Excesso de óbitos em adultos de Santa Catarina: estudo ecológico durante a pandemia de covid-19, 2020-2021

Rebeca Heyse Holzbach Gabriel Resun Gomes da Silva Jean Carlos Bianchi Danúbia Hillesheim Fabrício Augusto Menegon Ana Luiza de Lima Curi Hallal Sobre os autores

RESUMO

Objetivo:

estimar o excesso de óbitos durante a pandemia de covid-19 em Santa Catarina e suas macrorregiões, Brasil, 2020-2021.

Métodos:

estudo ecológico, com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade; o excesso de óbitos em adultos foi calculado pela diferença entre óbitos observados e óbitos esperados, considerando-se a média das mortes ocorridas entre 2015 e 2019; foram analisadas as variáveis “macrorregião de residência”, “trimestre”, “mês”, “sexo” e “faixa etária”; os dados foram analisados descritivamente.

Resultados:

excesso de 6.315 óbitos em 2020 e de 17.391 em 2021, majoritariamente no sexo masculino (57,4%) e nas idades acima de 60 anos (74,0%); as macrorregiões e períodos com maior excedente foram aqueles com mais mortes por covid-19; o maior excesso ocorreu em março de 2021 (n = 4.207), com queda progressiva até o final do ano.

Conclusão:houve excesso de óbitos em Santa Catarina e todas as suas macrorregiões durante a pandemia de covid-19.

Palavras-chave:
Covid-19; Coronavírus; Excesso de Mortalidade; Mortalidade; Epidemiologia Descritiva

INTRODUÇÃO

Em 2021, o Brasil tornou-se o epicentro da pandemia de covid-19, chegando à média de 4 mil mortes em 24 horas.11 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Painel Coronavírus [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2022 [citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://covid.saude.gov.br/
https://covid.saude.gov.br/...
Até o final de junho de 2022, o Brasil registrou 669.530 mortes por covid-19.22 World Health Organization. WHO coronavirus (COVID-191) dashboard [Internet]. Genebra: World Health Organization; 2022 [cited 2022 Mar 8]. Available from: Available from: https://covid19.who.int/
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Entretanto, os dados parecem subestimar o impacto da covid-19 no país, não só pela expressiva subnotificação, senão, também, pelas consequências indiretas da pandemia.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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,44 Giovanella L, Bousquat A, Medina MG, Mendonça MHM, Facchini LA, Tasca R, et al. Desafios da atenção básica no enfrentamento da pandemia de COVID-19 no SUS. In: Portela MC, Reis LGC, Lima SML, editores. Covid-19: desafios para a organização e repercussões nos sistemas e serviços de saúde [online]. Rio de Janeiro: Observatório Covid-19 Fiocruz, Editora Fiocruz; 2022. p. 201-16. doi: 10.7476/9786557081587.0013
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Problemas relacionados à escassez de recursos, conflitos de interesse político-partidário, descoordenação entre as esferas do Poder Executivo e descumprimento das medidas de isolamento social culminaram no que é considerado o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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,55 Castro R. Observatório Covid-19 aponta maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2021 [atualizado 2021 Mar 17, citado 2022 mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/observatorio-covid-19-aponta-maior-colapso-sanitario-e-hospitalar-da-historia-do-brasil
https://portal.fiocruz.br/noticia/observ...
,66 Rodrigues JN, Azevedo DA. Pandemia do Coronavírus e (des)coordenação federativa: evidências de um conflito político-territorial. Espaço e Economia. 2020;18:1-11. doi: 10.4000/ espacoeconomia.12282
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O sistema de saúde sobrecarregado, a demora no atendimento e dificuldades de acesso aos serviços, provavelmente, acarretaram maior morbimortalidade por outras doenças, à semelhança do observado em países como Estados Unidos e Inglaterra.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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,77 Guimarães NS, Carvalho TML, Machado-Pinto J, Lage R, Bernardes RM, Peres ASS, et al. Aumento de óbitos domiciliares devido a parada cardiorrespiratória em tempos de pandemia de COVID-19. Arq Bras Cardiol. 2021;116(2):266-71. doi: 10.36660/abc.20200547
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8 Bispo Júnior JP, Santos DB. COVID-19 como sindemia: modelo teórico e fundamentos para a abordagem abrangente em saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(10):1-14. doi: 10.1590/0102-311X00119021
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-99 Mafham MM, Spata E, Goldacre R, Gair D, Curnow P, Bray M, et al. COVID-19 pandemic and admission rates for and management of acute coronary syndromes in England. Lancet. 2020;396(10248):381-9. doi: 10.1016/S0140-6736(20)31356-8
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De volta ao cenário brasileiro, a desorganização dos serviços, a descoordenação entre entidades federativas e excessivas distâncias a serem percorridas na busca por atendimento foram outros fatores que, possivelmente, contribuíram para o aumento da morbimortalidade.66 Rodrigues JN, Azevedo DA. Pandemia do Coronavírus e (des)coordenação federativa: evidências de um conflito político-territorial. Espaço e Economia. 2020;18:1-11. doi: 10.4000/ espacoeconomia.12282
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,1010 Noronha KVMS, Guedes GR, Turra CM, Andrade MV, Botega L, Nogueira D, et al. Pandemia por COVID-19 no Brasil: análise da demanda e da oferta de leitos hospitalares e equipamentos de ventilação assistida segundo diferentes cenários. Cad Saude Publica. 2020;36(6):e00115320. doi: 10.1590/0102-311X00115320
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Especialmente entre os portadores de doenças crônicas, grupos de risco para covid-19, interpõe-se a baixa procura pelos serviços de saúde como resultado de medidas de isolamento social mais severas.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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Ainda, cumpre destacar que a oferta dos serviços essenciais para outras condições e agravos foi reduzida ou, quando não, interrompida em diversas regiões,44 Giovanella L, Bousquat A, Medina MG, Mendonça MHM, Facchini LA, Tasca R, et al. Desafios da atenção básica no enfrentamento da pandemia de COVID-19 no SUS. In: Portela MC, Reis LGC, Lima SML, editores. Covid-19: desafios para a organização e repercussões nos sistemas e serviços de saúde [online]. Rio de Janeiro: Observatório Covid-19 Fiocruz, Editora Fiocruz; 2022. p. 201-16. doi: 10.7476/9786557081587.0013
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causando prejuízos à continuidade da atenção e aumento no risco de morte por outras causas.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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,88 Bispo Júnior JP, Santos DB. COVID-19 como sindemia: modelo teórico e fundamentos para a abordagem abrangente em saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(10):1-14. doi: 10.1590/0102-311X00119021
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Estimar os efeitos da pandemia tornou-se um desafio, portanto. Os estudos que levam em conta apenas as mortes notificadas por covid-19, e desconsideram as consequências indiretas geradas pela doença, subestimam o impacto da pandemia sobre a mortalidade.1111 Statistical Office of the European Union. Excess Mortality - Statistics. Eurostat - Statistics Explained [Internet]. [Luxemburgo] Statistical Office of the European Union; 2022 jul [cited 2022 July 2]. Available from: Available from: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Excess_mortality_-_statistics
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,1212 Beaney T, Clarke JM, Jain V, Golestaneh AK, Lyons G, Salman D, et al. Excess mortality: the gold standard in measuring the impact of COVID-19 worldwide?.J R Soc Med. 2020;113(9):329-34. doi: 10.1177/0141076820956802
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Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o cálculo do excesso de óbitos como ferramenta poderosa para estimar o real impacto da pandemia sobre a mortalidade geral na população.1111 Statistical Office of the European Union. Excess Mortality - Statistics. Eurostat - Statistics Explained [Internet]. [Luxemburgo] Statistical Office of the European Union; 2022 jul [cited 2022 July 2]. Available from: Available from: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Excess_mortality_-_statistics
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12 Beaney T, Clarke JM, Jain V, Golestaneh AK, Lyons G, Salman D, et al. Excess mortality: the gold standard in measuring the impact of COVID-19 worldwide?.J R Soc Med. 2020;113(9):329-34. doi: 10.1177/0141076820956802
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-1313 World Health Organization. Revealing the Toll of COVID-19: a technical package for rapid mortality surveillance and epidemic response [Internet]. Genebra: World Health Organization ; 2020 [update 2020 May 21, cited 2022 mar 8]. 30 p. Available from: Available from: https://www.who.int/publications/i/item/revealing-the-toll-of-covid-19
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O objetivo do estudo foi estimar o excesso de óbitos em Santa Catarina e suas macrorregiões durante a pandemia de covid-19, nos anos de 2020 e 2021.

MÉTODOS

Conduziu-se um estudo ecológico com as notificações de óbito registradas no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no período entre 1o de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021, tendo o estado de Santa Catarina como unidade de análise. Os dados foram acessados em 28 de janeiro de 2022, por meio do site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) (https://datasus.saude.gov.br/).

Foram analisadas as seguintes variáveis:

  1. sexo (masculino; feminino);

  2. macrorregião catarinense de residência (Grande Oeste; Meio Oeste e Serra; Foz do Rio Itajaí; Vale do Itajaí; Grande Florianópolis; Sul; Nordeste e Planalto Norte);

  3. faixa etária (em anos: 20 a 29; 30 a 39; 40 a 49; 50 a 59; 60 a 69; 70 a 79; 80 ou mais);

  4. trimestre (1°; 2°; 3°; 4°); e

  5. meses do calendário.

Foram excluídos da pesquisa indivíduos de 0 a 19 anos, pois a covid-19 se manifesta de maneira diferenciada em crianças e adolescentes,1414 Ludvigsson JF. Systematic review of COVID-19 in children shows milder cases and a better prognosis than adults. Acta Paediatr. 2020;109(6):1088-95. doi: 10.1111/apa.15270
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enquanto foram incluídos adultos com idade maior ou igual a 20 anos e cujo óbito foi registrado no período do estudo.

O número esperado de óbitos foi calculado pela média simples do número de óbitos nos anos de 2015 e 2019, isto é, realizou-se a soma do número de mortes em cada um dos cinco anos (conforme a localidade e período determinado) e dividiu-se o resultado da adição por 5, conforme metodologia proposta por outros autores.1212 Beaney T, Clarke JM, Jain V, Golestaneh AK, Lyons G, Salman D, et al. Excess mortality: the gold standard in measuring the impact of COVID-19 worldwide?.J R Soc Med. 2020;113(9):329-34. doi: 10.1177/0141076820956802
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,1515 National Records of Scotland. Choosing a five year average for the measurement of excess deaths [Internet]. [Edinburgh]:National Records of Scotland; 2022 [cited 2022 Apr 13]. Available from: Available from: https://www.nrscotland.gov.uk/files/statistics/covid19/covid-deaths-methodology-excess-deaths-in-2022.pdf
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O excesso de óbitos foi estimado pela diferença entre o número de mortes observado em 2020 e 2021 e os óbitos esperados para o mesmo período. A razão matemática entre óbitos observados e óbitos esperados no período foi calculada para cada trimestre de 2020 e 2021, segundo macrorregião.

A análise dos dados foi realizada utilizando-se o Microsoft Office Excel 2016. Foram calculadas as frequências absolutas (n), as médias, o desvio-padrão (DP) e as variações percentuais dos dados. A variação percentual do excesso de óbitos entre os anos de 2020 e 2021, em cada macrorregião, foi calculada aplicando-se a seguinte fórmula:

Variação percentual = (Excesso de óbitos em 2021 - Excesso de óbitos em 2020) x 100÷ Excesso de óbitos em 2020

O presente estudo não foi submetido à aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), pois foram utilizadas informações de bases de dados secundárias, sem identificação dos indivíduos, de acesso público.

RESULTADOS

Nos cinco anos anteriores à pandemia da covid-19, a média de óbitos em Santa Catarina foi de 38.522 [desvio-padrão (DP) = 1.546,3]. Em 2020, registrou-se, em relação a essa média, um aumento de 16,3% no número de óbitos; e em 2021, de 45,1%. Em todas as macrorregiões, o número de mortes foi superior ao esperado (Tabela 1).

Para o ano de 2020, observou-se excesso de 6.315 óbitos. As macrorregiões Sul (1.362) e Grande Florianópolis (1.146) obtiveram maior incremento, como também mais mortes notificadas por covid-19. Em 2021, o excesso de óbitos chegou a 17.391, mais expressivo nas macrorregiões Nordeste e Planalto Norte (3.515), Sul (2.855) e Meio Oeste e Serra (2.691), onde também houve mais mortes por covid-19. As razões de óbitos foram crescentes na maioria das macrorregiões, em quase todos os trimestres; a exceção coube ao 2° trimestre de 2020 (Tabelas 1 e 2).

Houve maior excesso de óbitos nos períodos em que aconteceram mais mortes por covid-19. Em 2020, o maior excesso de óbitos ocorreu em dois picos, um em julho-agosto e outro no final do ano. Os maiores valores, seja de excesso de óbitos (4.207), seja de mortes por covid-19 (3.752), ocorreram em março de 2021 (Figura 1a).

Encontrou-se excesso de óbitos para todas as faixas etárias, tanto em 2020 quanto em 2021; exceto para o grupo do sexo masculino na idade entre 20 e 29 anos, em 2020. O excedente de óbitos foi maior no sexo masculino (57,4%), em todas as demais faixas etárias, nos dois anos, comparado ao excedente no sexo feminino. Para ambos os sexos, observou-se excesso de óbitos na população de idade acima de 60 anos (74,0%) (Figura 1b).

Tabela 1
- Óbitos gerais e óbitos por covid-19 notificados, por macrorregião de residência e ano, Santa Catarina, 2015-2021
Tabela 2
- Razão entre os óbitos observados e os óbitos esperados por trimestre, excesso de óbitos e variação percentual segundo macrorregião, Santa Catarina, 2020-2021

Figura 1
- Evolução de óbitos por covid-19 e excesso de óbitos no período (A) e distribuição do excesso de óbitos segundo sexo e faixa etária (B), Santa Catarina, 2020-2021

DISCUSSÃO

Em 2020 e 2021, houve excesso de óbitos no estado de Santa Catarina, superior no sexo masculino e quanto à variável idade, nos indivíduos acima de 60 anos. Observou-se excedente de óbitos e razão de óbitos crescente, para a maioria das macrorregiões do estado e períodos, com exceção do 2° trimestre de 2020 e o mês de dezembro de 2021. Os maiores excedentes ocorreram nos mesmos períodos e localidades onde houve maior número de óbitos por covid-19.

Em um contexto de baixa testagem e falta de padronização na notificação dos dados, uma nota técnica apontou taxas de subnotificação dos óbitos em Santa Catarina durante a pandemia da covid-19 próximas de 278%.1616 Nogueira AL, Nogueira CL, Zibetti AW, Roqueiro N, Bruna-Romero O, Carciofi BAM. Estimativa da Subnotificação de Casos da COVID-19 no Estado de Santa Catarina [Internet]. Joinville: Universidade Federal de Santa Catarina; 2020 [atualizado 2020 Jul 23; citado 2023 out 23]. Disponível em: Disponível em: https://covid19sc.github.io/subnotificacao_covid19.html
https://covid19sc.github.io/subnotificac...
O excedente de óbitos encontrado neste trabalho foi 27,4% superior ao número de óbitos acumulados por covid-19 e notificados pelo estado. Uma possível explicação para o fato está no excesso de óbitos não ser um indicador afetado pela classificação da causa do óbito, não tendo sido afetado pela elevada subnotificação.1111 Statistical Office of the European Union. Excess Mortality - Statistics. Eurostat - Statistics Explained [Internet]. [Luxemburgo] Statistical Office of the European Union; 2022 jul [cited 2022 July 2]. Available from: Available from: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Excess_mortality_-_statistics
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,1212 Beaney T, Clarke JM, Jain V, Golestaneh AK, Lyons G, Salman D, et al. Excess mortality: the gold standard in measuring the impact of COVID-19 worldwide?.J R Soc Med. 2020;113(9):329-34. doi: 10.1177/0141076820956802
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Além disso, o excedente de mortes abrange não só as mortes por covid-19, mas, também, pode ser um reflexo da mortalidade indireta, decorrente, entre outros fatores, da sobrecarga do sistema de saúde que levou ao aumento de mortes por outras condições.33 Hacker KA, Briss PA, Richardson L, Wright J, Petersen R. COVID-19 and chronic disease: the impact now and in the future. Prev Chronic Dis. 2021;18:e62. doi: 10.5888/pcd18.210086
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Estudos demonstram a associação entre maior morbimortalidade por covid-19 e regiões e localidades com elevada densidade demográfica, onde costuma haver maiores taxas de transmissão e menor isolamento social.1717 Wong DWS, Li Y. Spreading of COVID-19: density matters. PLoS One. 2020;15(12):e0242398. doi: 10.1371/journal.pone.0242398
https://doi.org/10.1371/journal.pone.024...

18 Chen K, Li Z. The spread rate of SARS-CoV-2 is strongly associated with population density. J Travel Med. 2021;27(8):taaa186. doi: 10.1093/jtm/taaa186
https://doi.org/10.1093/jtm/taaa186...
-1919 Ilardi A, Chieffi S, Iavarone A, Ilardi CR. SARS-CoV-2 in Italy: population density correlates with morbidity and mortality. Jpn J Infect Dis. 2020;74(1):61-4. doi: 10.7883/yoken.JJID.2020.200
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Neste estudo, as macrorregiões com maior densidade demográfica foram aquelas com maior excesso de óbitos e mais mortes por covid-19, indo ao encontro do que é descrito na literatura.1717 Wong DWS, Li Y. Spreading of COVID-19: density matters. PLoS One. 2020;15(12):e0242398. doi: 10.1371/journal.pone.0242398
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18 Chen K, Li Z. The spread rate of SARS-CoV-2 is strongly associated with population density. J Travel Med. 2021;27(8):taaa186. doi: 10.1093/jtm/taaa186
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19 Ilardi A, Chieffi S, Iavarone A, Ilardi CR. SARS-CoV-2 in Italy: population density correlates with morbidity and mortality. Jpn J Infect Dis. 2020;74(1):61-4. doi: 10.7883/yoken.JJID.2020.200
https://doi.org/10.7883/yoken.JJID.2020....
-2020 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Santa Catarina em números [Internet]. Florianópolis: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 2013 [citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sc/quem_somos/santa-catarina-em-numeros,2fedd49dc3246410VgnVCM2000003c74010aRCRD
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Grande Oeste e Meio Oeste e Serra, embora sejam localidades de baixa densidade populacional, apresentaram elevados excedentes de óbitos, especialmente em 2021, e possíveis explicações para esse achado seriam o intenso fluxo de pessoas e as condições sanitárias desfavoráveis nas indústrias frigoríficas da região, favoráveis à disseminação do vírus.2020 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Santa Catarina em números [Internet]. Florianópolis: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 2013 [citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sc/quem_somos/santa-catarina-em-numeros,2fedd49dc3246410VgnVCM2000003c74010aRCRD
https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSe...

21 Moura PH, Luz RA, Gai MJP, Klokner S, Torrico G, KnapiK J, et al. Perfil epidemiológico da covid-19 em Santa Catarina. RIES. 2020;9(19):163-80. doi: 10.33362/ries.v9i1.2316
https://doi.org/10.33362/ries.v9i1.2316...

22 Merêncio I, Monteiro GM, Vieira CAO. Aglomerados ativos de COVID-19 em Santa Catarina, Brasil, e tendência de mobilidade dos locais de trabalho. Cad Saude Publica. 2021;37(6):1-13. doi: 10.1590/0102-311X00301620
https://doi.org/10.1590/0102-311X0030162...

23 Governo do Estado (SC). Secretaria do Estado de Saúde de Santa Catarina. Coronavírus [Internet]. 2020 [atualizado 2022 Mar 8; citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: http://www.coronavirus.sc.gov.br/
http://www.coronavirus.sc.gov.br/...
-2424 Ripplinger F, Dalmora TWR, Scherma RA. Geografia da covid-19 em Santa Catarina: notas sobre o trabalho na criação e na indústria de abates de animais. Revista Pegada. 2020;21(2):463-92. doi: 10.33026/peg.v21i2.7816
https://doi.org/10.33026/peg.v21i2.7816...

A primeira morte por covid-19 em Santa Catarina ocorreu em março de 2020, quando o índice de isolamento social chegou a 72,8% - provavelmente atribuído à promulgação de normas de distanciamento social.2323 Governo do Estado (SC). Secretaria do Estado de Saúde de Santa Catarina. Coronavírus [Internet]. 2020 [atualizado 2022 Mar 8; citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: http://www.coronavirus.sc.gov.br/
http://www.coronavirus.sc.gov.br/...
,2525 Inloco. Mapa brasileiro da COVID-19 [Internet]. [s.l.]: Inloco; 2020 [atualizado 2022 Mar 8; citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/
https://mapabrasileirodacovid.inloco.com...
,2626 Hughes HMFBR, Carneiro RAVD, Hillesheim D, Hallal ALC. Evolução da COVID-19 em Santa Catarina: decretos estaduais e indicadores epidemiológicos até agosto de 2020. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(4):e2021521. doi: 10.1590/S1679-49742021000400025
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No entanto, um estudo indicou incoerência com a realidade da pandemia no momento de publicação dos decretos estaduais, especialmente no 2º semestre, com flexibilização precoce e parcialidade das restrições.2626 Hughes HMFBR, Carneiro RAVD, Hillesheim D, Hallal ALC. Evolução da COVID-19 em Santa Catarina: decretos estaduais e indicadores epidemiológicos até agosto de 2020. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(4):e2021521. doi: 10.1590/S1679-49742021000400025
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Ao final do ano, ocorreu, ainda, estímulo do governo e das mídias ao turismo, aumentando o risco de propagação do vírus.2727 Caponi S. Covid-19 em Santa Catarina: um triste experimento populacional. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2021;28(2):593-8. doi: 10.1590/S0104-59702021005000004
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Esse cenário parece explicar a evolução do excesso de óbitos no estado em 2020, com excedentes superiores no 2º semestre.2525 Inloco. Mapa brasileiro da COVID-19 [Internet]. [s.l.]: Inloco; 2020 [atualizado 2022 Mar 8; citado 2022 Mar 8]. Disponível em: Disponível em: https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/
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26 Hughes HMFBR, Carneiro RAVD, Hillesheim D, Hallal ALC. Evolução da COVID-19 em Santa Catarina: decretos estaduais e indicadores epidemiológicos até agosto de 2020. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(4):e2021521. doi: 10.1590/S1679-49742021000400025
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-2727 Caponi S. Covid-19 em Santa Catarina: um triste experimento populacional. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2021;28(2):593-8. doi: 10.1590/S0104-59702021005000004
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Em Santa Catarina, a estratificação do excesso de óbitos por sexo e idade apontou excedente no sexo masculino e crescimento com o aumento da idade. Sabe-se que o risco de vir a óbito por covid-19 é maior no sexo masculino, associado a fatores hormonais, imunológicos e uma menor tendência dos homens ao autocuidado.2828 Bwire GM. Coronavirus: why men are more vulnerable to covid-19 than women?. SN Comp Clin Med. 2020;2(7):874-6. doi: 10.1007/s42399-020-00341-w
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O risco de morte também é maior em idosos, visto que, além das consequências naturais do envelhecimento, há elevada prevalência de comorbidades nessa faixa etária, tornando-a mais susceptível tanto à covid-19 quanto à desassistência do sistema de saúde durante a pandemia.2929 Perrotta F, Corbi G, Mazzeo G, Boccia M, Aronne L, D’Agnano V, et al. COVID-19 and the elderly: insights into pathogenesis and clinical decision-making. Aging Clin Exp Res. 2020;32(8):1599-608. doi: 10.1007/s40520-020-01631-y
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Como limitação, destaca-se que a forma para estimar o excesso de óbitos não está entre as mais robustas, embora seja apontada como uma abordagem-padrão e efetiva.1515 National Records of Scotland. Choosing a five year average for the measurement of excess deaths [Internet]. [Edinburgh]:National Records of Scotland; 2022 [cited 2022 Apr 13]. Available from: Available from: https://www.nrscotland.gov.uk/files/statistics/covid19/covid-deaths-methodology-excess-deaths-in-2022.pdf
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Os bancos de dados secundários também sofrem influência direta da qualidade do preenchimento, e de sua abrangência heterogênea no território. Como potencialidade, o indicador analisado tem sido apontado como um dos mais importantes no cenário da pandemia da covid-19, pois, além de captar o impacto direto e indireto da mortalidade pela pandemia, independe de estratégias de testagem ou da classificação final das causas de mortes.1111 Statistical Office of the European Union. Excess Mortality - Statistics. Eurostat - Statistics Explained [Internet]. [Luxemburgo] Statistical Office of the European Union; 2022 jul [cited 2022 July 2]. Available from: Available from: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Excess_mortality_-_statistics
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12 Beaney T, Clarke JM, Jain V, Golestaneh AK, Lyons G, Salman D, et al. Excess mortality: the gold standard in measuring the impact of COVID-19 worldwide?.J R Soc Med. 2020;113(9):329-34. doi: 10.1177/0141076820956802
https://doi.org/10.1177/0141076820956802...
-1313 World Health Organization. Revealing the Toll of COVID-19: a technical package for rapid mortality surveillance and epidemic response [Internet]. Genebra: World Health Organization ; 2020 [update 2020 May 21, cited 2022 mar 8]. 30 p. Available from: Available from: https://www.who.int/publications/i/item/revealing-the-toll-of-covid-19
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Conclui-se que houve excesso de óbitos em Santa Catarina e em todas as suas macrorregiões durante os anos de 2020 e 2021, na maior parte dos períodos analisados, maior nos indivíduos do sexo masculino e nas idades acima de 60 anos.

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  • TRABALHO ACADÊMICO ASSOCIADO

    Artigo derivado de monografia de conclusão de curso intitulada Excesso de mortalidade em Santa Catarina e macrorregiões durante a pandemia da covid-19, defendida por Rebeca Heyse Holzbach no Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina, em 2022.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Jun 2022
  • Aceito
    07 Fev 2023
  • Corrigido
    15 Maio 2024
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil Brasília - Distrito Federal - Brazil
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