países e grupos populacionais. Há poucos estudos na população trans, conhecimento fundamental para orientar intervenções e aprimorar políticas para essa população22. Ramadhani HO, Crowell TA, Nowak RG, Ndembi N, Kayode BO, Kokogho A, et al. Association of age with healthcare needs and engagement among Nigerian men who have sex with men and transgender women: cross-sectional and longitudinal analyses from an observational cohort. J Int AIDS Soc. 2020; 23(Suppl 6): e25599. https://doi.org/10.1002/jia2.25599
https://doi.org/10.1002/jia2.25599...

3. Sedeh FB, Thomsen SF, Larsen HK, Westh H, Salado-Rasmussen K. Sex-associated risk factors for co-infection with Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae among patients presenting to a sexually transmitted infection clinic. Acta Derm Venereol 2021; 101(1): adv00356. https://doi.org/10.2340/00015555-3721
https://doi.org/10.2340/00015555-3721...

4. Seo Y, Choi KH, Lee G. Characterization and trend of co-infection with Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis from the Korean National Infectious Diseases Surveillance Database. World J Mens Health 2021; 39(1): 107-15. https://doi.org/10.5534/wjmh.190116
https://doi.org/10.5534/wjmh.190116...
-55. Ye ZH, Chen S, Liu F, Cui ST, Liu ZZ, Jiang YJ, et al. Patterns of sexually transmitted co-infections and associated factors among men who have sex with men: a cross-sectional study in shenyang, China. Front Public Health 2022; 10: 842644. https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.842644
https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.84264...
.

A prevenção e o controle da CT e da NG estão previstos nas estratégias globais para a saúde e incluem o compromisso de redução da incidência de NG em 90% até 2030, com foco em populações mais vulnerabilizadas para IST66. World Health Organization. Global health sector strategies on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections for the period 2022-2030. Geneva: WHO; 2022., e o fortalecimento do Programa de Resistência Antimicrobiana para Gonorreia (GASP)77. Machado HM, Martins JM, Schörner MA, Gaspar PC, Bigolin A, Ramos MC, et al. National surveillance of Neisseria gonorrhoeae antimicrobial susceptibility and epidemiological data of gonorrhoea patients across Brazil, 2018-20. JAC Antimicrob Resist 2022; 4(4): dlac076. https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076
https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076...

8. Wi T, Lahra MM, Ndowa F, Bala M, Dillon JAR, Ramon-Pardo P, et al. Antimicrobial resistance in Neisseria gonorrhoeae: global surveillance and a call for international collaborative action. PLOS Med 2017; 14(7): e1002344. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002344
https://doi.org/10.1371/journal.pmed.100...
-99. Witkin SS, Minis E, Athanasiou A, Leizer J, Linhares IM. Chlamydia trachomatis: the persistent pathogen. Clin Vaccine Immunol 2017; 24(10): e00203-17. https://doi.org/10.1128/CVI.00203-17
https://doi.org/10.1128/CVI.00203-17...
.

As prevalências dessas infecções têm sido investigadas em diversos contextos, sendo elevadas entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans, e apresentam grande variabilidade, a depender do sítio anatômico1010. Chan PA, Robinette A, Montgomery M, Almonte A, Cu-Uvin S, Lonks JR, et al. Extragenital infections caused by Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae: a review of the literature. Infect Dis Obstet Gynecol 2016; 2016: 5758387. https://doi.org/10.1155/2016/5758387
https://doi.org/10.1155/2016/5758387...
,1111. Van Gerwen OT, Jani A, Long DM, Austin EL, Musgrove K, Muzny CA. Prevalence of sexually transmitted infections and human immunodeficiency virus in transgender persons: a systematic review. Transgender Health 2020; 5(2): 90-103. https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053
https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053...
. Mais da metade das infecções extragenitais é assintomática ou oligossintomática, contribuindo para manter a cadeia de transmissão1212. Tuddenham S, Hamill MM, Ghanem KG. Diagnosis and treatment of sexually transmitted infections: a review. JAMA 2022; 327(2): 161-72. https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487
https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487...
.

Diversas instituições internacionais de saúde pública e sexual têm recomendado a disponibilização do rastreamento de CT e NG para as populações de maior risco, incluindo a transexual66. World Health Organization. Global health sector strategies on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections for the period 2022-2030. Geneva: WHO; 2022..

No Brasil, essas estratégias continuam um desafio, especialmente pela dificuldade da ampliação da detecção do agente etiológico no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda restrita às unidades sentinelas, porém há perspectivas de expansão77. Machado HM, Martins JM, Schörner MA, Gaspar PC, Bigolin A, Ramos MC, et al. National surveillance of Neisseria gonorrhoeae antimicrobial susceptibility and epidemiological data of gonorrhoea patients across Brazil, 2018-20. JAC Antimicrob Resist 2022; 4(4): dlac076. https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076
https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076...
,1313. Miranda AE, Freitas FLS, Passos MRL, Lopez MAA, Pereira GFM. Políticas públicas em infecções sexualmente transmissíveis no Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30(spe1): e2020611. https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100019.esp1
https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100...
,1414. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Coordenação0Geral e Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis. Relatório de monitoramento da sensibilidade do gonococo aos antimicrobianos no Brasil (Vigilância Sentinela – Projeto Sengono). Brasília: Ministério da Saúde; 2023..

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Atenção Integral às Pessoas com IST, elaborado pelo Ministério da Saúde (MS)1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2022., recomenda o rastreamento semestral, com coleta de swab anal para detecção de CT e NG, para as pessoas com prática anal receptiva, sem proteção de barreira. Para viabilizar o diagnóstico e tratamento adequados de assintomáticos(as) e parceiros(as), o MS tem ofertado testes para detecção desses patógenos, buscando atender às prioridades no cuidado integral às pessoas com IST1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.. Entretanto, o rastreamento ainda não está completamente implantado na rotina de atenção e muitas infecções extragenitais não têm sido diagnosticadas, podendo levar a complicações, como dor crônica e proctite1616. Fernandes LB, Arruda JT, Approbato MS, García-Zapata MTA. Infecção por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae: fatores associados à infertilidade em mulheres atendidas em um serviço público de reprodução humana. Rev Bras Ginecol Obstet 2014; 36(8): 353-8. https://doi.org/10.1590/SO100-720320140005009
https://doi.org/10.1590/SO100-7203201400...
, e aumentando o risco de transmissão de HIV1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2022..

Alguns estudos investigaram a prevalência de CT e NG em populações: HSH22. Ramadhani HO, Crowell TA, Nowak RG, Ndembi N, Kayode BO, Kokogho A, et al. Association of age with healthcare needs and engagement among Nigerian men who have sex with men and transgender women: cross-sectional and longitudinal analyses from an observational cohort. J Int AIDS Soc. 2020; 23(Suppl 6): e25599. https://doi.org/10.1002/jia2.25599
https://doi.org/10.1002/jia2.25599...
,55. Ye ZH, Chen S, Liu F, Cui ST, Liu ZZ, Jiang YJ, et al. Patterns of sexually transmitted co-infections and associated factors among men who have sex with men: a cross-sectional study in shenyang, China. Front Public Health 2022; 10: 842644. https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.842644
https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.84264...
,1717. Bristow CC, Silva CE, Vera AH, Gonzalez-Fagoaga JE, Rangel G, Pines HA. Prevalence of bacterial sexually transmitted infections and coinfection with HIV among men who have sex with men and transgender women in Tijuana, Mexico. Int J STD AIDS 2021; 32(8): 751-7. https://doi.org/10.1177/0956462420987757
https://doi.org/10.1177/0956462420987757...

18. Cunha CB, Friedman RK, Boni RB, Gaydos C, Guimarães MRC, Siqueira BH, et al. Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae and syphilis among men who have sex with men in Brazil. BMC Public Health 2015; 15: 686. https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-0
https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-...
-1919. Oliveira CM, Marques LM, Medeiros DS, Salgado VJ, Soares F, Magno L, et al. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infections among adolescent men who have sex with men and transgender women in Salvador, Northeast Brazil. Epidemiol Infect 2023; 151: e196. https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
https://doi.org/10.1017/S095026882300170...
, usuários de clínicas de IST33. Sedeh FB, Thomsen SF, Larsen HK, Westh H, Salado-Rasmussen K. Sex-associated risk factors for co-infection with Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae among patients presenting to a sexually transmitted infection clinic. Acta Derm Venereol 2021; 101(1): adv00356. https://doi.org/10.2340/00015555-3721
https://doi.org/10.2340/00015555-3721...
,44. Seo Y, Choi KH, Lee G. Characterization and trend of co-infection with Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis from the Korean National Infectious Diseases Surveillance Database. World J Mens Health 2021; 39(1): 107-15. https://doi.org/10.5534/wjmh.190116
https://doi.org/10.5534/wjmh.190116...
,2020. Callander D, Cook T, Read P, Hellard ME, Fairley CK, Kaldor JM, et al. Sexually transmissible infections among transgender men and women attending Australian sexual health clinics. Med J Aust 2019; 211(9): 406-11. https://doi.org/10.5694/mja2.50322
https://doi.org/10.5694/mja2.50322...
,2121. Barbosa MJ, Moherdaui F, Pinto VM, Ribeiro D, Cleuton M, Miranda AE. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infection in men attending STD clinics in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(5): 500-3. https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000500005
https://doi.org/10.1590/S0037-8682201000...
, pessoas com HIV2222. Miranda AE, Silveira MF, Travassos AG, Tenório T, Val ICC, Lannoy L, et al. Prevalence of Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhea and associated factors among women living with Human Immunodeficiency Virus in Brazil: a multicenter study. Braz J Infect Dis 2017; 21(4): 402-7. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.014
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.0...
,2323. Keaveney S, Sadlier C, O’Dea S, Delamere S, Bergin C. High prevalence of asymptomatic sexually transmitted infections in HIV-infected men who have sex with men: a stimulus to improve screening. Int J STD AIDS 2014; 25(10): 758-61. https://doi.org/10.1177/0956462414521165
https://doi.org/10.1177/0956462414521165...
, parturientes2424. Pinto VM, Szwarcwald CL, Baroni C, Stringari LL, Inocêncio LA, Miranda AE. Chlamydia trachomatis prevalence and risk behaviors in parturient women aged 15 to 24 in Brazil. Sex Transm Dis 2011; 38(10): 957-61. https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e31822037fc
https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e318220...
, mulheres em serviços de reprodução humana1616. Fernandes LB, Arruda JT, Approbato MS, García-Zapata MTA. Infecção por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae: fatores associados à infertilidade em mulheres atendidas em um serviço público de reprodução humana. Rev Bras Ginecol Obstet 2014; 36(8): 353-8. https://doi.org/10.1590/SO100-720320140005009
https://doi.org/10.1590/SO100-7203201400...
e mulheres jovens sexualmente ativas2525. Piazzetta RCPS, Carvalho NS, Andrade RP, Piazzetta G, Piazzetta SR, Carneiro R. Prevalência da infecção por Chlamydia Trachomatis e Neisseria Gonorrhoea em mulheres jovens sexualmente ativas em uma cidade do Sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2011; 33(11): 328-33. https://doi.org/10.1590/S0100-72032011001100002
https://doi.org/10.1590/S0100-7203201100...
. Quando envolvem a população trans, esta se encontra em amostras reduzidas ou restritas a serviços especializados22. Ramadhani HO, Crowell TA, Nowak RG, Ndembi N, Kayode BO, Kokogho A, et al. Association of age with healthcare needs and engagement among Nigerian men who have sex with men and transgender women: cross-sectional and longitudinal analyses from an observational cohort. J Int AIDS Soc. 2020; 23(Suppl 6): e25599. https://doi.org/10.1002/jia2.25599
https://doi.org/10.1002/jia2.25599...
,1010. Chan PA, Robinette A, Montgomery M, Almonte A, Cu-Uvin S, Lonks JR, et al. Extragenital infections caused by Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae: a review of the literature. Infect Dis Obstet Gynecol 2016; 2016: 5758387. https://doi.org/10.1155/2016/5758387
https://doi.org/10.1155/2016/5758387...
,1212. Tuddenham S, Hamill MM, Ghanem KG. Diagnosis and treatment of sexually transmitted infections: a review. JAMA 2022; 327(2): 161-72. https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487
https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487...
,1717. Bristow CC, Silva CE, Vera AH, Gonzalez-Fagoaga JE, Rangel G, Pines HA. Prevalence of bacterial sexually transmitted infections and coinfection with HIV among men who have sex with men and transgender women in Tijuana, Mexico. Int J STD AIDS 2021; 32(8): 751-7. https://doi.org/10.1177/0956462420987757
https://doi.org/10.1177/0956462420987757...
,1919. Oliveira CM, Marques LM, Medeiros DS, Salgado VJ, Soares F, Magno L, et al. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infections among adolescent men who have sex with men and transgender women in Salvador, Northeast Brazil. Epidemiol Infect 2023; 151: e196. https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
https://doi.org/10.1017/S095026882300170...
,2020. Callander D, Cook T, Read P, Hellard ME, Fairley CK, Kaldor JM, et al. Sexually transmissible infections among transgender men and women attending Australian sexual health clinics. Med J Aust 2019; 211(9): 406-11. https://doi.org/10.5694/mja2.50322
https://doi.org/10.5694/mja2.50322...
. É importante realizar estimativas dessas infecções em mulheres trans e travestis, recrutadas por pares e não somente vinculadas a serviços especializados.

O objetivo deste estudo foi estimar as prevalências e os fatores associados às infecções por CT, NG e coinfecção, segundo sítio anatômico (anal, oral e uretral) e presença de sinais e sintomas, em mulheres trans e travestis, em cinco capitais brasileiras.

MÉTODOS

Desenho

Foram utilizados dados do TransOdara, estudo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa, realizado entre 2019 e 2021, em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre e Salvador), para estimar a prevalência de oito IST, incluindo CT e NG. Procurou ainda demonstrar a viabilidade da estratégia point-of-care em fornecer, quando possível, recursos para prevenção e tratamento disponíveis no SUS (profilaxias pré- e pós-exposição ao HIV e vacinas contra hepatite B e HPV) e/ou tratamentos para IST em geral, no mesmo dia da participação na pesquisa ou por meio de encaminhamentos mediados pelos(as) pesquisadores(as)2626. Veras MASM, Pinheiro TF, Galan L, et al. TransOdara study: The challenge of integrating methods, settings and procedures during the COVID-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2024; 27(Suppl 1): e240002.supl.1. https://doi.org/10.1590/1980-549720240002.supl.1
https://doi.org/10.1590/1980-54972024000...
.

A coleta de dados foi realizada nos locais designados para o desenvolvimento da pesquisa, e o fluxo previa desde confirmação de elegibilidade, oferta de testes laboratoriais, entrevista e aplicação de questionário sociocomportamental, pré- e pós-consulta de enfermagem, consulta médica, incluindo exame físico, independentemente da presença de sinais e sintomas e encaminhamentos quando indicados. Os instrumentos utilizados foram os Formulários de Pré-elegibilidade, de Aceitabilidade de Coleta Pré-Consulta e de Procedimentos Pré-Consulta, de Avaliação Clínica e Seguimento, de Aceitabilidade de Coleta e de Procedimentos Pós-Consulta e de Avaliação Laboratorial, além do questionário sociocomportamental.

Amostra

A técnica de amostragem utilizada foi respondent driven sampling (RDS), apropriada para recrutar populações de difícil acesso2727. Heckathorn DD. Respondent-driven sampling: a new approach to the study of hidden populations. Soc Probl 1997; 44(2): 174-99. https://doi.org/10.2307/3096941
https://doi.org/10.2307/3096941...
, sendo incluídas 1.317 participantes. O detalhamento das estratégias de recrutamento, dos critérios de elegibilidade, do cálculo da amostra e do fluxo da pesquisa está no artigo metodológico, neste suplemento2626. Veras MASM, Pinheiro TF, Galan L, et al. TransOdara study: The challenge of integrating methods, settings and procedures during the COVID-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2024; 27(Suppl 1): e240002.supl.1. https://doi.org/10.1590/1980-549720240002.supl.1
https://doi.org/10.1590/1980-54972024000...
.

Prevalências de clamídia e gonorreia e variáveis selecionadas

Foram realizadas coletas (por profissional de saúde ou por autocoleta) de amostras de urina, swab retal e orofaríngeo com o Multi-collect kit, a depender da opção da participante. As que optaram por autocoleta receberam orientação padronizada, incluindo folhetos ilustrativos, e a realizaram no próprio local da pesquisa.

A variável dependente foi o resultado detectável para CT ou NG, em pelo menos um dos sítios de coleta e para coinfecção CT/NG, segundo cidades de realização da pesquisa e presença de sinais e sintomas (somente corrimento uretral, somente corrimento anal ou ambos).

As amostras coletadas em São Paulo (Centro de Referência e Tratamento em IST/Aids de São Paulo) eram levadas diariamente para o laboratório que funcionava na mesma unidade na qual a pesquisa foi realizada. As coletadas nas demais capitais foram enviadas por via aérea para São Paulo, acondicionadas em caixas de transporte com gelo seco para análise nesse mesmo laboratório. Imediatamente após o recebimento, eram conservadas no Multi-collect kit e armazenadas em freezer a -20°C, até que se realizasse o processamento no equipamento M2000 SP/RT da Abbott. A estabilidade prevista das amostras após coleta era de 90 dias.

O método de detecção para CT e NG foi Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), e os critérios para estabelecer a validade do procedimento do ensaio e para determinação qualitativa do plasmídeo de DNA de CT e do DNA genômico de NG em amostras de swabs foram Abbott Real Time CT/NG Controls.

As variáveis independentes analisadas para caracterização socioeconômica e demográfica foram: idade (18–25; 26–36; 37 anos ou mais); raça/cor (branca; preta/parda; outra); religião (sem religião; afro-brasileira; evangélica; católica); orientação sexual (pansexual; heterossexual; homossexual, gay ou lésbica); situação conjugal (casada; em um relacionamento; solteira); escolaridade (ensino fundamental; ensino médio e universitário); situação de moradia (própria; alugada; com amigos/família; instável); trabalho sexual (nunca; apenas no passado; atual, parcialmente; atual como atividade principal); e as demais categorizadas em “sim/não”: uso de drogas nos últimos 12 meses e uso de drogas injetáveis na vida, histórico de encarceramento, histórico de agressão, consentimento na primeira relação sexual, uso de preservativo na primeira relação sexual, com último parceiro fixo e com último parceiro casual.

Análise estatística

Foi realizada análise descritiva para as variáveis explicativas, apresentadas como frequências absolutas e relativas, construídos modelos logísticos univariados com efeitos mistos para as cidades de coleta e selecionadas as variáveis com p-valor menor ou igual a 0,3 para construção dos modelos multivariados finais2828. Sperandei S. Understanding logistic regression analysis. Biochem Med (Zagreb) 2014; 24(1): 12-8. https://doi.org/10.11613/BM.2014.003
https://doi.org/10.11613/BM.2014.003...
. Para tanto, utilizou-se o pacote StatisticalModels, a estratégia backward stepwise e o critério da máxima verossimilhança. Não foram utilizados os pesos RDS por não apresentarem vantagens e por poderem dar origem a resultados enviesados2929. Sperandei S, Bastos LS, Ribeiro-Alves M, Reis A, Bastos FI. Assessing logistic regression applied to respondent-driven sampling studies: a simulation study with an application to empirical data. Int J Soc Res Methodol 2023; 26(3): 319-33. https://doi.org/10.1080/13645579.2022.2031153
https://doi.org/10.1080/13645579.2022.20...
. Os resultados dos modelos logísticos foram apresentados em razão de chances (odds ratio – OR) e intervalos de confiança para 95% (IC95%). Todas as análises foram realizadas em R, versão 4.3.13030. R. Team. R: A language and environment for statistical computing [Internet]. MSOR Connect, 2014 [cited on Dec 15, 2023]. Available at: https://www.semanticscholar.org/paper/R%3A-A-language-and-environment-for-statistical-Team/659408b243cec55de8d0a3bc51b81173007aa89b
https://www.semanticscholar.org/paper/R%...
.

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (CAAE 05585518.7.0000.5479 - Nº parecer: 3.126.815 - 30/01/2019), assim como pelas demais instituições participantes. O consentimento informado foi obtido de todas as participantes incluídas2626. Veras MASM, Pinheiro TF, Galan L, et al. TransOdara study: The challenge of integrating methods, settings and procedures during the COVID-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2024; 27(Suppl 1): e240002.supl.1. https://doi.org/10.1590/1980-549720240002.supl.1
https://doi.org/10.1590/1980-54972024000...
.

RESULTADOS

Neste estudo, forneceram os materiais biológicos (urina, swab orofaringe e/ou anal) para detecção de CT e/ou NG, 98,5% das participantes recrutadas no TransOdara (1.297/1.317) — Campo Grande (n=181), Manaus (n=335), Porto Alegre (n=189), Salvador (n=190) e São Paulo (n=402). A média de idade dessas participantes foi de 32,5 anos (desvio-padrão – DP=9,88). A maioria (70%) se autorreferiu com cor da pele preta/parda; 36,5% sem religião; 78,3% heterossexual; 71,8% solteira; e 70% cursando ou com o ensino médio completo; cerca de 85% das participantes viviam com baixa renda — 43,8% recebiam menos de um salário mínimo; 36,2% viviam em moradia alugada e 21,3% exerciam o trabalho sexual como ocupação principal. O uso de drogas nos últimos 12 meses e o uso de drogas injetáveis em algum momento da vida foram referidos, respectivamente, por 64,3 e 2,2% delas; 22,7% já haviam sido presas e 50,3% já haviam sofrido agressão sexual alguma vez na vida; 14,2% referiram que a primeira relação sexual foi forçada; e nos últimos 6 meses, 31 e 16,3% não usaram preservativo com o(a) último(a) parceiro(a) fixo(a) ou com o(a) parceiro(a) comercial, respectivamente.

As prevalências dessas infecções, segundo as cidades, constam da Tabela 1. Das 1.297 participantes, 11,5% (IC95% 9,8–13,2) apresentaram detecção para CT, 13,3% (IC95% 11,5–15,1) para NG e 3,6% (IC95% 2,6–4,6) para coinfecção. Independentemente do tipo de material, as prevalências para CT variaram entre 15,3% (IC95% 10,1–20,5) (Salvador) e 8,8% (IC95% 4,6–13,0) (Campo Grande); para NG, entre 19,7% (IC95% 15,4–24,0) (Manaus) e 8,5% (IC95% 5,8–11,2) (São Paulo); e para coinfecção, entre 6,3% (IC95% 2,8–9,8) (Salvador) e 2,1% (IC95% 0,0–4,2) (Porto Alegre), não sendo verificada diferença estatisticamente significante segundo elas.

Tabela 1
Estimativas de prevalência (n, % e IC95%) de clamídia, gonorreia e coinfecção, entre mulheres trans e travestis, em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.

A distribuição de casos positivos para CT e NG, segundo tipo de material (Figura 1), permite verificar em que proporção essas infecções se apresentam isoladamente ou concomitantemente. No total, das 111 participantes com infecção anorretal para CT, 67% apresentaram somente anorretais; 5%, anorretais e orofaríngeas; e 2%, anorretais e uretrais. Nenhuma apresentou infecção em todos os materiais biológicos. Das 174 que tiveram detecção de NG, 40% foram só anorretais, 34% só orofaríngeas, 24% anorretais e orofaríngeas, apenas 1% anorretal e uretral, e 1% anal, oral e uretral.

Figura 1
Diagrama de Venn de casos positivos de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, segundo sítio anatômico de coleta, entre mulheres trans e travestis, em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.

Das 552 participantes que permitiram exame genital, apenas 1,3% apresentaram corrimento, das quais cinco era corrimento anal e duas corrimento uretral.

Considerando o total da amostra, as prevalências das infecções anorretais por CT — 8,5% (IC95% 7,0–10,0) e por NG — 8,7% (IC95% 7,2–10,2), tenderam a ser mais prevalentes do que as orofaríngeas — 3,2% (IC95% 2,2–4,2) e 7,9% (IC95% 6,4–9,4), respectivamente —, e as uretrais foram menos prevalentes — 0,7% (IC95% 0,2–1,2) e 0,2% (IC95% 0,0–0,4), porém sem diferença estatisticamente significante. Na comparação entre as cidades, para CT, as anorretais variaram de 9,5% (IC95% 5,3–13,7 — Salvador) a 6,1% (IC95% 2,6–9,6 — Campo Grande); as orofaríngeas, de 5,8% (IC95% 2,5–9,1 — Salvador) a 1,2% (IC95% 0,1–2,3 — São Paulo); e as uretrais, de 1,6% (IC95% 0,0–3,4 — Porto Alegre) a 0,5% (IC95% 0,0–1,5 — Salvador) — e São Paulo (IC95% 0,0–1,2), porém sem significância estatística. Para NG, as infecções dos sítios anorretais variaram de 13,1% (IC95% 9,5–16,7 — Manaus) a 4,4% (IC95% 1,4–7,4 — Campo Grande), diferença estatisticamente significante. O mesmo ocorreu com as orofaríngeas, que variaram de 12,2% (IC95% 8,7–15,7 — Manaus) a 5,2% (IC95% 3,0–7,4 — São Paulo). As menos prevalentes foram as uretrais, em Manaus: apenas 0,6% (IC95% 0,0–1,4) (Tabela 2).

Tabela 2
Estimativas de prevalência (n, % e IC95%) de clamídia e gonorreia entre mulheres trans e travestis, segundo sítio anatômico de coleta, em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.

As estimativas de prevalências para cada uma das infecções, resultantes das análises univariada e do modelo múltiplo, com OR brutos e ajustados, segundo características sociodemográficas e comportamentais, estão apresentadas na Tabela 3 (CT), na Tabela 4 (NG) e na Tabela 5 (coinfecção). Observou-se que para todas elas, tanto no modelo simples quanto no modelo ajustado, a chance de maior ocorrência esteve associada às mais jovens, parecendo diminuir nas faixas etárias mais velhas. Considerando apenas os resultados do modelo ajustado, mostraram-se associadas à maior chance de ocorrência de CT: as que exerciam trabalho sexual “apenas no passado” (OR=-1,73; IC95% 1,02–2,95), “no momento atual, parcialmente” (OR=2,75; IC95% 1,60–4,75) e “no momento atual, em período integral” (OR=2,13; IC95% 1,23–3,69), e as que referiram uso de drogas injetáveis na vida (OR=3,54; IC95% 1,49–8,40) (Tabela 3). Para NG, mostraram-se associadas as três categorias de orientação sexual — “heterossexuais”, “bissexuais” e “homossexuais” —, das quais a última apresentou pontualmente maior chance de associação (OR=5,49; IC95% 1,89–15,97), e as que referiram uso de drogas injetáveis na vida (OR=1,91; IC95% 1,28–2,84) (Tabela 4). Para coinfecção, as que apresentaram maior chance de ocorrência dessa condição foram as que exerciam trabalho sexual “no momento atual, em período parcial” (OR=2,36; IC95% 1,01–5,51), e as que referiram uso de drogas nos últimos 12 meses (OR=2,34; IC95% 1,10–5,00) (Tabela 5).

Tabela 3
Características sociodemográficas e comportamentais (n e %, OR, OR ajustado e IC95%) de mulheres trans e travestis, segundo detecção de clamídia, em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.
Tabela 4
Características sociodemográficas e comportamentais (n e %, OR, OR ajustado e IC95%) de mulheres trans e travestis, segundo detecção de gonorreia, em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.
Tabela 5
Características sociodemográficas e comportamentais (n e %, OR, OR ajustado e IC95%) de mulheres trans e travestis, segundo detecção de coinfecção (clamídia e gonorreia), em cinco capitais brasileiras. Estudo TransOdara, 2019–2021.

As variáveis associadas a cada uma das infecções analisadas, no modelo univariado, mas que não se mantiveram associadas no modelo múltiplo, foram: CT — “situação conjugal”, “uso de drogas nos últimos 12 meses” e “uso de drogas injetáveis na vida”; NG — “situação conjugal”, “trabalho sexual” e “uso de drogas nos últimos 12 meses”; e coinfecção — “trabalho sexual”.

DISCUSSÃO

Considerando as estimativas de prevalências pontuais de infecções por CT e NG entre as mulheres trans e travestis, este estudo revelou que variaram entre as cidades e os sítios anatômicos de coleta, embora sem diferença estatisticamente significante. Os maiores valores foram para as infecções anorretais, seguidas das orofaríngeas e das uretrais. Quanto às características sociodemográficas, a idade (ser mais jovem) foi o único fator comum associado à maior ocorrência de CT, NG e coinfecção. Para CT, outras variáveis associadas foram “trabalho sexual” e “uso de drogas injetáveis na vida”; para NG, “uso de drogas injetáveis na vida”, assim como “orientação sexual”; e para coinfecção, “trabalho sexual”, além de “uso de drogas nos últimos 12 meses” — esta associada apenas a essa condição.

Chan et al.1010. Chan PA, Robinette A, Montgomery M, Almonte A, Cu-Uvin S, Lonks JR, et al. Extragenital infections caused by Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae: a review of the literature. Infect Dis Obstet Gynecol 2016; 2016: 5758387. https://doi.org/10.1155/2016/5758387
https://doi.org/10.1155/2016/5758387...
observaram, em revisão sistemática (1981 e 2015), nos EUA, que as prevalências das infecções extragenitais por CT e NG, em HSH, variaram a depender do sítio anatômico de coleta. Neste estudo, os valores observados para CT anorretal, envolvendo mulheres trans e travestis, foram semelhantes (8,5% versus 8,9%), porém a de CT orofaríngea foi o dobro da observada naquela revisão (3,2% versus 1,7%).

Callander et al.2020. Callander D, Cook T, Read P, Hellard ME, Fairley CK, Kaldor JM, et al. Sexually transmissible infections among transgender men and women attending Australian sexual health clinics. Med J Aust 2019; 211(9): 406-11. https://doi.org/10.5694/mja2.50322
https://doi.org/10.5694/mja2.50322...
, em estudo desenvolvido na Austrália (2010 a 2017), compararam as prevalências de infecção por CT e NG entre as populações trans (1.260) e cis — homens gays e bissexuais (387.848), atendidas em 46 clínicas de IST, e verificaram que as mulheres trans apresentaram chance 1,6 vez maior de adquiri-las. No presente estudo, verificou-se que, para CT, os valores foram semelhantes (11,5% versus 10,0%), porém para NG, a prevalência foi maior do que a observada naquele país (13,3% versus 8,6%).

Revisão sistemática conduzida por Van Gerwen et al.1111. Van Gerwen OT, Jani A, Long DM, Austin EL, Musgrove K, Muzny CA. Prevalence of sexually transmitted infections and human immunodeficiency virus in transgender persons: a systematic review. Transgender Health 2020; 5(2): 90-103. https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053
https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053...
, com população transexual, incluiu 25 estudos realizados em 11 países, incluindo o Brasil. Entre mulheres trans, verificaram-se as seguintes prevalências: CT — 2,7 a 24,7% e NG — 2,1 a 19,1%, com grande variabilidade segundo sítio anatômico. As prevalências globais obtidas no presente estudo apresentaram valores contidos nessas variações: 11,5% (IC95% 6,0–17,0) e 13,3% (IC95% 8,0–18,0), respectivamente.

Ao comparar os resultados do presente estudo com um conduzido no México1717. Bristow CC, Silva CE, Vera AH, Gonzalez-Fagoaga JE, Rangel G, Pines HA. Prevalence of bacterial sexually transmitted infections and coinfection with HIV among men who have sex with men and transgender women in Tijuana, Mexico. Int J STD AIDS 2021; 32(8): 751-7. https://doi.org/10.1177/0956462420987757
https://doi.org/10.1177/0956462420987757...
, com 206 HSH e seis mulheres trans, verificou-se que as prevalências de CT, segundo sítio anatômico, para ambas as populações investigadas, foram semelhantes para as orofaríngeas (3,2% versus 2,8%), menores para as anorretais (8,5% versus 11,8%) e para as uretrais (0,2% versus 7,5%), assim como para as infecções por NG — orofaríngeas (7,9% versus 7,5%), anorretais (8,7% versus 12,3%) e uretrais (0,7% versus 4,2%). Provavelmente, as prevalências encontradas nos sítios uretrais tenham sido maiores no estudo citado por ser majoritariamente constituído de HSH. A maioria das infecções por CT e NG foi assintomática em ambos os estudos, como observado na literatura1313. Miranda AE, Freitas FLS, Passos MRL, Lopez MAA, Pereira GFM. Políticas públicas em infecções sexualmente transmissíveis no Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30(spe1): e2020611. https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100019.esp1
https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100...
.

No Brasil, poucas pesquisas investigaram a prevalência de CT e NG em população trans, dificultando a comparação com o presente estudo. Em relação às populações diversas, os resultados foram maiores que os obtidos em parturientes2424. Pinto VM, Szwarcwald CL, Baroni C, Stringari LL, Inocêncio LA, Miranda AE. Chlamydia trachomatis prevalence and risk behaviors in parturient women aged 15 to 24 in Brazil. Sex Transm Dis 2011; 38(10): 957-61. https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e31822037fc
https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e318220...
, em mulheres jovens sexualmente ativas1616. Fernandes LB, Arruda JT, Approbato MS, García-Zapata MTA. Infecção por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae: fatores associados à infertilidade em mulheres atendidas em um serviço público de reprodução humana. Rev Bras Ginecol Obstet 2014; 36(8): 353-8. https://doi.org/10.1590/SO100-720320140005009
https://doi.org/10.1590/SO100-7203201400...
,2525. Piazzetta RCPS, Carvalho NS, Andrade RP, Piazzetta G, Piazzetta SR, Carneiro R. Prevalência da infecção por Chlamydia Trachomatis e Neisseria Gonorrhoea em mulheres jovens sexualmente ativas em uma cidade do Sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2011; 33(11): 328-33. https://doi.org/10.1590/S0100-72032011001100002
https://doi.org/10.1590/S0100-7203201100...
e em mulheres com HIV2222. Miranda AE, Silveira MF, Travassos AG, Tenório T, Val ICC, Lannoy L, et al. Prevalence of Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhea and associated factors among women living with Human Immunodeficiency Virus in Brazil: a multicenter study. Braz J Infect Dis 2017; 21(4): 402-7. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.014
https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.0...
. Já estudo conduzido em seis cidades brasileiras, com 767 homens em clínicas de IST, observou prevalências superiores às deste estudo: CT (13,1% versus 11,5%) e NG (18,4% versus 13,3%)2121. Barbosa MJ, Moherdaui F, Pinto VM, Ribeiro D, Cleuton M, Miranda AE. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infection in men attending STD clinics in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(5): 500-3. https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000500005
https://doi.org/10.1590/S0037-8682201000...
.

Investigação em Salvador com 246 mulheres trans e travestis e HSH de 15 a 19 anos, de uma coorte – PrEP1519, entre 2019 e 2021, encontrou: 5,9% para infecção por CT (1,2% orofaríngea, 2,4% anorretal e 1,9% uretral); e 17,9% para infecção por NG (9,4% orofaríngea, 7,8% anorretal e 1,9% uretral)1919. Oliveira CM, Marques LM, Medeiros DS, Salgado VJ, Soares F, Magno L, et al. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infections among adolescent men who have sex with men and transgender women in Salvador, Northeast Brazil. Epidemiol Infect 2023; 151: e196. https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
https://doi.org/10.1017/S095026882300170...
, prevalências menores que as das amostras coletadas em Salvador no presente estudo — respectivamente, CT e NG: global (15,3 e 16,3%), orofaríngea (5,8 e 8,9%), anorretal (9,5 e 11,1%) e uretral (0,5 e 0,0%).

Estudo conduzido no Rio de Janeiro, com 391 HSH com e sem HIV, também observou prevalências maiores para CT do que as do presente estudo — CT anorretal (10,4% versus 8,5%) e uretral (2,2% versus 0,7%) — e menor para NG anorretal (2,5% versus 8,7%)1818. Cunha CB, Friedman RK, Boni RB, Gaydos C, Guimarães MRC, Siqueira BH, et al. Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae and syphilis among men who have sex with men in Brazil. BMC Public Health 2015; 15: 686. https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-0
https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-...
.

A prevalência de coinfecção deste estudo foi superior à verificada por Piazetta et al. para mulheres jovens no Sul do Brasil2525. Piazzetta RCPS, Carvalho NS, Andrade RP, Piazzetta G, Piazzetta SR, Carneiro R. Prevalência da infecção por Chlamydia Trachomatis e Neisseria Gonorrhoea em mulheres jovens sexualmente ativas em uma cidade do Sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2011; 33(11): 328-33. https://doi.org/10.1590/S0100-72032011001100002
https://doi.org/10.1590/S0100-7203201100...
(3,6% versus 0,9%) e por Oliveira et al. para adolescentes HSH e trans em Salvador (3,6% versus 0,5%)1919. Oliveira CM, Marques LM, Medeiros DS, Salgado VJ, Soares F, Magno L, et al. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infections among adolescent men who have sex with men and transgender women in Salvador, Northeast Brazil. Epidemiol Infect 2023; 151: e196. https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
https://doi.org/10.1017/S095026882300170...
.

As variações de estimativas de prevalência dessas infecções nos diferentes estudos podem ser explicadas pelo envolvimento de populações com práticas sexuais diversas. Os estudos internacionais incluem mais usuários(as) de clínicas de IST, que provavelmente apresentam mais queixas e sintomas e maior prevalência de CT e NG que a população geral. Nesse sentido, o presente estudo se destaca por ter alcançado uma amostra robusta obtida, por meio de RDS, em cinco capitais, representativas das macrorregiões brasileiras, e apesar das limitações dessa técnica de recrutamento e estimativas possivelmente mais próximas das reais.

No presente estudo, embora não tenha sido observada diferença estatisticamente significativa entre as cidades, os valores das estimativas de prevalências pontuais apresentam grande variação, provavelmente decorrente das dificuldades de acesso e dos diferentes níveis de desigualdades sociais que marcam as macrorregiões brasileiras. As maiores prevalências pontuais observadas para a infecção por CT e a coinfecção foram em Salvador, e para a infecção por NG, em Manaus.

Entre os fatores associados a essas infecções, observados no presente estudo, com exceção do uso de drogas, a idade jovem, o trabalho sexual e o tipo de prática sexual também aparecem associados em outros estudos22. Ramadhani HO, Crowell TA, Nowak RG, Ndembi N, Kayode BO, Kokogho A, et al. Association of age with healthcare needs and engagement among Nigerian men who have sex with men and transgender women: cross-sectional and longitudinal analyses from an observational cohort. J Int AIDS Soc. 2020; 23(Suppl 6): e25599. https://doi.org/10.1002/jia2.25599
https://doi.org/10.1002/jia2.25599...
,33. Sedeh FB, Thomsen SF, Larsen HK, Westh H, Salado-Rasmussen K. Sex-associated risk factors for co-infection with Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae among patients presenting to a sexually transmitted infection clinic. Acta Derm Venereol 2021; 101(1): adv00356. https://doi.org/10.2340/00015555-3721
https://doi.org/10.2340/00015555-3721...
,1212. Tuddenham S, Hamill MM, Ghanem KG. Diagnosis and treatment of sexually transmitted infections: a review. JAMA 2022; 327(2): 161-72. https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487
https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487...
,1717. Bristow CC, Silva CE, Vera AH, Gonzalez-Fagoaga JE, Rangel G, Pines HA. Prevalence of bacterial sexually transmitted infections and coinfection with HIV among men who have sex with men and transgender women in Tijuana, Mexico. Int J STD AIDS 2021; 32(8): 751-7. https://doi.org/10.1177/0956462420987757
https://doi.org/10.1177/0956462420987757...
,2121. Barbosa MJ, Moherdaui F, Pinto VM, Ribeiro D, Cleuton M, Miranda AE. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infection in men attending STD clinics in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(5): 500-3. https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000500005
https://doi.org/10.1590/S0037-8682201000...
.

Em uma revisão sistemática envolvendo estudos de IST realizados em diversos países, verificou-se que as prevalências para CT e NG nas mulheres trans apresentaram grande variabilidade. As maiores prevalências foram observadas em jovens com menos de 25 anos, minorias sexuais e de gênero, mulheres trans que fazem sexo com homens, negros e latinos1111. Van Gerwen OT, Jani A, Long DM, Austin EL, Musgrove K, Muzny CA. Prevalence of sexually transmitted infections and human immunodeficiency virus in transgender persons: a systematic review. Transgender Health 2020; 5(2): 90-103. https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053
https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053...
. O comportamento similar das variáveis associadas pode indicar que as diferenças estejam associadas a um menor poder estatístico, dada a menor quantidade de casos positivos para as duas infecções simultaneamente.

O método RDS tem sido amplamente utilizado em estudos com populações que seriam dificilmente recrutadas por outros métodos amostrais. No entanto, os resultados precisam ser interpretados com cautela, e podem ser representativos apenas das redes sociais eventualmente captadas pelo estudo, cujas características em geral são desconhecidas. Na ausência de melhores estratégias, o RDS continua a ser um método de eleição para estudos com populações de mulheres trans e travestis em vários contextos3131. Navarrete MS, Adrián C, Bachelet VC. Respondent-driven sampling: advantages and disadvantages from a sampling method. Medwave 2022; 22(1): e8513. https://doi.org/10.5867/medwave.2022.01.002528
https://doi.org/10.5867/medwave.2022.01....
.

O presente estudo contribui para atualizar a epidemiologia de IST entre mulheres trans e travestis e confirma que se apresentam em maior magnitude do que na população geral. Pelo fato de a maioria ser assintomática, seu controle continua a ser um desafio para a saúde pública, especialmente nas mais jovens, que exercem trabalho sexual e que fazem uso de drogas.

As mulheres trans e travestis constituem uma população vulnerabilizada e há barreiras que dificultam o seu acesso a serviços de saúde, demonstrando que a legislação existente não é suficiente para reverter esse quadro3232. Carvalho AA, Barreto RCV. The invisibility of the LGBTQIA+ people in the databases: new possibilities in the 2019 National Health Research? Cienc Saude Colet 2021; 26(9): 4059-64. https://doi.org/10.1590/1413-81232021269.12002021
https://doi.org/10.1590/1413-81232021269...
. A alta vulnerabilidade desse grupo populacional pode estar associada à multiplicidade de parceiros sexuais e à violência sexual, culminando com risco aumentado às IST3333. Stroumsa D, Shires DA, Richardson CR, Jaffee KD, Woodford MR. Transphobia rather than education predicts provider knowledge of transgender health care. Med Educ 2019; 53(4): 398-407. https://doi.org/10.1111/medu.13796
https://doi.org/10.1111/medu.13796...
. As mulheres trans e travestis deste estudo apresentaram características que as tornam ainda mais vulnerabilizadas, o que confirma a importância de considerá-las como um grupo prioritário para ações de prevenção e tratamento às IST investigadas.

Esses achados confirmam ainda a importância de incluir história detalhada das práticas sexuais nos atendimentos de rotina, especialmente para as populações de maior risco epidemiológico, além da disponibilização do rastreamento para detecção dessas infecções enquanto política pública de saúde. Tal recomendação já consta de diversos protocolos clínicos para IST, incluindo o brasileiro1515. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2022..

Referências bibliográficas

  • 1.
    World Health Organization. Global progress report on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections, 2021. Geneva: WHO; 2021.
  • 2.
    Ramadhani HO, Crowell TA, Nowak RG, Ndembi N, Kayode BO, Kokogho A, et al. Association of age with healthcare needs and engagement among Nigerian men who have sex with men and transgender women: cross-sectional and longitudinal analyses from an observational cohort. J Int AIDS Soc. 2020; 23(Suppl 6): e25599. https://doi.org/10.1002/jia2.25599
    » https://doi.org/10.1002/jia2.25599
  • 3.
    Sedeh FB, Thomsen SF, Larsen HK, Westh H, Salado-Rasmussen K. Sex-associated risk factors for co-infection with Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae among patients presenting to a sexually transmitted infection clinic. Acta Derm Venereol 2021; 101(1): adv00356. https://doi.org/10.2340/00015555-3721
    » https://doi.org/10.2340/00015555-3721
  • 4.
    Seo Y, Choi KH, Lee G. Characterization and trend of co-infection with Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis from the Korean National Infectious Diseases Surveillance Database. World J Mens Health 2021; 39(1): 107-15. https://doi.org/10.5534/wjmh.190116
    » https://doi.org/10.5534/wjmh.190116
  • 5.
    Ye ZH, Chen S, Liu F, Cui ST, Liu ZZ, Jiang YJ, et al. Patterns of sexually transmitted co-infections and associated factors among men who have sex with men: a cross-sectional study in shenyang, China. Front Public Health 2022; 10: 842644. https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.842644
    » https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.842644
  • 6.
    World Health Organization. Global health sector strategies on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections for the period 2022-2030. Geneva: WHO; 2022.
  • 7.
    Machado HM, Martins JM, Schörner MA, Gaspar PC, Bigolin A, Ramos MC, et al. National surveillance of Neisseria gonorrhoeae antimicrobial susceptibility and epidemiological data of gonorrhoea patients across Brazil, 2018-20. JAC Antimicrob Resist 2022; 4(4): dlac076. https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076
    » https://doi.org/10.1093/jacamr/dlac076
  • 8.
    Wi T, Lahra MM, Ndowa F, Bala M, Dillon JAR, Ramon-Pardo P, et al. Antimicrobial resistance in Neisseria gonorrhoeae: global surveillance and a call for international collaborative action. PLOS Med 2017; 14(7): e1002344. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002344
    » https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002344
  • 9.
    Witkin SS, Minis E, Athanasiou A, Leizer J, Linhares IM. Chlamydia trachomatis: the persistent pathogen. Clin Vaccine Immunol 2017; 24(10): e00203-17. https://doi.org/10.1128/CVI.00203-17
    » https://doi.org/10.1128/CVI.00203-17
  • 10.
    Chan PA, Robinette A, Montgomery M, Almonte A, Cu-Uvin S, Lonks JR, et al. Extragenital infections caused by Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae: a review of the literature. Infect Dis Obstet Gynecol 2016; 2016: 5758387. https://doi.org/10.1155/2016/5758387
    » https://doi.org/10.1155/2016/5758387
  • 11.
    Van Gerwen OT, Jani A, Long DM, Austin EL, Musgrove K, Muzny CA. Prevalence of sexually transmitted infections and human immunodeficiency virus in transgender persons: a systematic review. Transgender Health 2020; 5(2): 90-103. https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053
    » https://doi.org/10.1089/trgh.2019.0053
  • 12.
    Tuddenham S, Hamill MM, Ghanem KG. Diagnosis and treatment of sexually transmitted infections: a review. JAMA 2022; 327(2): 161-72. https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487
    » https://doi.org/10.1001/jama.2021.23487
  • 13.
    Miranda AE, Freitas FLS, Passos MRL, Lopez MAA, Pereira GFM. Políticas públicas em infecções sexualmente transmissíveis no Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2021; 30(spe1): e2020611. https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100019.esp1
    » https://doi.org/10.1590/s1679-4974202100019.esp1
  • 14.
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Coordenação0Geral e Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis. Relatório de monitoramento da sensibilidade do gonococo aos antimicrobianos no Brasil (Vigilância Sentinela – Projeto Sengono). Brasília: Ministério da Saúde; 2023.
  • 15.
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.
  • 16.
    Fernandes LB, Arruda JT, Approbato MS, García-Zapata MTA. Infecção por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae: fatores associados à infertilidade em mulheres atendidas em um serviço público de reprodução humana. Rev Bras Ginecol Obstet 2014; 36(8): 353-8. https://doi.org/10.1590/SO100-720320140005009
    » https://doi.org/10.1590/SO100-720320140005009
  • 17.
    Bristow CC, Silva CE, Vera AH, Gonzalez-Fagoaga JE, Rangel G, Pines HA. Prevalence of bacterial sexually transmitted infections and coinfection with HIV among men who have sex with men and transgender women in Tijuana, Mexico. Int J STD AIDS 2021; 32(8): 751-7. https://doi.org/10.1177/0956462420987757
    » https://doi.org/10.1177/0956462420987757
  • 18.
    Cunha CB, Friedman RK, Boni RB, Gaydos C, Guimarães MRC, Siqueira BH, et al. Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae and syphilis among men who have sex with men in Brazil. BMC Public Health 2015; 15: 686. https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-0
    » https://doi.org/10.1186/s12889-015-2002-0
  • 19.
    Oliveira CM, Marques LM, Medeiros DS, Salgado VJ, Soares F, Magno L, et al. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infections among adolescent men who have sex with men and transgender women in Salvador, Northeast Brazil. Epidemiol Infect 2023; 151: e196. https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
    » https://doi.org/10.1017/S095026882300170X
  • 20.
    Callander D, Cook T, Read P, Hellard ME, Fairley CK, Kaldor JM, et al. Sexually transmissible infections among transgender men and women attending Australian sexual health clinics. Med J Aust 2019; 211(9): 406-11. https://doi.org/10.5694/mja2.50322
    » https://doi.org/10.5694/mja2.50322
  • 21.
    Barbosa MJ, Moherdaui F, Pinto VM, Ribeiro D, Cleuton M, Miranda AE. Prevalence of Neisseria gonorrhoeae and Chlamydia trachomatis infection in men attending STD clinics in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(5): 500-3. https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000500005
    » https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000500005
  • 22.
    Miranda AE, Silveira MF, Travassos AG, Tenório T, Val ICC, Lannoy L, et al. Prevalence of Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhea and associated factors among women living with Human Immunodeficiency Virus in Brazil: a multicenter study. Braz J Infect Dis 2017; 21(4): 402-7. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.014
    » https://doi.org/10.1016/j.bjid.2017.03.014
  • 23.
    Keaveney S, Sadlier C, O’Dea S, Delamere S, Bergin C. High prevalence of asymptomatic sexually transmitted infections in HIV-infected men who have sex with men: a stimulus to improve screening. Int J STD AIDS 2014; 25(10): 758-61. https://doi.org/10.1177/0956462414521165
    » https://doi.org/10.1177/0956462414521165
  • 24.
    Pinto VM, Szwarcwald CL, Baroni C, Stringari LL, Inocêncio LA, Miranda AE. Chlamydia trachomatis prevalence and risk behaviors in parturient women aged 15 to 24 in Brazil. Sex Transm Dis 2011; 38(10): 957-61. https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e31822037fc
    » https://doi.org/10.1097/OLQ.0b013e31822037fc
  • 25.
    Piazzetta RCPS, Carvalho NS, Andrade RP, Piazzetta G, Piazzetta SR, Carneiro R. Prevalência da infecção por Chlamydia Trachomatis e Neisseria Gonorrhoea em mulheres jovens sexualmente ativas em uma cidade do Sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2011; 33(11): 328-33. https://doi.org/10.1590/S0100-72032011001100002
    » https://doi.org/10.1590/S0100-72032011001100002
  • 26.
    Veras MASM, Pinheiro TF, Galan L, et al. TransOdara study: The challenge of integrating methods, settings and procedures during the COVID-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2024; 27(Suppl 1): e240002.supl.1. https://doi.org/10.1590/1980-549720240002.supl.1
    » https://doi.org/10.1590/1980-549720240002.supl.1
  • 27.
    Heckathorn DD. Respondent-driven sampling: a new approach to the study of hidden populations. Soc Probl 1997; 44(2): 174-99. https://doi.org/10.2307/3096941
    » https://doi.org/10.2307/3096941
  • 28.
    Sperandei S. Understanding logistic regression analysis. Biochem Med (Zagreb) 2014; 24(1): 12-8. https://doi.org/10.11613/BM.2014.003
    » https://doi.org/10.11613/BM.2014.003
  • 29.
    Sperandei S, Bastos LS, Ribeiro-Alves M, Reis A, Bastos FI. Assessing logistic regression applied to respondent-driven sampling studies: a simulation study with an application to empirical data. Int J Soc Res Methodol 2023; 26(3): 319-33. https://doi.org/10.1080/13645579.2022.2031153
    » https://doi.org/10.1080/13645579.2022.2031153
  • 30.
    R. Team. R: A language and environment for statistical computing [Internet]. MSOR Connect, 2014 [cited on Dec 15, 2023]. Available at: https://www.semanticscholar.org/paper/R%3A-A-language-and-environment-for-statistical-Team/659408b243cec55de8d0a3bc51b81173007aa89b
    » https://www.semanticscholar.org/paper/R%3A-A-language-and-environment-for-statistical-Team/659408b243cec55de8d0a3bc51b81173007aa89b
  • 31.
    Navarrete MS, Adrián C, Bachelet VC. Respondent-driven sampling: advantages and disadvantages from a sampling method. Medwave 2022; 22(1): e8513. https://doi.org/10.5867/medwave.2022.01.002528
    » https://doi.org/10.5867/medwave.2022.01.002528
  • 32.
    Carvalho AA, Barreto RCV. The invisibility of the LGBTQIA+ people in the databases: new possibilities in the 2019 National Health Research? Cienc Saude Colet 2021; 26(9): 4059-64. https://doi.org/10.1590/1413-81232021269.12002021
    » https://doi.org/10.1590/1413-81232021269.12002021
  • 33.
    Stroumsa D, Shires DA, Richardson CR, Jaffee KD, Woodford MR. Transphobia rather than education predicts provider knowledge of transgender health care. Med Educ 2019; 53(4): 398-407. https://doi.org/10.1111/medu.13796
    » https://doi.org/10.1111/medu.13796

  • FONTE DE FINANCIAMENTO: Este estudo foi financiado pela Organização Pan-Americana da Saúde / Ministério da Saúde do Brasil – Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI). Carta Acordo n° SCON2019-00162.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    30 Set 2023
  • Revisado
    21 Dez 2023
  • Aceito
    03 Jan 2024
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br