A fragmentação da atenção à saúde é uma realidade para a maioria dos países. Ao longo das últimas décadas, percebe-se um movimento natural em direção à descentralização dos sistemas de saúde, o que tem trazido benefícios importantes em relação à proximidade da gestão com as realidades locais. Por outro lado, esse movimento tem gerado novos desafios em relação à coordenação de atividades conjuntas entre os diferentes níveis de gestão vertical e horizontal.
Mesmo com as graves crises recentes de doenças infecciosas, o caminho epidemiológico do Brasil mostra o predomínio cada vez maior das doenças crônicas, tanto em termos da sua prevalência na população, como em relação à sua importância para o custo total da atenção à saúde. Nesse cenário, a integração dos cuidados de saúde de médio e longo prazo, principalmente entre pacientes idosos, será um desafio cada vez maior para garantir a sustentabilidade de um sistema de saúde como o brasileiro, que se propõe a ser universal e integral.
Este suplemento aponta para a possibilidade de o atual movimento de descentralização ser acompanhado por uma planificação eficiente do sistema de saúde, para, com isso, garantir uma gestão mais coordenada e equitativa dos recursos locais. A planificação tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento de habilidades e competências por parte gestores e profissionais de saúde, para organizar e monitorar os processos da atenção à saúde com foco nas necessidades locais, aportando contribuições importantes na melhoria do processo de trabalho das equipes de saúde.
O primeiro artigo deste suplemento11. Tanaka OY, Akerman M, Louvison MCP, Bousquat A, Pinto NRS, Meira ALP, et al. Desafios para a implementação de processos de planificação em regiões de saúde. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:2s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005138
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023... apresenta os desafios da implementação do PlanificaSUS, que foi criado pelo projeto Proadi-SUS “A Organização da Atenção Ambulatorial Especializada em Rede com a Atenção Primária à Saúde”, executado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, a partir de um modelo inovador, proposto e amplamente testado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) ao longo da última década. Os autores descobriram que, apesar de avanços, como no caso da melhor articulação de redes e linhas de cuidado, ainda restam importantes barreiras, como aquelas que se referem à dificuldade do planejamento regional articulado com a atenção especializada.
Entre os outros estudos deste suplemento, está incluída a análise das mudanças de práticas do cuidado à saúde materno-infantil em ambulatórios que adotaram o PlanificaSUS22. Shimocomaqui GB, Masuda ET, Souza VG, Gadelha AKS, Eshriqui I. Atenção ambulatorial especializada à saúde materno-infantil em regiões do PlanificaSUS. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:3s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005336
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023... ; a identificação do conhecimento prévio em saúde mental de profissionais de nível superior33. Mendonça JMT, Eshriqui I, Almeida LY, Gomes-Filho VV, Schunk L, Sousa AA, et al. Conhecimento de profissionais da atenção primária em saúde mental: diagnóstico pelo mhGAP. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:4s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005272
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023... ; a análise da implementação de uma ferramenta digital na atenção primária à saúde44. Almeida DPS, Oliveira-Junior PL, Prazeres GA, Belotti L, Domingues J, Bonassi NM, et al. Implementação de ferramenta digital para gestão populacional na atenção primária à saúde. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:5s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005321
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023... , entre outros.
Os artigos apontam para o potencial de estratégias de monitoramento e organização da atenção primária à saúde, por meio da análise e coleta de dados nos diferentes estabelecimentos. À medida em que a velocidade da transformação digital da saúde brasileira avança, existe o grande potencial de se melhorar a eficiência e equidade da gestão em saúde, por meio da planificação e análise de dados, permitindo a correção de rumos e o aperfeiçoamento de estratégias.
Referências bibliográficas
- 1Tanaka OY, Akerman M, Louvison MCP, Bousquat A, Pinto NRS, Meira ALP, et al. Desafios para a implementação de processos de planificação em regiões de saúde. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:2s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005138
» https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005138 - 2Shimocomaqui GB, Masuda ET, Souza VG, Gadelha AKS, Eshriqui I. Atenção ambulatorial especializada à saúde materno-infantil em regiões do PlanificaSUS. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:3s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005336
» https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005336 - 3Mendonça JMT, Eshriqui I, Almeida LY, Gomes-Filho VV, Schunk L, Sousa AA, et al. Conhecimento de profissionais da atenção primária em saúde mental: diagnóstico pelo mhGAP. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:4s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005272
» https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005272 - 4Almeida DPS, Oliveira-Junior PL, Prazeres GA, Belotti L, Domingues J, Bonassi NM, et al. Implementação de ferramenta digital para gestão populacional na atenção primária à saúde. Rev Saude Publica. 2023;57: Suppl 3:5s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005321
» https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057005321
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
15 Abr 2024 - Data do Fascículo
2023