RESUMO
Objetivo
Descrever as características socioeconômicas e demográficas da população trans da Baixada Santista.
Métodos
Trata-se de estudo descritivo, com pessoas trans adultas, selecionadas por amostra de conveniência em 2023. Foi aplicado questionário quantitativo e realizadas entrevistas em profundidade, analisadas por agrupamento temático.
Resultados
Foram recrutadas 237 pessoas. Dessas, 42,2% se identificaram como mulher trans/travesti e 36,3% como homem trans/transmasculino; 65,4% tinham até 29 anos de idade; 51,1% se autodeclararam de raça/cor da pele branca; 52,7% eram solteiras; 80,5% tinham, no mínimo, o ensino médio completo; 32,5% não tinham renda. A autopercepção da identidade trans ocorreu majoritariamente entre 10 e 19 anos (55,7%), com início da transição social entre 15 e 19 anos (41,8%). Foram realizadas 14 entrevistas em profundidade.
Conclusão
Os aspectos socioeconômicos – escolaridade, emprego e renda – estão na centralidade da identidade de gênero. Ações e políticas públicas precisam ser criadas e aprimoradas.
Palavras-chave
Pessoas transgênero; Serviços de Saúde para Pessoas Transgênero; Pesquisa Demográfica e de Saúde; Acesso a Serviços de Saúde; Populações Minoritárias
Contribuições do estudo
Principais resultados
A população trans da Baixada Santista se caracterizou por ser majoritariamente jovem, branca e negra, e com renda menor do que 1 salário mínimo. Cerca de metade eram mulheres trans ou travestis, e um terço, homens trans ou transmasculinos.
Implicações para os serviços
A compreensão sobre os atravessamentos sociais observados, como a baixa renda e a vulnerabilização socioeconômica, indicam a importância de melhorar o acesso aos serviços de assistência social à população trans da Baixada Santista e suas famílias.
Perspectivas
Pesquisas representativas envolvendo diversidade sexual e de gênero podem contribuir para embasar políticas públicas para esta população, desde o processo de sua idealização até melhorias das políticas vigentes.
Palavras-chave
Pessoas transgênero; Serviços de Saúde para Pessoas Transgênero; Pesquisa Demográfica e de Saúde; Acesso a Serviços de Saúde; Populações Minoritárias
INTRODUÇÃO
No Brasil, o dado sobre “identidade de gênero” não consta em inquéritos representativos,11 IBGE. Panorama do Censo 2022 [Internet]. [cited 2024 Mar 12]. Available from: https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/.
https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/.... tampouco em estudos nacionais relevantes na área da saúde.22 Stoppa SR, Szwarcwald CL, Oliveira MM, Gouvea ECDP, Vieira MLFP, Freitas MPS et al. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: histórico, métodos e perspectivas. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(5):e2020315. doi: 10.1590/S1679-49742020000500004.
https://doi.org/10.1590/S1679-4974202000... O país da América do Sul pioneiro nesse levantamento foi o Uruguai.33 Uruguay. Ministerio del Desarollo Social. Censo nacional de personas trans. Montevideo; 2017.
O desconhecimento do tamanho e da distribuição populacional segundo identidade de gênero limita a compreensão dos determinantes sociais e das disparidades de saúde enfrentadas pela população trans e não-binária, dificultando o desenvolvimento de políticas públicas eficazes para a melhoria da qualidade de vida desses grupos populacionais.44 Bastos FI, Bastos LS, Coutinho C, Toledo L, Mota JC, Velasco-de-Castro CA et al. HIV, HCV, HBV, and syphilis among transgender women from Brazil: assessing different methods to adjust infection rates of a hard-to-reach, sparse population. Medicine. 2018 May;97(1S Suppl 1).
Este cenário tem motivado a realização de estudos, com o objetivo de suprir tal lacuna. Estimativa realizada em 2021 apontou que 1,88% da população adulta brasileira, distribuída geograficamente em todas as macrorregiões brasileiras, corresponde a pessoas trans e não-binárias.55 Spizzirri G, Eufrásio R, Lima MCP, de Carvalho Nunes HR, Kreukels BPC, Steensma TD et al. Proportion of people identified as transgender and non-binary gender in Brazil. Sci Rep. 2021 Jan 26;11(1):2240. Outro mapeamento da população trans, realizado no município de São Paulo, investigou as condições de vida de 1.788 pessoas, evidenciando barreiras de acesso à educação, aos serviços de saúde e ao mercado de trabalho formal.66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p.
Embora os estudos envolvendo diversidade sexual e de gênero estejam crescendo no país, fornecendo subsídios importantes à elaboração de políticas públicas, a maioria ainda foca temas como o comportamento sexual e infecções sexualmente transmissíveis (IST). Raros são os estudos que abordam as desigualdades e vulnerabilidades sociais, condições de saúde e acesso aos serviços dessa população.77 Dourado I, Guimarães MDC, Damacena GN, Magno L, de Souza Júnior PRB, Szwarcwald CL. Sex work stigma and non-disclosure to health care providers: data from a large RDS study among FSW in Brazil. BMC Int Health Hum Rights. 2019;19(1).
8 Rocha AB, Barros C, Generoso IP, Bastos FI, Veras MA. HIV continuum of care among trans women and travestis living in São Paulo, Brazil. Rev Saude Publica. 2020;54.
9 Silva MAD, Luppi CG, Masm V. Work and health issues of the transgender population: factors associated with entering the labor market in the state of São Paulo, Brazil. Cien Saude Colet. 2020;25(5).
10 Zucchi EM, Barros CRDS, Redoschi BRL, Deus LFA de, Veras MA de SM. Psychological well-being among transvestites and trans women in the state of São Paulo, Brazil. Cad Saude Publica. 2019;35(3):e00064618.
11 Magno L, Silva LAV da, Veras MA, Pereira-Santos M, Dourado I. Stigma and discrimination related to gender identity and vulnerability to HIV/AIDS among transgender women: a systematic review. Cad Saude Publica. 2019;35(4):e00112718.-1212 Bassichetto KC, Saggese GSR, Maschião LF, Carvalho PGC de, Gilmore H, Sevelius J et al. Factors associated with the retention of travestis and transgender women living with HIV in a peer navigation intervention in São Paulo, Brazil. Cad Saude Publica. 2023;39(4):e00147522.
Há várias lacunas na assistência à saúde da população trans no Brasil, começando pela dificuldade de acesso de pessoas trans a serviços de saúde, especialmente de atenção primária, devido ao estigma e à transfobia estrutural.1313 Velasco RAF, Slusser K, Coats H. Stigma and healthcare access among transgender and gender-diverse people: a qualitative meta-synthesis. J Adv Nurs. 2022;78(10):3083-3100. doi: 10.1111/jan.15323.
https://doi.org/10.1111/jan.15323.... Além disso, de forma geral, os serviços de atenção especializada existentes não conseguem atender a todas as demandas em saúde dessa população, que vão além dos recursos de modificação corporal.
Considerando este contexto, o objetivo deste trabalho foi descrever o perfil socioeconômico e demográfico da população trans da Baixada Santista.
MÉTODOS
Delineamento e contexto
Foi realizado um estudo descritivo a partir de dados do projeto Mapeamento da População Trans da Baixada Santista, uma pesquisa maior com abordagem quantitativa e qualitativa. A pesquisa foi realizada nos nove municípios da Baixada Santista, que inclui Santos e os municípios vizinhos Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e São Vicente.
Durante a construção do projeto, destacou-se a participação de pessoas que compartilhavam preocupações sobre a necessidade de implementação de políticas públicas voltadas à população trans. Formou-se um grupo de pesquisa que incluía representantes do movimento social, com base em experiências e investigações anteriores, composto por representantes de diversos segmentos, como universidade, Sistema Único de Saúde (SUS), direitos humanos (municipal e estadual), centros de pesquisa e organizações da sociedade civil.
A investigação seguiu três etapas: formativa, quantitativa e qualitativa.
A formativa contribuiu para preparar o trabalho de campo: (1) identificaram-se informantes-chaves; (2) realizou-se treinamento das pessoas entrevistadoras; e (3) firmaram-se parcerias com os movimentos sociais, serviços de saúde e assistência social, estadual e dos municípios envolvidos, com pactuação para utilização de espaços físicos para a realização das entrevistas.
Participantes
Foram elegíveis pessoas trans, autodeclaradas como trans, travesti ou não-binária, com 18 anos ou mais, que residiam, estudavam ou trabalhavam na região da Baixada Santista, entre julho e novembro de 2023.
As pessoas que participaram do estudo foram selecionadas por meio de amostragem de conveniência, a partir de um pré-cadastro eletrônico, adaptado de formulário utilizado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. O link para o pré-cadastro foi divulgado por meio de mídias sociais, como Instagram e WhatsApp, além de constar em impressos com QR-code que direcionava ao link. Um convite impresso para participação na pesquisa, incluindo o link de acesso para o cadastro, também foi divulgado em locais de socialização e referência para as pessoas trans da Baixada Santista.
As que responderam positivamente à pergunta Você aceita que entremos em contato para participar de uma pesquisa? foram contatadas para agendamento da entrevista, de acordo com a modalidade escolhida, presencial ou virtual.
Foram realizadas também buscas ativas em locais de referência cultural, de saúde e de cidadania voltados à população trans da região. Entre esses, destacam-se eventos de assistência a pessoas em situação de rua, como ações do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua de São Vicente, o Instituto ProComum, em Santos, e as iniciativas do movimento da sociedade civil, no Guarujá. Além disso, a equipe de pesquisa também esteve presente em um mutirão de retificação de documentos para pessoas trans, promovido pelo Coletivo Casa das Beauty.
Fontes de dados e mensuração
Após a concordância em participar da pesquisa e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), as entrevistas foram conduzidas, em sua maioria, por pessoas trans (pares), de forma presencial ou remota, via plataforma Zoom, com agendamento prévio. Garantiu-se um ambiente de confidencialidade em locais como unidades básicas de saúde, serviços de atenção especializada, associações, institutos, centros POP e secretarias de direitos humanos, conforme a estrutura disponível em cada município. A coleta de dados ocorreu entre agosto e dezembro de 2023, com os dados sendo inseridos diretamente na plataforma REDCap durante a aplicação dos questionários.
A participação nas etapas quantitativa e qualitativa ocorreu mediante fornecimento de ressarcimento para cobrir os custos envolvidos.
Procedimentos de amostragem
Foi aplicado o valor de 1,88% sobre o total da população adulta dos municípios pertencentes à Baixada Santista, única estimativa nacional disponível da magnitude de pessoas trans e não-binárias, obtida a partir de uma estimativa brasileira.1010 Zucchi EM, Barros CRDS, Redoschi BRL, Deus LFA de, Veras MA de SM. Psychological well-being among transvestites and trans women in the state of São Paulo, Brazil. Cad Saude Publica. 2019;35(3):e00064618. Com base em 19.965 pessoas, com margem de erro de 5% e efeito de desenho de 1, calculou-se uma amostra de 377 pessoas, proporcionalmente distribuída entre os municípios (Tabela 1).
Tamanho da amostra calculada referente ao mapeamento da população trans da Baixada Santista, 2023
Questionário
Para a elaboração do questionário, foram adaptados instrumentos já utilizados com população trans e instrumentos de pesquisas já validados, para a inclusão de temas específicos,1616 U.S. Department of Health & Human Services. Helping Patients Who Drink Too Much. A Clinician’s Guide. 2005.
17 Santos IS, Tavares BF, Munhoz TN, Almeida LS, Silva NT, Tams BD et al. Sensibilidade e especificidade do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos da população geral. Cad Saude Publica. 2013;29(8):1533-43. doi: 10.1590/0102-311x00144612.
https://doi.org/10.1590/0102-311x0014461... -1818 Sischka PE, Costa AP, Steffgen AF. The WHO-5 well-being index – validation based on item response theory and the analysis of measurement invariance across 35 countries. J Affect Disord Rep. 2020;1:100020. doi: 10.1016/j.jadr.2020.100020.
https://doi.org/10.1016/j.jadr.2020.1000... além de questões de elaboração própria.
O instrumento contemplou os seguintes temas: características socioeconômicas e demográficas; morbidade; alimentação e nutrição, insegurança alimentar; modificação corporal; saúde sexual e estratégias de prevenção às IST; saúde mental; acesso a serviços de saúde e qualidade da assistência; uso de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas; experiências de discriminação, encarceramento e violência; e estigma interseccional.1919 Bastos FIPM, et al. III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz/ICICT; 2017. 528 p.
20 Krüger A, Sperandei S, Bermudez XPCD, Merchán-Hamann E. Characteristics of hormone use by travestis and transgender women of the Brazilian Federal District. Rev Bras Epidemiol. 2019;22:e190004.
21 Reis A, Sperandei S, de Carvalho PGC, Pinheiro TF, de Moura FD, Gomez JL et al. A cross-sectional study of mental health and suicidality among trans women in São Paulo, Brazil. BMC Psychiatry. 2021;21(1).
22 Segall-Corrêa AM, Marin-Leon L. A segurança alimentar no Brasil: proposição e usos da escala brasileira de medida da insegurança alimentar (EBIA) de 2003 a 2009. Segur Aliment Nutr. 2015;16(2):1-19. doi: 10.20396/san.v16i2.8634782.
https://doi.org/10.20396/san.v16i2.86347...
23 Maschião LF, Bastos FI, Wilson E, McFarland W, Turner C, Veras MA. Nonprescribed sex hormone use among trans women: the complex interplay of public policies, social context, and discrimination. Transgend Health. 2020;5(4):205-15. doi: 10.1089/trgh.2020.0012.
https://doi.org/10.1089/trgh.2020.0012....
24 Sievwright KM, Stang AL, Nyblade L, Lippman SA, Logie CH, Veras MA, et al. An expanded definition of intersectional stigma for public health research and praxis. Am J Public Health. 2022;112(S4):S356-S361. doi: 10.2105/ajph.2022.306718.-2525 Carvalho M. Travesti, mulher transexual, homem trans e não binário: interseccionalidades de classe e geração na produção de identidades políticas. Cad Pagu. 2018;(52):e185211. doi: 10.1590/1809444920100520011.
Variáveis
Para a caracterização socioeconômica e demográfica da população do estudo, foram selecionadas as seguintes variáveis: faixa etária (em anos – 18 e 19, 20-24, 25-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60 e mais); raça/cor de pele (branca, preta, parda, amarela, indígena); escolaridade (ensino fundamental I incompleto e completo, ensino fundamental II incompleto e completo, ensino médio incompleto e completo, ensino superior incompleto e completo, pós-graduação); renda atual (sim; não); renda total no último mês, equivalente ao salário mínimo da época (0; 0,1-0,4; 0,5-0,9; 1-1,9; 2-2,9; ≥ a 3); moradia (alugada, própria, cedida/emprestada, albergue/centro de acolhida/república, na rua); situação conjugal atual (solteira/sem parceria, casada ou morando junto, namorando, separada ou divorciada, viúva); identidade de gênero (mulher trans/mulher transexual, homem trans, não-binária, travesti, transmasculino, outra); idade em que se percebeu trans, em anos (≤ 10, 10-14, 15-19, 20-24, 25-29, 30-34, 35-39); idade do início da transição social (10-14, 15-19, 20-24, 25-29, 30-34, 35-39, 40-49, 50 e mais); e retificação de registro civil (não; sim; processo em andamento; tentou, mas não conseguiu; não decidiu).
Análise dos dados
Foi realizada análise descritiva, com apresentação das variáveis de interesse por meio de frequências relativas e absolutas.
Pesquisa qualitativa
Para sua execução, foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturado para possibilitar aprofundamento e interlocução com os dados levantados no questionário quantitativo. As perguntas do roteiro contemplaram seis temas: o processo de identificação como pessoas trans; a rede de apoio; os cuidados à saúde; a saúde mental e qualidade de vida; relacionamentos afetivos e/ou sexuais; e violência.
As entrevistas foram conduzidas por duas pessoas trans da equipe de pesquisa, com formação em psicologia. Além de proximidade com o campo qualitativo e de treinamento prévio, as pessoas entrevistadoras foram acompanhadas pela supervisora qualitativa.
As pessoas voluntárias que participaram desta etapa qualitativa foram convidadas a participar de uma entrevista em profundidade, agendada para outro momento, depois de terem respondido ao questionário quantitativo. Para a realização do convite, buscou-se atender à maior diversidade quanto à identidade de gênero, idade e local de residência/estudo/trabalho.
As entrevistas foram realizadas de modo virtual, por meio da plataforma Zoom, em dia e horário previamente agendados. Foram gravadas após o consentimento e assinatura do TCLE. A transcrição do material e sua análise foi efetivada pela supervisora qualitativa. Após leitura minuciosa da transcrição das entrevistas, buscou-se identificar e agrupar por semelhança e aproximação nos seis temas que nortearam as perguntas da entrevista.
Para este artigo, destacou-se o atravessamento da categoria identidade de gênero nas condições socioeconômicas e seu impacto na escolaridade, trabalho e renda das pessoas participantes.
Aspectos éticos
O projeto foi aprovado nos Comitês de Ética em Pesquisa do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids e da Universidade Federal de São Paulo, sob o parecer nº 5.971.093, em 8/12/2022, e com Certificado de Apresentação de Apreciação Ética nº 64010722.8.0000.5375. As pessoas participantes assinaram o TCLE conforme a resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
Das 403 pessoas potencialmente elegíveis, 300 atenderam aos critérios de inclusão. Ao se retirarem as duplicidades (n=17), restaram 283 a serem contactadas, para confirmação de interesse em participar do estudo. Dessas, 237 (83,7%) aceitaram participar e responderam ao questionário, representando 62,9% da amostra calculada (377). A distribuição das pessoas que participaram do estudo em cada município e o fluxograma das etapas de captação e recrutamento são apresentados na Figura 1.
Fluxograma das etapas de captação e recrutamento do mapeamento da população trans da Baixada Santista, 2023
A Tabela 2 apresenta os dados relativos às características socioeconômicas e demográficas selecionadas dos participantes do estudo. A maioria (57,4%) tinha entre 20 e 29 anos de idade; 51,1% se identificaram como sendo de raça/cor de pele branca e 45,1% como pretas/pardas; 80,5% completaram o ensino médio, entre as quais 10,1% tinham superior completo. Declararam não ter renda 32,5% das pessoas participantes; 31,2% recebiam até 1 salário mínimo; 10,6% se encontravam em situação de moradia instável, vivendo em albergues/centros de acolhida/república ou na rua; 53,0% eram pessoas solteiras ou sem parceria(s). Quanto à identidade de gênero, 42,2% se declararam como mulher trans ou travesti, 36,3% como homem trans ou transmasculino, e 20,3% como pessoa não-binária; 45,6% informaram ter se percebido como pessoa trans antes dos 14 anos, e dessas, 10,5% iniciaram sua transição social ainda nessa fase.
Características socioeconômicas e demográficas das pessoas participantes do estudo, Baixada Santista, 2023 (n=237)
Com relação às entrevistas qualitativas, criou-se uma listagem com 24 potenciais participantes que já haviam respondido ao questionário quantitativo. Após contato, uma recusou-se a participar da entrevista; todas as demais aceitaram, porém nove não compareceram na data e horário agendados, mesmo após outras tentativas. Assim, foi realizado um total de 14 entrevistas em profundidade, com duração média de 58 minutos cada. A mais extensa levou 1 hora e 44 minutos, e a mais breve, 32 minutos.
As pessoas participantes tinham entre 18 e 45 anos; três se identificaram como homens trans, três não-binárias, sete mulheres trans e uma travesti; seis pessoas se autorreferiram como pardas, duas como pretas, cinco como brancas e uma preferiu não se identificar. Residiam ou trabalhavam em São Vicente, Itanhaém, Santos, Praia Grande, Guarujá e Cubatão.
Os principais temas relacionados a aspectos sociais e econômicos trazidos durante as entrevistas estão apresentados no Quadro 1.
Excertos selecionados de narrativas das pessoas entrevistadas, com referência aos nomes fictícios, identidade de gênero, raça/cor e idade, Baixada Santista, 2023
DISCUSSÃO
O presente estudo, primeiro deste tipo realizado na Baixada Santista, descreveu o perfil socioeconômico e demográfico da população trans que residia, trabalhava ou estudava na região.
O mapeamento da população trans na Baixada Santista utilizou metodologia de recrutamento online, que se mostrou de fácil organização e de baixo custo. A resposta ao convite foi positiva, com uma boa adesão de pessoas que completaram o cadastro inicial. Entretanto, em alguns municípios da Baixada Santista, o número de participantes ficou abaixo do esperado. É possível que a distribuição da população trans seja heterogênea nesta região, e fatores como a atuação do movimento social, a presença de rede de serviços de saúde e de assistência social também possam influenciar a participação.
Uma em cada cinco participantes se identificou como pessoa não-binária, superior ao estudo do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea – Cedec (2021), realizado no município de São Paulo em 2021.66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. Diferenças na autoidentificação em relação ao gênero podem surgir dos desafios de capturar essa variável em pesquisas, dada sua natureza fluida e, em alguns casos, o estágio de transição que as pessoas podem estar vivenciando. Além disso, há questões geracionais e de temporalidade que também podem ter impactado uma proporção de homens trans e pessoas transmasculinas mais próxima à de mulheres trans e travestis.66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. Outro fator que pode ter contribuído para essa diferença foi a forma alternativa de captação das pessoas, via cadastro onlin e.2424 Sievwright KM, Stang AL, Nyblade L, Lippman SA, Logie CH, Veras MA, et al. An expanded definition of intersectional stigma for public health research and praxis. Am J Public Health. 2022;112(S4):S356-S361. doi: 10.2105/ajph.2022.306718.
A proporção de pessoas com idade até 29 anos foi maior na Baixada Santista, cerca de dois terços em comparação à população pesquisada em São Paulo (55%).66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. O pré-cadastro online pode ter proporcionado a maior participação de jovens respondentes observada neste estudo.
Os processos de autopercepção da identidade trans e início da transição social ocorreram majoritariamente entre 10 e 19 anos e entre 15 e 19 anos, respectivamente. Este resultado corrobora dados do estudo realizado em 2021 no município de São Paulo, que identificou que 70% das participantes já tinham percepção da identidade de gênero entre 5 e 15 anos de idade.66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p.
A população que se identificou como preta/parda na região da Baixada Santista foi menor do que no mapeamento realizado pelo Cedec66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. (42,2% versus 57,0%), porém foi maior do que a obtida no estudo TransOdara/São Paulo (24,7%).2525 Carvalho M. Travesti, mulher transexual, homem trans e não binário: interseccionalidades de classe e geração na produção de identidades políticas. Cad Pagu. 2018;(52):e185211. doi: 10.1590/1809444920100520011.
Mais de 80% das pessoas participantes haviam concluído o ensino médio, sendo esse valor superior aos resultados observados no mapeamento da população trans do município de São Paulo (63%) e do estudo TransOdara/São Paulo (75%).66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p., A proporção também é mais elevada que entre a população geral com 25 anos ou mais (54,5%).2626 Veras MASM et al. TransOdara study: the challenge of integrating methods, settings and procedures during the covid-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2024;27(Suppl 1):e240002.supl.1. doi: 10.1590/1980-549720240002.supl.1.
Cerca de um terço não teve renda no mês anterior, valor este maior do que o do estudo do Cedec (6%). A proporção de pessoas que declararam renda maior do que 3 salários mínimos (10,1%) foi o dobro do verificado no mapeamento realizado pelo Cedec (5,0%)66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. e no TransOdara/São Paulo (4,3%).2525 Carvalho M. Travesti, mulher transexual, homem trans e não binário: interseccionalidades de classe e geração na produção de identidades políticas. Cad Pagu. 2018;(52):e185211. doi: 10.1590/1809444920100520011.
Um décimo das pessoas participantes participantes vivia em situação de moradia instável, percentual inferior ao observado nos demais inquéritos comparados (18% e 13%, respectivamente).66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p., Tais estudos prévios ocorreram durante a pandemia de covid-19, o que pode ter influenciado na diferença dos dados obtidos nessas pesquisas.66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p.
Questões relacionadas à formação escolar, trabalho e moradia também estavam presentes na etapa qualitativa. Duas mulheres trans entrevistadas indicaram que saíram ou foram expulsas de casa por conta de questões de gênero, aos 12 e 13 anos de idade, respectivamente. Além disso, houve relatos de dificuldade de permanência na escola e no trabalho por situações de violência verbal e/ou física. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que 13 anos é a idade média em que mulheres trans e travestis são expulsas de casa pelos pais.2727 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua): Educação 2023. [cited 2024 oct 4]. Available from: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/baf49b4ab43ec70bcba5f01d7f512ffd.pdf.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/me... A compreensão e exposição da identidade de gênero é algo que transforma a vivência de pessoas trans, as quais podem começar a sofrer com marginalização social por parte da família,66 CEDEC. Transver o mundo: existências e (re)existências de travestis e pessoas trans no 1º mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo. São Paulo: Annablume; 2021. 192 p. o que está relacionado à evasão escolar e à dificuldade de acessar o mercado formal de trabalho.2727 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua): Educação 2023. [cited 2024 oct 4]. Available from: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/baf49b4ab43ec70bcba5f01d7f512ffd.pdf.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/me... ,99 Silva MAD, Luppi CG, Masm V. Work and health issues of the transgender population: factors associated with entering the labor market in the state of São Paulo, Brazil. Cien Saude Colet. 2020;25(5).
Os excertos da etapa qualitativa destacaram que aspectos socioeconômicos – escolaridade, emprego e renda – são permeados centralmente pela identidade de gênero, a partir das percepções das pessoas participantes. Portanto, pesquisas, ações e políticas públicas que visam escolaridade, trabalho e renda na população precisam ser realizadas a partir de variáveis que perpassam a identidade de gênero, como violências no âmbito familiar, escolar e laboral, que impactam o acesso e a permanência no mercado de trabalho, assim como a renda.2222 Segall-Corrêa AM, Marin-Leon L. A segurança alimentar no Brasil: proposição e usos da escala brasileira de medida da insegurança alimentar (EBIA) de 2003 a 2009. Segur Aliment Nutr. 2015;16(2):1-19. doi: 10.20396/san.v16i2.8634782.
https://doi.org/10.20396/san.v16i2.86347... , Ressalta-se também a importância de melhorar o acesso de pessoas trans, adolescentes e adultas, aos serviços associados às políticas de assistência social, para evitar situações de vulnerabilidade social e violação de direitos,2929 Pereira BCS, Lemos STF. O trabalho do/a assistente social no atendimento à população transgênero e travesti. Serv Soc Soc. 2021;(142):529-48. doi: 10.1590/0101-6628.263. entendendo-se o impacto da transfobia na relação trabalho-renda.2929 Pereira BCS, Lemos STF. O trabalho do/a assistente social no atendimento à população transgênero e travesti. Serv Soc Soc. 2021;(142):529-48. doi: 10.1590/0101-6628.263.
O Mapeamento da População Trans da Baixada Santista alcançou o objetivo ao qual se propôs de trazer dados sobre as características socioeconômicas e demográficas da população trans da Baixada Santista.
Neste estudo, empregou-se uma forma de recrutamento predominantemente via internet, por meio do preenchimento de cadastro, cujas vantagens seriam: facilidade de aplicação, disseminação e baixo custo; e a possibilidade de maior alcance, em especial para a população adulta. A desvantagem seria, entre outras, dificultar o alcance de pessoas pouco familiarizadas com a internet e sem acesso a ela. A metodologia empregada neste estudo mostrou-se efetiva para captação da amostra, apesar de que, em alguns municípios, o número de pessoas incluídas ficou abaixo do esperado, embora a equipe de pesquisa tenha realizado a divulgação de forma exaustiva. As limitações do estudo são, junto às desvantagens do recrutamento, uma amostra não probabilística da população trans com adesão espontânea à investigação. Portanto, os resultados obtidos nessa pesquisa podem não ser representativos da população trans como um todo.
Este estudo acessou alguns aspectos socioeconômicos em uma amostra de pessoas trans na Baixada Santista que apresentou como características ser jovem, majoritariamente branca e negra, e mais equilibrada proporcionalmente em relação às identidades de gênero. Verificou-se uma alta frequência de conclusão do ensino médio, porém com mais de 60% das pessoas sem renda ou recebendo menos de 1 salário mínimo. E, em associação com os resultados qualitativos, compreendeu-se que aspectos sociais relacionados à identidade trans permeiam obstáculos na formação escolar e no ambiente laboral.
FINANCIAMENTO
A pesquisa foi financiada por emenda parlamentar do deputado federal Alexandre Padilha (processo nº 212239080009). Gois I recebeu bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Processo n° 88887.841876/2023-00).
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
10 Jan 2025 - Data do Fascículo
2024
Histórico
- Recebido
15 Mar 2024 - Aceito
24 Out 2024