Geração e categorias geracionais nas pesquisas sobre saúde e gênero no Brasil

Generation and generational categories in researches about health and gender in Brazil

Florêncio Mariano da Costa Júnior Marcia Thereza Couto Sobre os autores

O campo da saúde há muito que reconhece os fatores socioculturais como multideterminantes nos processos de produção de saúde-adoecimento-cuidado e tem discutido o dinamismo das articulações entre gênero, raça/etnia e classe social, bem como a conjugação destas categorias para compreender as diferenças e desigualdades em saúde. A categoria geração, como uma das construções sociais altamente influentes no processo de saúde-adoecimento ainda aparece timidamente explorada nos estudos no campo da saúde e, muitas vezes, reduzida a coortes etárias. Este estudo de revisão de literatura, com caráter descritivo-discursivo, objetivou situar criticamente, nos estudos de gênero em saúde produzidos no país nos anos de 2001 a 2013, o construto teórico e analítico da categoria geração, bem como as categorias empíricas relacionadas (infância, juventude, maturidade e velhice). Foram realizadas, a partir das buscas bibliográficas no portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), análises descritivas de 225 resumos e análise qualitativa de 57 textos completos. Os resultados indicam esvaziamento de referencial conceitual acerca da geração e das categorias empíricas analisadas, especialmente quanto à categoria maturidade. Nos estudos empíricos, evidencia-se a necessidade de melhor apropriação do referencial conceitual de geração e, dentre os estudos de revisão ou de caráter teórico e ensaísticos, nota-se a importância em ampliar o referencial conceitual da própria categoria geracional, bem como trazer elementos para sua aplicabilidade no âmbito das políticas e práticas de saúde.

Geração; Categoria Geracional; Gênero; Saúde


Abstract

The healthcare field has long recognized sociocultural factors as multi-determinant of production processes of health-illness-care and has discussed the dynamism between gender, race/ethnic and social class, as well as the conjugation of those categories in order to understand the differences and inequalities in health. The category generation, as one of the most influential social constructions in the process of health-illness, is yet poorly explored in studies on the health area and is many times, reduced to age cohort studies. This study of systematic review of the literature characterized as descriptive-discursive, aimed to situate critically the theoretical and analytical construct of the generation category as well as its related empirical categories (childhood, youth, maturity, and oldness) in studies on gender in health carried out in Brazil between the years 2001 and 2013. A descriptive analysis of 225 abstracts and a qualitative analysis of 57 complete texts were carried out by searches on the Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). The results indicate a deflating of conceptual reference about the generation and the empirical categories analyzed, especially maturity. Regarding the empirical studies, the necessity of a better appropriation of a conceptual reference of generation becomes clear and, among the review, theoretical or essayistic studies, it can be noticed the importance of amplifying the conceptual reference of the generational category, and also of bringing elements to its applicability on health policies and practices.

Generation; Generational category; Gender; Health

Introdução

As diferenças e, igualmente, as desigualdades em saúde são fortemente influenciadas pela forma como os indivíduos estão inseridos no espaço social. Para (Barata, 2006BARATA, R. B. Desigualdades sociais e saúde. In: CAMPOS, G. W. E. C. O. (Ed.). Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 201-230.), este é um espaço multidimensional composto pela repartição desigual de capital cultural, econômico e simbólico, de acordo com a posição ocupada pelos indivíduos. Nessa perspectiva, as condições de saúde, incluindo as possibilidades de enfrentamento da doença, dependeriam das trajetórias individuais e dos estilos de vida dos sujeitos em contextos sociais forjados a partir de condições heterogêneas de vida.

Nas investigações sobre diferenças e desigualdades em saúde há muito que se reconhecem os fatores socioculturais como multideterminantes nos processos de produção de saúde e doença nas populações. Mais recentemente, tem-se discutido de forma significativa o dinamismo e complexidade das articulações entre gênero, raça/etnia, classe e geração, e os efeitos que as desigualdades produzidas a partir da conjugação destes referentes trazem para as condições gerais de vida e para a saúde das populações (Couto; Schraiber; Ayres, 2009COUTO, M. T.; SCHRAIBER, L. B.; AYRES, J. R. C. M. Aspectos sociais e culturais da saúde e da doença. In: MARTINS, M. A.; CARRILHO, F. V. et al. (Ed.). Tratado de clínica médica São Paulo: Manole, 2009. p. 350-356.).

Classe social tem sido uma das mais antigas e citadas referências para explicar/compreender as desigualdades sociais em saúde. O modelo de explicação da determinação social do processo saúde-doença é um exemplo de perspectiva de análise na qual a ênfase é posta no modo de vida, aspecto que aglutina tanto a dimensão material quanto a simbólica como expressões das características sociais de produção, distribuição e consumo dos bens na sociedade (Barata, 2009BARATA, R. B. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.). Gênero, como categoria de análise que inclui as diversas e relacionais expressões de feminilidades e masculinidades, vem sendo abordado, desde a década de 1980, como produtor de construções sociais altamente influentes no processo de saúde e adoecimento de indivíduos e populações (Aquino, 2006AQUINO, E. M. L. Gênero e saúde: perfil e tendências da produção científica no Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, p. 121-132, 2006. Número especial.). Raça/cor e etnia igualmente se constituem como categorias de referência para os estudos sobre as desigualdades em saúde e, sobretudo, quando articuladas às categorias de classe social e gênero, demonstram a força da interseccionalidade destes atributos na determinação de reprodução de iniquidades em saúde (Lopes, 2005LOPES, F. Para além da barreira dos números: desigualdades raciais e saúde. Cadernos de Saude Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1595-1601, 2005.). Já a categoria geração, apesar de antiga, é, se comparada às categorias citadas anteriormente, menos explorada quando se toma a relação com a saúde. Segundo (Feixa e Leccardi, 2010FEIXA, C.; LECCARDI, C. O conceito de geração nas teorias sobre juventude. Sociedade e EstadoBrasília, DF, v. 25, n. 2, p. 185-204, 2010.), o conceito de geração passou por diferentes interpretações desde seu aparecimento no campo das ciências humanas e sociais, na segunda metade do século XIX. No cenário dos estudos atuais, quando explorada, subverte-se os fundamentos teóricos próprios da categoria, fracionando e simplificando em termos de "categoria social de tipo geracional", a saber: infância, juventude, maturidade e velhice (Egry; Fonseca; Oliveira, 2013EGRY, E. Y.; FONSECA, R. M. G. S. D.; OLIVEIRA, M. A. D. C. Ciência, Saúde Coletiva e enfermagem: destacando as categorias gênero e geração na episteme da práxis. Revista Brasileira de Enfermagem Brasília, DF, v. 66, p. 119-133, 2013. Número especial.), sem considerar a perspectiva relacional e a complexidade que a categoria congrega (Tomizaki, 2010TOMIZAKI, K. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade Campinas, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.).

Classe Social, Gênero, Raça/Cor, Etnia e Geração enquanto categorias de análise têm origem em diferentes contextos históricos, sociopolíticos e acadêmicos, o que conforma alcances interpretativos e explicativos próprios, em parte condicionados às limitações e potencialidades de metodologias empregadas nas investigações. Seguindo este argumento, mostra-se oportuna a busca de se avançar no conhecimento da dimensão interseccional destas categorias nos estudos, sejam empíricos e/ou conceituais, no campo da saúde coletiva brasileira. Nesta direção, optamos por um recorte que privilegia caracterizar e discutir como as referências geracionais - a saber, as categorias sociais de tipo geracional como infância, juventude, maturidade e velhice - se apresentam nos estudos de gênero em saúde produzidos no país nos anos de 2001 a 2013. Trata-se, portanto, de uma revisão crítica da literatura, de caráter descritivo-discursivo, que pretende situar criticamente a abordagem da categoria geração nos estudos analisados sob o ponto de vista do construto teórico e analítico da categoria geração.

Para alcançar os propósitos delineados, faz-se necessário revisitar, mesmo que de forma breve, a fundamentação conceitual da categoria geração. Com o intuito de não resvalar em uma concepção vazia das estruturas e relações geracionais, o presente estudo emprega a conceituação de geração a partir das contribuições dos autores que primeiro sistematizaram o conceito: Karl Mannhein (1968, 1993), Schmuel (Eisenstadt, 1976EISENSTADT, S. N. De geração a geraçãoSão Paulo: Perspectiva, 1976.); e de pesquisadores brasileiros (Domingues, 2002DOMINGUES, J. M. Gerações, modernidade e subjetividadeTempo social; Revista de Sociologia, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 67-89, 2002.; Weller, 2010WELLER, W. A atualidade do conceito de gerações de Karl Mannheim. Sociedade e Estado Brasília, DF, v. 25, n. 2, p. 205-224, 2010.; Tomizaki, 2010TOMIZAKI, K. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade Campinas, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.) e europeus (Attias-Donfut; Lapierre, 1994ATTIAS-DONFUT, C. Rapports de générations: transferts intrafamiliaux et dynamique macrosociale. Revue Française de Sociologie, Paris, v. 41, n. 4, p. 643-684, 2000.; Attias-Donfut, 2000ATTIAS-DONFUT, C.; LAPIERRE, N. La dynamique des générations. Communications, Paris, v. 59, n. 59, p. x-x, 1994.; Edmunds; Turner, 2002EDMUNDS, J.; TURNER, B. Generations, culture and society. Buckinghan: Open University Press, 2002.; Feixa; Leccardi, 2010FEIXA, C.; LECCARDI, C. O conceito de geração nas teorias sobre juventude. Sociedade e EstadoBrasília, DF, v. 25, n. 2, p. 185-204, 2010.), que discutem a atualização do conceito e sua articulação com as categorias empíricas de infância, juventude, maturidade e velhice.

Segundo (Mannheim, 1993MANNHEIM, K. El problema de las generaciones. Revista Española de Investigaciones Sociológicas (REIS), Madrid, v. 62, n. 93, p. 193-242, 1993.) o fenômeno geracional deveria ser concebido como um tipo particular de situação social e, portanto, somente a abordagem socioantropológica poderia dar conta de interpretá-lo em sua complexidade pois, para ser configurada como uma geração, os sujeitos de um dado tempo histórico e social devem compartilhar entre si suas experiências.

As gerações envolvem conjuntos de destinos, experiências sociais11Segundo (Domingues, 2002), a experiência social se obtém segundo o uso coletivo de signos e linguagens e se concretiza por meio dos discursos com os quais as gerações se identificam e se localizam no processo histórico. Entre estes discursos, temos aqueles relacionados ao gênero. e vivências comuns em constante interação com outras gerações. São estas experiências compartilhadas que guiam a formação de grupos concretos variados. E, por sua vez, a socialização, como o processo que permeia a relação entre as novas e antigas gerações, será a responsável pela transmissão ou mudanças das dimensões concretas e simbólicas do social (Tomizaki, 2010TOMIZAKI, K. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade Campinas, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.).

Com a finalidade de conceituar de forma ampla e sintética, e lançando mão de diferentes vieses, (Domingues, 2002DOMINGUES, J. M. Gerações, modernidade e subjetividadeTempo social; Revista de Sociologia, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 67-89, 2002.) define o conceito de geração a partir de três conjuntos de variáveis analíticas: 1) a família e as relações de parentesco condizentes à estrutura básica da família nuclear; 2) as coortes, grupos de pessoas nascidas em momentos próximos e que atravessam estágios sucessivos ao mesmo tempo (neste caso, esta variável implica em outros três elementos: a idade biológica, a idade cronológica e os estágios de maturação); 3) as experiências vividas, e reflexamente mediadas, dos grupos, indivíduos e coletividades. Agregado a estas três variáveis está o fato de que uma geração não se define isoladamente, pois é na interação com as outras que cada uma delas delineia sua identidade e contribui para a produção de outras.

Em posição complementar, (Tomizaki, 2010TOMIZAKI, K. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade Campinas, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.) apresenta os aspectos fundamentais que devem compor o quadro de análise dos conjuntos geracionais: (1) idade; (2) situação de classe; (3) experiências comuns (concretas ou simbólicas); (4) relação com outras gerações (sucessoras ou antecessoras); (5) conjuntura histórica (social, econômica e política) na qual se inscrevem as gerações; (6) família/relações de parentesco.

Percurso metodológico

Diante da proposta delineada anteriormente e sua breve fundamentação, realizamos uma investigação bibliográfica de abordagem qualitativa de revisão crítica de literatura sobre as categorias geracionais (infância, juventude, maturidade e velhice) na produção científica da saúde coletiva que aborda a relação entre geração e gênero. O percurso metodológico se orientou pela busca de artigos completos de pesquisas realizadas e publicadas no Brasil - entendendo-se como pesquisas brasileiras os estudos produzidos por pelo menos um/a pesquisador/a brasileiro/a, a partir de materiais empíricos oriundos de contextos nacionais - ou artigos de reflexão de pesquisadores brasileiros, no período de 2001 a 2013, que estivessem indexados no portal de Ciências da Saúde em Geral da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

A seleção do portal da BVS como fonte de informação de literatura científica e técnica foi devido a sua abrangência na área da produção científica em saúde, já que conta com as bases de dados de publicação eletrônica LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), além de disponibilizar acesso gratuito aos artigos, na íntegra. Para a seleção dos artigos a partir dos títulos e resumos, utilizamos os seguintes critérios de inclusão: 1) artigos publicados em língua portuguesa no período de 2001 a 2013; 2) artigos produzidos por pelo menos um/a pesquisador/a brasileiro/a; 3) estudos realizados com materiais empíricos oriundos de contextos brasileiros no campo da saúde, ou artigo de reflexão teórica ou de revisão da literatura na área; 4) artigo com acesso a texto completo em meio digital; 5) apresentar categorias analíticas ou conceituais sobre geração, ou abordar as categorias empíricas infância, juventude/adolescência, maturidade e velhice, e tomá-las em relação à categoria de gênero em seu recorte investigativo. Foram excluídos os artigos que apareceram de forma repetida e também os artigos que não estavam disponíveis em acervo virtual nos bancos de dados.

Para a busca bibliográfica inicial elegemos inicialmente os seguintes descritores: "gênero; geração; saúde". Na primeira busca, realizada em janeiro de 2014, encontramos apenas 13 artigos completos. Diante do escasso resultado da busca inicial, acatamos outra estratégia de inclusão, elegendo quatro conjuntos de descritores: "infância; gênero; saúde", "juventude; gênero; saúde", "maturidade; gênero; saúde" e "velhice; gênero; saúde", já que se tratam de condições etárias que no âmbito social demarcam contextos e temporalidades nos quais os sujeitos se encontram.

Neste segundo levantamento, efetuado em fevereiro de 2014, encontramos 27 artigos disponíveis com texto completo a partir dos descritores "infância; gênero; saúde" 99 artigos completos nos descritores "juventude; gênero; saúde", 70 artigos com textos completos nos descritores "maturidade; gênero; saúde" e 16 artigos completos a partir dos descritores "velhice; gênero; saúde".

Após esta triagem inicial baseada nos cinco critérios de inclusão mencionados, foram selecionados 57 trabalhos para a leitura na íntegra, objetivando: a) conhecer a natureza do método utilizado no estudo; b) verificar a existência de aporte teórico acerca da categoria analítica geração ou das categorias empíricas infância, juventude/adolescência, maturidade e velhice nos estudos; e c) identificar a presença de relação entre tais categorias e a categoria gênero.

O passo seguinte foi a realização da caracterização do conjunto da produção a partir de frequências que possibilitaram a visualização do conjunto dos artigos segundo autor, ano e metodologia adotada.

Na etapa seguinte - análise qualitativa das temáticas e abordagem conceitual dos artigos -, elaboramos, além de um quadro geral, quatro quadros descritivos dos estudos, segundo as temáticas privilegiadas neles: infância, juventude, maturidade e velhice. A análise qualitativa percorreu os seguintes passos: 1) leitura flutuante dos artigos com o objetivo de apreender o conteúdo geral e identificar a abordagem conceitual utilizada pelos seus autores; 2) identificação e agrupamento das ideias centrais e das abordagens teóricas em núcleos de sentido; 3) comparação entre os diferentes núcleos de sentido presentes nos artigos analisados; 4) classificação e interpretação dos núcleos de sentido em eixos de análise mais abrangentes; 5) sínteses interpretativas a partir dos núcleos de sentido mais recorrentes nos estudos (Minayo, 1993MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1993.).

Resultados e análise

Foram encontrados 225 artigos nas bases de dados ancoradas na BVS, a partir dos descritores utilizados nas etapas de busca. Apesar desse volume, a partir dos critérios de exclusão referentes à duplicação, o número final ficou em 57.

A análise geral dos artigos publicados indica a preponderância de estudos qualitativos, com 26 artigos nesta modalidade metodológica contra 15 artigos quantitativos, oito estudos caracterizados como de revisão de literatura, seis ensaios teóricos e apenas dois artigos oriundos de estudos de caráter misto (qualitativos e quantitativos). A distribuição do volume de publicação é maior para o período de 2005 a 2012, sendo tais estudos divulgados predominantemente em periódicos da área da Enfermagem e da Saúde Coletiva.

Geração, gênero e saúde

Dentre os 13 artigos completos encontrados a partir dos descritores "geração, gênero, saúde", nove satisfizeram os critérios de seleção. Apenas dois artigos identificados se repetiram nas buscas subsequentes com os descritores geracionais específicos (infância, juventude, maturidade e velhice), justificando a análise desta primeira busca realizada.

Quadro 1
Artigos incluídos no eixo "geração; gênero; saúde"

Dente os artigos de revisão, destaca-se a análise de teses realizada por (Egry et al., 2005EGRY, E. Y. at al. Construindo o conhecimento em saúde coletiva: uma análise das teses e dissertações produzidas. Revista da Escola de Enfermagem da USP São Paulo, v. 39, p. 544-552, 2005. Número especial.), que situa as categorias analíticas e pressupostos teóricos das teses da Escola de Enfermagem da USP. O estudo indica a presença de análises sociais relativas às questões de gênero e de geração no campo da pesquisa em saúde coletiva. (Fonseca, 2005FONSECA, R. M. G. S. D. Eqüidade de gênero e saúde das mulheres. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 39, n. 4, p. 450-459, 2005.) apresenta uma análise da equidade de gênero a partir de duas histórias ocorridas em tempos distintos e coloca a condição de saúde das mulheres como desfecho das iniquidades advindas da desigualdade social a que estão submetidas. No bojo de sua fundamentação, adota a organização social como determinante para os processos de saúde-doença e entende que raça/etnia, gênero e geração são recortes analíticos importantes para a compreensão dos fenômenos sociais.

O estudo de (Cubas e Egry, 2007CUBAS, M. R.; EGRY, E. Y. Práticas inovadoras em saúde coletiva: ferramenta re-leitora do processo saúde-doença. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 41, p. 787-792, 2007. Número especial., p. 789) propõe importante análise relativa ao uso de categorias analíticas para a compreensão do processo saúde-doença. As autoras identificam que geração tem sido utilizada como ferramenta de gestão do serviço de enfermagem e interpretada "apenas como divisão de faixa etária, e não na sua dinamicidade com a cultura e o modo de vida que determina a construção de identidade nas diferentes faixas etárias".

(Pelucio, 2011PELÚCIO, L. Marcadores sociais da diferença nas experiências travestis de enfrentamento à aids. Saúde e Sociedade São Paulo, v. 20, n. 1, p. 76-85, 2011.) embasa seu estudo defendendo um olhar holístico sobre o sujeito e, ao sinalizar os marcadores sociais da geração entre o grupo estudado - as travestis -, a autora traz a lume a relevância de compreender os significados sociais atrelados às trajetórias de vida e à condição etária na dinâmica com as demais categorias analíticas como gênero e classe social.

(Fonseca et al., 2012FONSECA, R. M. G. S. D. et al. Reincidência da violência contra crianças no Município de Curitiba: um olhar de gênero. Acta Paulista de Enfermagem São Paulo, v. 25, n. 6, p. 895-901, 2012.), na análise sobre violência contra as crianças, concluem que esta é determinada por relações de poder fortemente influenciadas pelas categorias de gênero e geração. No centro da análise sobre geração, as autoras discutem que a ordem biológica é um elemento fundador, sendo a idade frequentemente destacada para justificar e naturalizar o poder e a dominação, produzindo com isto privilégios e desigualdades. O estudo, entretanto, não menciona os condicionantes sociais e históricos acerca da geração, tal como faz em relação à categoria gênero.

O estudo de (Heilborn et al., 2012HEILBORN, M. L. et al. Gravidez imprevista e aborto no Rio de Janeiro, Brasil: gênero e geração nos processos decisórios. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, n. 12, p. 224-257, dez. 2012.) analisou as trajetórias reprodutivas e os processos decisórios de aborto, segundo gênero e geração, e recorreu ao recorte geracional para analisar etapas relevantes da trajetória afetivo-sexual dos sujeitos, contemplando o início do percurso sexual e o término do período reprodutivo para as mulheres. A análise dos dados articula as inserções de gênero e classe ao comparar, nas gerações, as diferentes trajetórias afetivo-sexuais e eventos reprodutivos.

Um destaque importante para o conjunto destes estudos se refere à clareza conceitual da categoria geração nos artigos de caráter ensaístico e de revisão de literatura. Os estudos empíricos qualitativos e os estudos quantitativos delimitam pouco a categoria geração, situando apenas a relevância de análises que considerem a variável geracional para uma melhor compreensão dos seus temas de pesquisa.

Infância, gênero e saúde

Os descritores "infância; gênero; saúde" apresentaram 26 artigos com texto completo disponível, 17 destes continham os descritores infância e gênero, mas apenas como critério de identificação de faixa etária e sexo, assim, somente nove corresponderam aos critérios de seleção para análise. Dentre estes, três estão relacionados ao tema violência (física ou sexual), dois abordam temas relativos a contextos de desigualdades sociais e conflitos com a lei e os demais abordam temas variados como desenvolvimento, cuidados educativos, obesidade e sexualidade, incluindo, por vezes, os jovens como recorte empírico.

Ainda que tais estudos abordem direta ou indiretamente temas relacionados à geração e façam uso desta como categoria de análise, a sua aplicabilidade específica no conjunto empírico e/ou conceitual "infância" demonstra ausência de referencial teórico para subsidiar suas análises. Neste sentido, reproduzem um "lugar comum" do tema infância ocupado por descrições simplificadas e restritas. Tal redução é mais perceptível nas pesquisas que visam articular desfechos em saúde com aspectos sociais.

Exemplificando esta tendência, um artigo objetivou analisar e sistematizar as dimensões que produzem as desigualdades raciais no Brasil e apontar desafios para elaboração de políticas públicas (Heringer, 2002HERINGER, R. Desigualdades raciais no Brasil: síntese de indicadores e desafios no campo das políticas públicas. Cadernos de Saúde Pública Rio de Janeiro, v. 18, p. S57-S65, 2002. Suplemento.). A autora se aprofunda nas categorias analíticas raça e etnia com constante interlocução entre contextos históricos, sociais e culturais. Entretanto, não aponta uma análise específica de fatores geracionais ou de gênero e apresenta dados atuais sobre a realidade dos negros segundo apenas idade e sexo sem articulação com as categorias de geração e gênero.

Quadro 2
Artigos incluídos no eixo "infância; gênero; saúde"

Apresentando uma direção mais coerente de utilização do referencial geração, um dos artigos incluídos apresenta uma revisão extensa sobre a infância e sua construção como categoria analítica para a análise de fenômenos sociais. Tendo como referência o campo da Psicologia e realizando constante interlocução com as ciências da saúde, propõe uma análise da construção social da infância e seus desdobramentos sobre o desenvolvimento infantil (Rabuske; Oliveira; Arpini, 2005RABUSKE, M. M.; OLIVEIRA, D. S. D.; ARPINI, D. M. A criança e o desenvolvimento infantil na perspectiva de mães usuárias do Serviço Público de SaúdeEstudos de PsicologiaCampinas, v. 22, n. 3, p. 321-331, 2005.).

O termo infância em grande parte dos estudos apenas sinaliza o momento do curso de vida e faixa etária. A articulação com gênero, quando utilizada, representa uma mera distinção relativa ao sexo biológico. Os estudos deste eixo sugerem uma singularização dos problemas existentes nessa etapa do curso de vida. Ao desconsiderar a dinâmica geracional como parte de uma ordem social e cultural mais ampla, a maioria dos estudos tende a negligenciar a complexidade de sua conformação e, portanto, reduz a compreensão dos fenômenos que se propõe a debater.

Juventude, gênero e saúde

Com os descritores "juventude, gênero, saúde" foram encontrados inicialmente 99 textos completos; contudo, após refinamento da seleção, apenas 26 atenderam aos critérios de inclusão. O quadro 3 ilustra os artigos analisados.

Quadro 3
Artigos incluídos no eixo "juventude; gênero; saúde"

Os estudos utilizam os termos juventude e adolescência para sinalizar a condição etária da população estudada ou para discorrer sobre o período delimitado que, grande parte dos autores, aponta ser entre 12 e 18 anos.

O número expressivo de artigos trazidos pela busca a partir do descritor "juventude" corrobora a discussão de (Freitas, Abramo e Léon, 2005FREITAS, M. V. D.; ABRAMO, H. W.; LEÓN, O. D. Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005.), que apontam para o avanço da produção científica e das políticas públicas para compreender as noções e desdobramentos sociais das categorias geracionais juventude e adolescência. Para tais autores, a pluralidade existente naquilo que se considera como juventudes e adolescências22Segundo (Silva e Lopes, 2010), o termo adolescência parece estar mais vinculado às teorias psicológicas, considerando o indivíduo como ser psíquico, pautado pela realidade que constrói e por sua experiência subjetiva. Ao passo que o termo juventude parece ser privilegiado no campo das teorias sociológicas e históricas, no qual a leitura do coletivo prevalece. Sendo assim, a juventude só poderia ser entendida na sua articulação com os processos sociais mais gerais e na sua inserção no conjunto das relações sociais produzidas ao longo da história. demanda um cuidado especial no sentido de evitar compreensões homogêneas sobre as subjetividades juvenis e, ao mesmo tempo, que considere a juventude como fenômeno oriundo das dinâmicas sociais e resultado de construções e significações em contextos históricos específicos.

A expressividade de estudos qualitativos também foi observada neste eixo, corroborando os argumentos desses mesmos autores), que defendem que o uso de estratégias do tipo qualitativo e com maior ênfase nas subjetividades dos sujeitos tem adquirido maior relevância uma vez que detém o mérito de ampliar o marco compreensivo a partir do próprio sujeito e de seus ambientes próximos e distantes, levando, por sua vez, a um maior aprofundamento analítico das cotidianidades adolescentes e juvenis, para, a partir daí, permitir a interlocução e interpelação com os contextos, estruturas e instituições sociais.

Um dos artigos analisados (Brandão, 2009BRANDÃO, E. R. Desafios da contracepção juvenil: interseções entre gênero, sexualidade e saúde. Ciência & Saúde Coletiva Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 1063-1071, 2009.), de natureza qualitativa, apresenta em sua discussão inicial a perspectiva na qual se insere, e esta vai ao encontro dos apontamentos que propomos neste estudo. Na mesma direção, (Leal e Knauth, 2006LEAL, A. F.; KNAUTH, D. R. A relação sexual como uma técnica corporal: representações masculinas dos relacionamentos afetivo-sexuais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 7, p. 1375-1384, 2006., p. 1376), ressaltam que "o conceito de juventude como um processo através do qual um sujeito torna-se adulto implica a consideração de outras dimensões para além do critério etário". Já, em sentido oposto, o estudo de (Martins et al., 2012MARTINS, C. B. D. G. et al. As questões de gênero quanto à sexualidade dos adolescente. Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 98-104, 2012.) reproduz o discurso naturalizante que descreve a adolescência como uma fase de transição entre a infantil e a adulta, e que representa um dos períodos mais conturbados do desenvolvimento humano, no qual estão presentes inúmeros conflitos, questionamentos e curiosidades.

Dentre os estudos analisados, grande parte se volta aos temas da sexualidade, gravidez e contracepção, DST/AIDS e uso de preservativos. A recorrência de estudos sobre sexualidade parece configurar uma "questão geracional" de sujeitos situados em polos geracionais distintos (os pesquisados e os pesquisadores). Em outros termos, tratam-se de sujeitos em contextos situacionais de produção científica que se debruçam sobre as realidades juvenis e estruturam olhares sobre esse "outro", buscando achados que justifiquem e instrumentalizem intervenções políticas.

Maturidade, gênero e saúde

A busca com os descritores "maturidade, gênero, saúde", inicialmente resultou em 70 artigos completos e, dentre estes, apenas três atenderam aos critérios de inclusão. A combinação destes descritores apresentou um número expressivo de artigos por ter capturado artigos relativos também à infância, juventude e velhice. Problematizamos tal situação pelo fato de que a vida adulta é ainda bastante indefinida em termos analíticos e os temas de estudo referentes a ela aparecem sem uma definição clara quanto ao uso da maturidade ou vida adulta em seus recortes temáticos. Segundo (Oliveira, 2004OLIVEIRA, M. K. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do adulto. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 211-229, 2004.) e (Guerreiro e Abrantes, 2005GUERREIRO, M. D. D.; ABRANTES, P. Como tornar-se adulto: processos de transição na modernidade avançada. Revista Brasileira de Ciências Sociais São Paulo, v. 20, n. 58, p. 157-175, 2005.), disto resulta uma escassa produção de estudos analíticos que consideram a "maturidade" em seu escopo de análise.

Outro aspecto importante é que os estudos, ainda que abordem homens e mulheres em fase produtiva e relacionem gênero e saúde, não englobam em suas análises o referencial de geração. O que se observou foi que a maturidade, como o período compreendido homogeneamente como o "estágio produtivo", de maior estabilidade e com ausência de mudanças importantes, aparece como uma categoria empírica indefinida conceitualmente e pouco discutida para além de critérios etários. Disto resulta uma pouca consistência para a compreensão dos significados sociais do que é "ser adulto" (Oliveira, 2004OLIVEIRA, M. K. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do adulto. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 211-229, 2004.).

Quadro 4
Artigos incluídos no eixo "maturidade; gênero; saúde"

Do quadro apresentado, destacamos o artigo de (Benites e Barbarini, 2009BENITES, A. P. D. O.; BARBARINI, N. Histórias de vida de mulheres e saúde da família: algumas reflexões sobre gênero. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p.16-24, 2009.), que discutem as trajetórias de vida de maneira integrada a contextos sociais e históricos, apresentam uma discussão relevante, ainda que não sejam apresentados dados ou referenciais teóricos aprofundados sobre os fenômenos geracionais. (França, Silva e Barreto, 2010FRANÇA, L. H. D. F. P.; SILVA, A. M. T. B. D.; BARRETO, M. S. L. Programas intergeracionais: quão relevantes eles podem ser para a sociedade brasileira. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 519-531, 2010.) abordaram diretamente o tema geração como um fenômeno inerentemente relacional entre as diferentes etapas do ciclo vital de um grupo de pessoas e, de uma perspectiva psicológica, discutem acerca das gerações e o papel do contato intergeracional na estruturação da sociedade, a partir das relações familiares e em ambientes de socialização.

Velhice, gênero e saúde

Segundo (Siqueira, Botelho e Coelho, 2002SIQUEIRA, R. L.; BOTELHO, M. I. V.; COELHO, F. M. G. A velhice: algumas considerações teóricas e conceituais. Ciência & Saúde Coletiva Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 899-906, 2002.), o processo de envelhecimento demográfico repercutiu nas diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que os idosos, da mesma forma que os demais segmentos etários, possuem demandas específicas para a obtenção de adequadas condições de vida. Tais demandas fizeram da velhice um tema privilegiado de investigação nas distintas áreas de conhecimento, inclusive na saúde. Entretanto, mesmo que nas últimas décadas a produção científica sobre a velhice tenha aumentado consideravelmente, os autores constataram uma lacuna epistemológica expressa pela ausência de estudos que abordem as implicações teóricas e práticas relativas ao conceito de velhice utilizado pela literatura científica.

Os descritores "velhice, gênero, saúde" resultaram em 16 artigos completos, dentre os quais dez apresentaram os critérios para inclusão na análise.

Quadro 5
Artigos incluídos no eixo "velhice; gênero; saúde"

Nos artigos analisados está ausente a definição da categoria "velhice", o que sugere que a expressão seria autoexplicativa. Sem um posicionamento teórico da velhice como categoria geracional, alguns estudos analisam as conjunturas socioculturais, tais como gênero, etnia e classe social na relação com desfechos relacionados à saúde física ou mental (Figueiredo; Tyrrel, 2005FIGUEIREDO, M. D. L. F.; TYRREL, M. A. R. O gênero (in)visível da terceira idade no saber da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem Brasília, DF, v. 58, n. 3, p. 330-334, 2005.; Queroz; Neri, 2005QUEROZ, N. C.; NERI, A. L. Bem-estar psicológico e inteligência emocional entre homens e mulheres na meia-idade e na velhice. Psicologia: Reflexão e Crítica Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 292-299, 2005.; Figueiredo et al, 2007FIGUEIREDO, M. D. L. F. et al. As diferenças de gênero na velhice. Revista Brasileira de Enfermagem Brasília, DF, v. 60, n. 4, p. 422-427, 2007.; Freitas et al, 2012FREITAS, C. M. S. M. et al. Identidade do idoso: representações no discurso do corpo que envelhece. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento Porto Alegre, v. 17, n. 1, 2012.).

A análise dos artigos também aponta para a concordância com os apontamentos de (Siqueira, Botelho e Coelho, 2002SIQUEIRA, R. L.; BOTELHO, M. I. V.; COELHO, F. M. G. A velhice: algumas considerações teóricas e conceituais. Ciência & Saúde Coletiva Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 899-906, 2002.) quando defendem que o distanciamento, nos estudos, da complexidade dos fatos que cercam a velhice permite, por um lado, o aprofundamento sobre o aspecto selecionado, mas, por outro, pode ser interpretado de forma equivocada por aqueles que, intencionalmente, pretendem legitimar um discurso reducionista acerca da problemática da velhice.

A necessidade de atenção à terceira idade, diante do progressivo aumento da população de idosos no Brasil e no mundo, é temática recorrente na produção analisada. Porém os estudos, além de dominarem a fundamentação teórico-metodológica que permeia essa área de estudos, poderiam declarar qual referencial conceitual que os leva a privilegiar certos elementos da velhice em suas análises. Também poderiam sinalizar outras dimensões deste fenômeno, ainda pouco exploradas, por meio de estudos interseccionais nos quais a velhice possa ser concebida como resultado dialético das dimensões fisiológicas, simbólicas e estruturais, combinadas e justapostas pelos atores sociais em meio a condições contextuais vigentes na dinâmica intergeracional, que organizam experiências plurais no processo de envelhecimento. Finalmente, os estudos parecem compartilhar com uma visão das gerações e, portanto da velhice, como coletividades homogêneas nas quais as diferentes singularidades em seus interiores não são percebidas. Nesse aspecto, os estudos carregam conceitos lineares das gerações sem considerar o aspecto dinâmico no interior destas e na relação com as outras categorias geracionais.

Considerações Finais

A análise da revisão de literatura aqui proposta aponta que os estudos empíricos apresentam uma fragilidade conceitual no uso da categoria geração, restrição em termos da amplitude de debate que seus resultados oferecem para o campo da saúde, especialmente na articulação com outras categorias tais como classe, raça/etnia, gênero, território, além da limitada aplicabilidade em intervenções políticas voltadas à saúde. Os estudos de caráter ensaístico, por sua vez, carecem de uma visão crítica das múltiplas possibilidades e experiências que sustentam a discussão e demonstram debilidade em termos do estabelecimento de diálogos visando a aplicabilidade das reflexões no âmbito das políticas e práticas em saúde.

Tomadas a partir do empírico, as categorias geracionais constituem elaborações analíticas complexas que se propõem a explicar/compreender as condições concretas vivenciadas pelos sujeitos e, neste sentido, são importantes para a compreensão das condições de saúde e vulnerabilidades de indivíduos e grupos, bem como de suas possibilidades de acessar recursos para o enfrentamento destas. No Brasil, muitos esforços acadêmicos objetivam construir conhecimentos que promovam de fato a equidade e universalidade tal como propõe o Sistema Único de Saúde (SUS). E, embora existam avanços na elaboração de políticas públicas em outros setores, as multideterminadas dimensões produtoras de desigualdades na saúde, por serem complexas, deveriam articular os condicionantes relacionados às gerações, incluindo sua dinamicidade interna e os efeitos que produzem quando em relação. Assim, tomamos que gênero, geração, raça/etnia e classe constituem categorias analíticas, que devem ser consideradas nos estudos em saúde por produzirem desfechos diferenciados nas trajetórias de vida de homens e mulheres singulares e, igualmente, como parte de grupos e populações. Como construções sociais, configuram o espaço de socialização e repercutem no acesso e uso dos serviços de saúde, bem como na forma pela qual os indivíduos se orientam frente às diferentes instituições sociais.

Advogamos que ao estarem estreitamente vinculados às condições de saúde de um povo, os fatores geracionais são parte dos multideterminantes no processo saúde-adoecimento. Entretanto os estudos sobre geração, dentro e fora do campo da saúde, parecem apresentar uma debilidade, tal como indicado por Tomizaki: "a noção de geração sofre um problema crônico de imprecisão conceitual, sendo utilizada, muitas vezes, de maneira excessivamente fluida e perigosamente influenciada pelo uso cotidiano" (Tomizaki, 2010TOMIZAKI, K. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade Campinas, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.. p. 04).

Entendemos que algumas diretrizes fundamentais podem compor o quadro de análise dos conjuntos geracionais de modo a aproximar intersecções entre as categorias etnia/raça, classe social, gênero e geração. Pensando nas interseccionalidades que influenciam decisivamente nas trajetórias de vida dos sujeitos em um dado contexto social, um percurso analítico poderia compreender: 1) a situação de classe social que define trajetórias possíveis e experiências compartilhadas dentro dos grupos etários, considerando-se que no contexto brasileiro os condicionantes de classe social são, entre os grupos mais vulneráveis, inseparáveis das identidades étnico-raciais; 2) as relações de poder vivenciadas no contexto privado, mediadas pelas relações de afinidade-parentesco e afetividade-sexualidade, ou no contexto público, especialmente nas relações de trabalho e lazer, ambos contextos atravessados pelos condicionantes geracionais, de gênero e pertencimento de classe; 3) as experiências simbólicas e concretas condicionadas ao processo maturacional e etário vistas a partir das conjunturas socioeconômicas vigentes que segmentam espaços e estabelecem expectativas sociais segundo classe social, idade e gênero.

O gênero, enquanto marcador que posiciona os indivíduos nas relações de poder e é conformado em associação com marcadores de classe e raça/etnia, opera mecanismos que delimitam experiências particulares de adoecimento e cuidado em saúde, bem como de acesso a recursos de saúde e de uso de serviços. Tais experiências também devem ser consideradas segundo marcadores geracionais, se almejarmos compreender a complexidade de tais intersecções na conformação da identidade dos sujeitos e no modo como estes lidam com o processo saúde-adoecimento e cuidado. Assim, as trajetórias geracionais são o registro de como é pertencer a um gênero, a uma classe e a uma raça/etnia. E, deste modo, formatam caminhos na dinâmica de vida de um dado grupo social. Enquanto marcadores sociais que delineiam experiências de vida, a articulação entre gênero, classe e raça/etnia poderá, assim, contribuir para análises complexas e interseccionais.

Ser homem ou mulher implica em constituições subjetivas alicerçadas nos modelos de masculinidade e feminilidade vigentes. Por ser uma construção cultural e histórica e por embasar subjetividades a partir de atributos coletivamente postulados, masculinidades e feminilidades são produtos e produtoras de características geracionais. Em diferentes momentos etários e maturacionais, gênero pode representar formas distintas de acordo, com papéis definidos quanto à idade cronológica e também quanto às subjetividades coletivas de um dado grupo etário ou geracional. As mudanças no espaço social e nos serviços de saúde, por sua vez, podem resultar em distintas repercussões entre o uso dos serviços de saúde e o autocuidado de homens e mulheres. Neste sentido, esta revisão crítica, ao descortinar o caminho trilhado pela produção brasileira sobre categorias geracionais em articulação com gênero no campo da saúde, potencializa uma discussão urgente e necessária.

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  • WELLER, W. A atualidade do conceito de gerações de Karl Mannheim. Sociedade e Estado Brasília, DF, v. 25, n. 2, p. 205-224, 2010.

  • 1
    Segundo (Domingues, 2002MANNHEIM, K. O problema da juventude na sociedade moderna. In: BRITTO, S. (Org.). Sociologia da juventude I: da europa de Marx à América Latina de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1968.), a experiência social se obtém segundo o uso coletivo de signos e linguagens e se concretiza por meio dos discursos com os quais as gerações se identificam e se localizam no processo histórico. Entre estes discursos, temos aqueles relacionados ao gênero.
  • 2
    Segundo (Silva e Lopes, 2010SILVA, C. R.; LOPES, R. E. Adolescência e juventude: entre conceitos e políticas públicas. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar São Carlos, v. 17, n. 2, p. 87-101, 2010.), o termo adolescência parece estar mais vinculado às teorias psicológicas, considerando o indivíduo como ser psíquico, pautado pela realidade que constrói e por sua experiência subjetiva. Ao passo que o termo juventude parece ser privilegiado no campo das teorias sociológicas e históricas, no qual a leitura do coletivo prevalece. Sendo assim, a juventude só poderia ser entendida na sua articulação com os processos sociais mais gerais e na sua inserção no conjunto das relações sociais produzidas ao longo da história.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2014
  • Revisado
    07 Abr 2015
  • Aceito
    04 Maio 2015
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
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