Relação entre violências sofridas na infância e violência autoprovocada Relação entre violências sofridas na infância e violência autoprovocada entre travestis e mulheres transexuais do estado do Rio de Janeiro 2019-2020

Davi Depret Ricardo de Mattos Russo Rafael Sonia Acioli Mercedes Neto Luciane de Souza Velasque Virginia Maria Azevedo de Oliveira Knupp Sobre os autores

RESUMO

Objetivo

Analisar a relação entre as violências sofridas na infância e a violência autoprovocada em um grupo de travestis e mulheres transexuais do estado do Rio de Janeiro.

Métodos

Tratou-se de estudo transversal realizado com 139 participantes selecionadas por meio de amostragem por conveniência entre 2019 e 2020. Foi utilizado questionário estruturado para a coleta de dados. Foi calculada a razão de chances (odds ratio, OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%) de ideação suicida, tentativa de suicídio e autoabuso pelas variáveis do estudo, por meio de regressão logística.

Resultados

Ter sofrido abuso emocional na infância aumentou a tentativa de suicídio (OR=9,00; IC95% 1,13;71,34), ter sofrido violência psicológica na infância aumentou o comportamento autoabusivo (OR=11,64; IC95% 2,35;57,5), a infecção por HIV aumentou a ideação suicida (OR=2,38; IC95% 1,09;5,21).

Conclusão

As violências sofridas na infância, bem como a vivência de doenças estigmatizantes, aumentaram o risco de violência autoprovocada entre essa população.

Palavras-chave
Pessoas Transgênero; Comportamento Autodestrutivo; Violência; Saúde Mental; Políticas Públicas de Saúde

Contribuições do estudo

Principais resultados

As violências na infância impactaram a saúde mental de travestis e mulheres trans na idade adulta. Observou-se aumento de comportamento suicida e autoabuso nas pessoas que sofreram violência na infância.

Implicações para os serviços

Os serviços de saúde devem estar preparados estrutural e profissionalmente para atender às demandas dessa população sem que ocorram violências institucionais tampouco a sua revitimização.

Perspectivas

Investigações futuras sobre violência autoprovocada entre mulheres trans e travestis podem contribuir para a formulação de políticas públicas intersetoriais de promoção de saúde mental direcionadas a essa população, reduzindo a incidência desse agravo.

Palavras-chave
Pessoas Transgênero; Comportamento Autodestrutivo; Violência; Saúde Mental; Políticas Públicas de Saúde

INTRODUÇÃO

A infância, enquanto período da vida que se conhece na modernidade, é um fenômeno relativamente recente no qual a sociedade passou a reconhecer as crianças enquanto portadoras de direitos específicos. Cabe ao Estado a garantia de amparo através de legislações e políticas públicas próprias para esse público.11 Heywood C. Uma história da infância: da idade média à época contemporânea no ocidente. Cad Pesqui. 2005;35(125). Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/TQgx5RMHkwGHdJXJtN6ynVg/?format=pdf&lang=pt.

A criança por vezes é objeto de punições e castigos considerados pedagógicos. Tais castigos são motivados pela arbietrariedade presente no imaginário coletivo e cultural de que os pais possuem total arbítrio sobre os corpos dos seus filhos.22 Minayo MCS. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde. Rev Bras Saúde Mater Infant. 1 (2). 2001. doi: 10.1590/S1519-38292001000200002. A violência se entremeou no processo formativo de muitas famílias entendida como um instrumento de responsabilização e resposta instintiva às indisciplinas e às desobediências.22 Minayo MCS. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde. Rev Bras Saúde Mater Infant. 1 (2). 2001. doi: 10.1590/S1519-38292001000200002.,33 Conegundes R, Zioni F. O corpo da criança como receptáculo da violência física: análise dos dados epidemiológicos do Viva/Sinan. Saúde Debate. 2022;46(Esp 5):193-207. doi: 10.1590/0103-11042022E516.

As violências praticadas contra crianças e adolescentes abarcam todos os contextos. Ratifica-se a natureza complexa e multifacetada desse tipo de violência, influenciada por diversos fatores. A maioria das ocorrências se dão por pessoas próximas e de confiança dos jovens.22 Minayo MCS. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde. Rev Bras Saúde Mater Infant. 1 (2). 2001. doi: 10.1590/S1519-38292001000200002.,44 Guimaraes CDSM, Melo MCB. Cartilha sobre os impactos da violência infantil na criança e na família. Recife: Faculdade Pernambucana de Saúde; 2020. [cited 2022 Jun 12]. Disponível em: https://repositorio.fps.edu.br/bitstream/4861/473/3/Cartilha%20sobre%20os%20impactos%20da%20viol%C3%AAncia%20infantil%20na%20crian%C3%A7a%20e%20na%20fam%C3%ADlia%20-%20Cleide%20Dyhana.pdf.
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Em todo o mundo, a falha dos países em proteger suas crianças abre margem para que as violências atinjam milhões de jovens cotidianamente. Isso compromete a qualidade de vida e o desenvolvimento destes, com algumas reverberações que serão percebidas apenas na vida adulta.44 Guimaraes CDSM, Melo MCB. Cartilha sobre os impactos da violência infantil na criança e na família. Recife: Faculdade Pernambucana de Saúde; 2020. [cited 2022 Jun 12]. Disponível em: https://repositorio.fps.edu.br/bitstream/4861/473/3/Cartilha%20sobre%20os%20impactos%20da%20viol%C3%AAncia%20infantil%20na%20crian%C3%A7a%20e%20na%20fam%C3%ADlia%20-%20Cleide%20Dyhana.pdf.
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,55 Organização das Nações Unidas. Cerca de 1 bilhão de crianças no mundo são vítimas da violência todos os anos. ONU; 18 jun 2020. [cited 2022 Apr 11]. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/06/1717372.
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Considerando-se as experiências que permeiam as infâncias dissidentes, a carga de estresse adicional que essas crianças sofrem com a rejeição e a exclusão familiar se tornam fatores predisponentes para comportamentos autoabusivos. Devido ao potencial desgaste à saúde psíquica dessas pessoas antecipadamente, leva-se em consideração atitudes autodestrutivas, que podem se desdobrar em violências autoprovocadas.66 Francisco LCFL, Barros AC, Pacheco MS, Nardi AE, Alves VM. Ansiedade em minorias sexuais e de gênero: uma revisão integrativa. J Bras Psiquiatr. 2020;69(1):48-56. doi: 10.1590/0047-2085000000255.
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A relação do comportamento suicida entre pessoas LGBTQIAPN+ foi mapeada. Apontaram-se maiores taxas de depressão e prevalência de violência autoprovocada, sobretudo na população trans, quando comparada com a população em geral.77 Hottes TS, Bogaert L, Rhodes AE, Brennan DJ, Gesink D. Lifetime prevalence of suicide attempts among sexual minority adults by study sampling strategies: A systematic review and meta-analysis. Am J Public Health. 2016;106(5). doi: 10.2105/AJPH.2016.303088.
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,88 Johnson B, Leibowitz S, Chavez A, Herbert SE. Risk versus resiliency: addressing depression in lesbian, gay, bisexual, and transgender youth. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. 2019;28(3):509-21. doi: 10.1016/j.chc.2019.02.016.
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Houve a tentativa de desvelar a relação do comportamento suicida entre pessoas LGBTQIAPN+, temática que é pouco explorada, e contribuir para tal investigação tanto no campo da saúde coletiva como nos estudos de gênero e sexualidade. Este artigo objetivou analisar a relação entre as violências sofridas na infância e a violência autoprovocada em grupo de travestis e mulheres transexuais do estado do Rio de Janeiro.

MÉTODOS

Delineamento

Esta pesquisa foi inserida no conjunto de pesquisas que utilizaram os dados do “EVAS: Estudo sobre Violências e Autoavaliação em Saúde”. Tratou-se de estudo transversal quantitativo, cuja população foi de 139 mulheres transexuais e travestis.

Contexto

A pesquisa foi realizada entre junho de 2019 e março de 2020 no Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, onde as participantes eram acompanhadas. Para a coleta dos dados, foram realizadas entrevistas presenciais. Utilizou-se questionário estruturado, preenchido de maneira virtual em um computador com senha, visando garantir o sigilo quanto à identificação da participante.

Participantes

Os critérios de inclusão adotados foram: autoidentificação como mulheres transexuais (travestis e transexuais), idade maior ou igual a 18 anos e residência no município do Rio de Janeiro ou na sua área metropolitana. Visando à maior adesão à pesquisa, não houve critérios de exclusão, a não ser a saída voluntária de qualquer participante.

O recrutamento se deu de maneira aleatória na recepção do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, durante os dias de ida da equipe, por um membro previamente treinado. Após a explicação do estudo, em caso de aceite e inclusão nos critérios, conduziu-se a participante até uma sala próxima à recepção para a coleta de dados, onde foi lido o termo de consentimento livre e esclarecido e entregue a cópia deste para a participante.

Variáveis

Entre as 168 questões do instrumento de pesquisa original, três perguntas foram utilizadas para o recorte desta pesquisa, configurando o panorama das violências autoprovocadas. Mapearam-se a ideação suicida (“Nos últimos 12 meses, você pensou em se matar?”), a tentativa de suicídio (“Nos últimos 12 meses, você tentou se matar?”) e o comportamento autoabusivo (“Nos últimos 12 meses, você se cortou, se arranhou, perfurou, ou seja, se mutilou propositalmente?”). Para todas as perguntas, as possibilidades de resposta eram “sim” ou “não”.

A variável desfecho “violência autoprovocada” foi definida nesta pesquisa pela resposta positiva para qualquer uma das três variáveis consideradas (ideação, tentativa e autoabuso) ocorridas nos últimos 12 meses prévios à entrevista. As questões foram abordadas através de perguntas diretas acerca de pensamentos suicidas, tentativas suicidas e sinais de autoabuso, como automutilação, arranhaduras e demais ações de violência autoinflingida.

As variáveis de exposição que compuseram o perfil das participantes foram: identidade de gênero (travesti, mulher trans, outras identidades), orientação afetiva sexual, faixa etária, raça/cor da pele, moradia no município do Rio de Janeiro, se morava sozinha, situação conjugal, tempo de estudo, vínculo formal de trabalho, renda mensal, religião, infecção por HIV (autorreferido). As variáveis de exposição utilizadas para diagramar as violências sofridas foram: passabilidade (possibilidade de adentrar espaços sem ter sua identidade de gênero questionada) e discriminação por aparência, identidade de gênero (travesti, mulher trans, outras identidades) e orientação afetiva sexual (heterossexual, outras orientações).

As variáveis que mapearam as violências na infância foram: abuso emocional, abuso físico, abuso sexual, negligência física e negligência emocional. Cada variável foi composta por cinco questões específicas do instrumento “Questionário sobre Traumas na Infância” (QUESI, originalmente denominado Childhood Trauma Questionnaire – CTQ), adaptado e validado transculturalmente para uso no Brasil.99 Grassi-Oliveira R, Stein LM, Pezzi JC. Tradução e validação de conteúdo da versão em português do Childhood Trauma Questionnaire. Rev Saúde Pública. 2006;40(2):249-55. Acesso em 03/06/2022. Neste estudo foi utilizada subescala que dividiu as respostas de cada participante em quatro grupos possíveis (não a mínimo, leve a moderado, moderado a severo, severo a grave).

De acordo com as questões específicas do instrumento utilizado,99 Grassi-Oliveira R, Stein LM, Pezzi JC. Tradução e validação de conteúdo da versão em português do Childhood Trauma Questionnaire. Rev Saúde Pública. 2006;40(2):249-55. Acesso em 03/06/2022. o abuso emocional foi expresso por ações como insultar e xingar as crianças e ouvir dos pais a exteriorização do desejo que o filho nunca tivesse nascido. O abuso sexual se manifestou por toques sexuais e tentativas, bem como ameaças envolvendo tais ações. Compreendeu-se como abuso físico ser espancado e ficar com marcas a ponto de precisar ir ao médico. A negligência emocional envolveu não sentir que tinha fonte de apoio e suporte e não se sentir amado ou especial. A negligência física abarcava ter a presença de pais drogados ou alcoolizados boa parte do tempo, a ponto de faltar comida ou de não ser possível levá-las ao médico se necessário.

Fontes de dados e mensuração

Foram realizadas as análises univariadas, as prevalências e os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). As análises bivariadas foram através das prevalências e as razões de chance (odds ratio, OR) por meio de modelos de regressão logística, considerando estatisticamente significante os valores de α inferiores a 0,05. Realizou-se a regressão logística para os desfechos dicotômicos com as variáveis de p-valor<0,30, seguindo a probabilidade de significância e medidas de efeito de estudos anteriores.77 Hottes TS, Bogaert L, Rhodes AE, Brennan DJ, Gesink D. Lifetime prevalence of suicide attempts among sexual minority adults by study sampling strategies: A systematic review and meta-analysis. Am J Public Health. 2016;106(5). doi: 10.2105/AJPH.2016.303088.
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,88 Johnson B, Leibowitz S, Chavez A, Herbert SE. Risk versus resiliency: addressing depression in lesbian, gay, bisexual, and transgender youth. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. 2019;28(3):509-21. doi: 10.1016/j.chc.2019.02.016.
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O modelo final de regressão logística foi construído.

O controle das variáveis confundidoras foi feito através da modelagem estatística com a realização do método de passo a passo manual de eliminação regressiva.

Métodos estatísticos

Aplicou-se o método de passo a passo manual de eliminação regressiva, no qual as variáveis com maior p-valor foram excluídas até que todas as variáveis presentes tivessem p-valor inferior a 0,05, construindo um subconjunto útil de preditores e chegando ao modelo final.

O banco de dados foi inicialmente criado no software R Project for Statistical Computing e foi convertido para o formato de leitura do software Stata SE 15 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos), onde foram realizadas as análises de dados.

Aspectos éticos

O estudo obedeceu aos preceitos éticos de pesquisas envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro sob o número do Parecer nº 3.182.376 de 4/03/2019, certificado de apresentação para apreciação ética 07517419.0.0000.5285.1010 Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012. [cited 2022 Jun 12]. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/ensino-e-pesquisa/pesquisa-clinica/resolucao-466.pdf.
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RESULTADOS

A amostra foi composta por 139 travestis e mulheres transexuais entre 18 e 65 anos. A maioria se apresentou como mulher transexual (61,1%), heterossexual (95,0%), razoavelmente passável (67,6%), na faixa etária acima de 35 anos (51,8%), não branca (79,1%), com oito anos ou mais de estudo (64,3%) e com alguma afiliação religiosa/espiritual (65,5%). Setenta e sete (55,4%) delas relataram status sorológico positivo de HIV no momento da entrevista (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência de violência autoprovocada e características amostrais de grupo de travestis e mulheres transexuais, Rio de Janeiro, 2019-2020 (n=139)

A maioria delas (73,4%) morava no município do Rio de Janeiro, não morava sozinha (60,1%) e estava solteira (64,0%) no momento da entrevista. Embora a maioria tenha declarado trabalhar com vínculo formal (81,3%), a renda mensal predominante foi de até R$ 700,00. Observou-se que 40 participantes (28,8%) tiveram ideação suicida, 13 participantes (9,3%) colocaram em prática alguma tentativa de suicídio e 10 (7,2%) se automutilaram propositalmente. A maioria das participantes sofreu algum tipo de agressão ou ataque na infância, compreendendo desde abuso emocional (60,4%), abuso físico (57,5%) e abuso sexual (55,4%) à negligência física (71,2%) e negligência emocional (60,4%) (Tabela 1).

Na análise bivariada, de maneira isolada entre os desfechos, houve relato de ideação suicida entre as participantes que se identificavam como mulher trans (OR=0,54; IC95% 0,23;1,23), com renda entre R$ 700,00 e R$ 1.400,00 (OR=2,83; IC95% 1,02;7,86), que moravam no município do Rio de Janeiro (OR=0,56; IC95% 0,25;1,25), com passabilidade autoavaliada razoável (OR=1,97; IC95% 0,84;4,59), com autorrelato de infecção por HIV (OR=2,38; IC95% 1,09;5,21), com histórico de abusos infantis: abuso sexual (OR=0,37; IC95% 0,12;1,20), abuso emocional (OR=2,45; IC95% 0,94;6,35), abuso físico (OR=0,25; IC95% 0,05;1,18) e negligências na infância: negligência física (OR=2,80; IC95% 0,69;11,33) e negligência emocional (OR=5,96; IC95% 1,62;21,96) (Tabelas 2 e 3).

Houve relato de tentativa de suicídio entre as participantes que se identificavam como mulher trans (OR=0,46; IC95% 0,14;1,49), com renda entre R$ 700,00 e R$ 1.400,00 (OR=2,92; IC95% 0,59;14,55), que moravam sozinhas (OR=1,00; IC95% 0,48;2,14), com autorrelato de infecção por HIV (OR=1,91; IC95% 0,56;6,56), com histórico de abusos infantis: abuso emocional (OR=18,00; IC95% 2,13;152,03), abuso físico (OR=7,60; IC95% 1,51;38,07) e negligências na infância: negligência física (OR=2,86; IC95% 0,51;15,87) e negligência emocional (OR=2,89; IC95% 0,72;11,52)(Tabelas 2 e 3).

O comportamento autoabusivo foi relatado entre as participantes que se identificavam como mulher trans (OR=0,15 IC95% 0,04;0,62), com renda entre R$ 700,00 e R$ 1.400,00 (OR=4,41; IC95% 0,51-38,17), com até 35 anos (OR=1,11; IC95% 0,53;2,31), não-brancas (OR=1,08; IC95% 0,43;2,68), com passabilidade autoavaliada razoável (OR=1,00; IC95% 0,62;2,29),com histórico de abusos infantis: abuso sexual (OR=3,65; IC95% 0,34;39,09), abuso emocional (OR=12,46; IC95% 1,42;108,93), abuso físico (OR=8,79; IC95% 0,98;78,45) e negligência emocional na infância. (OR=2,65; IC95% 0,49;14,29)(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2
Análise bivariada entre características sociodemográficas e violência autoprovocada em grupo de travestis e mulheres transexuais, Rio de Janeiro, 2019-2020 (n=139)
Tabela 3
Análise bivariada entre violências sofridas na infância e violência autoprovocada em grupo de travestis e mulheres transexuais, Rio de Janeiro, 2019-2020 (n=139)

A infecção por HIV aumentou em 2,4 (IC95% 1,09; 5,21) vezes a prevalência de ter ideação suicida. Observou-se também ter sofrido algum tipo de abuso emocional na infância aumentou em 9 (IC95% 1,13;71,34) vezes a chance de tentativa de suicídio (Tabela 4).

Tabela 4
Análise multivariada por regressão logística da violência autoprovocada em grupo de travestis e mulheres transexuais. Rio de Janeiro, 2019-2020 (n=139)

DISCUSSÃO

Os resultados gerados neste estudo se aproximaram de dados que evidenciaram a prevalência de ideação suicida de 47,25% e tentativa de suicídio de 27,25% entre travestis e mulheres trans.1111 Rafael RdMR, Jalil EM, Luz PM, de Castro CRV, Wilson EC, Monteiro L, et al. Prevalence and factors associated with suicidal behavior among trans women in Rio de Janeiro, Brazil. PLoS ONE. 2021;16(10). doi: 10.1371/journal.pone.0259074.
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Nesta pesquisa, a sorologia positiva de HIV aumentou a ideação suicida. Isso corroborou os dados mundiais, os quais salientaram que houve aumento do risco de comportamento suicida em quadros de acometimentos clínicos cujo desfecho é crônico, como o caso do HIV.1212 World Health Organization. Preventing Suicide: A Global Imperative. Luxembourg: WHO; 2014. [cited 2022 Jun 12]. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241564779.
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Apesar dos avanços nas tecnologias do tratamento do HIV relacionados à qualidade de vida das pessoas com HIV, ainda há o fardo que estigmatiza tal diagnóstico.1313 Bastos FI. Da persistência das metáforas: estigma e discriminação & HIV/Aids. In: Monteiro S, Villela W, editores. Estigma e Saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; 2013.,1414 Fonseca AE, Bassères LBL, Neto JG. Suicídio e doenças clínicas. In: Damiano M, Damiano SA, organizadores. Compreendendo o suicídio. Santana de Parnaíba (SP): Manole; 2021.

Houve associação significativa entre soropositividade e comportamento suicida.1515 Druss B, Pincus H. Suicidal ideation and suicide attempts in general medical illnesses. Arch Intern Med. 2000;160:1522-6. A prevalência de ideação suicida ao longo da vida foi 25,2% em populações que possuíam alguma condição clínica, podendo ter chegado a 35% em casos de comorbidades versus 16,3% na população geral.1515 Druss B, Pincus H. Suicidal ideation and suicide attempts in general medical illnesses. Arch Intern Med. 2000;160:1522-6.

Entendendo-se as particularidades interseccionais de ser travesti ou mulher trans com HIV, alguns dificultadores foram apontados, a exemplo do desconhecimento das necessidades específicas das mulheres trans soropositivas.1616 Mendonza T, Carmen M. Intento de suicidio en trans femeninas VIH positivas en Managua, Nicaragua. Rev Científica FAREM-Estelí. 2020;(36).,1717 Winter S, Diamond M, Green J, Karasic D, Reed T, Whittle S, et al. Transgender people: health at the margins of society. Lancet. 2016;388:390-400. doi: 10.1016/S0140-6736(16)00683-8.
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Falta de habilidades assistenciais e barreiras de acesso integral aos serviços de saúde em todos os seus níveis e atitudes preconceituosas e estigmatizantes por parte dos profissionais de saúde no cuidado dessas mulheres contribuem para seu afastamento dos serviços de saúde.1717 Winter S, Diamond M, Green J, Karasic D, Reed T, Whittle S, et al. Transgender people: health at the margins of society. Lancet. 2016;388:390-400. doi: 10.1016/S0140-6736(16)00683-8.
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Tais comportamentos antagônicos representaram o descumprimento de normas e protocolos estabelecidos pelos sistemas de saúde, violando o direito à saúde das mulheres trans HIV positivas ao serviço humano, respeitoso e digno.1717 Winter S, Diamond M, Green J, Karasic D, Reed T, Whittle S, et al. Transgender people: health at the margins of society. Lancet. 2016;388:390-400. doi: 10.1016/S0140-6736(16)00683-8.
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Não existe consenso na literatura acerca da transexualidade na infância, e essa temática ainda parece ser polêmica. O ponto de sustentação dessa discussão esteve justamente nas vulnerabilidades relatadas pelas participantes desta pesquisa durante suas infâncias e que tiveram relação com comportamento suicida em outras fases da vida.1818 Vaz GSC, Jaques U, Salomé SAFF. Incidência de Ideação Suicida (IS) e principais fatores associados entre a população trans – revisão de literatura. Braz J Health Rev. 2022;5(5):19134-47.,1919 Bernstein DP, Stein JA, Newcomb MD, et al. Development and validation of a brief screening version of the childhood trauma questionnaire. Child Abuse Negl. 2003;27(2):169-90. doi: 10.1016/s0145-2134(02)00541-0.
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Outro resultado encontrado foi a relação de abusos emocionais sofridos na infância e do aumento do risco de desenvolvimento do comportamento suicida na vida adulta. Sobre essa relação, considerou-se que o abuso emocional pode ser preditor para diversos transtornos psiquiátricos na vida adulta, como sentimentos de desconexão, rejeição, autonomia prejudicada, perda de limites, supervigilância e inibição de sentimentos.2020 Campbell AM, Hibbard R. More than words: the emotional maltreatment of children. Pediatr Clin North Am. 2014;61:959-70.,2121 Polcari A, Rabi K, Bolger E, Teicher M. Parental verbal affection and verbal aggression in childhood differentially influence psychiatric symptoms and wellbeing in young adulthood. Child Abuse Negl. 2014;38:91-102. Isso pode ser explicado pelo papel decisivo que tais eventos traumáticos exercem no desenvolvimento de estruturas cognitivas disfuncionais, impactando negativamente aparatos psíquicos importantes para uma constituição mental saudável.2020 Campbell AM, Hibbard R. More than words: the emotional maltreatment of children. Pediatr Clin North Am. 2014;61:959-70.,2121 Polcari A, Rabi K, Bolger E, Teicher M. Parental verbal affection and verbal aggression in childhood differentially influence psychiatric symptoms and wellbeing in young adulthood. Child Abuse Negl. 2014;38:91-102.

Eventos nocivos ocorridos na infância das crianças trans acabam sendo utilizados como importantes fontes de formação e informação para estruturar o autoconceito da criança. Quando esse processo ocorre mediado por episódios contínuos de abuso emocional, existe maior risco de que se constituam de forma desadaptativa.2222 Wright MO, Crawford E, Del Castillo D. Childhood emotional maltreatment and later psychological distress among college students: the mediating role of maladaptive schemas. Child Abuse Negl. 2009;33(1):59-68. Tais padrões levariam as pessoas com esse histórico a buscarem informações que lhes são congruentes, tendendo a perpetuar o padrão abusivo existente, o que pode se manifestar em práticas autoabusivas ou até mesmo suicidas.2323 Biedermann S, et al. Childhood adversities are common among trans people and associated with adult depression and suicidality. Epub Rev. 2021; Sep:141:318-324. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34304035/.

É necessário pensar o Sistema Único de Saúde enquanto instância pública e democrática de saúde. Este garante o exercício da cidadania como espaço popular e autônomo, reconhece a influência das iniquidades e incorpora mecanismos de inclusão de novos sujeitos sociais. Faz-se também importante reconhecer e incorporar novos sistemas de proteção social na qualidade de promotores dos direitos sociais.2424 Calazans G, Costa IER, Cunha Junior LVS, Anjos A, Benedito LAP. Políticas de saúde LGBTQIA+ no Sistema Único de Saúde e na saúde suplementar. In: Ciasca SV, et al. Saúde LGBTQIA+: Práticas de cuidado transdisciplinar. São Paulo: Manole; 2021.

O Estado, nesse lugar, assume – ou deveria assumir – papel de garantidor de direitos universais a todos os cidadãos brasileiros, independentemente de sua condição social, econômica, racial, étnica, sexual e de gênero. A estruturação desse sistema e de suas políticas traz a necessidade constante de mobilizações políticas para que se busque inclusão e justiça social para todos, de maneira incansável, em todos as camadas sociais.2424 Calazans G, Costa IER, Cunha Junior LVS, Anjos A, Benedito LAP. Políticas de saúde LGBTQIA+ no Sistema Único de Saúde e na saúde suplementar. In: Ciasca SV, et al. Saúde LGBTQIA+: Práticas de cuidado transdisciplinar. São Paulo: Manole; 2021.

No nível estrutural e político, os resultados encontrados orientam a provocação de debate do entendimento da sociedade enquanto lócus de violência contra travestis e pessoas trans. Esses resultados reforçam a urgência de se constituir e consolidar ações voltadas para a promoção da saúde mental e prevenção do suicídio, bem como a identificação e intervenção precoces de seus elementos.1212 World Health Organization. Preventing Suicide: A Global Imperative. Luxembourg: WHO; 2014. [cited 2022 Jun 12]. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241564779.
https://www.who.int/publications/i/item/...
,2525 Brasil. Ministério da Saúde. Vigilância de violência interpessoal e autoprovocada (VIVA/SINAN). Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2017. [cited 2022 Mar 03]. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/vigilancia-em-saude/vigilancia-de-violencias-e-acidentes-viva/vigilancia-de-violencias/viva-sinan.
https://antigo.saude.gov.br/vigilancia-e...

Como limitações deste estudo, destaca-se o número final de participantes abaixo do esperado, tendo em vista a pandemia de covid-19 no transcorrer da pesquisa. Isso pode levar a um modelo final que destoa levemente da literatura. Pontua-se que o cenário de pesquisa pode ter gerado um viés de seleção da amostra quanto à prevalência de participantes com HIV.

Essa relação entre identidade de gênero, comportamento suicida e comportamento autoabusivo em travestis e mulheres transexuais é pouco abordada na literatura. Evidencia-se a necessidade de empreitadas recorrentes para que novos princípios investigativos surjam e para que, a partir dos resultados encontrados, esses dados se “trans-formem” em realidades tangíveis e exultantes. A finalidade é de que essas mulheres visem ao futuro no qual se possa celebrar novas conjunturas de existência.

Em conclusão, os eventos traumáticos ocorridos na infância de travestis e mulheres trans aumentou a chance de violência autoprovocada ao longo da vida. Recomenda-se a realização de mais estudos que levem em consideração outras realidades as quais expandam possibilidades analíticas, bem como proposição de políticas públicas intersetoriais de enfrentamento.

  • FINANCIAMENTO

    Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concedidas ao autor Ricardo de Mattos Russo Rafael (Processo FAPERJ - 211.970/2021 e Processo CNPq - 312056/2022).
  • TRABALHO ACADÊMICO ASSOCIADO

    Artigo derivado da tese de doutorado intitulada Efeitos das violências interpessoais sobre a violência autoprovocada entre travestis e mulheres transexuais, defendida por Davi Depret no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2022.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2025
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    29 Fev 2024
  • Aceito
    21 Out 2024
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil Brasília - Distrito Federal - Brazil
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