Doenças crônicas não transmissíveis e covid-19: resultados do estudo Epicovid-19 Brasil

Marilia Arndt Mesenburg Pedro Curi Hallal Ana Maria Baptista Menezes Aluísio J D Barros Bernardo Lessa Horta Fernando Celso de Barros Fernando Pires Hartwig Nadège Jacques Mariangela Freitas da Silveira Sobre os autores

RESUMO

OBJETIVO

Descrever a prevalência de doenças crônicas e fatores socioeconômicos e demográficos associados, avaliar os padrões de distanciamento social e a prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 e sintomas de covid-19 em portadores e não portadores de doenças crônicas.

MÉTODOS

Foram avaliados dados de 77.075 mil indivíduos de 20 a 59 anos de três etapas do inquérito sorológico de abrangência nacional Epicovid-19 Brasil, realizadas entre maio e junho de 2021. A presença de anticorpos contra SARS-CoV-2 foi avaliada por teste rápido. Foram investigadas as prevalências autorreferidas de hipertensão, diabetes, asma, câncer, doença renal crônica e doença cardíaca. A prevalência de uso de máscara, de adesão a medidas de isolamento e de anticorpos foi avaliada separadamente entre portadores e não portadores de doenças crônicas. A prevalência de sintomas foi avaliada entre doentes crônicos e não doentes portadores de anticorpos.

RESULTADOS

A prevalência do pelo menos uma doença crônica foi de 43%, maior na região Sudeste, entre indivíduos brancos e indígenas, mulheres, menos escolarizados e em menor posição socioeconômica. O uso de máscara ao sair do domicílio não diferiu entre doentes crônicos e não doentes (98%). A proporção de participantes que referiram adesão ao isolamento foi maior entre doentes crônicos (15,9%) que entre não doentes (24,9%). A prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 foi semelhante entre doentes crônicos e não doentes (2,4% e 2,3%). A prevalência de tosse, dispneia, palpitações e mialgia foi significativamente maior entre doentes crônicos, mas a proporção de sintomáticos não diferiu entre os grupos.

CONCLUSÃO

A prevalência de doenças crônicas no país é alta e a pandemia de covid-19 atinge de forma semelhante doentes e não doentes. Doentes crônicos apresentam formas mais graves de covid-19 e maior prevalência de sintomas. A maior adesão às medidas de distanciamento social entre doentes crônicos não se reflete em menor incidência de covid-19 nesse grupo.

Infecções por Coronavírus, epidemiologia; Doenças não Transmissíveis; Fatores Socioeconômicos; Inquéritos Epidemiológicos

INTRODUÇÃO

Até o início de abril de 2021, foram contabilizados cerca de 132 milhões de casos confirmados de covid-19 e 3 milhões de óbitos no mundo. As Américas e a Europa contribuem com o maior número de casos confirmados. O Brasil contabiliza aproximadamente 3% da população mundial, mas concentra 10% de todos os casos e mortes do planeta11. World Health Organization. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) Dashboard. Geneva; 2021 [cited 2021 Feb 1]. Available from: https://covid19.who.int/
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. A mortalidade por covid-19 depende não apenas do número de casos incidentes, mas também de fatores populacionais como estrutura etária e carga de comorbidades relacionadas ao desenvolvimento de formas severas da doença11. World Health Organization. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) Dashboard. Geneva; 2021 [cited 2021 Feb 1]. Available from: https://covid19.who.int/
https://covid19.who.int/...
.

Desde o início da pandemia, doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como hipertensão arterial, diabetes, doenças respiratórias e doenças cardiovasculares vêm sendo associadas à maior severidade e letalidade da covid-1922. Gold MS, Sehayek D, Gabrielli S, Zhang X, McCusker C, Ben-Shoshan M. COVID-19 and comorbidities: a systematic review and meta-analysis. Postgrad Med. 2020;132(8):749-55. https://doi.org/10.1080/00325481.2020.1786964
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. Uma metanálise sobre a relação entre DCNT e severidade de covid-19, incluindo oito estudos, evidenciou que doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) foi o mais forte preditor de formas severas de covid-19 (odds ratio [OR] = 6,4; IC95% 2,4–16,9), seguida de doença cardiovascular (OR = 2,7; IC95% 1,5–4,8) e hipertensão (OR = 1,9; IC95% 1,4–2,7). A internação em unidades de terapia intensiva foi ainda mais fortemente associada a DPOC, doença cardiovascular e hipertensão, com OR de 17,8 (IC95% 6,5–48,2), 4,4 (IC95% 2,6–7,4) e 3,6 (IC95% 2,2–5,9)44. Jain V, Yuan JM. Predictive symptoms and comorbidities for severe COVID-19 and intensive care unit admission: a systematic review and meta-analysis. Int J Public Health. 2020;65(5):533-46. https://doi.org/10.1007/s00038-020-01390-7
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, respectivamente. Outra metanálise avaliou especificamente a relação de diabetes com severidade ou letalidade da covid-19, encontrando associação positiva (OR 2,16; IC95% 1,74–2,68)55. Kumar A, Arora A, Sharma P, Anikhindi SA, Bansal N, Singla V, et al. Is diabetes mellitus associated with mortality and severity of COVID-19? A meta-analysis. Diabetes Metab Syndr. 2020;14(4):535-45. https://doi.org/10.1016/j.dsx.2020.04.044
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. Doença renal crônica, câncer, asma, doenças de fígado e HIV/AIDS também estão relacionados à evolução desfavorável da doença66. Ssentongo P, Ssentongo AE, Heilbrunn ES, Ba DM, Chinchilli VM, Ba DM. Association of cardiovascular disease and 10 other pre-existing comorbidities with COVID-19 mortality: a systematic review and meta-analysis. PloS One. 2020;15(8):e0238215. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0238215
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.

O Brasil, devido à transição demográfica e epidemiológica em progresso, apresenta alta carga de DCNT77. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Nacional de Saúde. 2013: percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas: Brasil, grandes regiões e unidades da federação. Rio de janeiro: IBGE; 2014.,88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília, DF; 2019.. A prevalência de obesidade e inatividade física, importantes fatores de risco para essas morbidades, também é alta88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília, DF; 2019.,99. World Health Organization. Noncommunicable diseases country profiles 2018. Geneva: WHO; 2018 [cited 2021 Feb 18]. Available from: https://www.who.int/nmh/publications/ncd-profiles-2018/en/
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. Esse cenário é alarmante no contexto brasileiro da pandemia de covid-19, pois aumenta o risco de casos graves em um país com elevada incidência. Portanto, a avaliação do panorama das DCNT associadas à infecção covid-19 no Brasil é fundamental. Este estudo tem como objetivo descrever a prevalência de DCNT e fatores socioeconômicos e demográficos associados, além de avaliar os padrões de distanciamento social e a prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 entre portadores e não portadores de DCNT, assim como a ocorrência de sintomas entre indivíduos com anticorpos contra SARS-CoV-2 portadores e não portadores de DCNT.

MÉTODOS

Foram analisados dados do estudo Epicovid-19 Brasil, uma serie de inquéritos sorológicos de abrangência nacional realizados com o objetivo de avaliar a magnitude, evolução e características da pandemia. Para fazer parte do Epicovid-19 Brasil, foi selecionada a cidade mais populosa de cada uma das 133 regiões intermediárias nas quais o país é geograficamente dividido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em cada cidade foi realizada amostragem em múltiplos estágios, tendo como unidades amostrais primárias os setores censitários urbanos definidos pelo IBGE, utilizando a malha de 2010. Foram selecionados 25 setores em cada cidade, com probabilidade proporcional ao tamanho. Em cada setor foram selecionados sistematicamente 10 domicílios. Em cada domicílio um morador era sorteado e convidado a participar do estudo. No caso de recusa, um segundo morador era sorteado. Caso o segundo morador também recusasse, os entrevistadores abordavam o domicílio imediatamente ao lado direito. O mesmo procedimento de substituição era adotado caso o domicílio selecionado estivesse desocupado ou não atendesse ao entrevistador. Todas as recusas e substituições foram registradas pela equipe de campo.

Cada participante respondeu a um questionário sobre características socioeconômicas e demográficas, distanciamento social, uso de máscara, presença de sintomas de covid-19 e diagnóstico prévio de DCNT, entre outros. Os participantes foram submetidos ao teste rápido WONDFO SARS-CoV-2 Antibody Test (Wondfo Biotech Co., Guangzhou, China), que detecta a presença de anticorpos contra SARS-CoV-2 (IgG e IgM). O teste foi previamente validado pela equipe de pesquisadores responsáveis pelo estudo1010. Pellanda LC, Ros Wendland EM, McBride AJA, Tovo-Rodrigues L, Ferreira MRA, Dellagostin OA, et al. Sensitivity and specificity of a rapid test for assessment of exposure to SARS-CoV-2 in a community-based setting in Brazil. medRxiv [Preprint]. 2020. https://doi.org/10.1101/2020.05.06.20093476
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,1111. Silveira MF, Mesenburg MA, Dellagostin OA, Oliveira NR, Maia MAC, Santos FDS, et al. Time-dependent decay of detectable antibodies against SARS-CoV-2: a comparison of ELISA with two batches of a lateral-flow test [Preprint]. Rochester, NY: SSRN; 2021. https://doi.org/10.2139/ssrn.3757411
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. Os entrevistadores responsáveis pela coleta dos dados receberam treinamento padronizado sobre a aplicação do questionário, realização e leitura do teste rápido. Os testes rápidos positivos e 20% dos negativos foram avaliados por um segundo observador. A metodologia detalhada do estudo Epicovid-19 Brasil foi publicada previamente1212. Hallal PC, Barros FC, Silveira MF, Barros AJD, Dellagostin OA, Pellanda LC, et al. EPICOVID-19 protocol: repeated serological surveys on SARS-CoV-2 antibodies in Brazil. Cienc Saude Coletiva. 2020;25(9):3573-8. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.25532020
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.

Os dados foram coletados em três etapas do Epicovid-19 Brasil, realizadas de 14 a 21 de maio (n = 25.025), de 04 a 07 de junho (n = 31.165) e de 21 a 24 de junho de 2020 (n = 33.207). As análises deste estudo foram restritas a adultos de 20 anos ou mais.

Para avaliar se eram portadores de doenças crônicas, os participantes foram questionados se já haviam recebido diagnóstico médico de hipertensão, diabetes, asma, câncer, doença renal crônica e cardiopatia (“sim” ou “não”). Os indivíduos que relataram diagnóstico de uma ou mais DCNT foram considerados como portadores de DCNT e serão mencionados dessa forma no texto.

A presença de anticorpos contra SARS-CoV-2 foi avaliada pelo resultado do teste rápido: quando o resultado era positivo, considerou-se que o indivíduo apresentava anticorpos contra o vírus. O uso de máscara foi avaliado pela pergunta “Você usa máscara quando sai de casa?” (“sim”, “não” ou “não sai de casa”). A adesão ao distanciamento social foi avaliada pelas seguintes questões:

  • “Com relação ao distanciamento social que está sendo orientado pelas autoridades de saúde, ou seja, ficar em casa e evitar contato com outras pessoas, quanto você acha que está conseguindo fazer?” (“muito pouco”, “pouco”, “mais ou menos”, “bastante” ou “praticamente isolado de todo mundo”);

  • “Como tem sido a sua rotina de atividades?” (“fica em casa o tempo todo”, “sai apenas para coisas essenciais, como comprar comida”, “sai de vez em quando para fazer compras e esticar as pernas”, “sai todos os dias para alguma atividade”, “sai todos os dias, o dia todo, para trabalhar ou outra atividade regular”);

  • “Pensando na rotina da casa, quem tem entrado na casa?” (“somente os familiares que moram junto, se tiver, e mais ninguém”, “alguns parentes próximos visitam de uma a duas vezes por semana”, “alguns parentes próximos visitam quase que todos os dias”, “amigos, parentes ou outros visitam de uma a duas vezes por semana”, “amigos, parentes ou outros visitam quase todos os dias”).

Para avaliar a presença de sintomas de covid-19, os participantes foram questionados se sobre a ocorrência dos seguintes sintomas: febre, tosse, dor de garganta, alterações de olfato ou paladar, mialgia, tremores, dor de cabeça, dificuldade para respirar, palpitação, diarreia e vômitos. Foram considerados sintomáticos os participantes que relataram a ocorrência de pelo menos um sintoma. O período recordatório das questões sobre sintomas diferiu entre as etapas do Epicovid-19 Brasil. As duas primeiras etapas avaliaram a ocorrência de sintomas nos 15 dias anteriores à entrevista e a terceira etapa avaliou desde março de 2020 até o momento da entrevista. Tendo em vista que anticorpos contra SARS-Cov-2 passam a ser detectáveis no teste rápido cerca de 15 dias após a infecção, a análise sobre ocorrência de sintomas foi restrita aos participantes da terceira etapa.

As variáveis socioeconômicas e demográficas avaliadas foram região geográfica (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul ou Centro-Oeste), cor da pele autorreferida (branca, preta, parda, amarela ou indígena), sexo (feminino ou masculino), idade (em categorias) e escolaridade (ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior). Para avaliar a posição socioeconômica dos domicílios, foi utilizado o Indicador Econômico Nacional (IEN). Esse índice foi criado pela análise de componentes principais baseada em um conjunto de características e bens do domicílio (computador, acesso à internet, televisão colorida, ar-condicionado, veículos automotores, televisão a cabo, número de cômodos utilizados para dormir e número de banheiros). O primeiro componente foi extraído e dividido em quintis. O primeiro quintil representa os 20% mais pobres e o quinto quintil, os 20% mais ricos1313. Barros AJD, Victora CG. A nationwide wealth score based on the 2000 Brazilian demographic census. Rev Saude Publica. 2005;39(4):523-9. https://doi.org/10.1590/s0034-89102005000400002
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.

As análises incluíram a descrição da amostra e o cálculo da prevalência de cada DCNT e da prevalência de portadores de DCNT. A prevalência de portadores de DCNT foi avaliada segundo região, cor da pele, sexo, idade, IEN e escolaridade. A prevalência de uso de máscara e de adesão as medidas de isolamento social bem como a prevalência de indivíduos com anticorpos contra SARS-Cov-2 foram calculadas separadamente para portadores e não portadores de DCNT. Por fim, foi calculada a prevalência de sintomas para covid-19 entre portadores e não portadores de DCNT com anticorpos contra SARS-Cov-2. Para todas as proporções, foram calculados intervalos de confiança de 95%. Valores-p foram obtidos por teste do qui-quadrado para heterogeneidade ou, para variáveis categóricas ordinais, tendência linear, considerando um nível de significância de 5%. Todas as análises foram conduzidas no programa estatístico Stata 16, levando em consideração o efeito de delineamento amostral.

Este estudo respeitou todos os preceitos éticos e legislação que rege a pesquisa com seres humanos e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em pesquisa (CAAE 30721520.7.1001.5313). Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

RESULTADOS

Foram analisados dados de 77.075 participantes de 20 anos ou mais do estudo Epicovid-19 Brasil. A maioria era do sexo feminino (59%) e cor da pele não branca (62%). Cerca de um quarto era idoso (60 anos ou mais). Cerca de 40% dos participantes referiram ter cursado ensino fundamental (39%) e residir na região. Considerando as três etapas do estudo, a proporção bruta de participantes com anticorpos contra SARS-CoV-2 foi de 2,3% (IC95% 2,3–2,5). Cerca de 45% dos relatou ser portador de uma ou mais DCNT. A DCNT mais prevalente foi hipertensão arterial (30%), seguida de diabetes (13%), asma (9%) e cardiopatia (8%) (Tabela 1).

Tabela 1
Características sociodemográficas e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis no estudo Epicovid-19 Brasil, etapas 1 a 3 (n = 77.075).

A Tabela 2 apresenta a prevalência de uma ou mais DCNT segundo características socioeconômicas e demográficas. A prevalência foi maior nas regiões Sudeste e Sul (48%), entre indígenas (47%), mulheres (47%) e indivíduos com menor escolaridade (57%). A prevalência de uma ou mais DCNT apresentou relação inversa com idade e quintis do IEN. Todas as diferenças foram estatisticamente significativas (valor-p < 0,001).

Tabela 2
Prevalência de uma ou mais doenças crônicas não transmissíveis, segundo características socioeconômicas e demográficas, no estudo Epicovid-19 Brasil, etapas 1 a 3 (n = 77.075).

Os resultados sobre distanciamento social são apresentados na Tabela 3. Cerca de 25% dos indivíduos portadores de uma ou mais DCNT referiram estar isolados de praticamente todo mundo. Entre os não portadores, esse percentual foi de 15%. Com relação à rotina de atividades, 13% dos portadores de uma ou mais DCNT referiram sair de casa todos os dias para trabalhar, enquanto entre os não portadores de DCNT essa proporção foi de 25%. Tanto entre não portadores quanto entre portadores, a proporção que referiu que somente os próprios moradores frequentam o domicílio foi de aproximadamente 50%. Maior proporção de portadores de uma ou mais DCNT referiu receber parentes próximos (44%) em comparação a não portadores (39%).

Tabela 3
Distanciamento social e uso de máscara entre portadores e não portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no estudo Epicovid-19 Brasil, etapas 1 a 3 (n = 77.075).

Com exceção dos indivíduos que relataram diagnóstico de câncer, as diferenças na prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 entre portadores de DCNT e não portadores foram mínimas (Tabela 4). Já a Tabela 5 apresenta a prevalência de sintomas de covid-19 entre indivíduos com anticorpos contra SARS-CoV-2, não portadores e portadores de DCNT. Portadores de uma ou mais DCNT relataram ocorrência de tremores 50% maior que não doentes, além de ocorrência de tosse e dispneia 26% e 29% maior, respectivamente. Mialgia foi 16% mais prevalente entre indivíduos com DCNT. Não houve diferença estatisticamente significativa na prevalência dos demais sintomas avaliados e na proporção de indivíduos assintomáticos.

Tabela 4
Prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 entre portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e não portadores no estudo Epicovid-19 Brasil, etapas 1 a 3.
Tabela 5
Prevalência de sintomas autorreferidos entre indivíduos com anticorpos contra SARS-CoV-2 portadores e não portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no estudo Epicovid-19 Brasil, etapa 3.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo evidenciaram que o Brasil apresenta alta carga de doenças crônicas. Apesar da maior adesão às medidas de distanciamento social entre portadores de DCNT, a prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 não diferiu entre os grupos.

A prevalência de cada morbidade avaliada neste estudo foi maior em comparação aos resultados da Pesquisa Nacional de Saúde, na qual 21% dos participantes referiam diagnóstico de hipertensão1414. Malta DC, Gonçalves RPF, Machado IE, Freitas MIF, Azeredo C, Szwarcwald CL. Prevalence of arterial hypertension according to different diagnostic criteria National Health Survey. Rev Bras Epidemiol. 2018;21 Supl 1:e180021. https://doi.org/10.1590/1980-549720180021.supl.1
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(versus 30% no presente estudo), 6,2% de diabetes1515. Malta DC, Bernal RTI, Iser BPM, Szwarcwald CL, Duncan BB, Schmidt MI. Factors associated with self-reported diabetes according to the 2013 National Health Survey. Rev Saude Publica. 2017;51 Supl 1:12s. https://doi.org/doi:10.1590/S1518-8787.2017051000011
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(versus 13%), 4,4% de asma1616. Menezes AMB, Wehrmeister FC, Horta B, Szwarcwald CL, Vieira ML, Malta DC. Prevalence of asthma medical diagnosis among Brazilian adults: National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Supl 2:204-13. https://doi.org/10.1590/1980-5497201500060018
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(versus 9%), 1,8% de câncer1717. Oliveira MM, Malta DC, Guauche H, Moura L, Silva GA. Estimated number of people diagnosed with cancer in Brazil: data from the National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Supl 2:146-57. https://doi.org/doi:10.1590/1980-5497201500060013
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(versus 3%), 1,4% de doença renal crônica1818. Aguiar LK, Prado RR, Gazzinelli A, Malta DC. Factors associated with chronic kidney disease: epidemiological survey of the National Health Survey. Rev Bras Epidemiol. 2020;23:e200044. https://doi.org/10.1590/1980-549720200044
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(versus 4%) e 4,2% de cardiopatia1919. Gonçalves RPF, Haikal DS, Freitas MIF, Machado IE, Malta DC. Self-reported medical diagnosis of heart disease and associated risk factors: National Health Survey. Rev Bras Epidemiol. 2019;22 Supl 2:E190016. https://doi.org/10.1590/1980-549720190016.supl.2
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(versus 8%). Os resultados também foram superiores ao estudo Vigitel 2018, que estimou prevalências de diagnóstico de hipertensão e diabetes autorreferidas de 25% e 8%, respectivamente88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília, DF; 2019.. É possível que a maior prevalência de DCNT evidenciada neste estudo seja em decorrência do percentual elevado do pessoas com 60 anos ou mais na amostra (26%), superior ao percentual desse grupo na população geral brasileira (14%). Como demonstrado na Tabela 2 e corroborado por outros estudos, a prevalência de DCNT aumenta com a idade77. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Nacional de Saúde. 2013: percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas: Brasil, grandes regiões e unidades da federação. Rio de janeiro: IBGE; 2014..

A maior proporção de idosos neste estudo em comparação ao Brasil é, provavelmente, decorrente de duas situações. Possivelmente por causa da pandemia, a maior parte dos idosos residentes nos domicílios incluídos na amostra estava presente no momento da realização do estudo, diferentemente dos jovens. Um estudo de base populacional sobre padrões de distanciamento social realizado no Rio Grande do Sul evidenciou que a proporção de idosos que não sai do domicílio ou sai apenas para atividades essenciais é superior à de indivíduos entre 20 e 59 anos (cerca de 80% e 60%, respectivamente)2020. Barros AJD, Victora CG, Menezes AMB, Horta BL, Hartwig F, Victora G, et al. Social distancing patterns in nine municipalities of Rio Grande do Sul, Brazil: the Epicovid19/RS study. Rev Saude Publica. 2020;54:75. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002810
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. Outro aspecto a ser considerado é que o estudo foi realizado em 133 cidades sentinelas, que são mais populosas, apresentam maior índice de desenvolvimento humano e maior acesso a serviços de saúde que as cidades não incluídas no estudo. Por apresentarem essas características, residentes dessas cidades tentem a ter maior expectativa de vida e a proporção de idosos tende a ser maior.

O uso de máscara e distanciamento físico reduzem drasticamente a transmissão da covid-192121. Chu DK, Akl EA, Duda S, Solo K, Yaacoub S, Schünemann HJ; COVID-19 Systematic Urgent Review Group Effort (SURGE) study authors. Physical distancing, face masks, and eye protection to prevent person-to-person transmission of SARS-CoV-2 and COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Lancet. 2020;395(10242):1973-87. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31142-9
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. O percentual de participantes que referiu uso de máscara sempre que sai de casa foi quase universal em ambos os grupos (98%). Entretanto, ao interpretar esse resultado, é necessário considerar a presença de viés de informação. É possível que, sabendo que o uso de máscara é recomendado ou exigido por lei durante a pandemia, os participantes tenham relatado que utilizam máscara sempre porque esse é o comportamento correto no contexto atual.

Portadores de DCNT referiram maior adesão ao isolamento social e uso universal de máscara ao sair de casa. Entretanto, a prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 nesse grupo não diferiu daquela evidenciada entre não portadores de DCNT, o que pode sugerir a ocorrência de transmissão intradomiciliar de covid-19, já que a proporção de participantes que recebe visita de familiares e amigos próximos foi cerca de 50% nos dois grupos. A transmissão da covid-19 em clusters, especialmente familiares, desempenha um papel importante na rápida propagação da doença2222. Wang Z, Ma W, Zheng X, Wu G, Zhang R. Household transmission of SARS-CoV-2. J Infec. 2020;81(1):179-82. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2020.03.040
https://doi.org/10.1016/j.jinf.2020.03.0...
,2323. Liu T, Gong D, Xiao J, Hu J, He G, Rong Z, et al. Cluster infections play important roles in the rapid evolution of COVID-19 transmission: a systematic review. Int J Infect Dis. 2020;99:374-80. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2020.07.073
https://doi.org/10.1016/j.ijid.2020.07.0...
. É possível que o uso de máscara, quase universal fora do domicílio, não seja adotado em casa no convívio familiar, o que faria com que portadores de DCNT fossem contaminados por familiares que aderem menos ao isolamento e, portanto, apresentassem níveis semelhantes de infecção aos evidenciados entre não portadores de DCNT. Entretanto, a adoção de medidas de prevenção como o uso de máscara e o distanciamento físico durante o convívio familiar, bem como o distanciamento social por parte dos demais residentes do domicílio, não foi avaliado neste estudo, o que nos impede de testar formalmente essa hipótese. Além disso, conforme mencionado anteriormente, é possível que o uso de máscara esteja superestimado ou que a máscara não seja utilizada de forma adequada. Também é preciso considerar a possibilidade de causalidade reversa. Participantes com anticorpos contra SARS-CoV-2 podem ter passado a utilizar máscara após terem tido covid-19.

A análise sobre prevalência de sintomas foi restrita a indivíduos com anticorpos contra SARS-CoV-2. Dentre os sintomas de covid-19 avaliados, a prevalência de tosse, dispneia, mialgia e tremores foi maior entre portadores de DCNT, em comparação a não portadores. Apesar da maior prevalência desses sintomas entre portadores de DCNT, é importante considerar a possibilidade de viés de não respondentes. Portadores de DCNT tendem a evoluir para formas graves de covid-1922. Gold MS, Sehayek D, Gabrielli S, Zhang X, McCusker C, Ben-Shoshan M. COVID-19 and comorbidities: a systematic review and meta-analysis. Postgrad Med. 2020;132(8):749-55. https://doi.org/10.1080/00325481.2020.1786964
https://doi.org/10.1080/00325481.2020.17...
, e casos graves tendem a apresentar sequelas mesmo meses após a doença2424. Huang C, Huang L, Wang Y, Li X, Ren L, Gu X, et al. 6-month consequences of COVID-19 in patients discharged from hospital: a cohort study. Lancet. 2021;397(10270):220-32. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32656-8
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32...
. Portanto, é possível que portadores de DCNT tenham desenvolvido formas graves da doença com sequelas por período prolongado e tenham apresentado maior taxa de recusa, o que pode ter diminuído a diferença na prevalência de sintomas entre os grupos. Além disso, a mortalidade por covid-19 entre portadores de DCNT é maior quando comparada a não portadores. Portanto, os participantes com resultado de teste rápido positivo captados pelo estudo podem representar, em alguma medida, casos sobreviventes.

Este estudo apresenta ainda outras limitações. A coleta de dados foi realizada em 133 cidades sentinelas, que são mais desenvolvidas, possuem melhor estrutura dos serviços de saúde e maior índice de desenvolvimento humano que as cidades não incluídas na amostra. Residentes em zonas rurais, que correspondem a 15% da população do país, não foram incluídos no estudo. Não foram avaliadas a adoção de comportamentos protetores, como o uso de máscara e distanciamento físico, durante o convívio com pessoas próximas, e a adesão às recomendações de distanciamento por outros residentes do mesmo domicílio. A avaliação de sintomas autorreferidos pode ter introduzido viés de classificação. Entretanto, enquanto respondiam ao questionário, os participantes eram cegos em relação ao resultado do teste rápido, revelado ao final da entrevista, o que possivelmente diminuiu a probabilidade do viés.

Como pontos fortes destacam-se a abrangência nacional do estudo, que é, em nível mundial, um dos maiores inquéritos sorológicos sobre covid-19 em tamanho amostral e cobertura territorial realizados até agora; o cegamento dos participantes sobre o resultado do teste; e o caráter multidimensional da pesquisa, que avalia não só a soroprevalência, mas diversos aspectos individuais relacionados à covid-19, como presença de comorbidades, adoção de medidas preventivas contra covid-19 e ocorrência de sintomas.

Os resultados deste estudo contribuem para a compreensão da dinâmica da pandemia no Brasil, que apresenta alta carga de DCNT e alta incidência e mortalidade por covid-19. O país, desde 2016, vem sofrendo com políticas de austeridade fiscal, que levaram ao encolhimento do Sistema Único de Saúde (SUS), consequente diminuição da oferta e qualidade das ações e serviços, e à degradação da saúde de grande parcela da população brasileira que dele depende2525. Malta DC, Duncan BB, Barros MBA, Katikireddi SV, Souza FM, Silva AG, et al. Fiscal austerity measures hamper noncommunicable disease control goals in Brazil. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(10):3115-22. https://doi.org/10.1590/1413-812320182310.25222018
https://doi.org/10.1590/1413-81232018231...
. Aliada a esse contexto, a ausência de uma política nacional de enfrentamento à covid-19 baseada em evidências científicas2626. The Lancet. COVID-19 in Brazil: “So what?”. Lancet. 2020;395(10235):1461. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31095-3
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31...
,2727. Hallal PC. SOS Brazil: science under attack. Lancet. 2021;397(10272):373-4. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)00141-0
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)00...
contribui substancialmente para que o Brasil ocupe um dos primeiros lugares no ranking mundial de novas infecções e mortes pela doença11. World Health Organization. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) Dashboard. Geneva; 2021 [cited 2021 Feb 1]. Available from: https://covid19.who.int/
https://covid19.who.int/...
.

O controle da pandemia no Brasil requer a imunização em larga escala da população. A imunização contra covid-19 no Brasil teve início em meados de janeiro de 2021, sendo aplicada primeiramente a profissionais da saúde que atuam na linha de frente contra a covid-19. Os portadores de doenças crônicas fazem parte do terceiro grupo prioritário no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde do Brasil2828. Ministério da Saúde (BR). Plano Nacional de Imunização contra COVID-19. Brasília, DF; 2020.. A vacinação no país ainda é incipiente e, apesar de apresentar uma das maiores e mais eficientes redes de imunização do mundo, o Brasil ocupa atualmente a 78ª posição no ranking mundial de países com maior número de vacinados contra a doença (10,3 /100 habitantes)2929. Global Change Data Lab. Our World in Data: Coronavirus (COVID-19) vaccinations. Oxford (UK); 2021 [cited 2021 Apr 6]. Available from: https://ourworldindata,org/covid-vaccinations
https://ourworldindata,org/covid-vaccina...
. Ainda não há previsão de quando portadores de DCNT serão imunizados.

Em conclusão, a prevalência de DCNT no país é alta e a pandemia de covid-19 atinge de forma semelhante portadores e não portadores delas. Portadores de DCNT apresentam formas mais graves de covid-19 e maior prevalência de sintomas. A maior adesão às medidas de distanciamento social entre portadores de DCNT não se reflete em menor incidência de covid-19 nesse grupo. Mais do que nunca, é fundamental que medidas de proteção como distanciamento físico e uso de máscara durante o convívio domiciliar sejam estimuladas nesse grupo.

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  • Financiamento: Este estudo foi financiado pelo Ministério da Saúde do Brasil, Instituto Serrapilheira, Associação Brasileira de Saúde Coletiva e JBS Fazer o Bem Faz Bem.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    18 Mar 2021
  • Aceito
    23 Mar 2021
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revsp@org.usp.br