Análise da situação vacinal de poliomielite em coorte de nascidos vivos de 2017 e 2018 em cidades brasileiras: inquérito nacional de cobertura vacinal

Alessandra Lucchesi de Menezes Xavier Franco Ana Paula França José Cássio de Moraes Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro Grupo ICV 2020Sobre os autores Adriana Ilha da Silva Alberto Novaes Ramos Jr. Ana Paula França Andrea de Nazaré Marvão Oliveira Antonio Fernando Boing Carla Magda Allan Santos Domingues Consuelo Silva de Oliveira Ethel Leonor Noia Maciel Ione Aquemi Guibu Isabelle Ribeiro Barbosa Mirabal Jaqueline Caracas Barbosa Jaqueline Costa Lima José Cássio de Moraes Karin Regina Luhm Karlla Antonieta Amorim Caetano Luisa Helena de Oliveira Lima Maria Bernadete de Cerqueira Antunes Maria da Gloria Teixeira Maria Denise de Castro Teixeira Maria Fernanda de Sousa Oliveira Borges Rejane Christine de Sousa Queiroz Ricardo Queiroz Gurgel Rita Barradas Barata Roberta Nogueira Calandrini de Azevedo Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira Sheila Araújo Teles Silvana Granado Nogueira da Gama Sotero Serrate Mengue Taynãna César Simões Valdir Nascimento Wildo Navegantes de Araújo Sobre os autores

RESUMO

Objetivo

Descrever a situação vacinal contra poliomielite em 26 capitais, Distrito Federal e 12 municípios do Brasil, em crianças nascidas em 2017 e 2018.

Métodos

Inquérito domiciliar de base populacional realizado de 2020 a 2022, em que se avaliou a cobertura vacinal da poliomielite em crianças, considerando doses válidas, aplicadas e oportunas por municípios.

Resultados

Foram coletados dados de 37.801 crianças. A cobertura vacinal de esquema completo de doses válidas foi de 87,5% (IC95% 86,2;88,7), caindo para 79,6% (IC95% 78,1;81,0), considerando a dose de reforço. A taxa de abandono foi de 4,5% para esquema completo, e de 11,7% no primeiro reforço. Não houve correlação entre a realização de campanha e as elevadas coberturas.

Conclusão

A cobertura vacinal de esquema completo e no primeiro reforço não atingiu a meta de 95,0%. Diferenças regionais e a associação das coberturas vacinais com indicadores sociais devem ser consideradas nas estratégias de aumento da cobertura.

Palavras-chave
Cobertura Vacinal; Vacinas contra Poliovírus; Poliomielite; Saúde da Criança; Inquéritos Epidemiológicos

Contribuições do estudo

Principais resultados

As coberturas vacinais de esquema completo contra poliomielite são de 87,5% (IC95% 86,2;88,7) e observada redução para 79,6% (IC95% 78,1;81,0) com a primeira dose de reforço. Taxa de abandono de 4,5% para esquema completo, e 11,7% no primeiro reforço.

Implicações para os serviços

A verificação das cadernetas de vacinação favorece a identificação e minimização dos fatores associados à não vacinação, que devem ser considerados para a definição de estratégias assertivas que visem ao aumento das coberturas vacinais.

Perspectivas

A compreensão das coberturas vacinais direciona o processo de desenvolvimento de ações que favoreçam o incremento das coberturas vacinais e consequentemente reduzam o número de suscetíveis, auxiliando no controle das doenças imunopreveníveis.

Palavras-chave
Cobertura Vacinal; Vacinas contra Poliovírus; Poliomielite; Saúde da Criança; Inquéritos Epidemiológicos

INTRODUÇÃO

Desde 2016, as coberturas das vacinas do calendário infantil têm apresentado queda, refletindo no resultado insatisfatório desse indicador para a vacina da poliomielite no Brasil. Nos anos de 2020, 2021 e 2022 registrou-se uma cobertura vacinal no país para esquema completo com primeiro reforço de 73,0%, 65,8% e 72,5%, respectivamente, não sendo alcançada a meta preconizada de 95,0%.11 SIPNI. Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/CGPNI/DEIDT/SVS/MS). [citado em 5 de novembro de 2023]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.exe?bd_pni/cpnibr.def.
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.e...
Esses resultados podem estar associados a diferentes fatores, tais como operacionais, de agravamento das condições socioeconômicas e de hesitação vacinal.22 Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031. A introdução da vacina contra a poliomielite no Brasil data de 1961.33 Campos ALV, Nascimento DR, Maranhão E. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. Hist Ciênc Saúde Manguinhos. 2003;10 Supl 2:573-600. No ano de 2016 foi incorporada ao esquema vacinal o uso da Vacina Inativada contra Poliomielite (VIP) com três doses no primeiro ano de vida da criança (aos 2, 4 e 6 meses de idade), e realização de duas doses de reforço com a Vacina Oral de Poliovírus (VOP) bivalente44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. NOTA TÉCNICA Nº 78/2016-CGPNI/DEVIT/SVS/MS. Vacinação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e usuários (rotina campanha e viajantes). Brasília: Ministério da Saúde: 2016 Abr. aos 15 meses e 4 anos de vida, como também sua administração em campanhas anuais de vacinação.55 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral Do Programa Nacional de Imunizações. Plano Nacional de Resposta a um Evento de Detecção de Poliovírus e um Surto de Poliomielite: Estratégia do Brasil. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2022 Abr. No entanto, o referido esquema vacinal sofrerá mudanças em 2024, já que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda utilizar VIP sempre que possível,66 WHO. Standard operating procedures: responding to a poliovirus event or outbreak, version 4. Geneva: World Health Organization; 2022. e dessa forma as doses de reforço serão realizadas com VIP e não com VOP.55 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral Do Programa Nacional de Imunizações. Plano Nacional de Resposta a um Evento de Detecção de Poliovírus e um Surto de Poliomielite: Estratégia do Brasil. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2022 Abr.,77 Brasil. Ministério da Saúde. Governo anuncia atualização da vacina contra a pólio a partir de 2024: reforço será feito com vacina injetável, após período de transição, e representa avanço tecnológico. Publicado em 07 de julho de 2023a. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2023/07/governo-anuncia-atualizacao-da-vacina-contra-a-polio-a-partir-de-2024.
https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-...

Destaca-se que a poliomielite é uma doença infectocontagiosa viral aguda que acomete principalmente crianças menores de 5 anos de idade, e 1% dos casos apresentam paralisia flácida de início súbito em membros inferiores, assimétrica, com sensibilidade preservada, e arreflexia no segmento atingido.88 BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. 4ª edição. Brasília: Ministério da Saúde; 2019. A transmissão ocorre mais frequentemente através do contato direto com fezes ou secreções eliminadas pela boca de pessoas doentes ou portadores.88 BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. 4ª edição. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.,99 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5ª edição rev. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2022. O déficit motor tem evolução frequentemente em três dias, 5% a 10% dos casos morrem por paralisia dos músculos respiratórios1010 Centers for Disease Control and Prevention – CDC. What is Polio? Set. 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/polio/index.htm. [consultado em 26 de outubro de 2021].
https://www.cdc.gov/polio/index.htm. [co...
e uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível.88 BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. 4ª edição. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.

Ressalta-se que, em 1988, a 41ª Assembleia Mundial da Saúde adotou resolução sobre a erradicação mundial da poliomielite, que marcou a criação da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI).1111 World Health Organization – WHO. Global Polio Eradication Initiative. Polio Endgame Strategy 2019-2023: Eradication, integration, certification and containment. Geneva: World Health Organization; 2019. Tal iniciativa propiciou a ampliação da capacidade de enfrentamento a outras doenças infectocontagiosas e a qualificação da vigilância e imunização,1212 Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS. Poliomielite. Jan. 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/poliomielite.
https://www.paho.org/pt/topicos/poliomie...
o que corroborou para a redução dos casos, tendo em vista que atualmente 80% da população mundial vive em regiões certificadas como livres da pólio.1313 Zaffran M, MsGovern M, Hossaini R, Martin R, Wenger j. The polio endgame: securing a world free of all polioviruses. Lancet. 2018;91(10115):11-3.

O Brasil foi certificado pela eliminação da poliomielite em 1994, contudo existe o risco de casos importados,1414 BRASIL. Ministério da Saúde. Poliomielite. Nov. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/poliomielite. [consultado em 26 de outubro de 2023].
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/...
uma vez que há países com transmissão endêmica, como o Afeganistão e o Paquistão.1515 Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Endemic Countries [Internet]. 2021. Disponível em: https://polioeradication.org/where-we-work/polio-endemic-countries/. [consultado em 25 de outubro de 2023].
https://polioeradication.org/where-we-wo...
,1616 Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Public Health Emergency status [Internet]. 2023. Disponível em: https://polioeradication.org/polio-today/polio-now/public-health-emergency-status/. [consultado em 5 de novembro de 2023].
https://polioeradication.org/polio-today...
Não obstante, há mais de 25 países com detecção de poliovírus selvagem do tipo 1 ou derivados da vacina, com risco potencial de propagação internacional.1616 Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Public Health Emergency status [Internet]. 2023. Disponível em: https://polioeradication.org/polio-today/polio-now/public-health-emergency-status/. [consultado em 5 de novembro de 2023].
https://polioeradication.org/polio-today...
Ressalta-se que enquanto houver uma criança infectada, há risco de crianças suscetíveis de todos os países contraírem poliomielite1515 Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Endemic Countries [Internet]. 2021. Disponível em: https://polioeradication.org/where-we-work/polio-endemic-countries/. [consultado em 25 de outubro de 2023].
https://polioeradication.org/where-we-wo...
e, portanto, a necessidade de manutenção de coberturas vacinais elevadas,99 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5ª edição rev. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.,1111 World Health Organization – WHO. Global Polio Eradication Initiative. Polio Endgame Strategy 2019-2023: Eradication, integration, certification and containment. Geneva: World Health Organization; 2019. fato que apoia a necessidade da realização de estudos que auxiliem a compreensão da situação vacinal e o direcionamento de ações para melhores resultados.

O objetivo deste estudo é descrever a situação vacinal da poliomielite em 26 capitais, no Distrito Federal e em 12 municípios do Brasil, em crianças nascidas em 2017 e 2018.

MÉTODOS

Trata-se de um inquérito domiciliar de base populacional, a partir de uma coorte de crianças nascidas vivas em 2017 e 2018, e residentes na zona urbana das capitais de 26 estados, no Distrito Federal e em 12 municípios acima de 100 mil habitantes, sendo: Campinas/SP, Caruaru/PE, Imperatriz/MA, Joinville/SC, Londrina/PR, Petrópolis/RJ, Rio Grande/RS, Rio Verde/GO, Rondonópolis/MT, Sete Lagoas/MG, Sobral/BA e Vitória da Conquista/BA.22 Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre setembro de 2020 e março de 2022, considerando os períodos de distanciamento social aplicados em cada local. Os dados das datas de aplicação de cada vacina ao longo dos primeiros 24 meses de vida foram obtidos considerando as vacinas administradas na rotina, em serviços públicos e privados, e as administradas em campanhas.

As cadernetas de vacinação foram fotografadas, lidas e transcritas para o banco da pesquisa, por enfermeiros com experiência nas atividades do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Aquelas não encontradas no domicílio foram buscadas no Sistema de Informação do PNI (SI-PNI). Ainda foi aplicado um questionário estruturado com perguntas fechadas relacionadas a dados sociodemográficos da criança; reprodutivos e sociodemográficos da mãe; domicílio e consumo da família; e relacionados à vacinação da criança. Mais detalhes sobre o instrumento de coleta e estratégias de campo estão descritos no artigo de referência metodológica.22 Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031.

Amostragem

A definição da amostra considerou a realização de inquérito para cada cidade. Dessa forma, para o cálculo foram considerados: população hipotética de 1 milhão de nascidos vivos; prevalência estimada de cobertura vacinal = 70%, erro de estimativa = 5%; z = 1,96 para intervalo de confiança de 95% (IC95%); e efeito de desenho de 1,4, com os quais se obtém 452 crianças por inquérito.

Conforme o tamanho da população de nascidos vivos, foram realizados de um a quatro inquéritos por município, sendo que em 15 cidades (4 capitais e 11 do interior) foi realizado apenas um inquérito, dois inquéritos em nove capitais, três inquéritos em quatro capitais e quatro inquéritos em nove capitais, no Distrito Federal e em uma cidade do interior.

O procedimento amostral parte da definição dos estratos socioeconômicos criados a partir da análise de cluster, com base em indicadores socioeconômicos (renda média dos responsáveis pelo domicílio, proporção de responsáveis alfabetizados e proporção de responsáveis com renda maior ou igual a 20 salários mínimos) dos setores censitários urbanos de cada cidade, segundo informações do censo demográfico de 2010.

A análise de conglomerados criou quatro estratos (A a D) de setores censitários com distintas características socioeconômicas. O estrato A refere-se ao grupo socioeconômico de renda alta, o B de renda média alta, o C de renda média baixa, e o D de renda baixa.² Foram estimadas as crianças das coortes de interesse residentes em cada setor, por meio de georreferenciamento dos endereços contidos no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e da projeção baseada na distribuição observada no Censo de 2010.

Os setores foram agrupados por proximidade (conglomerados) e número de crianças previsto, de modo que cada conglomerado contivesse três vezes o número de crianças a serem incluídas na amostra. Os conglomerados foram sorteados de modo sistemático para percorrer toda a área geográfica. Com os mapas dos conglomerados e a listagem dos endereços, obtidos no Sinasc, os entrevistadores percorreram a área buscando as crianças das coortes até atingir o número preestabelecido, para cada estrato, em cada cidade, conforme descrito no artigo metodológico do estudo.22 Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031.

Indicadores e análise dos dados

Para o cálculo das coberturas vacinais, foi utilizado como denominador o número de nascidos vivos registrados no Sinasc em 2017 e 2018, para numeradores utilizaram-se critérios diferentes para considerar doses aplicadas (dose administrada independentemente do momento da aplicação), válidas (dose administrada considerando o momento da aplicação, com relação à data de nascimento e observando-se o intervalo entre as doses) e oportunas (doses recomendadas segundo o esquema vacinal, levando-se em conta as idades mínima e máxima de cada vacina e intervalos adequados entre as doses),1717 Tauil MC, Sato APS, Costa AA, Inenami M, Ferreira VLR, Waldman EA. Coberturas vacinais por doses recebidas e oportunas com base em um registro informatizado de imunização, Araraquara-SP, Brasil, 2012-2014. Epidemiol. Serv. Saúde [Internet]. 2017 Dez;26(4):835-846. [citado em 24 de fevereiro de 2024]. Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742017000400835&lng=pt detalhadas a seguir:

  • Cobertura vacinal aos 12 meses

    • Doses aplicadas

      • Dose 1: junção da primeira dose de VIP + vacina hexavalente (tríplice bacteriana acelular, VIP, hepatite B e Haemophilus influenzae b) + acelular (tríplice bacteriana acelular e VIP);

      • Dose 2: junção da segunda dose de VIP + vacina hexavalente + acelular;

      • Dose 3: junção da terceira dose de VIP + vacina hexavalente + acelular.

    • Doses válidas

      • Dose 1: primeira dose aplicada com 42 dias ou mais;

      • Dose 2: segunda dose aplicada com pelo menos 30 dias após primeira dose;

      • Dose 3: terceira dose aplicada com pelo menos 30 dias após segunda dose.

    • Doses oportunas

      • Dose 1: primeira dose aplicada entre 42 e 89 dias;

      • Dose 2: segunda dose aplicada entre 70 e 151 dias;

      • Dose 3: terceira dose aplicada entre 98 e 212 dias.

  • Cobertura vacinal considerando a primeira dose de reforço

    • Doses aplicadas

      • Dose 1: junção da primeira dose de VOP + quarta dose aplicada de VIP ≥ 12 meses.

    • Doses válidas de VOP

      • Dose 1: primeira dose aplicada com 365 dias ou mais, tendo tomado as 3 doses VIP anteriores.

    • Doses oportuna de VOP

      • Dose 1: primeira dose aplicada entre 365 e 486 dias, tendo tomado as 3 doses VIP anteriores.

Considerou-se ainda:

  • Indicador de taxa de abandono para esquema vacinal VIP completo: diferença entre doses 1 VIP aplicadas e doses 3 VIP aplicadas/doses 1 VIP aplicadas*100.

  • Indicador de taxa de abandono para dose de reforço: diferença entre doses 1 VIP aplicadas e doses 1 VOP (primeiro reforço)/doses 1 VIP aplicadas*100.

Os indicadores de cobertura vacinal foram analisados de forma geral considerando-se os diferentes critérios de doses. Para a análise do comportamento da cobertura entre as capitais e os municípios, foram utilizados os indicadores de doses válidas, sendo que esses também foram utilizados na investigação preliminar da associação das coberturas para as vacinas contra poliomielite com fatores socioeconômicos e demográficos.

Para fins de análise de cobertura vacinal, também foram estabelecidos cinco grupos: satisfatório (igual ou superior a 95%); razoável (90% a 94,9%); insatisfatório (80% a 89,9%); crítico (70% a 79,9%); e muito crítico (igual ou inferior a 69,9%). Os referidos grupos foram estabelecidos entendendo-se que coberturas satisfatórias são correspondentes à meta preconizada de 95%,1818 Pan American Health Organization. Final of the XV Meeting of the Technical Advisory Group on Vaccine preventable Diseases – Municipalities: improving immunization services. Washington: PAHO; 2002. Disponível em: https://www.paho.org/en/documents/final-report-xv-meeting-technical-advisory-group-vaccinepreventable-diseases
https://www.paho.org/en/documents/final-...
e os demais grupos abaixo dessa, de modo que à medida em que os valores se distanciam do preconizado, maiores serão os esforços do município para que se atinja a meta, e maior é a população suscetível, consequentemente o risco para adoecimento e transmissão.

Como a amostra realizada foi estratificada e conglomerada por setor censitário com alocação desproporcional, foi necessário calcular e utilizar pesos amostrais para cada domicílio entrevistado para cálculo das estimativas. As análises foram realizadas aplicando as definições de pesos, estratos e conglomerados para os cálculos das estimativas de cobertura vacinal e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), assim como correlações entre as coberturas, esquema com primeiro reforço e campanha foram analisadas pelo teste de correlação de Spearman, utilizando-se o SPSS versão 22.

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, sob parecer nº 3.366.818, em 4 de junho de 2019, com Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) 4306919.5.0000.5030; e da Irmandade da Santa Casa de São Paulo, sob parecer nº 4.380.019, em 4 de novembro de 2020, com CAAE 39412020.0.0000.5479.

RESULTADOS

A amostra final consistiu em 37.801 nascidos vivos, após perda correspondente a 6% da amostra total em cada município. Assim, foi observado que as coberturas vacinais com base nas doses aplicadas para VIP (esquema completo), de 88,0% (IC95% 86,7;89,1), e para VOP, de 81,2% (IC95% 79,8;86,7) (primeira dose de reforço), se encontram abaixo dos 95,0% esperados pelo Ministério da Saúde (Tabela 1).

Tabela 1
Indicadores em (%), com intervalos de confiança de 95% (IC 95%), de cobertura vacinal contra poliomielite para esquema completo e com primeiro reforço na coorte de nascidos vivos de 2017 e 2018, nas capitais, cidades e Distrito Federal, 2020-2021 (n= 37.801)

Esse resultado aponta diferença de 6,8 pontos percentuais entre completitude do esquema vacinal e primeiro reforço, preconizado aos 15 meses de vida da criança. Destaca-se que a taxa de abandono para esquema completo VIP de doses aplicadas é 4,5%, inferior à taxa de abandono relacionada ao esquema vacinal com a primeira dose de reforço (11,7%) (Tabela 1).

Ao serem estabelecidos critérios para considerar as doses válidas, há redução nas coberturas para esquema completo da VIP (87,5%; IC95% 86,2;88,7) e VOP (79,6%; IC95% 78,1;81,0). Esse resultado indica maior redução das coberturas com doses válidas e oportunas para as doses VOP em relação às coberturas dessas doses para esquema com doses VIP. Para 1,7% das crianças que receberam VOP, as doses aplicadas não foram consideradas válidas, enquanto para 0,6% das terceiras doses VIP aplicadas não foram consideradas válidas (Tabela 1).

Ao ser observada a cobertura vacinal com base na oportunidade, há maior redução do que quando observada a cobertura de doses aplicadas e válidas tanto para VIP (58,3%; IC95% 56,5;60,1) quanto para VOP (41,6%; IC95% 39,9;43,2). Afirma-se que, entre as doses aplicadas, 38,9% das terceiras doses de VIP não foram administradas entre 98 e 212 dias após a segunda dose de VIP, e que 51,1% das primeiras doses de reforço com VOP foram administradas entre 365 e 486 dias após a completitude do esquema com VIP (Tabela 1).

Para a cobertura vacinal do primeiro reforço, a meta não foi alcançada em nenhuma das cidades analisadas, sendo a maior cobertura 93,3% (IC95% 90,7;95,2), em Joinville/SC, e a menor 61% (IC95% 57,3;67,9), em Florianópolis/SC (Tabela 2). Nessa perspectiva, considerando os grupos estabelecidos, se observou a concentração de 10,3% dos municípios no grupo razoável, com coberturas vacinais que variaram de 90,5% a 93,3%. No grupo insatisfatório, concentraram-se 53,8% dos municípios, e as coberturas variaram de 80% a 89,1%; no grupo crítico, essas variaram de 70,9% a 79,8%, contando com 30,8% dos municípios nesse grupo. Por fim, no grupo muito crítico, observou-se 5,1% dos munícipios, com coberturas que variaram de 61,0% (IC95% 53,7;67,9) a 62,2% (IC95% 54,3;69,5) (Tabela 2).

Tabela 2
Indicador em (%), com intervalos de confiança de 95% (IC95), de cobertura vacinal para vacina inativada poliomielite (VIP) e vacina oral poliomielite (VOP) administradas na rotina e em campanha na coorte de nascidos vivos de 2017 e 2018, de acordo com doses válidas por capital, cidades do interior e Distrito Federal, 2020-2021 (n = 37.801)

As coberturas vacinais para dose de reforço, nos 12 grandes centros urbanos (São Paulo/SP, Brasília/DF, Rio de Janeiro/RJ, Manaus/AM, Belém/PA, Fortaleza/CE, Recife/PE, Salvador/BA, Belo Horizonte/MG, Curitiba/PR, Goiânia/GO e Porto Alegre/RS), variou de 71,5% (IC95% 62,7;78,9) a 88,4% (IC95% 83,9;91,8), com maior concentração desses centros no grupo crítico (Tabela 2).

Não foi possível observar elevadas coberturas de doses de campanha (Tabela 2), e o dados mostram que, após a realização do teste estatístico, não houve correlação entre a realização de campanha e as elevadas coberturas vacinais.

Quando observados os estratos socioeconômicos, nenhum atingiu a cobertura vacinal preconizada, sendo o estrato C com a melhor cobertura para VIP válidas (89,1%; IC95% 87,4;90,7), contudo, o estrato D apresentou melhor cobertura para esquema vacinal com o primeiro reforço (84,8%; IC95% 83,0;86,4), logo, superiores ao estrato A [esquema completo – 79,1% (IC95% 74,2;83,2) e com primeiro reforço – 64,7% (IC95% 60,0;69,2)]. Ademais, infere-se que a cobertura da dose de reforço variou mais entre os estratos [64,7% (IC95% 60,0;69,2) a 84,8% (IC95% 83,0;86,4)] do que as coberturas de VIP [79,1% (IC95% 74,2;83,2) a 89,1% (IC95% 87,4;90,7)] (Tabela 3).

Tabela 3
Indicadores em (%), com intervalos de confiança de 95% (IC95), de cobertura vacinal para vacina inativada poliomielite (VIP) e vacina oral poliomielite (VOP) na coorte de nascidos vivos de 2017 e 2018 no conjunto das capitais, cidades do interior e Distrito Federal, segundo estratos socioeconômicos, 2020-2021 (n = 37.801)

Nesse contexto, ao analisarmos as características da família, da mãe e da criança, infere-se que, para o esquema completo de VIP, ao considerarmos os intervalos de confiança, coberturas vacinais do estrato bens de consumo C (89,1%; IC95% 87,3;90,7) e D (88,2%; IC95% 86,4;89,7) são maiores que as do estrato B (87,3%; IC95% 84,6;89,6), que por sua vez é maior que o estrato A (81,8%; IC95% 75,7;86,7). Nota-se que a cobertura vacinal para quem recebe o benefício do Bolsa Família (90,9%; IC95% 89,3;92,3) é melhor do que para os que não o recebem (86,3%; IC95% 84,8;87,7) (Tabela 4).

Tabela 4
Indicadores em (%), com intervalos de confiança de 95% (IC95%), de cobertura vacinal para vacina inativada poliomielite (VIP) e vacina oral poliomielite (VOP) na coorte de nascidos vivos de 2017 e 2018 no conjunto das capitais, cidades e Distrito Federal, segundo as características da família, da mãe e da criança, 2020-2021 (n = 37.801)

Destaca-se que as coberturas vacinais do grupo em que as mães trabalham (90,2%; IC95% 88,7;91,4) é superior ao das mães que não trabalham (86,0%; IC95% 84,0;87,7), comportamento também observado para o esquema vacinal completo com primeira dose de reforço, em que se tem, respectivamente, 84,5% (IC95% 82,8;86,1) e 76,0% (IC95% 73,9;78,0) (Tabela 4).

Ainda quanto à análise voltada ao esquema completo com primeira dose de reforço, afirma-se que há cobertura vacinal inferior para raça/cor da pele branca (75,1%; IC95% 72,6;77,5) em relação à preta (87,9%; IC95% 85,3;90,1) e à parda (83,1%; IC95% 81,4;84,7). Além disso, a cobertura vacinal do estrato bens de consumo C (85,7%; IC95% 83,6;87,5) e D (85,0%; IC95% 83,3;86,7) é maior que a do estrato B (69,8%; IC95% 66,3;73,0), que por sua vez é maior que a do estrato A (43,3%; IC95% 36,2;50,8); como verificado para o esquema vacinal completo, também se observa que a cobertura vacinal para quem recebe o benefício do Bolsa Família (86,8%; IC95% 85,2;88,2) é melhor do que para os que não o recebem (77,1%; IC95% 75,3;78,8) (Tabela 4).

Para o primeiro reforço, as coberturas vacinais são menores para as mães com 35 anos ou mais (74,9%; IC95% 72,2;77,5). Também se observa que, para mães que não possuem um companheiro, a cobertura vacinal é mais satisfatória (84,0%; IC95% 81,7;86,0), em relação às que possuem um companheiro (78,6%; IC95% 76,8;80,2). Não obstante, mães com 16 ou mais anos de estudo vacinam menos seus filhos, pois foi verificada cobertura de 69,6% (IC95% 66,6;72,4) para esse grupo (Tabela 4).

Ressalta-se que para a vacinação com dose de reforço a renda familiar mensal mostrou que a cobertura é maior no grupo de família com renda de R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 (86,2%; IC95% 84,2;88,0), que por sua vez é maior que a dos grupos de R$ 3.001,00 a R$ 8.000,00 (80,9%; IC95% 77,6;83,8) e R$ 8.001,00 ou mais (61,2%; IC95% 56,1;66,1). Como também se destaca cobertura superior ao grupo que não se utiliza de serviço privado (84,8%; IC95% 83,5;86,0), ou seja, que realiza vacinação através do Sistema Único de Saúde (SUS) (Tabela 4).

DISCUSSÃO

O estudo mostrou que a cobertura estimada de VIP e VOP não superou a preconizada, não havendo homogeneidade nas coberturas analisadas,1919 Bechini A, Boccalini S, Ninci A, Zanobini P, Sartor G, Bonaccorsi G, et al. Childhood vaccination coverage in Europe: impact of different public health policies. Expert Rev Vaccines. 2019 Jul;18(7):693-701. sendo menor a cobertura com dose de reforço, com redução significativa das coberturas vacinais ao considerar validade e oportunidade.

Sobre a cobertura vacinal com VOP observada, a qual apresenta-se maior do que a aferida no SI-PNI,11 SIPNI. Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/CGPNI/DEIDT/SVS/MS). [citado em 5 de novembro de 2023]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.exe?bd_pni/cpnibr.def.
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.e...
destaca-se que tal resultado pode estar diretamente associado à forma de coleta de dados, uma vez que a verificação do registro físico supera problemas relacionados ao registro da dose administrada no sistema de informação, o que pode resultar em diferenças entre os dados locais e os números consolidados em nível nacional.2020 Domingues CMAS, Maranhão AGK, Teixeira AM, Fantinato FFS, Domingues RAS. 46 anos do Programa Nacional de Imunizações: uma história repleta de conquistas e desafios a serem superados. Cad Saúde Pública [Internet]. 2020;36 Suppl 2.

Muito embora não tenham sido observadas diferenças expressivas entre os estratos socioeconômicos A, C e D, em que se observa que os mais ricos se vacinam menos, fato também observado em outros estudos,2121 Gilbert NL, Gilmour H, Wilson SE, Cantin L. Determinants of non-vaccination and incomplete vaccination in Canadian toddlers. Hum Vaccin. Immunother. 2017;13(6):1-7. destaca-se que há maior possibilidade de exposição dos mais ricos em território internacional, o que contribui para maior possibilidade de infecção com importação de casos, como descrito em estudo que versa sobre a introdução da covid-19 no Brasil.²² No entanto, diante de transmissão local, entende-se que mesmo com coberturas mais satisfatórias entre os mais pobres, dados os condicionantes e determinantes sociais existentes, há possibilidade de ser a população mais afetada, como observado na pandemia de covid-19.2222 Martin PS, Gonçalves SL, Goularte PS, Dias EP, Leonardi AE, Tiezzi DG, et al. História e Epidemiologia da COVID-19. ULAKES JOURNAL OF MEDICINE [Internet]. 2020 Jul 20;1. Disponível em: https://revistas.unilago.edu.br/index.php/ulakes/article/view/253/232.
https://revistas.unilago.edu.br/index.ph...
,2323 Barreto ML. Esboços para um cenário das condições de saúde da população brasileira 2022/2030. In: Fundação Oswaldo Cruz. A saúde no Brasil em 2030 - prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: população e perfil sanitário [online]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; 2013;2:97-120.

É importante destacar que as características da família, da mãe e da criança, quando analisadas de forma univariada, permitem realizar apenas inferências, e atribui-se que os resultados, voltados ao esquema vacinal com a primeira dose de reforço mais satisfatório no grupo com menor renda familiar, podem estar atrelados às famílias que recebem o benefício do Bolsa Família, que por sua vez fazem uso do SUS para acesso à vacinação, a qual é pré-requisito do próprio programa,2424 Brasil. Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Cartilha do Programa Bolsa Família. 2023. podendo ser indicada como importante iniciativa para o alcance das coberturas vacinais no Brasil. Estudo realizado no Brasil e suas regiões em 2018 aponta que o Programa Bolsa Família aumentou o estado de vacinação das crianças de um modo geral.2525 Kern AP, Vieira M, Freguglia R. Impactos do programa bolsa família na imunização das crianças. 46º Encontro Nacional de Economia. Anais do 46º Encontro Nacional de Economia. Rio de Janeiro, Brasil; 2018:1-20.

Não obstante, considerando a imunidade conferida a partir das doses de reforço,2626 Global Polio Eradication Iniciative - GPEI Fact Sheet: Vaccine-Derived Poliovirus [Internet]. 2019. Disponível em: https://polioeradication.org/wp-content/uploads/2018/07/GPEI-cVDPV-Fact-Sheet-20191115.pdf. [consultado em 4 de novembro de 2023].
https://polioeradication.org/wp-content/...
destaca-se a importância do esquema vacinal completo com todas as doses recomendadas. Considerando ainda fatores que agregam risco adicional, como adensamento populacional, fluxo intermunicipal e interestadual, fluxo migratório, e a presença de pontos de entrada importantes (portos, aeroportos e rodoviárias),2727 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE mostra a nova dinâmica da rede urbana brasileira: Existem no país doze grandes redes de influência, que interligam até mesmo municípios situados em diferentes estados [Internet]. Publicado em 10 de outubro de 2008. faz-se necessário o incremento das coberturas vacinais nos grandes centros urbanos.

Ademais, alguns estados, como Acre, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraná, possuem populações originárias vivendo em áreas de difícil acesso e população de fronteira, e são mais vulneráveis,55 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral Do Programa Nacional de Imunizações. Plano Nacional de Resposta a um Evento de Detecção de Poliovírus e um Surto de Poliomielite: Estratégia do Brasil. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2022 Abr. portanto, demandam estratégias específicas para alcance desse público.

Nesse sentido, o estudo mostrou a importância da verificação das cadernetas de vacinação em sua forma física, visto que são o principal instrumento para comprovação vacinal, pois além de favorecer a compreensão das coberturas vacinais também auxiliam no processo de definição de estratégias assertivas para minimização dos entraves para vacinação em si.2828 Fonseca KR, Buenafuente SMF. Análise das coberturas vacinais de crianças menores de um ano em Roraima, 2013-2017. Epidemiol Serv Saúde. 2021;30(2). Estratégias essas que devem considerar as diferenças regionais e as necessidades das populações mais vulneráveis, que, para além da adesão à vacinação, a promovam em tempo oportuno, para redução do número de pessoas suscetíveis em determinado período.

Aspectos relacionados à hesitação vacinal precisam ser minimizados para que as taxas de abandono de esquema vacinal completo e com dose de reforço possam se reduzidas, uma vez que a OMS a incluiu na lista dos dez maiores riscos à saúde global, pela ameaça de reverter o avanço no combate às doenças imunopreveníveis.2828 Fonseca KR, Buenafuente SMF. Análise das coberturas vacinais de crianças menores de um ano em Roraima, 2013-2017. Epidemiol Serv Saúde. 2021;30(2).,2929 World Health Organization. Ten threats to global health in 2019. Geneva: World Health Organization [Internet]. 2019. Nesse sentido, hesitação vacinal constitui um desafio para a melhoria das coberturas vacinais, a ser considerado para além das questões de acesso, já que aponta que para a cobertura de poliomielite e a realização de campanhas não há correlação com elevadas coberturas vacinais, o que indica a necessidade de avaliação dos formatos adotados para comunicação e sensibilização da população, buscando obter resultados satisfatórios como os consagrados ao longo da história do PNI.3030 Nascimento DR. As campanhas de vacinação contra a poliomielite no Brasil (1960-1990). Ciênc. Saúde Colet. 2011;16(2):501-11.

As limitações deste inquérito se relacionam ao acesso às famílias, em função da desconfiança, da insegurança urbana ou do desinteresse em participar das pesquisas, às dificuldades de leitura das cadernetas de vacinação e à não realização do censo em 2020, pois foram utilizados dados antigos para a definição dos estratos socioeconômicos, o que pode ter culminado em viés de seleção.22 Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031.

Assim, infere-se que a compreensão da situação vacinal direciona o processo de tomada de decisão no desenvolvimento de ações para o incremento das coberturas vacinais e a redefinição de estratégias utilizadas, a exemplo das campanhas, reduzam o número de suscetíveis, auxiliando no controle das doenças imunopreveníveis, reduzindo o risco de reintrodução de doenças em territórios nos quais foram eliminadas.

  • FINANCIAMENTO

    Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde através do Tecnológico, processo número 404131.

Referências bibliográficas

  • 1
    SIPNI. Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/CGPNI/DEIDT/SVS/MS). [citado em 5 de novembro de 2023]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.exe?bd_pni/cpnibr.def.
    » http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.exe?bd_pni/cpnibr.def.
  • 2
    Barata RB, França AP, Guibu IA, et al. National Vaccine Coverage Survey 2020: methods and operational aspects. Rev Bras Epidemiol. 2023;26:e230031.
  • 3
    Campos ALV, Nascimento DR, Maranhão E. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. Hist Ciênc Saúde Manguinhos. 2003;10 Supl 2:573-600.
  • 4
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. NOTA TÉCNICA Nº 78/2016-CGPNI/DEVIT/SVS/MS. Vacinação contra poliomielite, mudanças no esquema vacinal e orientações aos serviços de saúde e usuários (rotina campanha e viajantes). Brasília: Ministério da Saúde: 2016 Abr.
  • 5
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral Do Programa Nacional de Imunizações. Plano Nacional de Resposta a um Evento de Detecção de Poliovírus e um Surto de Poliomielite: Estratégia do Brasil. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2022 Abr.
  • 6
    WHO. Standard operating procedures: responding to a poliovirus event or outbreak, version 4. Geneva: World Health Organization; 2022.
  • 7
    Brasil. Ministério da Saúde. Governo anuncia atualização da vacina contra a pólio a partir de 2024: reforço será feito com vacina injetável, após período de transição, e representa avanço tecnológico. Publicado em 07 de julho de 2023a. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2023/07/governo-anuncia-atualizacao-da-vacina-contra-a-polio-a-partir-de-2024
    » https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2023/07/governo-anuncia-atualizacao-da-vacina-contra-a-polio-a-partir-de-2024
  • 8
    BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. 4ª edição. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
  • 9
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5ª edição rev. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.
  • 10
    Centers for Disease Control and Prevention – CDC. What is Polio? Set. 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/polio/index.htm. [consultado em 26 de outubro de 2021].
    » https://www.cdc.gov/polio/index.htm. [consultado em 26 de outubro de 2021].
  • 11
    World Health Organization – WHO. Global Polio Eradication Initiative. Polio Endgame Strategy 2019-2023: Eradication, integration, certification and containment. Geneva: World Health Organization; 2019.
  • 12
    Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS. Poliomielite. Jan. 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/poliomielite
    » https://www.paho.org/pt/topicos/poliomielite
  • 13
    Zaffran M, MsGovern M, Hossaini R, Martin R, Wenger j. The polio endgame: securing a world free of all polioviruses. Lancet. 2018;91(10115):11-3.
  • 14
    BRASIL. Ministério da Saúde. Poliomielite. Nov. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/poliomielite [consultado em 26 de outubro de 2023].
    » https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/poliomielite
  • 15
    Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Endemic Countries [Internet]. 2021. Disponível em: https://polioeradication.org/where-we-work/polio-endemic-countries/ [consultado em 25 de outubro de 2023].
    » https://polioeradication.org/where-we-work/polio-endemic-countries/
  • 16
    Global Polio Eradication Initiative - GPEI. Public Health Emergency status [Internet]. 2023. Disponível em: https://polioeradication.org/polio-today/polio-now/public-health-emergency-status/ [consultado em 5 de novembro de 2023].
    » https://polioeradication.org/polio-today/polio-now/public-health-emergency-status/
  • 17
    Tauil MC, Sato APS, Costa AA, Inenami M, Ferreira VLR, Waldman EA. Coberturas vacinais por doses recebidas e oportunas com base em um registro informatizado de imunização, Araraquara-SP, Brasil, 2012-2014. Epidemiol. Serv. Saúde [Internet]. 2017 Dez;26(4):835-846. [citado em 24 de fevereiro de 2024]. Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742017000400835&lng=pt
  • 18
    Pan American Health Organization. Final of the XV Meeting of the Technical Advisory Group on Vaccine preventable Diseases – Municipalities: improving immunization services. Washington: PAHO; 2002. Disponível em: https://www.paho.org/en/documents/final-report-xv-meeting-technical-advisory-group-vaccinepreventable-diseases
    » https://www.paho.org/en/documents/final-report-xv-meeting-technical-advisory-group-vaccinepreventable-diseases
  • 19
    Bechini A, Boccalini S, Ninci A, Zanobini P, Sartor G, Bonaccorsi G, et al. Childhood vaccination coverage in Europe: impact of different public health policies. Expert Rev Vaccines. 2019 Jul;18(7):693-701.
  • 20
    Domingues CMAS, Maranhão AGK, Teixeira AM, Fantinato FFS, Domingues RAS. 46 anos do Programa Nacional de Imunizações: uma história repleta de conquistas e desafios a serem superados. Cad Saúde Pública [Internet]. 2020;36 Suppl 2.
  • 21
    Gilbert NL, Gilmour H, Wilson SE, Cantin L. Determinants of non-vaccination and incomplete vaccination in Canadian toddlers. Hum Vaccin. Immunother. 2017;13(6):1-7.
  • 22
    Martin PS, Gonçalves SL, Goularte PS, Dias EP, Leonardi AE, Tiezzi DG, et al. História e Epidemiologia da COVID-19. ULAKES JOURNAL OF MEDICINE [Internet]. 2020 Jul 20;1. Disponível em: https://revistas.unilago.edu.br/index.php/ulakes/article/view/253/232
    » https://revistas.unilago.edu.br/index.php/ulakes/article/view/253/232
  • 23
    Barreto ML. Esboços para um cenário das condições de saúde da população brasileira 2022/2030. In: Fundação Oswaldo Cruz. A saúde no Brasil em 2030 - prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: população e perfil sanitário [online]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; 2013;2:97-120.
  • 24
    Brasil. Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Cartilha do Programa Bolsa Família. 2023.
  • 25
    Kern AP, Vieira M, Freguglia R. Impactos do programa bolsa família na imunização das crianças. 46º Encontro Nacional de Economia. Anais do 46º Encontro Nacional de Economia. Rio de Janeiro, Brasil; 2018:1-20.
  • 26
    Global Polio Eradication Iniciative - GPEI Fact Sheet: Vaccine-Derived Poliovirus [Internet]. 2019. Disponível em: https://polioeradication.org/wp-content/uploads/2018/07/GPEI-cVDPV-Fact-Sheet-20191115.pdf [consultado em 4 de novembro de 2023].
    » https://polioeradication.org/wp-content/uploads/2018/07/GPEI-cVDPV-Fact-Sheet-20191115.pdf
  • 27
    IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE mostra a nova dinâmica da rede urbana brasileira: Existem no país doze grandes redes de influência, que interligam até mesmo municípios situados em diferentes estados [Internet]. Publicado em 10 de outubro de 2008.
  • 28
    Fonseca KR, Buenafuente SMF. Análise das coberturas vacinais de crianças menores de um ano em Roraima, 2013-2017. Epidemiol Serv Saúde. 2021;30(2).
  • 29
    World Health Organization. Ten threats to global health in 2019. Geneva: World Health Organization [Internet]. 2019.
  • 30
    Nascimento DR. As campanhas de vacinação contra a poliomielite no Brasil (1960-1990). Ciênc. Saúde Colet. 2011;16(2):501-11.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2025
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2024
  • Aceito
    22 Jul 2024
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil Brasília - Distrito Federal - Brazil
E-mail: ress.svs@gmail.com