Experimentação de substâncias psicoativas por estudantes de escolas públicas

Maria Eliane de Andrade Igor Henrique Farias Santos Antônio Araújo Menezes de Souza Aliane Caroline Santos Silva Tatiane dos Santos Leite Cristiane Costa da Cunha Oliveira Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque JúniorSobre os autores

RESUMO

OBJETIVO

Analisar a prevalência de exposição a substâncias psicoativas em estudantes do ensino básico de escolas públicas e sua associação com características sociodemográficas.

MÉTODOS

Trata-se de um inquérito transversal realizado de março a setembro de 2015, envolvendo 1.009 alunos do ensino fundamental e médio em 20 escolas públicas de Aracaju, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro. Os dados foram compilados por meio de questionários aplicados anteriormente em estudos nacionais do Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas. As variáveis foram dicotomizadas para posterior regressão logística com aplicação do teste Qui-quadrado para analisar associações entre a experimentação de substâncias psicoativas e outras variáveis sociodemográficas, e calculada a razão de chances e seus intervalos de confiança. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS

Identificamos que 69,6% dos estudantes têm experimentado álcool e 12,4% cigarro. A idade dos alunos (≥ 15 anos) mostrou associação significativa com a experimentação de álcool (p < 0,001) e cigarros (p = 0,02), atuando como fator de risco em ambos os casos (OR = 2,34 e 1,78, respectivamente), mas atuando como fator de proteção para o uso de inalantes (p = 0,03 e OR = 0,58) e remédios para emagrecer (p = 0,006 e OR = 0,44). A prática religiosa apresentou associação significativa com a experimentação de álcool (p = 0,01), funcionando como um fator de proteção (OR = 0,56).

CONCLUSÕES

Conclui-se que a substância psicoativa mais experimentada pelos estudantes foi o álcool, seguida do cigarro, e que a chance de experimentação aumenta a partir dos 15 anos. A prática religiosa, por sua vez, atua como fator de proteção à experimentação do álcool.

Adolescente; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias, epidemiologia; Fatores de Risco; Estudos Transversais

INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas por adolescentes vem sendo bastante discutido nos últimos anos como questão de saúde pública. Seu controle acontece principalmente por meio de medidas de prevenção99. Galduróz JCF, Sanchez ZM, Opaleye ES, Noto AR, Fonseca AM, Gomes PLS, et al. Fatores associados ao uso pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras. Rev Saude Publica. 2010;44(2):267-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000200006
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. O aumento no consumo de substâncias psicoativas entre adolescentes tem causado preocupação nos pais e educadores, o que tem determinado a busca de novas e eficientes estratégias de educação, prevenção ou combate ao uso de drogasaaRibeiro WA. Abordagens pedagógicas de prevenção do uso indevido de drogas por adolescentes: da prática da opressão à prática da liberdade [dissertação]. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; 2001 [citado 10 out 2015]. Disponível em: http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/1872/1/tese.pdf . A escola atua como aliada nesse processo quando relaciona esse tema às questões fundamentais do direito à vida e à saúde33. Bertoni LM, Adorni DS. A prevenção às drogas como garantia do direito à vida e à saúde: uma interface com a educação. Cad CEDES. 2010;30(81):209-17. https://doi.org/10.1590/S0101-32622010000200006
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Diante da relevância do tema, a Organização Mundial da Saúde, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids com assistência técnica do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, criaram um instrumento para ser aplicado na escola, principalmente entre estudantes com idades entre 13–17 anos, o Global School-based Student Health SurveybbCenters for Disease Control and Prevention. Epi Info. Atlanta: CDC; 2002 [citado 10 out 2015]. Disponível em: https://www.cdc.gov/epiinfo/index.html . Neste estudo, utilizamos esse instrumento para a coleta de dados, e o fato de ser validado e padronizado permite a comparação entre os achados científicos deste estudo com outros nacionais e internacionais quanto à prevalência de hábitos e fatores de proteção relacionados à saúde do jovem em ambiente escolar.

Na Argentina, um levantamento realizado com adolescentes entre 13 e 15 anos de idade indicou que o uso de bebidas alcoólicas aumenta de acordo com a idade e que a maioria dos estudantes havia consumido álcool no último mês. Aqueles que utilizavam bebidas alcoólicas apresentaram maior probabilidade de possuir “saúde mental precária, fazer uso de tabaco e drogas, ter baixo envolvimento dos pais em suas vidas, abandonar a escola e sofrer bullying1818. Rodrigues ET, Kaminice LM, Paranhos MB, Kil AKA, Silvestre CM, Voss TH. Prevenção do uso de drogas lícitas e ilícitas entre adolescentes. Em Extensão (Uberlandia). 2013 [cited 2017 Mar 31];12(1):121-8. Available from: http://www.seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/20830/12660
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No Brasil, Carlini et al.ccCarlini ELA, Noto AR, Sanchez ZM, Carlini CMA, Locatelli DP, Abeid LR, et al. VI Levantamento nacional sobre o consumo de drogas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública e privada de ensino nas 27 capitais brasileiras. São Paulo: CEBRID-Centro Brasileiro de Informações dobre Drogas Psicotrópicas da UNIFESP; Brasília (DF): SENAD-Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; 2010 [citado 10 out 2015]. Disponível em: http://www.antidrogas.com.br/downloads/vi_levantamento.pdf compararam os dois últimos levantamentos nacionais (2004/2010) e constataram diminuição no consumo pelos adolescentes de álcool, inalantes, maconha, ansiolíticos, anfetamínicos e crack, bem como aumento no uso de cocaína quando perguntados sobre o uso pelo menos uma vez no ano anterior à pesquisa. As substâncias mais experimentadas foram: mistura entre bebidas alcoólicas e energéticos, esteroides anabolizantes, êxtase e LSD.

Em Sergipe, um estudo realizado em Itabaiana, Aracaju e Estância mostrou que os estudantes fazem uso de substâncias psicoativas, inclusive dentro do ambiente escolar. Os participantes afirmaram haver venda de substâncias ilícitas no entorno das instituições de ensino, tornando o adolescente vulnerável a situações também associadas à violênciaddSergipe, Secretaria do Estado da Educação. Diagnóstico referente ao uso de drogas nas escolas públicas estaduais de Sergipe: situação preliminar. Aracaju: SEED-SE; 2010.. Outro estudo realizado em Aracaju identificou o uso das substâncias lícitas por estudantes da rede particular de ensino na área urbana da cidade, com maior prevalência quanto ao consumo de bebidas alcoólicas66. Costa CFT, Rodrigues DLQ, Vieira IS, Torales APB, Vargas MM, Oliveira CCC. Uso de drogas lícitas e a condição de saúde bucal de adolescentes de escolas particulares em Aracaju-SE. Interfaces Cient Hum Soc. 2015;3(3):101-12. https://doi.org/10.17564/2316-3801.2015v3n3p101-112
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Pesquisadores investigaram possíveis fatores influenciadores no padrão de consumo de substâncias psicoativas por adolescentes escolares. Os autores identificaram que praticar alguma religião, ter bom relacionamento parental99. Galduróz JCF, Sanchez ZM, Opaleye ES, Noto AR, Fonseca AM, Gomes PLS, et al. Fatores associados ao uso pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras. Rev Saude Publica. 2010;44(2):267-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000200006
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, receber informação adequada, residir com os genitores e possuir hábitos familiares (como fazer ao menos uma refeição semanal com pais ou responsáveis) são fatores protetores. Como fatores associados ao uso de substâncias, local onde os adolescentes residem1919. Silva KL, Dias FLA, Vieira NFC, Pinheiro PNC. Reflexões acerca do abuso de drogas e da violência na adolescência. Esc Anna Nery. 2010;14(3):605-10. https://doi.org/10.1590/S1414-81452010000300024
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, falta de supervisão dos responsáveis2020. Swahn MH, Ali B, Palmier JB, Sikazwe G, Mayeya J. Alcohol marketing, drunkenness, and problem drinking among Zambian youth: findings from the 2004 Global School-Based Student Health Survey. J Environ Public Health. 2011;2011:497827. https://doi.org/10.1155/2011/497827
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, relação ruim com os pais e consigo mesmo99. Galduróz JCF, Sanchez ZM, Opaleye ES, Noto AR, Fonseca AM, Gomes PLS, et al. Fatores associados ao uso pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras. Rev Saude Publica. 2010;44(2):267-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000200006
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, sentimento de solidão, insônia e falta de amigos1212. Malta DC, Porto DL, Melo FCM, Monteiro RA, Sardinha LMV, Lessa BH. Família e proteção ao uso de tabaco, álcool e drogas em adolescentes, pesquisa nacional de saúde dos escolares. Rev Bras Epidemiol. 2011;14 Supl 1:166-77. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2011000500017
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Rodrigues et al.1818. Rodrigues ET, Kaminice LM, Paranhos MB, Kil AKA, Silvestre CM, Voss TH. Prevenção do uso de drogas lícitas e ilícitas entre adolescentes. Em Extensão (Uberlandia). 2013 [cited 2017 Mar 31];12(1):121-8. Available from: http://www.seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/20830/12660
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, após realizar um projeto de intervenção com estudantes, identificaram que, apesar da aceitação e aprendizado adquiridos, há outros fatores sociais que influenciam o consumo de substâncias e que geram ônus para os adolescentes. Assim, concluíram que, além das práticas de prevenção no ambiente escolar, seria preciso ofertar melhor qualidade de vida a esse público, por meio de acesso à saúde de qualidade, cursos e atividades esportivas e culturais, o que contribuiria para uma modificação na realidade social dos adolescentes.

Nesse sentido, fez-se necessária a realização de um estudo que analisasse a experimentação de substâncias psicoativas entre adolescentes escolares. Acredita-se que os resultados encontrados possam ser comparados a outros achados científicos e, assim, sejam traçadas políticas públicas para melhoria na qualidade de vida dos adolescentes. Para tanto, sugere-se a elaboração de estratégias de promoção e prevenção à saúde, discutidas e trabalhadas por pais, educadores, profissionais da saúde, segurança pública, objetivando diminuir a vulnerabilidade do adolescente.

Diante desse cenário, o objetivo deste estudo foi analisar a prevalência de exposição a substâncias psicoativas em estudantes do ensino básico, matriculados em escolas públicas, e sua associação com algumas características sociodemográficas.

MÉTODOS

Trata-se de um inquérito transversal realizado de março a setembro de 2015, foram incluídos estudantes com idade entre 10 a 24 anos de idade, do ensino fundamental e médio das escolas públicas estaduais na Grande Aracaju, SE, nos municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, e São Cristóvão. Para a obtenção da amostra, foram consideradas apenas as escolas que possuíam simultaneamente o ensino fundamental (oitavo e nono ano) e o ensino médio (primeira a terceira série) em cada cidade selecionada e que estivessem cadastradas no Portal da Educação da Secretaria do Estado de Educação de SergipeeeSergipe, Secretaria do Estado da Educação de Sergipe. Portal da Educação. Aracaju; s.d. [citado 9 jun 2014].. Para definir o tamanho da amostra de alunos, foi utilizada a fórmula de Barbetta22. Barbetta PA. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. Florianópolis: Editora da UFSC; 2007. com distribuição proporcional ao número de estudantes por escola e série. O valor total da amostra mínima para o ensino fundamental foi de 433, e do ensino médio, 427. Foram acrescidos 20% ao número total da amostra para evitar que após perdas o tamanho amostral fosse prejudicado.

Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Tiradentes (Parecer 927.714), foram planejadas visitas às instituições de ensino selecionadas para agendamento e explicação do estudo à direção dessas instituições. A possibilidade de participação foi oferecida aos adolescentes de ambos os sexos, que estavam presentes, que concordaram em participar e que devolveram o termo de consentimento livre e esclarecido, antecipadamente assinado por seus responsáveis quando menores de 18 anos de idade e assinando o termo de assentimento. Foram excluídos os adolescentes cujas fichas de matrícula constasse algum tipo de comprometimento cognitivo ou emocional, deficiente auditivo ou visual, por possível necessidade de intérprete, o que poderia comprometer o sigilo da pesquisa.

Para coleta de dados, foram aplicados questionários utilizados nos levantamentos nacionais realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas adaptados ao Brasil por Carlini-Cotrin et al., apud Carlini et al.ccCarlini ELA, Noto AR, Sanchez ZM, Carlini CMA, Locatelli DP, Abeid LR, et al. VI Levantamento nacional sobre o consumo de drogas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública e privada de ensino nas 27 capitais brasileiras. São Paulo: CEBRID-Centro Brasileiro de Informações dobre Drogas Psicotrópicas da UNIFESP; Brasília (DF): SENAD-Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; 2010 [citado 10 out 2015]. Disponível em: http://www.antidrogas.com.br/downloads/vi_levantamento.pdf Os questionários continham questões fechadas e de múltipla escolha. Antes da entrega dos questionários, os alunos foram informados que o preenchimento não era obrigatório, para possibilitar a liberdade de devolvê-lo em branco ou retirar seu consentimento a qualquer momento. Houve treinamento entre a equipe de pesquisa quanto ao tempo e forma de aplicação para garantir que todos pudessem realizar a coleta de maneira homogênea.

Um pesquisador explicou os objetivos do estudo a todos, na sala de aula, sem o professor. Em seguida, o questionário foi distribuído aos estudantes para autopreenchimento. Os adolescentes foram informados a respeito do anonimato e sigilo de informações. A aplicação levou no máximo 30 minutos para o ensino fundamental e uma hora-aula (50 minutos) para o ensino médio. Após respondido, o questionário era devolvido ao pesquisador, e colocado dentro de um envelope, que era, então, devidamente lacrado.

Foram retirados da amostra os questionários que apresentaram incoerência entre as respostas ou aqueles em que os adolescentes afirmaram ter usado uma substância fictícia presente em ambos os instrumentos. As variáveis foram rotuladas de acordo com o questionário e submetidas a análises descritivas.

Para análise de possíveis diferenças nas médias de idade da experimentação de substâncias psicoativas, foi aplicado o teste Kolmogorov-Smirnov para avaliação de normalidade e homocedasticidade. Em caso de distribuição Gaussiana, foi aplicado o teste t de Student para comparação de médias de dois grupos, bem como teste ANOVA e pós-teste de Tukey para comparação entre três ou mais grupos. Quando houve distribuição não gaussiana, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis e pós-teste de Dunn, para comparação de três ou mais grupos de médias, bem como teste U de Mann-Whitney para comparação de dois grupos.

Foi analisada a frequência de experimentação das substâncias psicoativas com aplicação do teste Qui-quadrado. Para analisar associações entre experimentação dessas substâncias e as demais variáveis sociodemográficas, foi realizada dicotomização e regressão logística com aplicação do teste Qui-quadrado, e calculada a odds ratio (OR), bem como os respectivos intervalos de confiança (IC). Para todos os testes estatísticos descritos, foi adotado o intervalo de confiança de 95% (IC95%) e, portanto, um nível de significância de 5%. As análises foram feitas no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences for Windows (SPSS) 16.0.

RESULTADOS

Este estudo foi realizado em 20 escolas públicas na Grande Aracaju localizadas nos municípios de Aracaju (80%), Nossa Senhora do Socorro (15%), e São Cristóvão (5%). Participaram 1.009 adolescentes, predominantemente do ensino médio e do sexo feminino. A idade média foi de 15,51 (DP = 1,58) anos (Tabela 1).

Tabela 1
Características sociodemográficas dos escolares do ensino fundamental (8º e 9º ano) e ensino médio de escolas públicas na Grande Aracaju, SE, 2015.

Quanto às médias de idade inicial de experimentação de cada substância, não houve diferença significativa entre a idade inicial de experimentação para nenhuma substância analisada neste estudo (p > 0,05). Também não houve diferença significativa em relação ao sexo dos participantes e a idade inicial de experimentação.

As bebidas alcoólicas foram as substâncias mais experimentadas, seguida do cigarro e da maconha (Tabela 2).

Tabela 2
Consumo de substâncias por escolares na Grande Aracaju, SE, 2015.

Dentre as variáveis estudadas (Tabela 3), a idade dos escolares (≥ 15 anos) apresentou associação significativa com a experimentação de álcool (p < 0,001) e cigarro (p = 0,02). O aumento na chance desse evento ocorrer é de 2,34 vezes, a partir dos 15 anos de idade. Com relação à experimentação do cigarro, o aumento na chance de ocorrência desse evento é de 1,78. Por outro lado, a entrada nessa mesma faixa etária também apresentou associação significativa com a experimentação de substâncias inalantes e drogas para emagrecer (p = 0,03 e p = 0,006, respectivamente). No entanto, o aumento dos grupos etários atuou como fator de proteção ao uso dessas substâncias (odds ratio menores que 1,0). Nenhuma das demais substâncias pesquisadas exibiu associação significativa com a dicotomização da faixa etária dos escolares (p > 0,05).

Tabela 3
Análise de regressão logística sobre a experimentação (uso na vida) de substâncias psicoativas e grupo etário (dicotomizada em < 15 anos e ≥ 15 anos) dos adolescentes do ensino fundamental e médio de escolas públicas na Grande Aracaju, SE, 2015.

Identificamos que as principais substâncias psicoativas experimentadas por escolares foram álcool e cigarro, e a faixa etária de maior chance de experimentação foi aquela equivalente ao grupo etário de 15 anos ou mais. Como 15 anos representa a idade inicial de entrada no ensino médio, esse nível de ensino foi utilizado para análise de possíveis associações entre outros potenciais fatores de risco e a experimentação das referidas substâncias.

Quanto à experimentação do álcool, na análise de regressão logística (Tabela 4), a variável frequência de práticas religiosas apresentou associação significativa com a experimentação do álcool (p = 0,01). Assim, a prática religiosa rotineira reduz a chance de experimentação do álcool (OR = 0,56). As demais variáveis estudadas no modelo de regressão logística não apresentaram associação significativa com o desfecho estudado.

Tabela 4
Análise de regressão logística entre fatores associados à experimentação de álcool (uso na vida) entre estudantes do ensino médio de escolas públicas na Grande Aracaju, SE, 2015.

Em relação à experimentação de cigarro, foi observado que o fato de os pais dos escolares viverem juntos está significativamente associado à experimentação (uso na vida) de cigarro, reduzindo a chance de experimentação dessa substância (OR = 0,44), quando comparados àqueles cujos pais não vivem juntos (p < 0,001). As demais variáveis analisadas no modelo de regressão logística não apresentaram associação significativa (p > 0,05) (Tabela 5).

Tabela 5
Análise de regressão logística entre fatores associados à experimentação de cigarro (uso na vida) entre estudantes do ensino médio de escolas públicas na Grande Aracaju, SE, 2015.

DISCUSSÃO

No presente estudo, a maioria dos escolares pesquisados correspondeu a indivíduos do sexo feminino, entre 15 e 17 anos de idade, que cursavam o ensino médio. Essa caracterização amostral foi semelhante àquelas relatadas em estudos prévios no Brasil1010. Lopes AP, Rezende MM. Consumo de substâncias psicoativas em estudantes do ensino médio. Psicol Teor Prat. 2014 [cited 2017 Mar 31];16(2):29-40. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v16n2/03.pdf
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,1515. Oliveira HF, Martins LC, Reato LFN, Akerman M. Fatores de risco para uso do tabaco em adolescentes de duas escolas do município de Santo André, São Paulo. Rev Paul Pediatr. 2010;28(2):200-7. https://doi.org/10.1590/S0103-05822010000200012
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e na Espanha2121. Villalbí JR. Consumo de drogas por los adolescentes y opciones de intervención. FMC Form Med Contin Aten Prim. 2013;20(10):573-9. https://doi.org/10.1016/S1134-2072(13)70668-6
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. Em outros estudos1212. Malta DC, Porto DL, Melo FCM, Monteiro RA, Sardinha LMV, Lessa BH. Família e proteção ao uso de tabaco, álcool e drogas em adolescentes, pesquisa nacional de saúde dos escolares. Rev Bras Epidemiol. 2011;14 Supl 1:166-77. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2011000500017
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,1616. Pierobon M, Barak M, Hazrati S, Jacobsen KH. Alcohol consumption and violence among Argentine adolescents. J Pediatr (Rio J). 2013;89(1):100-7. https://doi.org/10.1016/j.jped.2013.02.015
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, a divergência no perfil dos escolares pode estar associada a diferenças entre as modalidades de ensino estabelecidas em nosso país e em outras partes do mundo, tendo provável adoção de distinta grade curricular.

Também foi relevante o fato de que a maioria deles apresentava percentual de defasagem de um a dois anos da série escolar. Poucos estudos trabalham esse dado em sua abordagem metodológica, o que dificulta sua comparação com a literatura e consequente interpretação mais acurada. No entanto, Galduróz et al.99. Galduróz JCF, Sanchez ZM, Opaleye ES, Noto AR, Fonseca AM, Gomes PLS, et al. Fatores associados ao uso pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras. Rev Saude Publica. 2010;44(2):267-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000200006
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, Oliveira et al.1515. Oliveira HF, Martins LC, Reato LFN, Akerman M. Fatores de risco para uso do tabaco em adolescentes de duas escolas do município de Santo André, São Paulo. Rev Paul Pediatr. 2010;28(2):200-7. https://doi.org/10.1590/S0103-05822010000200012
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e Backes et al.11. Backes DS, Zanatta FB, Costenaro RS, Rangel RF, Vidal J, Kruel CS, et al. Indicadores de risco associados ao consumo de drogas ilícitas em escolares de uma comunidade do sul do Brasil. Cienc Saude Coletiva. 2014;19(3):899-906. https://doi.org/10.1590/1413-81232014193.00522013
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também identificaram um percentual de defasagem semelhante em seus respectivos estudos. Esses dados sugerem, portanto, que essa defasagem parece representar não apenas uma característica da amostra utilizada no presente estudo, mas uma realidade observada nacionalmente. Estudos efetuados por Ribeiro e Cacciamali1818. Rodrigues ET, Kaminice LM, Paranhos MB, Kil AKA, Silvestre CM, Voss TH. Prevenção do uso de drogas lícitas e ilícitas entre adolescentes. Em Extensão (Uberlandia). 2013 [cited 2017 Mar 31];12(1):121-8. Available from: http://www.seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/20830/12660
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indicaram que o problema da defasagem escolar estaria relacionado a fatores como entrada tardia na escola, evasão e repetência escolar.

Nesta pesquisa, a maioria dos estudantes pesquisados relatou ter experimentado substâncias psicoativas pelo menos uma vez (“uso na vida”), sendo as bebidas alcoólicas as mais citadas, o que corrobora trabalhos prévios55. Cardoso LRD, Malbergier A. A influência dos amigos no consumo de drogas entre adolescentes. Estud Psicol (Campinas). 2014;31(1):65-74. https://doi.org/10.1590/0103-166X2014000100007
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,77. D’Orazio WPS, Carvalho SA, Lima TH, Borges AAT, Picoli MC, Marques ACL, et al. Uso de drogas e desempenho escolar entre jovens e adolescentes do ensino médio de uma escola pública de Pires do Rio – GO. HOLOS. 2013;29(5):305-14. https://doi.org/10.15628/holos.2013.1479
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,1313. Miozzo L, Dalberto ER, Silveira DX, Terra MB. Consumo de substâncias psicoativas em uma amostra de adolescentes e sua relação com o comportamento sexual. J Bras Psiquiatr. 2013;62(2):93-100. https://doi.org/10.1590/S0047-20852013000200001
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. Este resultado parece uma realidade mundial, identificada na Zâmbia e Uganda2020. Swahn MH, Ali B, Palmier JB, Sikazwe G, Mayeya J. Alcohol marketing, drunkenness, and problem drinking among Zambian youth: findings from the 2004 Global School-Based Student Health Survey. J Environ Public Health. 2011;2011:497827. https://doi.org/10.1155/2011/497827
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, Portugal1414. Neto C, Fraga S, Ramos E. Consumo de substâncias ilícitas por adolescentes portugueses. Rev Saude Publica. 2012;46(5):808-15. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012000500007
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, na Espanha2121. Villalbí JR. Consumo de drogas por los adolescentes y opciones de intervención. FMC Form Med Contin Aten Prim. 2013;20(10):573-9. https://doi.org/10.1016/S1134-2072(13)70668-6
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, na Argentina1616. Pierobon M, Barak M, Hazrati S, Jacobsen KH. Alcohol consumption and violence among Argentine adolescents. J Pediatr (Rio J). 2013;89(1):100-7. https://doi.org/10.1016/j.jped.2013.02.015
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e México2222. Villegas-Pantoja MA, Alonso-Castillo MM, Alonso-Castillo BA. Martínez-Maldonado R. Percepción de crianza parental y su relación con el inicio del consumo de drogas en adolescentes mexicanos. Aquichan. 2014;14(1):41-52. https://doi.org/10.5294/aqui.2014.14.1.4
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. Assim, pode-se afirmar que o consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes é uma realidade local, nacional e internacional.

Outro dado importante é a experimentação de álcool por sexo, que não apresentou significância estatística. Na literatura, estudos nacionais44. Campos JADB, Almeida JC, Garcia PPNS, Faria JB. Consumo de álcool entre estudantes do ensino médio do município de Passos – MG. Cienc Saude Coletiva. 2011;16(12):4745-54. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001300023
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,1010. Lopes AP, Rezende MM. Consumo de substâncias psicoativas em estudantes do ensino médio. Psicol Teor Prat. 2014 [cited 2017 Mar 31];16(2):29-40. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v16n2/03.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v16n2/...
,1414. Neto C, Fraga S, Ramos E. Consumo de substâncias ilícitas por adolescentes portugueses. Rev Saude Publica. 2012;46(5):808-15. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012000500007
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e internacionais1616. Pierobon M, Barak M, Hazrati S, Jacobsen KH. Alcohol consumption and violence among Argentine adolescents. J Pediatr (Rio J). 2013;89(1):100-7. https://doi.org/10.1016/j.jped.2013.02.015
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, também encontraram resultados como esse. Há os que obtiveram resultados distintos por encontrar diferença significativa no uso pelo menos uma vez na vida de álcool por pesquisados do sexo feminino1212. Malta DC, Porto DL, Melo FCM, Monteiro RA, Sardinha LMV, Lessa BH. Família e proteção ao uso de tabaco, álcool e drogas em adolescentes, pesquisa nacional de saúde dos escolares. Rev Bras Epidemiol. 2011;14 Supl 1:166-77. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2011000500017
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,1515. Oliveira HF, Martins LC, Reato LFN, Akerman M. Fatores de risco para uso do tabaco em adolescentes de duas escolas do município de Santo André, São Paulo. Rev Paul Pediatr. 2010;28(2):200-7. https://doi.org/10.1590/S0103-05822010000200012
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.

No presente estudo, a idade dos sujeitos (igual ou superior que 15 anos) exibiu associação significativa com a experiência de consumo de álcool, cigarro, inalante e drogas para emagrecer. Contudo, a variável idade funcionou como fator de risco para consumo de álcool e cigarro, mas surpreendentemente atuou como fator de proteção para uso de inalantes e drogas para emagrecer. Estudos anteriores afirmaram que os inalantes e remédios para emagrecer não aparecem como substâncias com resultados significativos, o que dificultou a discussão deste resultado com outros estudos realizados sobre o tema. O uso do álcool e cigarro, por serem substâncias lícitas, pode decorrer do fácil acesso, da falta de controle nas vendas destas ao menor de 18 anos de idade, da entrada no primeiro emprego (adolescente aprendiz) e do uso por amigos e familiares. Já o uso de remédios para emagrecer pode estar associado ao padrão de beleza imposto pela sociedade, sendo reforçado pela necessidade de autoafirmação no período da adolescência após os quinze anos de idade.

Entre substâncias referidas, o cigarro, a maconha e os remédios para emagrecer são respectivamente as mais experimentadas. De fato, Villegas-Pantoja et al.2222. Villegas-Pantoja MA, Alonso-Castillo MM, Alonso-Castillo BA. Martínez-Maldonado R. Percepción de crianza parental y su relación con el inicio del consumo de drogas en adolescentes mexicanos. Aquichan. 2014;14(1):41-52. https://doi.org/10.5294/aqui.2014.14.1.4
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observaram que, entre as substâncias psicoativas, as mais consumidas são álcool e cigarro. Adicionalmente, pesquisas nacionais mostraram que a terceira substância mais consumida é a maconha55. Cardoso LRD, Malbergier A. A influência dos amigos no consumo de drogas entre adolescentes. Estud Psicol (Campinas). 2014;31(1):65-74. https://doi.org/10.1590/0103-166X2014000100007
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,77. D’Orazio WPS, Carvalho SA, Lima TH, Borges AAT, Picoli MC, Marques ACL, et al. Uso de drogas e desempenho escolar entre jovens e adolescentes do ensino médio de uma escola pública de Pires do Rio – GO. HOLOS. 2013;29(5):305-14. https://doi.org/10.15628/holos.2013.1479
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,1313. Miozzo L, Dalberto ER, Silveira DX, Terra MB. Consumo de substâncias psicoativas em uma amostra de adolescentes e sua relação com o comportamento sexual. J Bras Psiquiatr. 2013;62(2):93-100. https://doi.org/10.1590/S0047-20852013000200001
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.

Os resultados supracitados podem estar associados a fatores influenciadores, como: sexo, relação parental, atividade física, informações educativas e práticas religiosas. No presente estudo, a prática de atividade religiosa esporádica ou inexistente apresentou associação significativa com a experimentação de bebidas alcoólicas. Em estudo nacional, Galduróz et al.ffGalduróz JCF, Noto AR, Fonseca AM, Carlini EA. V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras 2004. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, CEBRID; 2004 [citado 20 jun 2017]. Disponível em: http://www2.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/levantamento_brasil2/ mostraram que, na região Nordeste, os adolescentes que tinham prática religiosa faziam menor uso de substancias psicoativas. Isso pode estar associado ao fato de essa região manter tradicionalmente hábitos religiosos, o que ao longo do tempo foi sendo fixado entre os hábitos sociais e culturais. Em contrapartida, festas consideradas profanas atraem os jovens que têm uma menor identificação com alguma religião, local propício para o consumo de substâncias psicoativas33. Bertoni LM, Adorni DS. A prevenção às drogas como garantia do direito à vida e à saúde: uma interface com a educação. Cad CEDES. 2010;30(81):209-17. https://doi.org/10.1590/S0101-32622010000200006
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.

Entre os fatores associados ao uso de substâncias psicoativas, os pais não viverem juntos associou-se à experimentação de cigarro. Outras pesquisas também apresentaram a relação parental como fator influenciador no consumo dessa e demais substâncias psicoativas referidas neste estudo. Como fatores de proteção, têm-se: apresentar bom relacionamento entre seus pais e consigo mesmo, residir com os pais, possuir hábitos familiares simples e conhecimento, por parte dos pais, sobre o que os adolescentes fazem com seu tempo livre44. Campos JADB, Almeida JC, Garcia PPNS, Faria JB. Consumo de álcool entre estudantes do ensino médio do município de Passos – MG. Cienc Saude Coletiva. 2011;16(12):4745-54. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001300023
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,99. Galduróz JCF, Sanchez ZM, Opaleye ES, Noto AR, Fonseca AM, Gomes PLS, et al. Fatores associados ao uso pesado de álcool entre estudantes das capitais brasileiras. Rev Saude Publica. 2010;44(2):267-73. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000200006
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,1212. Malta DC, Porto DL, Melo FCM, Monteiro RA, Sardinha LMV, Lessa BH. Família e proteção ao uso de tabaco, álcool e drogas em adolescentes, pesquisa nacional de saúde dos escolares. Rev Bras Epidemiol. 2011;14 Supl 1:166-77. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2011000500017
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. Os genitores precisam trabalhar e, por não ter com quem deixar seus filhos, os jovens ficam sozinhos e, assim, passam a maior parte do tempo livre sem supervisão.

Nesta pesquisa, a maioria dos estudantes afirmou ter recebido informações educativas sobre o uso de substâncias psicoativas, mas não houve associação significativa entre essas variáveis. Este resultado difere dos encontrados na literatura, em que os autores afirmaram que não ter informação educativa sobre o uso de substâncias psicoativas seria um importante agente influenciador para o seu consumo1919. Silva KL, Dias FLA, Vieira NFC, Pinheiro PNC. Reflexões acerca do abuso de drogas e da violência na adolescência. Esc Anna Nery. 2010;14(3):605-10. https://doi.org/10.1590/S1414-81452010000300024
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,2222. Villegas-Pantoja MA, Alonso-Castillo MM, Alonso-Castillo BA. Martínez-Maldonado R. Percepción de crianza parental y su relación con el inicio del consumo de drogas en adolescentes mexicanos. Aquichan. 2014;14(1):41-52. https://doi.org/10.5294/aqui.2014.14.1.4
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. No Brasil, a mídia apresenta o uso do álcool em propagandas atrativas, deixando os adolescentes vulneráveis ao consumo, apesar deste ser permitido apenas para maiores de 18 anos88. Dallo L, Martins RA. Uso de álcool entre adolescentes escolares: um estudo-piloto. Paideia. 2011;21(50):329-34. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2011000300005
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. Além disso, o acesso a essas substâncias é facilitado, uma vez que são ofertadas por familiares e amigos55. Cardoso LRD, Malbergier A. A influência dos amigos no consumo de drogas entre adolescentes. Estud Psicol (Campinas). 2014;31(1):65-74. https://doi.org/10.1590/0103-166X2014000100007
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,1111. Malbergier A, Cardoso LRD, Amaral RA. Uso de substâncias na adolescência e problemas familiares. Cad Saude Publica. 2012;28(4):678-88. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000400007
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,1414. Neto C, Fraga S, Ramos E. Consumo de substâncias ilícitas por adolescentes portugueses. Rev Saude Publica. 2012;46(5):808-15. https://doi.org/10.1590/S0034-89102012000500007
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. As informações oferecidas aos alunos parecem não ter sido suficientes para aquisição de novos comportamentos.

Por outro lado, é necessário considerar que diversas variáveis analisadas no presente trabalho não apresentaram associações significativas com a experimentação de substâncias psicoativas. Tal resultado, contudo, pode ser reflexo do pequeno tamanho da amostra, como sugerem os intervalos de confiança bastante amplos, o que parece ensejar a realização de novos estudos com amostras maiores.

Por estarem presentes em qualquer lugar, inclusive no entorno das escolas, as substâncias psicoativas podem interferir no cotidiano e nas relações sociais dos adolescentes. O ambiente escolar configura um espaço propício para socialização dos indivíduos. As instituições devem se preparar para lidar com situações também associadas ao uso dessas substâncias, pois podem interferir no processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto, sugere-se a realização de estudos de intervenção no ambiente escolar, pois é crucial traçar estratégias de educação em saúde que visem a orientar a comunidade escolar sobre as concepções do uso de substâncias psicoativas e as consequências decorrentes desse uso.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2017

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2016
  • Aceito
    1 Set 2016
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo - SP - Brazil
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