Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura crítica da problemática do mal-estar, dos sofrimentos e dos adoecimentos de professores, vinculada à história do trabalho docente, aos modos de ser/estar na ocupação e à cultura do magistério. A metodologia envolveu revisão narrativa de 12 publicações selecionadas, o que possibilitou identificar os principais aspectos atribuídos às questões: epidemiológicos, de naturalização da problemática na docência, políticas públicas, organização do trabalho docente e identidade profissional docente. A discussão busca apontar as formas de visibilidade e invisibilidade dessa problemática no cenário social e educacional brasileiro, com atenção para o trabalho, a formação de professores e a cultura do magistério mediante os aportes de Maurice Tardif a respeito das “idades do ensino”. O estudo mostra como o mal-estar, o sofrimento e o adoecimento de professores podem exprimir narrativas coletivas da docência marcada pela vocação e pela socialização profissional pela feminização - e como dimensões sociais, históricas e culturais do trabalho docente podem interferir nos modos coletivos de perceber e cuidar do corpo e da saúde e levar ao adoecimento. Por fim, aponta o desafio de se pensar corpo/saúde/bem-estar no âmbito da cultura ocupacional docente, como elementos que substanciam o desenvolvimento profissional e o projeto de profissionalização docente.
Palavras-chave:
Educação; Saúde Coletiva; Trabalho Docente; Formação de Professores; Profissionalização Docente
Introdução
No Brasil a literatura acerca dos problemas de saúde e processos de mal-estar, sofrimentos e adoecimentos de professores mostra a prevalência dos transtornos mentais e comportamentais, dos distúrbios da voz e das doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, os quais atingem os docentes do ensino público e particular de todos os níveis, disciplinas e momentos da carreira (Gasparini; Barreto; Assunção, 2005GASPARINI, S. M.; BARRETO, S.; ASSUNÇÃO, A. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 189-199, 2005.). Essa literatura é composta principalmente por pesquisas de diferentes áreas dessemelhantes à de educação (psicologia, psicologia do trabalho, enfermagem, fonoaudiologia, saúde coletiva, educação física, medicina, saúde do trabalhador, otorrinolaringologia, biologia, engenharia, ergonomia e fisioterapia). Geralmente, essas pesquisas são isoladas e apresentam perspectivas, enfoques e recortes específicos das áreas, sem articulação interdisciplinar; elas envolvem sujeitos de unidades escolares/educacionais específicas ou dentro de um limite municipal ou estadual, e priorizam levantamentos epidemiológicos e de queixas/sinais/sintomas, enfatizando as concretudes dos fatores de riscos ambientais, biológicos, físicos e orgânicos presentes nas escolas (Penteado, 2018PENTEADO, R. Z. Autonomia do professor: uma perspectiva interdisciplinar para a cultura do cuidado docente. Educação Temática Digital, Campinas, v. 20, n. 1, p. 234-254, 2018.).
Há, portanto, uma lacuna na literatura - a ser preenchida por estudos que venham a tratar da problemática do mal-estar, dos sofrimentos e dos adoecimentos de professores sob perspectivas mais abrangentes e interdisciplinares e que busquem diálogo com a área de educação nas questões de formação de professores e de profissionalização docente.
O projeto de profissionalização do ensino representa uma tendência que atravessa o século XX e se cristaliza a partir de 1980, comportando ambiguidades, distorções, limitações, tensões e desafios. Por um lado, o processo de profissionalização contribui para destacar a importância da educação para o crescimento econômico e dar visibilidade à formação de professores e à necessidade de se construir uma base de conhecimento para o ensino que possibilite ao magistério passar do ofício à profissão. Por outro lado, as interferências que a globalização, as políticas neoliberais e os organismos internacionais acarretam às reformas educacionais, ao objeto do trabalho docente e às condições e organização do trabalho dos professores produzem processos de precarização que envolvem: o alinhamento da escola à empresa e dos conteúdos ensinados às exigências do mercado, tendo em vista formar trabalhadores para a obtenção de maior eficiência, produtividade e lucro em uma sociedade competitiva; a educação sendo tratada como mercadoria e as reformas educacionais como políticas públicas, atuando na regulação social e nos ajustes estruturais que contribuem para manutenção das bases do sistema de acumulação; a vinculação dos elementos constitutivos da formação à lógica do mercado e a uma perspectiva flexível, polivalente e utilitarista, que enfatiza as experiências, a formação continuada, a educação a distância (EAD) e a pedagogia das competências; o desenvolvimento de uma cultura performática e de um regime de responsabilização, que agrega controle, inspeções, regulações, prescrições, julgamentos, cobrança por resultados, comparações e amostras de “qualidade” e “promoção”, imputabilidade e prestação de contas, além de concorrência e comparação entre os pares (Ball et al., 2013BALL, S. et al. A constituição da subjetividade docente no Brasil: um contexto global. Educação em Questão, Natal, v. 46, n. 32, p. 9-36, 2013.; Enguita, 1991ENGUITA, M. F. A ambiguidade da docência entre o profissionalismo e a proletarização. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 4, p. 41-61, 1991.; Maués, 2014MAUÉS, O. C. Reformas internacionais da educação e formação de professores. In: SOUZA, D. T. R.; SARTI, F. M. Mercado de formação docente: constituição, funcionamento e dispositivos. Belo Horizonte: Fino Traço, 2014. p. 37-70.; Oliveira, 2010OLIVEIRA, D. A. Os trabalhadores da educação e a construção política da profissão docente no Brasil. Educar em Revista, Curitiba, v. 1, p. 17-35, 2010.; Tardif, 2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.) - dentre outros processos que intensificam o trabalho docente e corroem a autonomia e autoridade dos professores, produzindo outras formas de subjetividade, num processo dual de reprofissionalização e desprofissionalização (Ball et al., 2013BALL, S. et al. A constituição da subjetividade docente no Brasil: um contexto global. Educação em Questão, Natal, v. 46, n. 32, p. 9-36, 2013.).
Além dessas questões, aspectos culturais são entraves à profissionalização. Figuram entre eles: o mal-estar docente, a desvalorização do professor, a proletarização do magistério e a identificação do trabalho docente ao sacerdócio (Cária; Oliveira, 2014CÁRIA, N. P.; OLIVEIRA, S. M. S. S. A profissionalização do ensino e a formação para a profissão docente. Diálogos Educacionais, Campo Grande, v. 5, n. 2, p. 24-44, 2014.; Tardif, 2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.). Para Tardif (2013)TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013., a passagem das formas antigas de ensino (vocação e ofício) para as contemporâneas (profissão) requer levar em conta dimensões culturais e de socialização docente para problematizar os processos que tencionam a profissionalização.
Este artigo, na interface saúde-educação, tem por objetivo principal apresentar uma leitura crítica da problemática do mal-estar, dos sofrimentos e adoecimentos de professores, vinculada à história do trabalho docente, aos modos de ser/estar na ocupação e à cultura do magistério. A orientação inicial do estudo é dada por estas questões: como se apresenta, na literatura, a problemática do mal-estar, dos sofrimentos e adoecimentos de professores? Quais são os principais aspectos abordados e enfoques atribuídos à problemática? Quais são as formas de visibilidade e invisibilidade da problemática? Essa problemática, bem como as maneiras dos professores perceberem, lidarem e cuidarem do seu corpo e da sua saúde, estaria, de alguma forma, vinculada à história do trabalho docente, aos modos de ser/estar na ocupação docente e à cultura do magistério?
Percurso metodológico
O quadro metodológico tem como foco a revisão narrativa acerca do mal-estar, dos sofrimentos e dos adoecimentos de professores, visando identificar alguns dos principais aspectos/enfoques atribuídos à problemática. A revisão narrativa se constitui no mapeamento, na categorização e análise da literatura, permitindo a atualização do conhecimento sobre uma temática e a discussão de determinado assunto sob o ponto de vista teórico ou contextual, bem como a identificação de enfoques, lacunas e perspectivas para estudos futuros. Cabe entender que a revisão narrativa não exige protocolos rígidos e explícitos de busca e seleção, nem demanda necessidade de esgotamento das fontes (Vosgerau; Romanowski, 2014VOSGERAU, D. S. A. R.; ROMANOWSKI, J. P. Estudos de revisão: implicações conceituais e metodológicas. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 14, n. 41, p. 165-189, 2014.).
O levantamento de dados desta revisão narrativa foi realizado de janeiro a março de 2018, por meio de pesquisa integrada na base SciELO com os seguintes termos: “mal-estar docente”, “bem-estar docente”, “sofrimento de professores”, “adoecimento de professores” e “saúde de professores”. Não houve restrição de período de publicação e não foi dada predileção por estudos originários de nenhuma área, linha e/ou abordagem teórico-conceitual ou língua. Essa busca inicial resultou em 97 publicações, sobre as quais foram aplicados critérios de seleção que implicam exclusões e inclusões:
Critérios de exclusão - foram desconsiderados os estudos com base em levantamentos que envolvem professores de localidades pontuais ou grupos com especificidades (professores de uma escola específica, de um bairro, um município, uma região ou um único estado). Também foram excluídas as produções que, dentre os diferentes agentes escolares, não focalizavam os professores (estudos que, mesmo incluindo professores, eram focados nos alunos e seus familiares, nos serventes, nas merendeiras e em outros agentes). Igualmente foram subtraídas as produções que, mesmo referindo professores, distanciavam-se do escopo deste artigo, as produções repetidas, as traduções e os resumos de um texto. Foram excluídas 86 produções.
Critérios de inclusão - documentos oficiais e estudos de revisão sobre o corpo, a saúde, o mal-estar docente e os sofrimentos e adoecimentos de professores, além de artigos, capítulos de livro, livros ou relatórios de estudo e pesquisas que tratam da temática a partir de levantamentos envolvendo professores de um conjunto de estados da Federação (parcial ou total) do Brasil, abrangendo tanto professores da educação básica quanto da educação superior. Foram incluídas 11 produções.
Resultante da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, obtiveram-se 11 produções, às quais foi acrescida a obra de Codo (1999CODO, W. (Org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.) - o primeiro estudo brasileiro, exaustivo e abrangente que trata das relações entre adoecimento de professores e questões sociais, institucionais e da organização e gestão do trabalho nas escolas.
Assim, 12 produções integram a revisão narrativa.
O próximo tópico apresenta os resultados em forma de quadros. A discussão, no item subsequente, inicialmente considera as formas de visibilidade e invisibilidade pelas quais a problemática é expressa no cenário social e educacional brasileiro e, posteriormente, é ampliada na relação com caracterizações do trabalho docente e da cultura do magistério fundamentadas, sobretudo, nestes aportes: (1) as três “idades do ensino” - as concepções de ensino como vocação, ofício e profissão (Tardif, 2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.); (2) a socialização profissional docente pela via da feminização (Lopes, 1991LOPES, E. M. S. T. A educação da mulher: a feminização do magistério. Teoria e Educação , Porto Alegre, n. 4, p. 22-38, 1991.; Melo; Valle, 2013MELO, M. M. R.; VALLE, I. R. Socialização e socialização profissional: interface entre forjar e negociar outro ser. Roteiro, Joaçaba, v. 38, n. 1, p. 79-102, 2013.; Tardif, 2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.); e (3) o processo de formação e desenvolvimento profissional de professores (Nóvoa, 2017NÓVOA, A. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa , São Paulo, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, 2017.).
Problemática do mal-estar docente e dos sofrimentos e adoecimentos de professores: resultados da revisão narrativa
As obras desta revisão narrativa diferem entre si pelo tipo e pela área de publicação, pelo tipo de estudo e metodologia empregada e pelos elementos focalizados (Quadro 1).
É possível observar que as produções ocorrem esparsamente a partir do ano de 1999, inicialmente com intervalo de três anos, reduzido até duas publicações no mesmo ano. A exceção da obra de Codo (1999CODO, W. (Org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.), os problemas de saúde, de mal-estar docente e sofrimentos e adoecimentos de professores são abordados tangencialmente nos primeiros estudos, passando a assumir centralidade a partir da pesquisa de Zambon e Behlau (2009ZAMBON, F.; BEHLAU, M. A voz do professor: aspectos do sofrimento vocal profissional. São Paulo: Sindicato dos Professores de São Paulo, 2009.).
Não há repetição de autoria nem de grupos de pesquisa, o que mostra que a temática suscita a atenção e o interesse de pesquisadores diversos pelo país.
As publicações, inicialmente em forma de relatórios de pesquisa e livros, assumiram, com o passar do tempo, a forma de artigos em periódicos científicos - o que afirma ser crescente o interesse, a importância e o status de cientificidade atribuídos à temática. Cabe observar que, dentre os nove periódicos que veicularam as produções, a maioria (seis) é da área de educação, seguida por saúde coletiva (duas publicações recentes) e educação física (um periódico). É curioso que as publicações derivadas de pesquisas empíricas mais restritas e focalizadas com professores são predominantes em outras áreas, enquanto as publicações de estudos de revisão predominam em periódicos da área de educação.
Quanto ao tipo de estudo, três publicações são pesquisas de caráter epidemiológico, sendo a maioria (nove) estudos de revisão; são distintas as fontes utilizadas e os critérios de busca. As buscas em periódicos se valeram principalmente das bases SciELO (Bezerra; Moreira, 2013BEZERRA, F. L.; MOREIRA, W. W. Corpo e educação: o estado da arte sobre o corpo no processo de ensino aprendizagem. Revista Encontro de Pesquisa em Educação, Uberaba, v. 1, n. 1, p. 61-75, 2013.; Pereira et al., 2009PEREIRA, E. F. et al. Qualidade de vida e saúde dos professores de educação básica: discussão do tema e revisão de investigações. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Taguatinga, v. 17, n. 2, p. 100-107, 2009.) e do portal da Capes (Sanches; Gama, 2016SANCHES, A. P. R.; GAMA, R. P. O mal-estar docente no contexto escolar: um olhar para as produções acadêmicas brasileiras. Laplage em Revista, Sorocaba, v. 2, n. 3, p. 149-162, 2016.; Silveira et al., 2014SILVEIRA, K. A. et al. Estresse e enfrentamento em professores: uma análise da literatura. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 30, n. 4, p. 15-36, 2014.). A BVS foi acessada em dois estudos publicados em periódicos da área de saúde coletiva (Cortez et al., 2017CORTEZ, P. A. et al. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-22, 2017.; Santana; Neves, 2017SANTANA, F. A.; NEVES, I. L. Saúde do trabalhador em educação: gestão da saúde de professores de escolas públicas. Saúde e Sociedade , São Paulo, v. 26, n. 3, p. 786-797, 2017.). Um periódico específico da área de educação foi focalizado apenas no estudo de Lüdke e Boing (2007LÜDKE, M.; BOING, L. A. O trabalho docente nas páginas de Educação e Sociedade em seus (quase) 100 números. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1179-1201, 2007.) e a Anped, somente em um estudo (Sanches; Gama, 2016SANCHES, A. P. R.; GAMA, R. P. O mal-estar docente no contexto escolar: um olhar para as produções acadêmicas brasileiras. Laplage em Revista, Sorocaba, v. 2, n. 3, p. 149-162, 2016.). Buscas exclusivamente em teses, dissertações, livros e coletâneas ocorreram no estudo de Souza e Leite (2011SOUZA, A. M.; LEITE, M. P. Condições de trabalho e repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil. Educação e Sociedade , Campinas, v. 32, n. 117, p. 1105-1121, 2011.). A base Education Resources Information Center (Eric) - específica da área de Educação - não foi consultada.
O Quadro 2 traz a categorização dos aspectos principais abordados nas produções.
Os aspectos identificados guardam relações entre si e serão discutidos no item a seguir, tendo em vista identificar sua invisibilidade e/ou visibilidade no campo educacional, particularmente nos cenários que dizem respeito às pesquisas, às políticas públicas, às práticas de cuidado/promoção da saúde e aos contextos de formação e do trabalho docente.
Aspectos da problemática e sua invisibilidade e/ou visibilidade no campo educacional
É interessante observar o predomínio de pesquisas empíricas pela psicologia e fonoaudiologia e de revisões da literatura pela educação. O tema ganha visibilidade crescente, mas carece de uma abordagem interdisciplinar (Souza; Leite, 2011SOUZA, A. M.; LEITE, M. P. Condições de trabalho e repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil. Educação e Sociedade , Campinas, v. 32, n. 117, p. 1105-1121, 2011.).
As publicações afirmam a elevada prevalência de problemas relacionados à saúde mental (Codo, 1999CODO, W. (Org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.; Silveira et al., 2014SILVEIRA, K. A. et al. Estresse e enfrentamento em professores: uma análise da literatura. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 30, n. 4, p. 15-36, 2014.), à saúde vocal (Zambon; Behlau, 2009ZAMBON, F.; BEHLAU, M. A voz do professor: aspectos do sofrimento vocal profissional. São Paulo: Sindicato dos Professores de São Paulo, 2009.) e ao sistema locomotor, além de outras formas de sofrimento e mal-estar docente. Os estudos corroboram pesquisas internacionais (Esteve, 1999ESTEVE, J. M. O mal estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: Edusc, 1999., 2014ESTEVE, J. M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, A. Profissão professor. 2. ed. Porto: Porto Editora, 2014. p. 93-124.; Pino Juste, 2018PINO JUSTE, M. La salud ocupacional de los docentes no universitarios y su desgaste profesional. In: CANTÓN MAYO, I.; TARDIF, M. Identidad profesional docente. Madrid: Narsea, 2018. p. 183-197.).
A prevalência de distúrbios vocais em professores é mais alta do que em outros profissionais, e os docentes são aqueles que recebem mais atenção nos estudos epidemiológicos e nas discussões a respeito do distúrbio de voz considerado como agravo relacionado ao trabalho (Ferreira; Märtz, 2010FERREIRA, L. P.; MÄRTZ, M. L. W. Distúrbio de voz relacionado ao trabalho: a experiência dos Cerest. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, v. 7, n. 76, p. 13-19, 2010.; Ferreira; Silva; Giannini, 2015FERREIRA, L. P.; SILVA, M. A. A.; GIANNINI, S. P. P. Distúrbio de voz relacionado ao trabalho: práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2015.).
Contudo, o enfoque epidemiológico pode ocultar outras facetas e dimensões da problemática. Os estudos sobre psicopatologia do trabalho e psicodinâmica do trabalho de Dejours (1992DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992., 1994DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.) contribuem para a compreensão dos processos de prazer, saúde, sofrimento e adoecimento no trabalho e inauguram um paradigma teórico pautado na organização do processo de trabalho e nos diferentes tipos de sofrimento físico e psíquico que ela impõe aos trabalhadores. São algumas de suas assertivas: a saúde/doença dos trabalhadores se dá num continuum com tênues limites entre uma situação e outra, sendo elas passíveis de reversibilidade; o sofrimento possui uma dimensão dinâmica que enseja um esforço criativo de transformação; e o trabalhador participa, individual e coletivamente, desse processo, desenvolvendo papel importante na produção de sistemas defensivos quando busca criar condições para a preservação da saúde, mesmo em condições bastante adversas. Dejours observa a forma de determinados segmentos de trabalhadores se relacionarem com a doença: a reticência em falar da doença e do sofrimento e a tendência a esconder o fato do adoecimento ou desprezá-lo até que ele se exprima por sintomas por demais evidentes; a vivência da doença percebida como condenável, vergonhosa e, de certa forma, até culposa, comumente como expressão de preguiça ou vagabundagem, já que significa ruptura do trabalho; uma lógica orientada não para evitar a doença, mas sim domesticá-la, contê-la, controlá-la, aprender a viver com ela; a resignação a buscar um profissional e um serviço de saúde é condicionada à necessidade de que a doença tenha atingido gravidade tal que impeça a continuidade da atividade profissional. Uma ideologia da vergonha envolve no silêncio tudo o que diz respeito ao corpo: a sexualidade, a gravidez, a doença - sendo aceito somente o corpo produtivo. Uma ideologia defensiva é elaborada coletivamente contra a ansiedade da vergonha de estar doente ou de estar em um corpo incapacitado para trabalhar, e mecanismos de defesa individuais e coletivos buscam mascarar, conter e ocultar essa ansiedade (Dejours, 1992DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992., 1994DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.).
Outra contribuição relevante do autor diz respeito à ideia de carga psíquica, que deriva do conflito entre o projeto espontâneo do trabalhador e a organização do trabalho. É, de certa forma, a vontade do outro que limita a realização do projeto do trabalhador e prescreve um modo operatório preciso, ao mesmo tempo em que reparte o trabalho entre os trabalhadores e recorta, de uma só vez, o conteúdo da tarefa e as relações humanas de trabalho. Assim, a organização do trabalho ganha relevância e, em se tratando de carga psíquica, aumenta quando a sua liberdade diminui - isto é, uma organização autoritária conduz à elevação da carga psíquica. Quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível; quando o trabalhador não tem liberdade para rearranjar seus modos operatórios de maneira a encontrar os gestos que são capazes de lhe fornecer prazer ou diminuir sua carga psíquica de trabalho; quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada; quando as capacidades de contenção transbordam - então começam os sentimentos de desprazer, a tensão e o sofrimento, e a energia recua para corpo - a fadiga (tradução não específica da sobrecarga física ou psíquica) acaba tendo interpretação somática. Ademais, há que se observar que a subjetividade da relação homem-trabalho tem efeitos diversos, os quais podem se concretizar no absenteísmo, nas greves e até mesmo no presenteísmo ou no engajamento excessivo a uma tarefa (Dejours, 1992DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992., 1994DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.).
Oliveira e Sá (2002OLIVEIRA, E. S. G.; SÁ, M. M. M. Narciso e o avesso do espelho: o lazer no imaginário do professor. Educação, Santa Maria, v. 27, n. 1, p. 99-111, 2002.) identificaram certo narcisismo invertido, próximo da vivência masoquista, em professores que apresentam imaginário do próprio trabalho como sacrifício, com tendência à doação e ao sofrimento como fenômeno deformacional de negação do prazer e de renúncia ao tempo de lazer. As autoras entendem que o professor precisa ressignificar o ócio e o lúdico, incorporando-os ao cotidiano, além de estabelecer vínculos mais intensos com o próprio corpo, inclusive no âmbito do trabalho. Corroborando essa compreensão, Vieira, Gonçalves e Martins (2016VIEIRA, J. S.; GONCALVES, V. B.; MARTINS, M. F. D. Trabalho docente e saúde das professoras de educação infantil de Pelotas (RS). Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 559-574, 2016.) analisaram o presenteísmo de professoras adoecidas e concluíram que, nas tensões do trabalho docente com a saúde, prevalecem discursos que naturalizam a ideia do trabalho docente como vocação, sacerdócio, doação e sacrifício, constituídos em um ethos pastoral missionário de salvamento das crianças. As autoras realçam que as questões concernentes ao corpo, à saúde e à vida deveriam integrar a cultura docente, sua valorização e a qualidade da educação. As maneiras de os professores lidarem com seu processo de saúde-doença envolvem, ainda, considerar dois aspectos distintos: o absenteísmo - afastamento das atividades docentes - e o presenteísmo - trabalho exercido pelos professores mediante situações de sofrimento/adoecimento, por vezes à base de automedicação (Meireles et al., 2016MEIRELES, J. B. et al. O uso de medicamentos no processo de trabalho educativo nas escolas de educação infantil. Conexões Culturais, Jaguarão, v. 2, n. 1, p. 343-345, 2016.; Vieira; Gonçalves; Martins, 2016VIEIRA, J. S.; GONCALVES, V. B.; MARTINS, M. F. D. Trabalho docente e saúde das professoras de educação infantil de Pelotas (RS). Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 559-574, 2016.). Nessa esteira, a readaptação funcional também demanda atenção: as professoras procuraram por ajuda médica somente no limite de suas forças, quando a situação de mal-estar fica insuportável e outros mecanismos de defesa, por elas próprias engendrados, já não dão conta (Brito et al., 2001BRITO, J. et al. Trabalhar na escola? Só inventando o prazer. Rio de Janeiro: Edições Ipub, 2001.). Destarte, é preciso levar em conta que processos como a automedicação, a medicalização, o absenteísmo, o presenteísmo e a readaptação funcional, na medida em que sejam conhecidos e compreendidos, podem contribuir para elucidar dimensões obscurecidas e para ampliar a visibilidade da problemática. Lantheaume (2012LANTHEAUME, F. Professores e dificuldades do ofício: preservação e reconstrução da dignidade profissional. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 146, p. 368-387, 2012.) postura que abordar o trabalho dos professores do ângulo das defesas que eles constroem diante da adversidade profissional impõe observar a atividade cotidiana do trabalho docente, verificando as formas mais apropriadas de resistência, de adaptação aos imprevistos, de discernimento dos arranjos eficazes, de ajustes aos projetos e o emprego dos gestos nas situações, de assumir diferentes papéis, de construir argumentações aos diversos destinatários, enfim, de lidar com o real e, ao mesmo tempo, transformá-lo - considerando essas, dentre outras vias possíveis para se evitar os perigos do esgotamento e da perda de sentido da ação, pelos professores.
No tocante à naturalização da problemática do mal-estar e dos sofrimentos e adoecimentos na docência, estudos mostram que professores têm dificuldades em perceber o processo de saúde-doença no trabalho e demoram para buscar serviços de atenção à saúde - e quando o fazem, apresentam pouca aderência aos tratamentos e às formas de cuidado (Biserra et al., 2014BISERRA, M. P. et al. Voice and work: a study of determinants of changes through teacher’s discourse. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 966-978, 2014.; Souza et al., 2014SOUZA, B. O. et al. Adesão e satisfação de professores participantes do Programa Integral de Reabilitação Vocal. Saúde e Sociedade , São Paulo, v. 23, n. 3, p. 966-978, 2014.). Além disso, os professores nem sempre valorizam as necessidades de prevenção e promoção da saúde e apresentam uma cultura de naturalização dos problemas à condição de ser/estar professor (Arbex; Souza; Mendonça, 2013ARBEX, A. P. S.; SOUZA, K. R.; MENDONÇA, A. L. O. Trabalho docente, readaptação e saúde: a experiência dos professores de uma universidade pública. Physis, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 263-284, 2013.). Ademais, Cortez et al. (2017CORTEZ, P. A. et al. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-22, 2017.) destacam a passividade e a delegação de responsabilidades a terceiros quando se trata da prevenção e da promoção da saúde docente. O professor, na condição de cuidador dos alunos, tem pouca aptidão para ser cuidado! (Silva; Heloani, 2009SILVA, E. P.; HELOANI, R. Gestão educacional e trabalho docente: aspectos sócio-institucionais e psicossociais dos processos de saúde-doença. Revista HISTEDBR, Campinas, n. 33, p. 207-227, 2009.). Há invisibilidade do cuidado e da promoção da saúde na cultura docente; do mesmo modo, há negligência do bem-estar docente na organização do trabalho escolar (Fantini; Ferreira; Trenche, 2011FANTINI, L. A.; FERREIRA, L. P.; TRENCHE, M. C. B. O bem-estar vocal na formação de professores. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 217-226, 2011).
As escolas sediam uma série de programas e ações para promoção da saúde de crianças e adolescentes, nos quais os professores configuram importantes mediadores - contudo, eles não têm sido considerados como atores ou protagonistas da aprendizagem referente a sua própria saúde (Bicudo-Pereira et al., 2003BICUDO-PEREIRA, I. M. T. et al. Escolas promotoras de saúde: onde está o trabalhador professor? Saúde em Revista, Piracicaba, v. 5, n. 11, p. 29-34, 2003.; Fantini; Ferreira; Trenche, 2011FANTINI, L. A.; FERREIRA, L. P.; TRENCHE, M. C. B. O bem-estar vocal na formação de professores. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 217-226, 2011). A organização do trabalho docente e a promoção do bem-estar, do cuidado e da saúde do professor são tópicos que permanecem intocados nas políticas públicas e nas reformas educacionais (Cortez et al., 2017CORTEZ, P. A. et al. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-22, 2017.). Também não costumam ser observados itens voltados para o cuidado, a saúde e o bem-estar docentes nas pautas reivindicatórias de movimentos de professores. No entanto, algumas iniciativas recentes focalizam a voz e a saúde vocal do professor:
(1) Ferreira et al. (2009FERREIRA, L. P. et al. Políticas públicas e voz do professor: caracterização das leis brasileiras. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 1-7, 2009.) elaboraram uma caracterização das leis brasileiras orientadas para a voz do professor e identificaram 22 documentos na esfera estadual (região Sudeste) propondo parcerias entre Secretarias de Saúde e Educação para oferecimento de um curso teórico-prático anual ministrado por um fonoaudiólogo e tratamentos fonoaudiológicos e/ou médicos para os casos de distúrbios da voz. Assim, a crítica de Cortez et al. (2017CORTEZ, P. A. et al. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-22, 2017.) é oportuna: a legislação enfatiza o modelo curativo em detrimento da promoção de saúde;
(2) em agosto de 2018, a Coordenação-Geral de Saúde do Trabalhador do MS lançou o documento Distúrbio de voz relacionado ao trabalho (DVRT), o qual oferece recomendações e parâmetros para a Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat) e a Rede Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador (Renast), com o objetivo de identificar e notificar casos de DVRT e orientar ações da Visat, a fim de promover mudanças nos ambientes e processos de trabalho, visando a melhoria da qualidade de vida do trabalhador nos processos relacionados à voz. São fatores de risco do DVRT: (1) aqueles relacionados à organização do trabalho; (2) aqueles relacionados ao ambiente de trabalho; e (3) aqueles relacionados ao indivíduo. O documento representa um avanço importante, de modo a dar visibilidade ao DVRT nas bases do Sistema Único de Saúde (SUS), para facilitar o seu reconhecimento como problema de saúde pública/saúde do trabalhador e favorecer medidas de promoção da saúde vocal docente. Contudo, os professores são referidos como público-alvo das ações de Visat, protagonizadas pelas equipes do SUS, e não como parceiros;
(3) em julho de 2017, a Câmara dos Deputados, aprovou o Projeto de Lei nº 2.776/2011, que institui a Política Nacional de Saúde Vocal, de modo a garantir, no SUS, a atenção a professores e demais profissionais da voz. O projeto prevê avaliação anual com otorrinolaringologista, psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social, além de ações de reabilitação e treinamento vocal e incentivo à adoção de tecnologias de ensino que reduzam o esforço vocal. O projeto é indicativo de avanços, mas comporta limitações: prioriza a saúde vocal em detrimento de outras dimensões da saúde e do bem-estar docente, e desconsidera o protagonismo do professor. Ao prever a atuação de profissionais da saúde em ações de informações, cuidados e tratamentos que têm como alvo o docente, faz emergir representações sobre o professor como alguém que tem muito a ouvir/receber e nada a dizer/oferecer, e como alguém que é incapaz de discutir sobre seu próprio cuidado, sua saúde e bem-estar ou mesmo dos seus colegas. Ou seja: nem mesmo nos projetos destinados à atenção para o cuidado e a saúde docente os professores ganham visibilidade e protagonismo!
As análises e discussões empreendidas deixam clara a invisibilidade da temática que envolve o corpo, o cuidado, a saúde e o bem-estar de professores nas pesquisas, nas políticas, nas práticas de saúde na escola, nas práticas de cuidado e nos contextos de formação e trabalho docente. Essa invisibilidade produz inquietações que se desdobram em perguntas que potencializam o alargamento da discussão a partir de relações com algumas das caracterizações do trabalho docente e da cultura do magistério: quais forças configuram entraves e dificultam, aos professores a atenção e a discussão referente às temáticas atinentes ao próprio corpo e à promoção da saúde e do bem-estar docente? Que aspectos da história da docência interferem nesses processos? O processo de saúde-doença-cuidado de professores pode, também, comportar uma dimensão de narrativa da docência?
O corpo, a saúde e o bem-estar dos professores: narrativas do trabalho e da cultura docente para pensar docência como profissão
O ensino escolar, tal como o conhecemos hoje, surgiu na Europa dos séculos XVI a XVIII, no contexto da Reforma Protestante e da Contra-Reforma Católica. É no âmbito das comunidades religiosas cristãs que surgem as primeiras escolas promovendo a sistematização do ensino e do trabalho de ensinar. A educação cristã trouxe contribuições sociais significativas ao reconhecer a criança (Jesus foi criança) e a mulher (Maria era mãe de Jesus), tendo por missão tornar toda a sociedade educadora da humanidade. Contudo, a educação cristã tem como modelo o ideal de perfeição (“sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus”), o que, se levado pontualmente, gera uma pedagogia de repressão, autocontrole, disciplina, luta contra si mesmo e governo de si e da comunidade - que encontra, na caridade, na doação e no sofrimento as vias de redenção (Cambi, 1999CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999.).
O estudo de Rodrigues (2001RODRIGUES, J. C. O corpo na história. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.) ajuda a compreender as formas de uso do corpo nas relações com os processos históricos, culturais e educacionais que, na Europa nos anos 1500, difundem o controle e o disciplinamento do corpo no âmbito religioso, o que acaba por impregnar a cultura docente. Associado à matéria, à carne, ao instinto, ao desejo e ao pecado, e visto em oposição à alma (esta ligada ao espírito, à abstinência, ao sacrifício e à sublimação) - ao corpo a educação cristã delegava papel secundário e afirmava uma cultura dualista e maniqueísta a ele relacionada. Além disso, há que se considerar a influência da ética protestante do trabalho árduo, da disciplina e da frugalidade a pesar na configuração dos processos identificados por Dejours (1992DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992., 1994DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.): há reticência dos trabalhadores em falarem da doença e do sofrimento, bem como tendência de esconderem e desprezarem o adoecimento, envolto na vergonha e no silêncio de tudo o que diz respeito ao corpo.
Ao olhar para as concepções que fundamentam e desenvolvem uma reflexão acerca do ensino, Tardif (2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.) apresenta o mosaico das “idades do ensino” como referências importantes para pensar o estatuto dos professores e suas condições de trabalho. O autor observa que a evolução do ensino não ocorre de forma linear, mas com continuidades, desvios, retrocessos e convivências entre formas antigas (vocação e ofício) e contemporâneas (profissão) que podem ser encontradas em vários países, especialmente na América Latina e no Brasil. Para Tardif, as transições, da “idade da vocação” para a “idade do ofício”, e dessas para a “idade da profissão”, provocam tensões, resistências e oportunismos.
A “idade do ensino como vocação” se dá entre os séculos XVII e XIX, sob a influência da Igreja. Na idade da vocação, ensinar era um dom, uma profissão de fé, uma missão ou doação ser cumprida em tempo integral e a serviço de Deus. O ensino era baseado no caráter moral e nas tradições pedagógicas das comunidades religiosas. Tinha as práticas orientadas para a disciplina e o controle das crianças e do corpo (permanecer sentados na classe sem se mexerem, respeitando as instruções e mantendo sob controle a postura, a elocução, os gestos e outros comportamentos), sendo comuns as punições e os castigos físicos severos. Essa visão vocacional impregnou o trabalho e a cultura docente, as práticas de ensino, as interações, os saberes docentes e os processos de formação, socialização e identidade profissional, no âmbito das escolas e das comunidades religiosas daqueles tempos. Essa visão passou a ter influência profunda e durável sobre as concepções posteriores da docência e do trabalho docente e perdura até os dias atuais (Tardif, 2013TARDIF, M. A profissionalização do ensino passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás. Educação e Sociedade , Campinas, v. 34, n. 123, p. 551-571, 2013.).
Com o sentimento missionário e vocacional, também os estereótipos sexuais são orientadores das escolhas das professoras. A unificação do corpo docente, dimensão fundamental da socialização profissional, na realidade brasileira, ocorre pela feminização. A escolarização das meninas revela desigualdades sociais e econômicas, marcadas por jogos de poder, hierarquias, preconceitos e discriminações que demarcaram espaços e papéis da mulher na sociedade, sob os estereótipos de sociabilidade, sensibilidade, autocontrole, organização, afetividade, capricho, discrição, timidez, paciência, compreensão, obediência, submissão, docilidade, delicadeza, abnegação, desprendimento, devoção e sacrifício, dentre outros (Lopes, 1991LOPES, E. M. S. T. A educação da mulher: a feminização do magistério. Teoria e Educação , Porto Alegre, n. 4, p. 22-38, 1991.; Melo; Valle, 2013MELO, M. M. R.; VALLE, I. R. Socialização e socialização profissional: interface entre forjar e negociar outro ser. Roteiro, Joaçaba, v. 38, n. 1, p. 79-102, 2013.). Lopes (1991LOPES, E. M. S. T. A educação da mulher: a feminização do magistério. Teoria e Educação , Porto Alegre, n. 4, p. 22-38, 1991., p. 26) explicita, em parte, tais colocações em normativas de condutas e deveres de professoras: “alguns defeitos devem ser evitados: o orgulho e o desejo de promoção; o amor próprio, o cuidado consigo mesma, de suas próprias satisfações”.
A “idade do ensino como oficio” ocorreu nos séculos XIX e XX, na perspectiva da formação das repúblicas, com a educação pública (primeiramente ensino primário e, depois, secundário) passando ao controle estatal, com caráter laico, disciplinar e autoritário, tendo por objetivo a formação do súdito, militar e funcionário. A tarefa de ensinar passa a ser considerada um trabalho, sendo consolidada a imagem do professor como promotor da nova ordem social e política, porém mantendo-se um modelo docente próximo ao de um padre que, para obter a licença para lecionar, deveria preencher certas condições, como idade, habilitações e comportamento moral (contudo, a criação das escolas normais, como instituições de formação de professores, só se realiza no século XIX).
Por sua vez, a “idade do ensino como profissão” se dá nos séculos XX e XXI, a partir dos anos 1980, quando o ensino é visto como atividade profissional que exige um corpo de conhecimentos, autonomia e formação universitária.
Assim, em que pesem o contexto e a historicidade, a identidade profissional docente ora se encontra ancorada em um passado vocacional e missionário, ora se reconhece como ofício e ora se dobra à profissão, carregada dos resquícios neoliberalistas (Lefone, 2016LEFONE, F. R. Identidade docente: a idade da complexidade. Cadernos de Educação, São Bernardo do Campo, v. 15, n. 30, p. 3-26, 2016.).
Ao considerar as circunstâncias que conferem o trabalho docente como vocação (uma concepção de educação cristã) -, que tem o ensino como missão e dedicação, a serviço das crianças, e que encontra na professora o modelo moral de virtude e perfeição, caracterizando posturas de submissão, abnegação e doação, predicados associados a uma cultura maniqueísta (que difunde o controle, a condenação, a repressão e o disciplinamento do corpo no âmbito religioso) e à feminização, aspectos impregnados à cultura docente -, somos levados a considerar a possibilidade de os professores, pela via dos seus corpos esquecidos, negados, controlados, disciplinados, sofridos e adoecidos, estarem expressando (para si, para o sistema educacional e para a sociedade) uma das facetas resultantes de uma socialização profissional que perpetua a visão vocacional da docência.
A cultura docente parece engendrar uma possível explicação da invisibilidade do corpo, da saúde e do cuidado docente no campo educacional, a qual se exprime:
(1) no esquecimento ou na negação do corpo e das próprias necessidades ante a dedicação para com os outros;
(2) na dificuldade em perceber, ler e interpretar sintomas do sofrimento com o trabalho;
(3) no maniqueísmo no trato com o corpo;
(4) no disciplinamento e no controle do corpo e das suas manifestações e expressões (seja no habitus professoral, seja na linguagem, psicodinâmica ou psicossomática);
(5) na naturalização do mal-estar e dos problemas, sofrimentos e adoecimentos;
(6) na baixa autonomia e desvalorização social que repercutem na falta de expectativas;
(7) em certa “satisfação” ao afirmar, perante os colegas, que trabalhou até se exaurir;
(8) no prolongamento do tempo em sofrimento e na demora em buscar ajuda profissional;
(9) na dificuldade de enxergar e estabelecer limites referentes às demandas de trabalho, às responsabilidades assumidas e à administração do tempo de trabalho na relação com o processo de saúde-doença e a qualidade de vida;
(10) na postura modelar de perfeição e virtuosismo, a impedir o professor de assumir sua condição humana diante dos alunos e colegas, bem como diante de dificuldades, dúvidas, necessidades, dilemas, conflitos e/ou algo que lhe escapa, que não conhece, não sabe, não consegue e que errou (e que, portanto, necessitaria de apoio e ajuda de dentro e de fora da docência, rompendo o isolamento que caracteriza o trabalho docente);
(11) na falta de cultura colaborativa e de partilha na docência (que demanda outras formas de compreensão dos processos de formação e desenvolvimento profissional).
As situações acima mencionadas mostram como o corpo do professor, pela problemática do mal-estar, do sofrimento e do adoecimento no trabalho docente, pode expressar a narrativa coletiva de uma cultura profissional que traz imensas dificuldades para que eles reconheçam (em si e perante seus colegas, seus superiores no trabalho e a sociedade) sua condição humana e seus potenciais como agentes sociais no âmbito do cuidado e da promoção da saúde e do bem-estar docente.
Desse modo, entendemos que as problemáticas do mal-estar e dos sofrimentos e adoecimentos dos professores precisam ser consideradas no âmbito da cultura profissional docente, levando em conta as implicações nos processos de formação, socialização profissional e desenvolvimento profissional docente, com desdobramentos no movimento de profissionalização. Outro questionamento se apresenta para fomentar reflexões e indicar possibilidades a serem desenvolvidas em estudos futuros: se o corpo do professor, pelo mal-estar, sofrimento e adoecimento, exprime narrativas de uma relação vocacional com o trabalho, podemos dizer que retroagimos pelas idades do ensino, que ainda estamos na idade da vocação e, portanto, mais distantes da ideia de docência como profissão?
Com essa perspectiva, aqui propomos algo diferente: pensar a saúde e o bem-estar de professores como elementos que substanciam o desenvolvimento profissional de professores e o projeto de profissionalização docente. Somos levados a supor que a pauta do cuidado, da saúde e do bem-estar do professor poderia contribuir para a análise da cultura e da socialização profissional docente, potencializando avanços à profissionalização - a começar por sugerir outras figuras de sentidos acerca da história coletiva dos trabalhadores docentes, do masculino e do feminino na sociedade e na profissão, das representações e dos imaginários sociais acerca da docência como profissão e das figuras do professor e da professora como profissionais, conferindo-lhes visibilidade, destaque, respeito, valorização e dignificação no campo em que se inserem - sem desmerecer nenhuma disciplina.
Nóvoa (2017NÓVOA, A. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa , São Paulo, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, 2017.) considera que o desenvolvimento profissional docente deve ser visto como um projeto contínuo, interligando a formação inicial e permanente dos professores ao longo da carreira, influenciado por fatores relativos à própria pessoa do professor e a suas necessidades e especificidades em cada fase ou etapa, levando em conta as complexidades do trabalho docente e sua contextualização histórica, cultural, organizacional e institucional. Aponta, assim, a necessidade de o ensino evoluir de uma matriz individual para uma coletiva, e de potencializar a dimensão coletiva do professorado com valorização da colaboração e da responsabilização na aprendizagem e na construção de verdadeira formação profissional.
Silva e Heloani (2009SILVA, E. P.; HELOANI, R. Gestão educacional e trabalho docente: aspectos sócio-institucionais e psicossociais dos processos de saúde-doença. Revista HISTEDBR, Campinas, n. 33, p. 207-227, 2009.) consideram que, para a criação desse coletivo, é necessário estabelecer relações de confiança, sem as quais não haverá possibilidade de uma pessoa se submeter ao julgamento do outro - e, no limite, trabalhar de forma cooperativa. A construção do coletivo, no interior de uma gestão heterônoma e de relações de trabalho calcadas no individualismo e na competitividade, é significativamente dificultada no cotidiano do trabalho do professor, em qualquer nível de ensino que ele possa atuar.
Nessa perspectiva, reportamo-nos a Dejours (1994DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.) para lembrar que as relações humanas representam um fator importante da carga psíquica do trabalho. O coletivo depende então de um espaço de discussão sobre o trabalho no cotidiano, um espaço democrático em que ocorra a livre circulação da palavra, de atos de linguagem e de ações comunicativas cuja expressão flua livremente (Silva; Heloani, 2009SILVA, E. P.; HELOANI, R. Gestão educacional e trabalho docente: aspectos sócio-institucionais e psicossociais dos processos de saúde-doença. Revista HISTEDBR, Campinas, n. 33, p. 207-227, 2009.). Isso se faz particularmente relevante quando se considera a dimensão interativa da docência: como um trabalho de interações entre os atores sociais no cotidiano escolar (Tardif; Lessard, 2005TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão das interações humanas. 2. ed. Petrópolis: Vozes , 2005.) e como uma atividade profundamente emocional, cujo apoio social desempenha papel que não pode ser subestimado (Pino Juste, 2018PINO JUSTE, M. La salud ocupacional de los docentes no universitarios y su desgaste profesional. In: CANTÓN MAYO, I.; TARDIF, M. Identidad profesional docente. Madrid: Narsea, 2018. p. 183-197.). Desse modo, o enfrentamento das novas formas de trabalho docente se faz possível mediante a articulação entre competências pessoais, recursos do ofício e coletivos de trabalho - considerando que sejam eles criadores de sentido, portadores de solidariedade e potencializadores da capacidade de agir e de gerar prazer no trabalho. A mobilização coletiva dos professores contra as dificuldades do ofício se nutre de sua força e constrói sua grandeza social e simbólica. As políticas educacionais deveriam incentivar a valorização da cooperação na busca pragmática de soluções para a definição de ambientes de trabalho mais propícios ao bem-estar profissional dos professores (Lantheaume, 2012LANTHEAUME, F. Professores e dificuldades do ofício: preservação e reconstrução da dignidade profissional. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 146, p. 368-387, 2012.).
Assim, a atenção ao cuidado, à saúde e ao bem-estar na escola não deve se restringir ao alunado, mas deve incluir o professorado e as relações formativas nas quais estes estão envolvidos, com especial atenção para as relações sociais e a organização do trabalho docente. Entendemos ser necessário olhar para a cultura docente e a produção de sentidos do trabalho docente e do ser/estar professor (na perspectiva de transformações) quando se trata de discutir as possibilidades de um “devir” do corpo (ainda que seja o corpo sofrido, adoecido), do cuidado e do bem-estar docente, vinculados aos projetos de desenvolvimento profissional de professores e de profissionalização docente. Nessa linha, a atenção ao corpo e aos processos a ele relacionados, no âmbito da docência, pode ser promissora para a investigação da cultura docente e objetivação dos saberes docentes, bem como para o delineamento da identidade profissional dos professores.
A discussão do processo saúde-doença-cuidado docente precisa ser ampliada, de modo a superar a lógica higienista de individuação, responsabilização e culpabilização dos professores. Também para avançar em relação às abordagens sanitaristas e preventivistas, voltadas para as concretudes dos fatores de riscos ambientais, biológicos, físicos e orgânicos presentes nas escolas. Não se nega a importância de atenção a esses fatores ou das ações preventivas. Mas, há necessidade de se ter abordagens interdisciplinares que levem em conta aspectos políticos, sociais e culturais que interferem na formação dos professores e nas condições e na organização do trabalho docente, e que se consubstanciem no projeto de profissionalização do ensino. Por sua vez, os processos de elaboração e implementação de políticas públicas de educação e saúde - especialmente aquelas que repercutem diretamente na formação de professores e no trabalho docente e que envolvem os interesses do cuidado, da saúde e do bem-estar docente - precisam contar com o protagonismo dos professores.
Maués (2014MAUÉS, O. C. Reformas internacionais da educação e formação de professores. In: SOUZA, D. T. R.; SARTI, F. M. Mercado de formação docente: constituição, funcionamento e dispositivos. Belo Horizonte: Fino Traço, 2014. p. 37-70.) postula que - em uma lógica de formação de professores como cidadãos livres, críticos, ativos, engajados e abertos ao mundo, que possam contribuir com a construção de uma nova configuração de sociedade, mais justa, democrática, igualitária e solidária - uma mudança se faz necessária: os professores precisarão ser preparados em uma base de conhecimento na qual a sua dignidade como pessoa e profissional seja respeitada - o que exige uma formação para a cidadania e as capacidades de analisar criticamente a realidade e contribuir para o bem-estar social. Então, há que se cuidar do professor: pois como esperar dele que contribua para o bem-estar social se ele próprio vivencia e sofre, em seu trabalho, um mal-estar profissional?
Considerações finais
A revisão narrativa mostrou serem crescentes o interesse, a importância e o status de cientificidade atribuídos à problemática do mal-estar, sofrimento e adoecimento de professores, tanto no campo da educação como na saúde coletiva, e afirmou a necessidade de abordagens interdisciplinares.
Este artigo, ao tratar a problemática em questão, vinculada às dimensões sociais, históricas e culturais do trabalho docente, aos modos de ser/estar professor e à docência como profissão, mostrou que as formas como os professores percebem e lidam com seu corpo e o processo de saúde-doença-cuidado docente sofrem os efeitos dessensibilizantes e esterilizantes de uma cultura docente derivada da feminização, ainda arraigada à concepção de ensino como vocação e pautada numa visão dualista e maniqueísta relacionada ao corpo.
Neste artigo, a discussão do cuidado e da saúde de professores dialoga com perspectivas de desenvolvimento profissional de professores e de profissionalização docente. O mal-estar docente comporta narrativas da docência e encontra-se vinculado aos desinvestimentos sociais e políticos na educação pública e na carreira docente. Dessa forma, o enfrentamento da problemática demanda mudanças sociais e políticas e suscita a necessidade de os professores exercerem a profissionalidade também numa dimensão que implica preservar e valorizar sua dignidade e seu protagonismo, buscando estratégias que possibilitem a promoção do cuidado, da saúde e do bem-estar profissional - nesse redirecionamento, a formação de professores terá papel fundamental.
Por fim, este estudo enlaça a saúde e a educação no convite a pensar as temáticas do corpo, do cuidado, da saúde e do bem-estar de professores como elementos que integram dimensões da docência e que comportam potencial para a elaboração de outros sentidos: na cultura docente e nos processos de objetivação dos saberes docentes; na organização do trabalho docente e nas relações sociais na instituição educacional; nos espaços de formação, socialização e desenvolvimento profissional; e na discussão da profissionalização.
Referências
- ARBEX, A. P. S.; SOUZA, K. R.; MENDONÇA, A. L. O. Trabalho docente, readaptação e saúde: a experiência dos professores de uma universidade pública. Physis, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 263-284, 2013.
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- 1Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - Código de Financiamento 001.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2019
Histórico
- Recebido
22 Maio 2018 - Aceito
05 Dez 2018