Discursos e representações sobre o uso/abuso do álcool: um estudo da comunidade indígena

Speeches and representations about the use/abuse of alcohol: a study in the indigenous community

Juliana Rízia Félix de Melo Silvana Carneiro Maciel Patrícia Fonseca de Sousa Giselli Lucy Souza Silva Katruccy Tenório Medeiros Rita de Cássia Cordeiro de Oliveira Sobre os autores

RESUMO

Estudo descritivo e qualitativo realizado com 45 índios Potíguara em dois municípios da Paraíba, com o objetivo de conhecer as representações sociais elaboradas por esses indivíduos acerca do uso/abuso do álcool em sua comunidade, O instrumento utlizado foi uma entrevista semiestruturada, realizada por meio da Análise de Conteúdo Temática de Bardin. Constatou-se a emersão de quatro categorias, as quais versam sobre o conceito, as causas, as consequências e as alternativas para solucionar o problema do uso abusivo de álcool na comunidade Potíguara. Os resultados encontrados proporcionam um maior conhecimento das especificidades culturais potiguaras e podem auxiliar os órgãos competentes na implantação de políticas públicas que contemplem essa problemática.

PALAVRAS-CHAVE
Índios Sul-americanos; Comportamento social; Intoxicação Alcoólica

ABSTRACT

Descriptive and qualitative study conducted with 45 Potiguara Indians in two cities of Paraíba, in order to understand the social representations made by Potiguara Indians about the use/abuse of alcohol in their community. The instrument used was a semi structured interview, which was analyzed by qualitative analysis of Bardin. It was noted the emergence of four categories, which deal with the concept, causes, consequences and alternatives to solve the problem of alcohol abuse in the Potiguara community The results provide a better understanding of the potiguara's cultural specificities and can assist the institutions in the implementation of public politics that cover this problem.

KEYWORDS
South American Indians; Social representations; Alcoholic Intoxication

Introdução

Observando o processo histórico da população indígena brasileira, especialmente as que estão situadas na região Nordeste, é possível destacar inúmeras alterações culturais desde a colonização. O rompimento de suas tradições; a miscigenação e os novos modelos socioeconômicos acarretaram problemas relacionados ao modo de vida dos índios, que afetaram seus hábitos e comportamentos, entre eles, a forma de uso do álcool. (OLIVEIRA, 2009OLIVEIRA, R.C.C. Representações sociais sobre a situação de vida, saúde e doença na concepção indígena Potiguara. 2009. 133f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.).

Neste sentido, o povo indígena teve que compreender e se apropriar da nova realidade imposta pelo contato interétnico. Entretanto, acomodar o novo em uma estrutura já existente não é uma tarefa fácil. Por isso, alguns grupos não conseguem incorporar as bebidas alcoólicas em sua ordem nativa, o que faz com que essas bebidas se tornem um disparador de violência e outros conflitos, configurando uma problemática social. (VIANNA; CEDARO; OTT, 2012VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012.). Em função disso, faz-se importante compreender que significado é atribuído à bebida alcoólica pela população indígena, como ela é apropriada e elaborada por esses grupos.

Diante disso, o presente estudo objetiva conhecer as representações sociais elaboradas pelos índios Potiguara acerca do uso/abuso do álcool em sua comunidade. Com isso, espera-se contribuir para uma melhor compreensão das transformações culturais que ocorreram na comunidade indígena, no que se refere à utilização de bebidas alcoólicas. Como, também, contribuir com o fornecimento de dados científicos que auxiliem os órgãos competentes na formulação e na implantação de políticas públicas, que contemplem essas questões e que conheçam e respeitem as especificidades culturais desses grupos, visando ao melhoramento da qualidade de vida dos índios brasileiros.

Fundamentação teórica

As transformações sociais e o perigo de perda cultural e de identidade são visíveis nos povos indígenas. Os índios lutaram para sobreviver a doenças, guerras, exploração do seu povo, aldeamentos e esforços de interação à população nacional. Os diversos impactos causados pela interação com a sociedade, porém, provocaram a perda numérica e simbólica de grande parte de sua população e cultura (LANGDON, 2001LANGDON, E. J. M. O que beber, como beber e quando beber: o contexto sociocultural no alcoolismo entre as populações indígenas. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 83-98.).

Conforme Cohn (2001)COHN, C. Culturas em transformação: os índios e a civilização. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 36-42, abr./jun. 2001., a sobrevivência física dos indígenas impôs iniciativas que lhes assegurassem o território ocupado, assistência específica e punição para as práticas de genocídio perpetradas contra eles. Já a sobrevivência cultural requer, ainda, uma atenção especial, haja vista que o acentuado contato interétnico tem provocado profundas e preocupantes transformações nesse povo.

Entre essas transformações, encontra-se a mudança na forma de utilização das bebidas alcoólicas. Antes da dominação, os índios utilizavam a bebida fermentada cm seus rituais, e possuíam um controle social sobre o seu uso; atualmente, porém, após a colonização e o consequente contato mais estreito com a sociedade não indígena, é a bebida destilada que é amplamente consumida nas aldeias c sem controle social algum (AURELIANO; MACHADO JÚNIOR, 2012AURELIANO, A. L. P.; MACHADO JÚNIOR, E. V. Alcoolismo no contexto indígena brasileiro: mapeamento da bibliografia nacional. Antropos, Brasília, v. 5, n. 5, maio 2012, p. 40-72.).

Segundo Vianna, Cedaro e Ott (2012)VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012., a introdução da cachaça fez parte das consequências advindas do contato interétnico, momento em que ocorreu uma desorganização das regras culturais e das estruturas sociais indígenas, introduzindo um mal-estar na vida comunitária e nas pessoas. Dessa forma, a bebida alcoólica, utilizada de forma exagerada, parece ser para os indígenas mais do que uma disposição individual, mas, sim, uma evidência da vulnerabilidade em que esses grupos se encontraram ao serem expostos a um contexto hostil.

Atualmente, os consumos regular e excessivo de destilados têm sido considerados um dos problemas mais preocupantes enfrentados pelos povos indígenas no Brasil, conforme aponta Caux (2011)CAUX, C. B. P. Histórias de cachaça e povos indígenas. 2011. 181f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.. Pesquisas mostram que o consumo de bebidas pelos índios aldeados, se comparada, proporcionalmente, ao restante da população não indígena, possui índices mais elevados (SOUZA; AGUIAR, 2001SOUZA, J. A.; AGUIAR, J. A. Alcoolismo em população terena no Estado do Mato Grosso do Sul - impacto da sociedade envolvente. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 149-166.; KOHATSU, 2001KOHATSU, M. O Alcoolismo na Comunidade Kaingang de Londrina (PR): Dados Preliminares/1999. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 189-196.). Tal panorama acarreta sérias consequências, pois os problemas relacionados ao uso de álcool, para além da doença em si, também repercutem na esfera sociocultural de maneira significativa, sendo, por vezes, determinantes para a desagregação social nas aldeias, contribuindo para o aumento da violência doméstica e de gênero, de acidentes, de suicídios e de agressões, que podem resultar em homicídios (VIANNA; CEDARO; OTT, 2012VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012.).

Esse panorama também pode ser encontrado na comunidade indígena Potiguara, no estado da Paraíba. A população de etnia Potiguara está estimada em, aproximadamente, 15.000 índios, dos quais, pouco mais de 2.000 estão desaldeados. As aldeias são localizadas nos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto, totalizando 29. As principais atividades econômicas desenvolvidas por esses índios são: a pesca marítima, a coleta de crustáceos e moluscos, o cultivo e a exploração comercial de cana-de-açúcar (geralmente em terras arrendadas para as usinas) – que tem sido, nos últimos anos, juntamente com o turismo e a criação de camarões, a principal base econômica da região (PALITOT, 2005PALITOT, E. M. Parecer Antropológico DSEI Potiguara. Relatório Projeto FUNASA/PRODOC, João Pessoa, 2005.).

Observa-se que fatores como: o movimento turístico constante e desordenado nas aldeias; a presença de não indígenas residindo nas aldeias; a migração de indígenas para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida; e a proximidade das aldeias às usinas de cana-de-açúcar contribuem para a mudança de hábitos e costumes dentro das aldeias Potiguara e favorecem, entre outros agravos, a transmissão de doenças (destacando-se as DSTs/AIDS) e o uso abusivo de bebidas alcoólicas (PALITOT, 2005PALITOT, E. M. Parecer Antropológico DSEI Potiguara. Relatório Projeto FUNASA/PRODOC, João Pessoa, 2005.).

No estudo conduzido por Maciel, Oliveira e Melo (2012)MACIEL, S. C.; OLIVEIRA, R. D. C. C.; MELO, J. R. F. Alcoolismo em indígenas Potiguara: representações sociais dos profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 98-111, 2012., com profissionais de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena Potiguara (DSEI/POTIGUARA), foi relatado que o uso excessivo de bebidas alcoólicas é um problema nessa comunidade, estando vinculado a outras problemáticas de saúde, tais como: gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis.

Em pesquisa realizada com os próprios índios Potiguara, conduzida por Melo et al (2011)MELO, J. R. F. et al. Implicações do uso do álcool na comunidade indígena Potiguara. Physis, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 319-333, 2011., constatou-se que o consumo abusivo do álcool traz consequências danosas para essa população, sobretudo para os jovens, uma vez que o início do consumo se dá em idade precoce. Observou-se, ainda, que o uso abusivo do álcool atinge não só os usuários diretos, mas também seus familiares, além de encontrar-se desvinculado dos rituais e inserido na vida cotidiana, em que predomina o uso disseminado das substâncias destiladas, com prevalência da cachaça/cana/aguardente.

Diante do exposto, pode-se perceber a complexidade e o dimensionamento que adquire essa temática. Em virtude disso, e visando a um maior aprofundamento desta investigação, optou-se por estudá-la sob uma perspectiva psicossocial, no âmbito da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978MOSCOVICI, S. A psicanálise: sua imagem e seu público. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.). De acordo com Jodelet, as representações sociais são:

Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. (JODELET, 2001, p. 22JODELET, D. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: ___. (org). As Representações Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p. 17-41.)

Desse modo, as representações sociais podem ser entendidas como uma modalidade de conhecimento particular, que tem como finalidade a comunicação entre os indivíduos e a elaboração de comportamentos. Essas representações são elaboradas com base nas teorias científicas existentes c nos conhecimentos práticos e vivenciais, ou seja, no senso comum. Esses conhecimentos vão adquirir um status de verdade, guiando as condutas dos sujeitos (MOSCOVICI, 2011MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em Psicologia social. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.).

Para Moscovici (2011)MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em Psicologia social. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011., deve-se encarar a representação social de um modo ativo, pois essa modalidade de conhecimento não tem um status de mera repetição. Desse modo, os índios Potiguara, ao representarem o uso/abuso do álcool em sua comunidade, certamente lançarão mão das suas cognições, dos seus afetos, das suas vivências e experiências, enfocando ou eliminando conteúdos científicos sobre o tema, criando, assim, um novo saber, um saber prático do senso comum.

Na gênese da representação social encontram-se dois processos: a 'objetivação' e a 'ancoragem', que são, ao mesmo tempo, de natureza social e cognitiva, permitindo a transformação do que é não familiar em algo familiar e conhecido. A ancoragem é um mecanismo que tenta ancorar ideias estranhas, reduzindo-as a categorias e a imagens comuns, colocando-as em um contexto familiar. Já a objetivação é o processo pelo qual os elementos constituintes da representação se organizam e adquirem materialidade, tornando o abstrato concreto (MOSCOVICI, 2011MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em Psicologia social. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.). Portanto, a ancoragem e a objetivação se referem à maneira como o social transforma um conhecimento cm representação e à maneira como essa representação transforma o social, evidenciando a interdependência entre a atividade psicológica e suas condições sociais.

Em face dessas considerações, percebc-sc que a Teoria das Representações Sociais possui elementos que permitem compreender o conhecimento do senso comum, elaborado pelos participantes do presente estudo, acerca do uso/abuso do álcool na comunidade indígena Potiguara; assim como os processos que sub-jazem à gênese e à construção dessas representações. A compreensão do conteúdo e da gênese das representações sociais acerca do tema proposto possibilitará um maior conhecimento da cultura indígena Potiguara e dos fatores que estão vinculados ao uso/abuso do álcool nessa comunidade.

Método

Esta pesquisa é de caráter descritivo e qualitativo. Sua amostra foi composta por 45 índios Potiguara. Os participantes foram selecionados de forma não probabilística e de conveniência, sendo 20 da aldeia Vila Monte-mor, no município de Rio Tinto, e 25 da aldeia São Francisco, no município de Baía da Traição, ambos no Estado da Paraíba. As aldeias foram escolhidas em Rinção da sua proximidade com o centro urbano (aldeia Vila Monte-mor, mais perto, e a aldeia São Francisco, mais distante). O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada, com perguntas acerca do uso/abuso do álcool na comunidade indígena Potiguara c sobre dados sociodemográficos, os quais serviram para a caracterização da amostra.

As entrevistas semiestruturadas foram transcritas c tratadas por meio da Análise de Conteúdo Temática de Bardin (1977)BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.. Essa análise pode ser definida como um conjunto de técnicas parciais, porém, complementares, utilizado para a sistematização e a explicação do conteúdo de um material textual e do seu significado, através de deduções lógicas e bem justificadas, tendo como referência quem emitiu e o contexto ou os efeitos da mensagem (MACIEL; MELO, 2011MACIEL, S. C.; MELO, J. R. F. O recurso da entrevista e da análise de conteúdo em pesquisas qualitativas. In: COUTINHO, M. P. L.; SARAIVA, E. R. A. (orgs). Métodos de pesquisa em Psicologia Social, perspectivas qualitativas e quantitativas. João Pessoa: Editora Universitária, 2011. p. 175-204.).

Com relação ao procedimento de coleta de dados, após o contato com o DSEI/POTIGUARA, na Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), em João Pessoa, teve-se acesso às lideranças das aldeias em questão. Obtida a permissão das lideranças, pôde-se fazer as entrevistas com os índios, cm suas próprias casas, sendo-lhes esclarecido o conteúdo da pesquisa, o caráter voluntário da mesma, assim como solicitada a assinatura do Termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram feitas individualmente e com o uso do gravador. Foram respeitadas todas as normas da Resolução n. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados e discussão

De acordo com os dados sociodemográficos obtidos, verificou-se que a maioria dos participantes (n=15) tem entre 18 e 33 anos de idade; 12 participantes estão na faixa etária entre 33 e 48 anos; 9 possuem entre 48 e 63 anos; e 9 tem entre 63 e 81 anos. Observou-se, assim, que existe um percentual considerável entre diferentes faixas etárias, o que possibilita verificar a representação social do uso/abuso do álcool na comunidade indígena Potiguara, considerando as nuances de gerações distintas.

Com relação ao sexo, a maioria dos participantes (n=27) era do sexo feminino. No tocante à escolaridade, 5 participantes denominaram-se analfabetos; 22 tinham ensino fundamental completo ou incompleto; e 18 tinham o ensino médio completo ou incompleto. No que diz respeito ao estado civil, 24 participantes eram casados e os demais se denominaram solteiros. A religião católica predominou entre 32 participantes, seguida pela evangélica.

Os resultados advindos da Análise de conteúdo temática mostraram a emersão de quatro categorias bem definidas: Conceito sobre o uso/abuso do álcool; Discursos sobre as causas do uso/abuso do álcool; Discursos sobre as consequências do uso/abuso do álcool; e, por fim, Discursos sobre as Alternativas para solucionar o Problema do uso abusivo de álcool. A seguir, serão descritas e discutidas, separadamente, cada uma das categorias encontradas, destacando-se os principais discursos e representações relacionadas à temática estudada.

CONCEITO SOBRE O USO/ABUSO DO ÁLCOOL

Esta categoria traz conceitos que tratam do uso abusivo de álcool como um vício, dependência e/ou doença, conforme pode ser visto nas falas a seguir:

É um vício muito doentio, que, depois que a pessoa está mergulhado no vício, enfraquece e parece que não tem força mais pra sair. (ind.30, feminino, 27 anos) Eu penso que é uma doença, primeiramente, porque é uma situação muito dificil de controlar. (ind. 39, masculino, 31 anos)

Observou-se que a representação social do uso/abuso do álcool na comunidade Potiguara está ligada a uma concepção individualista, objetivada por termos que enfocam a dimensão física dos indivíduos, já que o problema está circunscrito no corpo do sujeito. A representação social do uso excessivo de álcool como uma doença foi formada por meio da apropriação do saber científico biomédico, juntamente com as práticas interativas cotidianas, de modo que está ancorada em valores que enfocam a dimensão individual do ser humano.

Tal fato mostra a descaracterização cultural do povo indígena, uma vez que essa comunidade sempre cultivou valores coletivistas. Historicamente, o uso do álcool era associado à coletividade, a atividades de cunho religioso ou curativas, havendo, assim, um controle social de sua utilização. Antes o significado do beber estava ligado aos rituais das tribos, sendo usado como reafirmação grupai cm festas sagradas. Entretanto, atualmente, percebe-se a substituição de um padrão coletivo de uso para o individual, estabelecendo uma mudança sociocultural no cotidiano das comunidades indígenas. Nesse sentido, o significado do beber vem tendo hoje um sentido de patologia/doença e não de elemento cultural (SOUZA; GARNELO, 2007SOUZA, M.; GARNELO, L. Quando, como e o que se bebe: o processo de alcoolização entre populações indígenas do Alto do Rio Negro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 7, p. 1640-1648, jul. 2007.; GUIMARÃES; GRUBITS, 2007GUIMARÃES, A. M.; GRUBITS, S. Alcoolismo e violência em etnias indígenas: uma visão crítica da situação brasileira. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 45-51, jan./abr. 2007.).

Percebe-se, ainda, que esse 'novo' padrão de consumo de bebidas alcoólicas, pautado no individualismo, contribui para que esse problema seja encarado apenas como dependência biológica individual, desconsiderando-se os fatores sociais e culturais que tanto influenciam c interferem no processo de adoecimento. Ainda mais no que se refere às populações indígenas, que sobrevivem em condições precárias de vida. Nesse sentido, conforme apontam Guimarães e Grubits (2007)GUIMARÃES, A. M.; GRUBITS, S. Alcoolismo e violência em etnias indígenas: uma visão crítica da situação brasileira. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 45-51, jan./abr. 2007., o uso indiscriminado do álcool se coloca como uma 'doença social', que ameaça o desaparecimento da cultura e da identidade da população indígena.

Assim, o uso abusivo de álcool pelas populações indígenas representa um fenômeno coletivo, e, para ser entendido, devem ser explorados os valores culturais, o processo histórico e a atualidade sociopolítica do grupo, incluindo-se o contexto sociocultural. Devendo ser abordado por um ângulo médico, social, econômico, moral, ético, entre outros, já que é um fenômeno complexo demais para ser considerado apenas doença ou apenas vício, ou só qualquer coisa. Enfatiza-se, ainda, que todos os que bebem têm potencialmente possibilidade de se tornarem dependentes do álcool. A maior ou menor probabilidade vai depender da interação entre os diferentes fatores de vulnerabilidade, os quais se acentuam mais ainda na população indígena, tendo em vista o processo de descaracterização e de perdas culturais e simbólicas a que essa população tem sido submetida. (GUIMARÃES; GRUBITS, 2007GUIMARÃES, A. M.; GRUBITS, S. Alcoolismo e violência em etnias indígenas: uma visão crítica da situação brasileira. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 45-51, jan./abr. 2007.; PEREIRA; OTT, 2012PEREIRA, P. P. S.; OTT, A. M. T. O processo de alcoolizaçâo entre os Tenharim das aldeias do rio Marmelos, AM, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 16, n. 43, p. 957-966, out./dez. 2012.).

DISCURSOS SOBRE AS CAUSAS DO USO/ABUSO DO ÁLCOOL

Esta categoria evidencia as causas atribuídas ao consumo problemático de álcool na comunidade indígena Potiguara. Algumas das causas apontadas foram: gosto pessoal, diversão c fuga da realidade, como se pode observar nos relatos a seguir:

Eu acho que eles bebem porque querem e gostam. (ind 02, feminino, 64 anos). Muita gente bebe por diversão. (ind. 35, feminino, 37 anos). Eu acho que usam para tirar as preocupações da cabeça, usam mais como desculpa pra fugir da realidade que sofrem dentro da comunidade. (ind. 25, feminino, 42 anos).

Pode-se dizer que o gosto pessoal e a fuga da realidade são causas de cunho individual, em que o sujeito usa abusivamente o álcool cm virtude de uma simples escolha. Entretanto, é consenso na atualidade que o uso problemático do álcool é multifatorial, isto é, reúne fatores de ordem biológica, psicológica e social. No caso dos indígenas, o uso abusivo de álcool parece ser um reflexo de um problema social, uma consequência da aculturação sofrida por esse povo e das precárias condições socioeconômicas em que vivem.

No presente estudo, a facilitação da aquisição das bebidas alcoólicas também foi apontada como causa dos problemas da comunidade com o álcool, como pode ser exemplificado com as seguintes falas:

Quando eles querem beber, vão pra onde tem e compram. (ind. 14, feminino, 71 anos). Tem aqui pra vender, aqui tem onde vender, compra aqui mesmo. Se num tem aqui, vai comprar fora. Muitos vão comprar fora. (ind.22, masculino, 48 anos).

Especificamente no caso dos Potiguara, a facilitação da aquisição das bebidas alcoólicas é agravada pelo turismo acentuado nas aldeias, pela proximidade delas dos engenhos e usinas de álcool e pela presença de bares dentro das aldeias, como relatam Melo (2011)MELO, J. R. F. et al. Implicações do uso do álcool na comunidade indígena Potiguara. Physis, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 319-333, 2011..

A influência dos amigos também foi apontada como fator causador do consumo excessivo de álcool, conforme se pode ver a seguir: “Por influência dos amigos.” (ind. 18, masculino, 36 anos). “As vezes, acho até que é incentivado por alguém, tipo os amigos.” (ind.8, feminino, 22 anos). Segundo Hauck Filho e Teixeira (2011)HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P. Avaliação de motivos para uso de álcool: uma revisão de literatura. Psico, Porto Alegre, v. 42, n. 1, p. 7-15, jan./mar. 2011., o consumo excessivo de álcool c motivado tanto pelas interações sociais quanto pela necessidade de pertença a um grupo social. No caso dos indígenas, essa necessidade de pertença perpassa também a proximidade que esse grupo vem tendo com outras etnias.

Com relação a isso, Pereira e Ott (2012)PEREIRA, P. P. S.; OTT, A. M. T. O processo de alcoolizaçâo entre os Tenharim das aldeias do rio Marmelos, AM, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 16, n. 43, p. 957-966, out./dez. 2012. afirmam que o uso do álcool pela população indígena está associado a uma busca por aceitação e à possibilidade de divertimento, pois, a partir do momento em que os índios passam a conviver com os não índios, eles veem no álcool uma possibilidade de maior entrosamento. Nesse caso, o álcool é usado como uma forma de conseguir mobilidade social; porém, ao tentar essa mobilidade, o índio abandona os costumes de seu próprio grupo para se fazer membro de outro grupo étnico. Essa interação com o grupo dos não índios pode ser observada no relato a seguir: “Vem fulano, vem sicrano, traz bebida daqui, traz bebida de lá. Aí, daqui a pouco já começa aquela coisa que não é satisfatório para gente. Porque não entra só o índio, entram também outras pessoas” (ind.3, feminino, 49 anos).

Ainda foram apontados como causas do uso abusivo de álcool, no presente estudo, fatores sociais, como: a falta de trabalho e a ociosidade, conforme as falas a seguir: “É uma forma de ociosidade mesmo, a falta do que fazer” (ind. 32, feminino, 47 anos). “Muita gente bebe muito por falta de emprego” (ind. 28, feminino, 63 anos). Esses elementos representacionais mostram-se importantes, pois demonstram a dificuldade da comunidade indígena cm se inserir de maneira satisfatória numa sociedade de consumo e capitalista, distante, portanto, da sua cultura.

Tais questões aproximam-se dos achados de Maciel, Oliveira e Melo (2012)MACIEL, S. C.; OLIVEIRA, R. D. C. C.; MELO, J. R. F. Alcoolismo em indígenas Potiguara: representações sociais dos profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 98-111, 2012., em pesquisa realizada com profissionais de saúde do DSEI/POTIGUARA, em que, entre outros fatores, os profissionais apontaram os problemas econômicos, a ociosidade e a falta de trabalho como causadores do consumo excessivo do álcool nessa comunidade.

DISCURSOS SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DO USO/ABUSO DO ÁLCOOL

Observou-se que a representação social do uso/abuso do álcool na comunidade Potiguara está vinculada às suas consequências, tais como: a violência\agressão, os problemas orgânicos, incluindo a morte, e os conflitos interpessoais e familiares, como pode ser observado nos relatos a seguir:

Tem uns que bebem e ficam violentos. Violência, termina em briga, termina em confusão. Não toda vez, mas tem muitos que terminam até fazendo mal ao outro. (ind. 22, feminino, 4.3 anos) Várias consequências, por exemplo, perda de memória, falta de oxigênio. O álcool é muito forte, eles não se alimentam quando bebem e pode danificar os pulmões, o coração, fígado. Acaba levando à morte. (ind. 25, masculino, 22 anos) Para a família, eu sei que tem muito marido batendo em mulher. As mulheres, também têm algumas que bebem, bate nos filhos, e fica a família muito desunida. (ind. 20, feminino, 19 anos) O álcool tem provocado muitas questões: desestruturação de famílias, a falta de respeito dentro das comunidades, o abuso com outras pessoas. (ind.32, feminino, 47 anos).

Tais consequências também foram relatadas no estudo realizado por Vianna, Cedaro e Ott (2012)VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012., com os Karitiana, na região de Rondônia. Os problemas relacionados à utilização de bebidas alcoólicas estavam gerando muitos distúrbios na vida comunitária, como violência conjugai e atritos constantes entre membros da comunidade. Os autores afirmam que esse cenário de desordens c desagregação social foi percebido como algo que poderia levar ao esfacelamento da estrutura social do grupo. No caso dos índios Potiguara, o contato interétnico acentuado favorece essa desagregação social e cultural, facilitando o processo de alcoolização nessa etnia, com seus efeitos nocivos.

Além das consequências descritas, também foram apontados prejuízos econômicos em pesquisa conduzida por Pereira e Ott (2012)PEREIRA, P. P. S.; OTT, A. M. T. O processo de alcoolizaçâo entre os Tenharim das aldeias do rio Marmelos, AM, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 16, n. 43, p. 957-966, out./dez. 2012., na comunidade indígena Tenharim, no Amazonas. A questão financeira como consequência do uso abusivo de álcool também pode estar permeando a população Potiguara, tendo em vista que, segundo Palitot (2005)PALITOT, E. M. Parecer Antropológico DSEI Potiguara. Relatório Projeto FUNASA/PRODOC, João Pessoa, 2005., é c uma comunidade pobre, que sobrevive em precárias condições econômicas.

DISCURSOS SOBRE AS ALTERNATIVAS PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA DO USO ABUSIVO DE ÁLCOOL

Nesta categoria, os participantes destacaram a repressão/proibição do consumo de álcool como uma alternativa para o controle/solução dos problemas causados pelo uso abusivo dessa substância, como se pode observar nas falas a seguir:

Proibir! Uma lei que proibisse a venda em todos esses estabelecimentos comerciais, bares, lanchonetes, supermercados, cancelar a bebida alcoólica para todas as faixas etárias. Proibição! (ind. 45, masculino, 27 anos) Parar mesmo! Proibir de vender aqui! Ai era bom demais. (ind. 12, feminino, 51 anos).

Essa estratégia de repressão do consumo de bebidas alcoólicas também foi apontada e posta em prática pelos Karitiana, comunidade indígena de Rondônia, diante da percepção dos graves problemas advindos do consumo abusivo do álcool para a comunidade. Entre os Karitiana, medidas como revistar as pessoas que chegavam da cidade e quebrar as garrafas encontradas passaram a ser adotadas. Essas ações, de fato, apresentaram um efeito positivo, promovendo a superação do problema do consumo abusivo de álcool pelo grupo (VIANNA; CEDARO; OTT, 2012VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012.).

É preciso destacar, entretanto, que já é proibido, por lei, oferecer bebidas alcoólicas para as comunidades indígenas. A lei federal nº 6.001, de março de 1973, que dispõe sobre o estatuto do índio, prevê pena de seis meses a dois anos para quem propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas nos grupos tribais ou entre índios não integrados. Nesse sentido, percebe-se que essa lei não está sendo cumprida efetivamente, uma vez que os problemas causados pelo uso abusivo de álcool na comunidade indígena são uma realidade preocupante.

No presente estudo, foi relatada a inserção no trabalho como medida para solucionar o problema do consumo abusivo de álcool, conforme o trecho a seguir:

Muita gente bebe muito por falta de emprego. Uns amigos chamam pra tomar uma por falta de emprego. Se gerassem mais emprego pra gente, o mundo era outro. Com um emprego, a gente só teria tempo pra trabalhar (ind. 28, feminino, 63 anos).

Esse elemento representacional também foi encontrado em pesquisa realizada por Maciel, Oliveira e Melo (2012)MACIEL, S. C.; OLIVEIRA, R. D. C. C.; MELO, J. R. F. Alcoolismo em indígenas Potiguara: representações sociais dos profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 98-111, 2012., na qual foi sugerido pelos profissionais que trabalham na comunidade Potiguara um trabalho de resgate da cultura indígena, enfocando principalmente o aspecto econômico como central nesse processo.

Finalmente, destacou-se, na presente pesquisa, a educação preventiva, através de palestras, como forma de mudar as relações da comunidade com o álcool, como se pode observar nos seguintes discursos:

O pessoal começar a dar palestra, essas coisas, mostrando os prejuízos que vem causando o alcoolismo. (ind. 7, masculino, 41 anos). Acho que deveria ter palestras para eles, para abrir os olhos deles. Dizer para eles que a bebida não presta. (ind. 16, feminino, 18 anos).

Sousa, Oliveira e Kohatsu (2005) ressaltam que tais medidas educativas devem priorizar os mais jovens, que não são usuários de bebidas alcoólicas. Para os autores, a educação preventiva deve envolver debates acerca dos impactos negativos trazidos pelo consumo abusivo do álcool. O envolvimento cada vez mais precoce dos jovens nas atividades da comunidade favorece o resgate de práticas tradicionais e contribui para o fortalecimento dos indivíduos e da comunidade em geral, promovendo um melhor enfrentamento das problemáticas.

De modo geral, o trabalho de prevenção e controle das consequências do uso abusivo do álcool na comunidade Potiguara não é uma tarefa fácil, e ainda é fragilizada pelo despreparo dos envolvidos na abordagem do tema. Como exemplo, em pesquisa realizada por Maciel, Oliveira e Melo (2012)MACIEL, S. C.; OLIVEIRA, R. D. C. C.; MELO, J. R. F. Alcoolismo em indígenas Potiguara: representações sociais dos profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 98-111, 2012., verificou-se que os profissionais de saúde que trabalham com a comunidade Potiguara desconhecem sua cultura. Esse dado é preocupante, uma vez que os problemas relacionados ao uso abusivo do álcool poderiam ser minimizados com o fortalecimento e o resgate dessa cultura.

Considerações finais

O presente estudo objetivou conhecer as representações sociais elaboradas pelos índios Potiguara acerca do uso/abuso do álcool em sua comunidade. Constatou-se que essa representação está vinculada à ideia de que esse consumo excessivo tem contornos de doença, destacando-se o processo de aculturação indígena, evidenciado pela mudança na forma de utilização do álcool nessas comunidades. Além disso, foram apontadas causas, consequências e alternativas para solucionar o uso problemático do álcool.

É preciso perceber, entretanto, que os resultados encontrados não podem ser estendidos para todas as populações indígenas, nem para toda a população Potiguara, tendo cm vista que derivou de um contexto situacional específico. Trata-se de um estudo qualitativo, que visou ao aprofundamento das representações de uma parcela específica de participantes. Portanto, sugere-se a realização de outras pesquisas na comunidade Potiguara, que contemplem, além da questão do álcool, as demais problemáticas de saúde que perpassam esse grupo indígena.

Contudo, podemos afirmar que os resultados encontrados têm implicações importantes, pois, além de proporcionarem um maior conhecimento das especificidades culturais dos Potiguara, denunciam os problemas causados pelo uso abusivo de álcool nessa comunidade, demandando das autoridades competentes ações mais efetivas para o controle e a solução dessa questão. Nesse sentido, conhecer as alternativas apontadas pelos potiguaras para o enfrentamento do consumo problemático de álcool mostra-se importante por auxiliar na implantação de medidas adequadas às particularidades desse grupo.

  • Suporte financeiro: inexistente

Referências

  • AURELIANO, A. L. P.; MACHADO JÚNIOR, E. V. Alcoolismo no contexto indígena brasileiro: mapeamento da bibliografia nacional. Antropos, Brasília, v. 5, n. 5, maio 2012, p. 40-72.
  • BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
  • CAUX, C. B. P. Histórias de cachaça e povos indígenas. 2011. 181f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
  • COHN, C. Culturas em transformação: os índios e a civilização. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 36-42, abr./jun. 2001.
  • HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P. Avaliação de motivos para uso de álcool: uma revisão de literatura. Psico, Porto Alegre, v. 42, n. 1, p. 7-15, jan./mar. 2011.
  • GUIMARÃES, A. M.; GRUBITS, S. Alcoolismo e violência em etnias indígenas: uma visão crítica da situação brasileira. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 45-51, jan./abr. 2007.
  • JODELET, D. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: ___. (org). As Representações Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p. 17-41.
  • KOHATSU, M. O Alcoolismo na Comunidade Kaingang de Londrina (PR): Dados Preliminares/1999. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 189-196.
  • LANGDON, E. J. M. O que beber, como beber e quando beber: o contexto sociocultural no alcoolismo entre as populações indígenas. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 83-98.
  • MACIEL, S. C.; OLIVEIRA, R. D. C. C.; MELO, J. R. F. Alcoolismo em indígenas Potiguara: representações sociais dos profissionais de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 98-111, 2012.
  • MACIEL, S. C.; MELO, J. R. F. O recurso da entrevista e da análise de conteúdo em pesquisas qualitativas. In: COUTINHO, M. P. L.; SARAIVA, E. R. A. (orgs). Métodos de pesquisa em Psicologia Social, perspectivas qualitativas e quantitativas. João Pessoa: Editora Universitária, 2011. p. 175-204.
  • MELO, J. R. F. et al. Implicações do uso do álcool na comunidade indígena Potiguara. Physis, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 319-333, 2011.
  • MOSCOVICI, S. A psicanálise: sua imagem e seu público. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
  • MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em Psicologia social. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
  • OLIVEIRA, R.C.C. Representações sociais sobre a situação de vida, saúde e doença na concepção indígena Potiguara. 2009. 133f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
  • PALITOT, E. M. Parecer Antropológico DSEI Potiguara. Relatório Projeto FUNASA/PRODOC, João Pessoa, 2005.
  • PEREIRA, P. P. S.; OTT, A. M. T. O processo de alcoolizaçâo entre os Tenharim das aldeias do rio Marmelos, AM, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 16, n. 43, p. 957-966, out./dez. 2012.
  • SOUZA, J. A.; AGUIAR, J. A. Alcoolismo em população terena no Estado do Mato Grosso do Sul - impacto da sociedade envolvente. In: Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos indígenas, 2001, Brasília. Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Coordenação Nacional de DST e AIDS, 2001. p. 149-166.
  • SOUZA, M.; GARNELO, L. Quando, como e o que se bebe: o processo de alcoolização entre populações indígenas do Alto do Rio Negro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 7, p. 1640-1648, jul. 2007.
  • VIANNA, J. J. B.; CEDARO, J. J.; OTT, A. M. T. Aspectos psicológicos na utilização de bebidas alcoólicas entre os Karitiana. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 94-103, jan./abr. 2012.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2013

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2013
  • Aceito
    01 Jun 2013
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
E-mail: revista@saudeemdebate.org.br