Notas e Informações | Notes and Information |
Risco de brucelose zoonótica associado a suínos de abate clandestino
Zoonotic brucellosis risk associated with clandestine slaughtered porks
José de Arimatéa Freitas, Glaucio Antonio Rocha Galindo, Eváldson Joaquim Corrêa dos Santos, Karine de Almeida Sarraf e Jefferson Pinto de Oliveira
Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Belém, PA, Brasil
DESCRITORES Brucelose, transmissão.# Fatores de risco.# Matadouros.# Suínos.# Zoonose. Risco sanitário. Riscos ocupacionais. Brucelose, prevenção e controle. Carne, microbiologia. Testes sorológicos, veterinária. | RESUMO Um total de 59 amostras de soros de suínos, procedentes de vários locais de abate clandestino, apresentaram ao "card test" e à soroaglutinação rápida anticorpos anti-Brucella e títulos de anticorpos sugestivos de infecção brucélica. Ações e medidas de vigilância sanitária são recomendadas para prevenir o risco potencial de infecção brucélica zoonótica. |
KEYWORDS Brucellosis, transmission.# Risk factors.# Abattoirs.# Swine.# Zoonosis. Health risk. Occupational risks. Brucellosis, prevention and control. Brucella, immunology. Serologic tests, veterinary. | ABSTRACT To determine the sanitary risk to human health, 59 sera samples of clandestine slaughtered porks were examined through serologic procedures and have demonstrated to have anti-Brucella antibodies and antibodies titles suggestive of brucellosis infection. Surveillance measurements are recommended to prevent potential risk of zoonotic infection. |
Desde a descoberta da Brucella melitensis por Bruce, em 1887, e sua associação com a doença zoonótica transmitida por alimento, a brucelose continuou sendo uma doença cosmopolita que tem como fatores de risco, além da ingestão de alimentos contaminados, o contato com animais e o exercício de atividades que envolvem o contato com eles.1
De acordo com Sánchez et al5 (1998), o abate de animais, uma das atividades de risco, tem importante significado na transmissão das espécies de Brucella sp. para o homem, principalmente nas operações que envolvem contato direto com a fonte de infecção, representada por carcaças e vísceras de animais abatidos e pela formação de aerossóis conseqüentes às condições ambientais reinantes nos estabelecimentos de abate, situações muito comuns nos matadouros.
Apesar de contínuas demonstrações e divulgações a respeito do risco decorrente do consumo de alimentos crus ou não adequadamente tratados pelo calor, do contato com animais sem a observação de medidas de precaução, do manuseio e da manipulação de órgãos, produtos, subprodutos e excreções de animais, sem o uso de equipamentos de proteção, a brucelose continua sendo um importante problema de saúde pública no mundo.1,2,5
O abate clandestino de suínos, uma prática condenável que ocorre no País, representa um dos mais graves fatores de risco, pela exposição coletiva a agentes infecciosos, como aqueles que são transmitidos ao homem pelo contato com animais, pela ingestão de alimentos de qualidade sanitária suspeita e pela contaminação do meio ambiente. Contudo, apesar das evidências que têm sido apontadas,3 o abate clandestino tem sido negligenciado como fator de risco na ocorrência da brucelose zoonótica.
Com o objetivo de demonstrar o risco potencial de infecção brucélica zoonótica associado a suínos abatidos clandestinamente, 139 amostras de soros de animais de diversas procedências foram submetidas ao diagnóstico sorológico; o "card test" e a soroaglutinação rápida demonstraram, respectivamente, que 42,2% apresentavam anticorpos para Brucella sp. e títulos de anticorpos aglutinantes assim distribuídos: 16 (11,5%) com título de 1:50, 24 (17,3%) com título de 1:100, 8 (5,7%) com título de 1:200 e 11 (7,9%) com título de 1:400.
Elevado risco sanitário para as pessoas envolvidas no abate clandestino, consumidores e população em geral é traduzido por esses resultados.
Segundo Malik4 (1997), o contato com animais e a ingestão de fígado cru, em região de pastoreio da Arábia Saudita, foram fatores de elevado risco: 73% e 63,3%, respectivamente, associados à brucelose zoonótica em 104 pacientes. Sánchez et al5 (1998), em surto de brucelose zoonótica ocorrido entre operários de um matadouro na Espanha, determinaram a elevada taxa de ataque de 56% para os trabalhadores da área de sacrifício do estabelecimento de abate.
A transmissão ocupacional foi observada também em um surto de brucelose ocorrido entre empregados de um matadouro de suínos nos Estados Unidos.3 De acordo com Fox & Kauffman2 (1977), para os pacientes de brucelose zoonótica dos Estados Unidos, no decênio 1965-1974, os suínos foram a mais importante fonte de infecção, e o contato com os animais foi o fator de risco de maior relevância na transmissão da doença, estando presente em 65% dos casos ocorridos entre os operários da indústria animal (veterinários, produtores e empregados de mercados) e 39% relacionado com a criação doméstica desses animais.
As medidas de prevenção ao risco, entre as quais o uso de equipamentos de proteção individual e afastamento do abate de animais sorologicamente infectados, esta, uma medida estratégica3 , estão sobremaneira ausentes no abate clandestino, enquanto que todos os fatores de risco, entre os quais exposição constante e contato direto com animais, seus órgãos, carcaças e vísceras e distribuição ao consumo de carnes provenientes deles, estão presentes no abate clandestino.
Ações e medidas de vigilância sanitária para reprimir a atividade clandestina de abate de animais para consumo humano devem ser postas em execução, com o objetivo de prevenir o risco potencial de infecção brucélica zoonótica.
REFERÊNCIAS
1. Corbel MJ. Brucellosis: an overview. Emerg Infect Dis 1997;3:213-21.
2. Fox MD, Kauffman F. Brucellosis in the United States, 1965-1974. J lnfect Dis 1977;136:312-6.
3. Hunter L, Smith CG, Mac Cormack JN. Brucellosis outbreak at a pork processing plant- North Carolina, 1992. Morb Mort Wkly Rep 1994;43:113-6.
4. Malik GM. A clinical study of brucellosis in adults in the Asir region of southern Saudi Arabia. Am J Trop Med Hyg 1997;56:375-7.
5. Sánchez L, Cepeda R, Morano TS. Analisis de um brote epidemiológico de brucellosis en trabajadores de un matadero. Rev Esp Salud Publica 1998;72:137-46.
Correspondência para/Correspondence to:
José de Arimatéa Freitas
Travessa Humaitá, 1130/103, Pedreira
66085-220 Belém, PA, Brasil
E-mail: jaf@interconect.com.br
Recebido em 5/9/2000. Reapresentado em 25/10/2000. Aprovado em 7/11/2000.