Alimentação saudável: a percepção de escolares sobre si próprios

Healthy eating, schoolchildren perception about themselves

Alimentación saludable: la percepción de escolares sobre sí mismos

Iramara Lima-Ribeiro Irislândia Lima-Ribeiro José G. Da Silva Santa Rosa Iris Do Céu-Clara Costa Sobre os autores

RESUMO

Objetivo

Avaliar a percepção de escolares entre 7 a 10 anos de uma escola pública de Natal-RN sobre alimentação saudável.

Método

Estudo descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa, mediante entrevista de grupo focal com 29 escolares com média de 8,8 anos de idade. A análise foi auxiliada pelo software IRAMUTEQ e apoiada no conceito de percepção de Merleau-Ponty.

Resultados

A percepção das crianças sobre alimentação saudável esteve associada aos alimentos in natura e preparações culinárias, identificando-se conceitos adquiridos na escola sobre o tema, além de professores criticando o consumo de alimentos ultraprocessados. Houve relatos de predileção por determinadas merendas da escola e rejeição de outras. As crianças citaram a presença de alimentos não saudáveis na merenda. Quanto ao papel da família foram citados pais orientando para o consumo saudável ao mesmo tempo em que estimulavam o consumo de alimentos industrializados em casa ou forneciam dinheiro para que os escolares os comprassem. Muitas crianças não consumiam alimentos saudáveis, sobretudo frutas e verduras por considerarem de sabor desagradável.

Conclusão

A percepção das crianças sobre alimentos saudáveis foi influenciada pela escola, família e mídia. Embora elas possuíssem noção do que seria uma alimentação saudável, o prazer conferido por alimentos industrializados conduzia a práticas não saudáveis. Os achados evidenciam a necessidade de um olhar ampliado pelos profissionais envolvidos nesse papel de estimular e direcionar para práticas saudáveis.

Palavras-chave:
Comportamento alimentar; crianças; alimentação escolar (fonte: DeCS, BIREME)

ABSTRACT

Objective

To evaluate the perception of schoolchildren between 7-10 years of a public school in Natal-RN about healthy eating.

Method

Descriptive study, with quantitative and qualitative approach by focus group interviews with 29 students whose average age was 8.8 years. The analysis was aided by IRAMUTEQ software and supported the concept of perception of Merleau-Ponty.

Results

Children's perception about healthy eating was associated with fresh foods and culinary preparations. We identified concepts acquired at school on the topic, as well as teachers criticizing the consumption of ultra-processed foods. There were reports of predilection for certain school meals and rejection of others. In addition, children have cited the presence of unhealthy foods served at school. Regarding the role of families, parents were cited in the role of guide for a healthy consumption at the same time they encouraged to consumption of processed foods at home or they provided money to buy them. Many children did not consume healthy foods, mainly fruits and vegetables because they consider unpalatable.

Conclusion

The perception of children about healthy foods was influenced by school, family and media. Although they possessed sense of what would be a healthy feed, the pleasure in eating processed foods led to unhealthy practices. The findings show the need for a look magnified by the professionals involved in this role to stimulate and drive healthy practices.

Key Words:
Feeding behavior; child; school feeding (source: MeSH, NLM)

RESUMEN

Objetivo

Evaluar la percepción de escolares entre 7 y 10 años de una escuela pública de Natal-RN sobre alimentación saludable.

Método

Estudio descriptivo con enfoque cuantitativo y cualitativo, mediante entrevista de grupo focal con 29 escolares con una media de 8,8 años de edad. El análisis fue ayudado por el software IRAMUTEQ y apoyado en el concepto de percepción de Merleau-Ponty.

Resultados

La percepción de los niños sobre alimentación saludable estuvo asociada a los alimentos in natura y preparaciones culinarias, con las que identifican conceptos adquiridos en la escuela sobre el tema. Sus profesores criticaron el consumo de alimentos ultraprocesados. Hubo declaraciones sobre la predilección por ciertas meriendas de la escuela y rechazo hacia otras.

Los niños citaron la presencia de alimentos no saludables en la merienda. En cuanto al papel de la familia, encontramos casos en los que padres de familia orientan a sus hijos hacia el consumo saludable, al mismo tiempo que estimulan el consumo de alimentos industrializados en casa o dando dinero para que los escolares los compren. Muchos niños no consumían alimentos saludables, sobre todo frutas y verduras, por considerarlas de sabor desagradable.

Conclusión

La percepción de los niños sobre los alimentos saludables estaba influenciada por la escuela, la familia y los medios de comunicación. Aunque eran conscientes de lo que sería una alimentación sana, el placer de los alimentos industrializados condujo a prácticas poco saludables. Los hallazgos evidencian la necesidad de una mirada ampliada por los profesionales involucrados en el papel de estimularlos y dirigirlos hacia prácticas saludables.

Palabras Clave:
Conducta alimentaria; niño; alimentación escolar (fuente: DeCS, BIREME)

A alimentação apresenta papel relevante na manutenção da saúde, todavia, na sociedade atual tem sido observado um aumento no consumo de alimentos de baixo valor nutricional e alta densidade energética 11. Estrada-Velasco BI, Cruz M, Garcia-Mena J, Valladares Salgado A, Peralta Romero J, Guna Serrano ML, et al. La obesidad infantil como consecuencia de la interacción entre firmicutes y el consumo de alimentos con alto contenido energético. Nutr Hosp. 2015; 3(3):1074-1081. DOI:10.3305/nh.2015.31.3.8302.
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2. Jin YL, Ding LL, Yao YS, Song XL, Tang H, He LP, et al. Obesity detection rate among primary school students in the People's Republic of China: a meta-analysis. Ther Clin Risk Manag. 2013;9:383-390. DOI: 10.2147/tcrm.s50145.
https://doi.org/10.2147/tcrm.s50145...
-33. Rutkow L, Vernick JS, Edwards DM, Rodman SO, Barry CL. Legal Action Against Health Claims on Foods and Beverages Marketed to Youth. American Journal of Public Health. 2015;105(3):450-6. 10.2105/AJPH.2014.302376.
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, contribuindo para a elevação da prevalência de sobrepeso/obesidade no público infantil 44. Gálvez Casas A, Rosa Guillamón A, García-Cantó E, Rodríguez García PL, Pérez-Soto JJ, Tarraga Marcos L, et al. Nutritional status and health-related life quality in school children from the southeast of Spain. Nutr Hosp. 2015; 31(2):737-743. DOI:10.3305/nh.2015.31.2.8468.
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, o que pode acarretar no surgimento de comorbidades associadas. Isto se caracteriza como um fenômeno mundial cuja maneira mais eficaz para a redução relaciona-se a uma associação entre dieta equilibrada e atividade física 55. Hernández-Álvarez ED, Valero-Bernal, MV, Mancera-Soto EM. Efficacy of the prescription of physical activity in the obese child population. Rev. salud pública (Bogotá). 2015;17(1):120-131. DOI:10.15446/rsap.v17n1.43536.
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.

As preferências alimentares estabelecidas na infância sofrem influências dos familiares 66. Moraes PM, Dias CMSB. Obesidade infantil a partir de um olhar histórico sobre alimentação. Interação Psicol. 2012;16(2):317-26. DOI: 10.5380/psi.v16i2.21755.
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, da escola, da mídia, dos caracteres individuais de cada um, do meio social e de aspectos económicos de maneira que as populações com menor poder aquisitivo tendem ao consumo de alimentos menos saudáveis 77. Albuquerque-Filho NJB, Felipe TR, Mendes-Rebouças G, Conceição-Maia UM, Fonseca-Pinto E, Costa AV, Knackfuss MI, Medeiros HJ Composição corporal e desempenho motor em escolares da rede pública de ensino. Rev. Salud pública (Bogotá). 2013 [cited 2019 may 21];15(6). Available from: Available from: https://bit.ly/2TpBzie .
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. Apesar disto, quando se aborda a criança na fase escolar, a literatura científica tem centrando-se em aspectos relacionados à saúde, demografia e território de residência da criança 88. Corrêa EN, Schmitz BAS, Vasconcelos FAG. Aspects of the built environment associated with obesity in children and adolescents: A narrative review. Rev. Nutr. 2015 [cited 2019 may 21];28(3):327-340. Available from: Available from: https://bit.ly/2WOgAHD .
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. São escassos os estudos que abordam o pensar do público infantil sobre sua própria alimentação. Ouvir as crianças cujo comportamento se deseja mudar, pode colaborar na adesão a condutas voltadas a uma dieta nutricionalmente equilibrada. Ademais, as coloca como sujeitos ativos, formando um vínculo social importante para promover a saúde das mesmas, modificando-se a educação em saúde tradicional e transmissiva para uma abordagem emancipatória 99. Albuquerque OMR, Martins Alberto M, Modena CM, Campos HM. Percepção de estudantes de escolas públicas sobre o ambiente e a alimentação disponível na escola: uma abordagem emancipatória. Saúde Soc. 2014 [cited 2019 may 21];23(2):604-615. Available from: Available from: https://bit.ly/2zT4UdO .
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.

Haja vista a relevância de conhecer os pontos de vista das crianças em idade escolar sobre os aspectos que determinam seus comportamentos alimentares, a fim de tornálas protagonistas do cuidado sobre si próprias e traçar ações mais eficazes para as mesmas, este estudo tem por objetivo avaliar a percepção de escolares entre 7 a 10 anos de idade de uma escola pública de Natal-RN sobre alimentação saudável.

MÉTODO

Estudo descritivo de abordagens quantitativa e qualitativa, apoiado no conceito de Merleau-Ponty sobre percepção, compreendida como uma reflexão crítica sobre uma sensação atrelada ao mundo em que a pessoa vive 1010. Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção. 4a ed. São Paulo: WFM Martins Fontes; 2011..

A coleta de dados ocorreu em uma escola pública na zona oeste da cidade de Natal-RN, Brasil, mediante entrevista de grupo focal, cujas questões norteadoras foram: Para você, o que é uma boa alimentação? Que tipos de alimentos você costuma comer em sua casa e na escola? O que é alimentação saudável e qual a sua importância?

Os critérios de inclusão foram: a criança estar na faixa etária de 7 a 10 anos e alfabetizada porque a alfabetização permite expressar-se verbalmente de modo mais claro.

A entrevista, conduzida por uma nutricionista (moderadora) e uma assistente social (facilitadora), finalizada quando as falas não mais traziam qualquer conceito ou fato novo, foi transcrita, gerando um corpus.

A análise quantitativa, ocorreu pela contagem de palavras do corpus pelo software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), versão 0.7/alfa-2. Este forneceu uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD) das palavras presentes em segmentos de texto. Além disso, organizou o vocabulário visualmente por meio de uma análise de similitude 1111. Camargo BV, Justo AM. IRAMUTEQ: Um Software Gratuito para Análise de Dados Textuais. Temas em Psicologia. 2013;21(2):513-8. DOI:10.9788/TP2013.2-16.
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. Nesta, quanto maior o tamanho da representação da palavra, mais significante ela é. Houve agrupamentos de palavras possuidoras de sentido, a exemplo de "não gosto", de modo a que o software as contabilizassem como palavras únicas.

Foram incluídas palavras com frequência maior ou igual à frequência média do corpus, qui quadrado (qui2) maior que 3,84 e p valor menor que 0,05. Duas palavras que não se enquadravam nestes critérios foram incluídas por serem importantes para compreender a classe.

A opção pelo método qualitativo, cuja análise ocorreu pela seleção de segmentos de texto fornecidos pelo IRA-MUTEQ, partiu da necessidade de apreender o pensar e o sentir das crianças sobre a alimentação.

A pesquisa obteve aprovação do Comitê de ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, sob o parecer consubstanciado n° 704.319/2014. Foram obtidos assentimento (assinado pelo menor de idade) e consentimento (assinado pelo responsável) de 38 crianças, das quais uma comunicou desistência e oito faltaram ao encontro. O grupo final consistiu de 29 escolares, com média de idade de 8,8 anos, a maioria do sexo feminino (55,2%), alocados em quatro subgrupos, isto é, a mesma entrevista foi repetida para cada subgrupo em agosto de 2014.

RESULTADOS

Na CH D, o corpus, aproveitado em 81,1%, apresentou 2146 palavras com frequência média de 4,3. Havia 74 segmentos de texto, dispostos em sete classes que foram agrupadas na análise segundo tópicos temáticos a seguir (Figura 1).

Figura 1
Dendrograma do corpus. Natal/RN, Brasil 2015

A escola, ênfase nos conceitos

Detendo 18,3% do material, a classe 7 evidencia conteúdos sobre alimentação vistos na escola, com ênfase na pirâmide alimentar (palavras significativas na Tabela 1). As crianças percebem que devem consumir em maior quantidade os alimentos dispostos na base da pirâmide e em menor os próximos ao topo:

A pirâmide significa para nós, vermos ela e, depois, comer as alimentações saudáveis (...) os carboidratos, as proteínas (...). Em baixo está os pães, as águas, porque são os para dar energia (13-Menino, dez anos).

Já na classe 1 (11,7%) os alunos conceituam a alimentação saudável, criticando comportamentos alimentares dos colegas:

Essa pipoca aqui, o biscoito ali, ela traz chocolate (...). Agora ela está trazendo alimentos saudáveis porque a professora brigou e falou com a mãe dela (11-Menino, 8 anos). É visto que as crianças possuem noção quanto à nutrição e alimentação saudável. Todavia, mesmo detendo algum conhecimento, evidenciou-se, ao longo do corpus, o consumo de alimentos industrializados, justificado pela questão do sabor.

Merenda escolar, gostosa e saudável?

A classe 5 (18,3%) aborda a merenda escolar. Embora seja explanado o gostar de alguns lanches, sobressai nesta classe a não aceitação, sobretudo de uma preparação feita com leite, ovo, banana e cuscuz. Isto se confirma pela presença destas palavras como significantes na análise quantitativa. Eu não gosto muito do lanche da escola porque assim como ela disse, às vezes é cuscuz com leite, ovos, banana (4-Menina, 9 anos).

Na classe 6 (11,7%) foi identificava a percepção de alimentos não saudáveis na escola, a exemplo de iogurte (palavra significante na Tabela 1), visto negativamente por possuir corantes em sua composição.

(...) na comida da escola tem umas coisas que não são saudáveis e tem outras coisas que são saudáveis. Iogurte, biscoito, achocolatado, eu acho que não é (17-Menino, 9 anos). Esta classe revelou também a mídia influenciando na aceitação de alimentos. A escolar 24 cita que carne não é

saudável, mas se contradiz ao condicionar seu consumo à determinada marca então difundida na mídia.

(...) carne não é saudável porque tem gordura dentro dela, também a carne tem o sangue. Só XXXXXX é saudável (24-Menina, 8 anos / XXXXXX: omissão da marca).

Relação alimentação-família

A classe 2 (13,3%) traz a participação da família na alimentação das crianças:

O meu pai prepara arroz, feijão, carne. Minha mãe prepara feijão, arroz, macarrão, suco carne e só, aí minha avó prepara arroz, feijão, carne e suco também (10-Menina, 10 anos). A presença significativa do feijão e do arroz (Tabela 1) indica que estes alimentos compõem a dieta destas crianças. Porém, foram identificadas atitudes desfavoráveis dos pais a partir da oferta de dinheiro para as crianças comprarem alimentos ultraprocessados e comê-los na escola.

Tabela 1
Palavras identificadas pelo IRAMUTEQ para o corpus. Natal/RN, Brasil, 2015

Comer bem, o saber, o poder e o querer Dando continuidade, a classe 3 (11,7%) mostra a percepção que comida saudável relaciona-se ao consumo de alimentos in natura ou preparações culinárias. Há novamente presenças significativas das palavras feijão e arroz (vide Tabela 1).

Comer bem é uma pessoa que tem que comer alimentos saudáveis todos os dias para não ficar doente (...) como os feijões, os arrozes, os milhos os espinafres também, os macarrões (13-Menino, 10 anos). A classe 4 (15,0%) evidencia que embora as crianças compreendam as consequências de não ingerir alimentos saudáveis, o fazem por julgarem o sabor desagradável, destacando-se as palavras fruta, comer, não e ter:

Eu não como nenhum tipo de verdura (...) Gosto ruim, eca! (...) Não tem jeito para eu comer (1-Menina, 10 anos). Na análise de similitude (Figura 2), em síntese às palavras estatisticamente significantes, vemos a palavra "porque" ramificando-se de um lado na palavra "comer", mostrando os escolares justificando o consumir ou não determinados alimentos. Segue-se com a ramificação das palavras "poder" e "dever", já que as crianças sabem que podem consumir qualquer alimento, embora nem sempre devam. Na ramificação da palavra "ser", há a proximidade das palavras "verdura", "saudável" e "não gosto", além de alimentos, julgados não saudáveis ou ruins para alguns ("achocolatado", por exemplo). É possível ainda visualizar na ramificação inferior direita as palavras "feijão" e "arroz", fortemente identificada no corpus e ainda a palavra "ter" associada às palavras "canto", "iogurte" e "entender", representando a distribuição dos alimentos na pirâmide alimentar.

Figura 2
Análise gráfica de similitude. Natal/RN, Brasil 2015

DISCUSSÃO

A análise mostrou os escolares possuindo conhecimentos sobre alimentação saudável, corroborando outro estudo 1212. Bertin RL, Malkowski J, Zutter LCI, Ulbrich A. Estado nutricional, hábitos alimentares e conhecimentos de nutrição em escolares. Rev. paul. Pediatr. 2010 [cited 2019 may 21];28(3):303-8. Available from: Available from: https://bit.ly/36kqmo1 .
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que avaliou o conhecimento de escolares entre oito e dez anos dos quais 93% demonstrou ter bons ou ótimos conhecimentos em nutrição.

A construção da percepção sobre alimentação saudável apresentou influências do meio social, sobretudo das vivências na família e na escola. Nesta é preciso considerar a relação entre alunos, professores e responsável pela alimentação, além da individualidade do estudante, da dependência da legislação, política, pedagogia e circunstâncias sociais 1313. Benn J, Carlsson M. Learning through school meals? Appetite. 2014; 78C:23-31. Available from: https://bit.ly/2TpC3F4.
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.

Foi vista como negativa a presença de alimentos julgados não saudáveis na merenda escolar, semelhante a um estudo com escolares identificando preparações muito gordurosas e ausência de frutas, legumes e verduras 1414. Carvalho AP, Oliveira VB, Santos LC. Hábitos alimentares e práticas de educação nutricional: atenção a crianças de uma escola municipal de Belo Horizonte, Minas Gerais. Pediatria (Sáo Paulo). 2010;32(1):20-27..

O fato de alguns lanches fornecidos pela escola não serem saudáveis, atrelado ao levar alimentos ultraprocessados para esta e à rejeição por determinados alimentos da merenda, mostra a necessidade de planejar estratégias para melhorar sua adesão e leva a inferir que elas apresentam consumo prejudicado de alimentos in natura, legitimando um estudo com crianças brasileiras com média de idade de 7,9 anos que identificou baixo consumo diário de frutas, legumes e verduras em oposição ao consumo de balas, chicletes, alimentos fritos, chips e refrigerantes 1515. Albuquerque OMR, Martins AM, Modena CM, Campos HM. (2014). Percepção de estudantes de escolas públicas sobre o ambiente e a alimentação disponível na escola: uma abordagem emancipatória. Saúde Soc . 2014 [cited 2019 may 21];23(2):604-615. Available from: Available from: https://bit.ly/2WP79YJ .
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. Tal achado preocupa porque a ingestão de frutas e verduras tende a diminuir na medida em que as crianças envelhecem 1616. Draxten M, Fulkerson JA, Friend S, Flattum CF, Schow R. Parental role modeling of fruits and vegetables at meals and snacks is associated with children's adequate consumption. Appetite. 2014;78C:1-7. DOI:10.1016/j.appet.2014.02.017.
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.

A respeito da influência da mídia, a propaganda pode impactar nos hábitos alimentares de crianças que muitas vezes, não compreendem a intenção real da publicidade 1717. Gunderson MD, Clements D, Benjamim Neelon SE. Nutritional quality of foods marketed to children in Honduras. Appetite. 2014;73:1-6. DOI:10.1016/j.appet.2013.10.009.
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de persuadilas conforme a faixa de idade 1818. Dixon H, Scully M, Niven P, Kelly B, Chapman K, Donovan R, et al. Effects of nutrient content claims, sports celebrity endorsements and premium offers on pre-adolescent children's food preferences: experimental research. Pediatric Obesity. 2013;9:e47-e57. DOI: 10.1111/j.2047-6310.2013.00169.x.
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. Chama a atenção em nosso estudo que a propaganda influenciou as crianças, mesmo quando voltada para adultos.

Sobre o estímulo dos pais ao consumo de alimentos ultraprocessados, culmina na necessidade da escola envolvêlos em ações promotoras de hábitos saudáveis. Ademais, a mudança no comportamento alimentar de crianças requer mudanças nos cenários políticos e nutricionais, com olhar para a cada vez mais crescente comercialização de alimentos industrializados, envolvendo a economia do país 1919. Chaffee BW. Early life factors among the many influences of child fruit and vegetable consumption. J Pediatr (Rio J). 2014;90:437-9..

Concluindo, este estudo identificou que a percepção dos escolares sofre influência das interações que experimentam. Embora percebessem o que são alimentos saudáveis, por vezes os rejeitava, refletindo uma sociedade que os consome, ao mesmo tempo em que possui informações sobre os seus malefícios, pendendo para o prazer conferido pelo sabor agradável dos alimentos industrializados.

Na perspectiva de Merleau-Ponty 1010. Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da percepção. 4a ed. São Paulo: WFM Martins Fontes; 2011. o sujeito se dá na multiplicidade de emblemas que o caracteriza, sem possuir controle sobre o tempo da ocorrência de eventos, a exemplo do nascer. Porém, destaca que isto não significa padecer no tempo, sendo possível encontrar um recurso contra este quer seja numa decisão ou num ato de fixação conceitual, relacionando-se tempo e subjetividade.

Sendo a percepção uma síntese das experiências de campo vivenciadas pelo indivíduo 2020. Sena ELS, Gonçalves LHT, Granzotto MJM, Carvalho PAL, Reis HFT. Analítica da ambiguidade: estratégia metódica para a pesquisa feno-menológica em saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem. 2010 [cited 2019 may 21];31(4):769-775. Available from: Available from: https://bit.ly/2AOypxX .
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, é possível conduzir a uma mudança de hábitos a partir do conhecer como a criança percebe a alimentação, de maneira a impulsioná-la a experimentar novas vivências que envolvam a alimentação saudável.

Foi considerado limitante o conhecimento apenas do ponto de vista das crianças. Porém, considerando que poucos estudos abordam a ótica da criança sobre sua própria alimentação, esta pesquisa pode contribuir para que as ações de alimentação escolar sejam planejadas de modo mais horizontalizado, respeitando as características próprias do pensar da criança e envolvendo-a com vias a conduzir à adoção de práticas alimentares saudáveis ♣

Agradecimentos:

A escola pela abertura ao desenvolvimento deste estudo e a todas as crianças envolvidas.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    09 Nov 2018
  • Revisado
    03 Jan 2019
  • Aceito
    23 Maio 2019
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