Alterações corporais como fenômeno estético e identitário entre universitárias** Artigo resultante de pesquisa de pós-doutoramento desenvolvida junto ao NIEG - Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Gênero da Universidade Federal de Viçosa, MG.

Body changes as aesthetic and identity phenomenon among female university students

Jairo Antônio da Paixão Maria de Fátima Lopes Sobre os autores

Resumos

Este artigo trata de pesquisa de natureza qualitativa, realizada com o objetivo de verificar as percepções, atitudes, comportamentos e sentimento de identidade subjacentes às narrativas de universitárias submetidas a cirurgias estéticas de alteração corporal para atender ao padrão de beleza corporal prevalente na sociedade atual. Verificou-se um esforço de pertencimento e identificação a um grupamento social de referência, composto por pessoas que detêm ou se esforçam para manter o corpo nos padrões ideais de beleza vigente. O desejo de liberdade que marcou o ideal feminino de emancipação, que, por sua vez, alicerçou os movimentos feministas, sucumbiu à ditadura de uma estética corporal que se opõe veemente à obesidade e ao envelhecimento.

Corpo humano; Estética; Ego; Adulto jovem


This study is a qualitative research that analyzes the perceptions, attitudes, behaviors and sense of identity underlying the narratives of female university students submitted to cosmetic surgery so to meet the standards of beauty prevalent in current society. There has been an effort of belonging and identification to a social grouping, composed of people who hold or are striving to keep the body under ideal beauty prevailing standards. The desire for freedom that characterized the feminine ideal of emancipation, which underpinned feminist movements, succumbed to the dictatorship of a body aesthetics which opposes strongly to obesity and aging.

Human body; Esthetics; Ego; Young adult


Introdução

A busca por um padrão de beleza ideal consiste em uma prática observada nas sociedades ocidentais desde a antiguidade clássica (BOTELHO, 2009BOTELHO, F.M. Corpo, risco e consumo: uma etnografia das atletas de fisiculturismo. Revista Habitus, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, set. 2009, p. 104-119.). Criados e modificados conforme os costumes de cada época, esses padrões de beleza, denominados ideologia do culto ao corpo, encontram-se permeados pela cultura narcísica, que, por sua vez, materializam-se predominantemente pela preocupação do indivíduo com o volume e as formas corporais (VASCONCELOS , 2004VASCONCELOS, N.A. et al. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 4, n. 1, out./ dez. 2004, p. 65-93.; CASTRO, 2007CASTRO, A.L. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São Paulo: Annablume, 2007.).

Visto dessa maneira, o corpo é entendido como uma construção, mutável e mutante, suscetível a mudanças e intervenções concernentes ao desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura, suas leis, códigos morais e do modo de produção de significados na vida cotidiana (GOELLNER, 2003GOELLNER, S.V. A produção cultural do corpo. In: LOURO, G. L. et al (Org). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petropólis: Vozes, 2003.). Essas considerações coadunam com as ideias de Marcel Mauss que, em 1935, em sua obra 'As técnicas corporais', ampliou o entendimento sobre corporeidade ao afirmar que os corpos não são apenas biológicos, mas construídos socialmente (MAUSS, 1974MAUSS, M. As técnicas corporais. In: LÉVI-STRAUSS, C. (Org). Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974.).

Sob a égide do capitalismo, no qual o corpo é tomado como um bem de consumo, legitimaram-se as alterações corporais, tornando-as aceitáveis e acessíveis, o que viabiliza aos indivíduos a construção de suas identidades corporais (KEMP, 2005KEMP, K. Corpo modificado, corpo livre? São Paulo: Paulus, 2005.). Entre as formas recorrentes e socialmente 'aceitáveis' de alterações corporais, como tatuagens, piercings e aplicações de botox, nomeadamente, a cirurgia estética amplia a concepção de anatomia para matéria prima a ser modelada, redefinida e submetida ao padrão corporal vigente (LE BRETON, 2003LE BRETON, D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003.). No Brasil, a adequação a um padrão corporal socialmente imposto atingiu um limiar de fugacidade que, como afirma Goldenberg (2005)GOLDENBERG, M. Gênero e corpo na cultura brasileira. Psicologia Clínica, São Paulo, v. 17, n. 2, maio-ago. 2005, p. 65-80., traz a sensação de que o corpo entra e sai de moda em ritmo semelhante às tendências das roupas de determinada estação. Trata-se de um padrão estético 'ideal' que historicamente associa mulher e beleza e, por sua vez, coloca-se avesso à feiura, hoje intimamente ligada à gordura e ao envelhecimento (NOVAES, 2011NOVAES, J.V. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (Org). História do corpo no Brasil. São Paulo: Unesp, 2011.).

Essas alterações corporais, por meio das cirurgias estéticas, transcendem o sentido literal de simples metamorfose das características físicas do indivíduo (LE BRETON, 2006______. A sociologia do corpo. Petrópolis: Vozes, 2006.). Decorre daí um processo que, num primeiro momento, incidirá sobre o imaginário e, posteriormente, exercerá implicações na relação do indivíduo com o seu meio social. Haja vista que, ao alterar o corpo, o indivíduo busca mudar concomitantemente sua vida e o seu sentimento de identidade (LE BRETON, 2003LE BRETON, D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003.). O entendimento de identidade adotado neste estudo baseia-se na concepção teórica de Hall de que a identidade é um processo em formação que não parte apenas do indivíduo, mas de suas relações sociais (HALL, 2006HALL, S. Identidade cultural na pós modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.).

Ainda que se tenha observado o aumento da adesão pelo público masculino por procedimentos cirúrgicos estéticos nas últimas décadas, ainda é o sexo feminino que compõe quase a totalidade (cerca de 90%) das intervenções cirúrgicas com fins estéticos no Brasil (LEAL , 2010LEAL, V.C.L.V. et al. O corpo, a cirurgia estética ea Saúde Coletiva: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, set./dez. 2010, p. 77-86.). E, dentre os procedimentos mais procurados, encontram-se a lipoaspiração, prótese e redução mamária, plástica de abdômen e rejuvenescimento da face. Estas mulheres têm, em geral, entre trinta e quarenta anos; contudo, a procura por parte de adolescentes vem-se acentuando nos últimos dez anos (LEAL , 2010LEAL, V.C.L.V. et al. O corpo, a cirurgia estética ea Saúde Coletiva: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, set./dez. 2010, p. 77-86.).

Ao considerar que, no Brasil, uma significativa parcela jovem da população tem buscado o corpo ideal por meio de intervenções cirúrgicas e as implicações dessas intervenções em termos de significações e na qualidade de vida desta população, motivou este estudo.

Assim, investigaram-se as percepções, atitudes, comportamentos e sentimento de identidade subjacentes às narrativas de universitárias submetidas à cirurgia estética para alterações corporais condizentes com o padrão de beleza corporal prevalente na sociedade atual. Os argumentos que conformam este estudo fundamentam-se no trabalho de campo que, durante o ano de 2011-2012, foi realizado no campus de uma instituição de ensino superior no Estado de Minas Gerais via observação das atitudes e comportamentos das universitárias sujeitos da pesquisa e com a realização de relatórios descritivos e entrevistas focalizadas.

Método

O estudo empregou os procedimentos metodológicos de uma pesquisa qualitativa de natureza descritiva (LAKATOS; MARCONI, 2007LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007.; THOMAS; NELSON, 2007THOMAS, J.R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.; YIN, 2011YIN, R. K. Applications of case study research. Canadá: Sage Publications, 2011.). Realizou-se uma descrição do fenômeno em seu contexto sociocultural e levantaram-se questões e hipóteses para posteriores pesquisas.

A amostra foi composta por 17 universitárias, escolhidas por amostra de conveniência. A opção pelas percepções de um grupo restrito, embora representativo, justifica este tipo de abordagem ligada à busca, por parte de uma parcela da população, por adequação identitária advinda de um padrão corporal socialmente construído e vigente na sociedade atual por meio das alterações corporais (LEAL , 2010LEAL, V.C.L.V. et al. O corpo, a cirurgia estética ea Saúde Coletiva: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, set./dez. 2010, p. 77-86.; YIN, 2011YIN, R. K. Applications of case study research. Canadá: Sage Publications, 2011.).

O interesse em trabalhar com jovens universitárias coaduna com dados fornecidos pela American Society of Plastic Surgeons (ASPS, 2012AMERICAN SOCIETY OF PLASTIC SURGEONS (ASPS) [internet]. What is the difference between cosmetic and reconstructive surgery? Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and-reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 12 abr. 2012.
http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-i...
) e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP, 2011SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA (SBCP) [internet]. Disponível em: <www.cirurgiaplastica.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2011.
www.cirurgiaplastica.org.br/...
), que evidenciam considerável crescimento na redução da faixa etária de pessoas, em sua maioria mulheres, que buscam alterações corporais por meio de cirurgia estética. Até alguns anos atrás, a cirurgia estética associava-se, comumente, às idades mais avançadas, visando, sobretudo, à correção de marcas do tempo decorrentes do processo de envelhecimento (LEAL , 2010LEAL, V.C.L.V. et al. O corpo, a cirurgia estética ea Saúde Coletiva: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, set./dez. 2010, p. 77-86.).

Quanto à delimitação do grupo amostral por jovens mulheres que se encontravam regularmente matriculadas em cursos de nível superior, deveu-se ao entendimento que elas apresentavam maior acesso à informação, além de potencial para o desenvolvimento de análises críticas, a despeito de trabalhos que mostram que, mesmo em futuros profissionais da saúde, a força do ideal estético socialmente construído prevalece (BOSI , 2006BOSI, M.L.M. et al. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55, n. 2, out. 2006, p. 108-113.).

A seleção das participantes se deu de forma controlada, não randomizada, na qual se adotaram como critérios de inclusão jovens universitárias que haviam submetido a, pelo menos, uma intervenção de cirurgia estética e que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O instrumento utilizado para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada fundamentada na produção científica especializada. O processo de elaboração e validação das questões que compuseram a entrevista seguiu a Técnica Delphi (DUFFIELD, 1993DUFFIELD, C. The Delphi technique: a comparison of results obtained using two expert panels. International Journal of Nursing Studies, London, v. 30, n. 3, maio 1993, p. 227-237.; THOMAS; NELSON, 2007THOMAS, J.R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.). Trata-se de uma técnica projetiva de levantamento realizada por um grupo de especialistas que busca, ao longo de uma série de fases, alcançar um consenso sobre determinado assunto por meio de julgamentos sobre os itens apresentados. O número de fases empregadas no processo de validação de um determinado instrumento pode variar de duas a cinco, até que cada questão receba acima de dois terços de repostas afirmativas (DUFFIELD, 1993DUFFIELD, C. The Delphi technique: a comparison of results obtained using two expert panels. International Journal of Nursing Studies, London, v. 30, n. 3, maio 1993, p. 227-237.).

A partir de uma sucessão de pareceres de três especialistas (professores doutores, com experiência na área), num total de quatro fases, obteve-se consenso no tocante às questões investigativas sobre os aspectos decorrentes de alterações corporais como fenômeno estético e identitário entre universitárias. Adicionalmente às entrevistas, realizaram-se observações juntamente com a elaboração de relatórios no decurso de 2011-2012. A coleta de dados aconteceu a partir de agendamento prévio com as participantes. Na organização e análise dos dados coletados, utilizou-se o programa N-Vivo 9, versão em português. As análises estatísticas foram realizadas por meio de estatística descritiva. O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Minas, Muriaé-MG, sob o Processo n.0775/2011, de 25 de setembro de 2011.

Resultados e discussão

A faixa etária da amostra, composta por 17 mulheres universitárias, variou dos 18 aos 23 anos, com média de 19,8 anos ± 1,9. Em sua totalidade, as participantes eram solteiras, se encontravam na situação de dependentes das famílias, pertencentes à classe média e média alta da sociedade. Como mostra a tabela 1, apesar de se tratar de um segmento consideravelmente jovem, percebe-se a ocorrência de mais de uma intervenção cirúrgica com fins estéticos.

Tabela 1
Número e porcentagem de intervenções no âmbito da cirurgia estética

Esse resultado estão de acordo com outros da literatura como os da American Society of Plastic Surgeons (ASPS, 2011______. Report of the 2010 Plastic Surgery Statistics. Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 13 maio 2011.
http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-i...
; 2012______. Report of the 2010 Plastic Surgery Statistics. Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 13 maio 2011.
http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-i...
), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP, 2011SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA (SBCP) [internet]. Disponível em: <www.cirurgiaplastica.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2011.
www.cirurgiaplastica.org.br/...
)e de Neto e Capari (2007)NETO, P.P.; CAPARI, S. A medicalização da beleza. Interface, Botucatu, v. 11, n. 23, ago./out. 2007, p. 569-584., que revelam o aumento de cirurgias com fins estéticos por segmentos cada vez mais jovens da sociedade. Ao se considerarem aspectos como biótipo, fenótipo, estatura, níveis de simetria que sinalizam, nessa contemporaneidade, um padrão de beleza, pode-se afirmar que as universitárias informantes deste estudo compõem um grupo privilegiado. Ainda que não se trate de informações diretamente objetivadas pela pesquisa, podem representar elementos para se analisar aspectos do grupo amostral e sua relação, ou não, com o fenômeno em foco.

Nessa perspectiva, os principais motivos que contribuíram para a realização da cirurgia estética, constantes da tabela 2, mostram relativa variabilidade.

Tabela 2
Principais motivos alegados pelas entrevistadas que contribuíram para a realização da cirurgia estética de implante de silicone nas mamas

De acordo com a American Society of Plastic Surgeons (ASPS, 2012AMERICAN SOCIETY OF PLASTIC SURGEONS (ASPS) [internet]. What is the difference between cosmetic and reconstructive surgery? Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and-reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 12 abr. 2012.
http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-i...
), busca-se, por meio da realização da cirurgia estética, possibilidade de conferir nova forma a estruturas normais do corpo, visando, sobretudo, à melhoria da aparência física e autoestima do(a) paciente. Dentre os motivos apresentados na tabela 2, encontra-se a busca em adequar o corpo a um padrão corporal de beleza construído e imposto na atualidade. Dessa feita, é possível inferir que a sensação de autoestima, de sentir-se bem e feliz consigo mesma envolve, indubitavelmente, alcançar os padrões de beleza impostos "pelos modelos vigentes ou pelo poder das normas organizadoras do ethos sociocultural" (NOVAES, 2011, P. 482NOVAES, J.V. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (Org). História do corpo no Brasil. São Paulo: Unesp, 2011.). O estar fora desses padrões pode chegar à representatividade de um defeito e, geralmente, quando se tem condições financeiras, o caminho eficaz tem sido, invariavelmente, as intervenções cirúrgicas, amplamente, oferecidas pela medicina da beleza (RIBEIRO, 2006RIBEIRO, L. Cirurgia Plástica estética em corpos femininos: a medicalização da diferença [internet]. Disponível em <http://www.antropologia.com.br/arti/colab/vram2003/a13-lbribeiro.pdf>. Acesso em: 11 out. 2006.
http://www.antropologia.com.br/arti/cola...
; NETO; CAPARI, 2007NETO, P.P.; CAPARI, S. A medicalização da beleza. Interface, Botucatu, v. 11, n. 23, ago./out. 2007, p. 569-584.).

Na maioria das vezes, a busca por esses padrões de beleza é o que interliga uma variedade de fenômenos que se tornam cada vez mais comuns, como a maior incidência de bulimia e anorexia, as malhações, as 'dietas duvidosas' e as cirurgias plásticas estéticas (NETO; CAPARI, 2007NETO, P.P.; CAPARI, S. A medicalização da beleza. Interface, Botucatu, v. 11, n. 23, ago./out. 2007, p. 569-584.). Esse fato, somado à faixa etária cada vez mais baixa das pessoas que buscam os recursos imediatos oferecidos pelas cirurgias estéticas, representa um indicador que merece atenção dos órgãos públicos ligados à saúde no meio social.

Outra situação que chama a atenção para os motivos que levaram à realização de cirurgias estéticas pelas jovens é a influência da sugestão de seus respectivos médicos, como se percebe na fala de uma das informantes:

[...] inicialmente, busquei um cirurgião plástico visando a fazer a lipoaspiração, pois minha barriga sempre me incomodou. Não tinha problemas com meus seios. Achava eles normais, sabe. Então, no consultório, fui convencida a fazer também o implante de silicone nas mamas. O médico me ofereceu uma espécie de pacote que valeu muito a pena [...].

Essa fala, reunida aos outros depoimentos em que transparece a influência médica na decisão das informantes em se submeter a uma cirurgia estética, evidencia a mercantilização da medicina da beleza. Vive-se um período de franco avanço nas técnicas, procedimentos e produtos ligados à indústria da beleza - tecnicização da beleza - e, com ele, parece crescer, na mesma proporção, a criação de necessidades aos referidos recursos da medicina. Dessa forma, tornou-se comum ver-se em certos programas e comerciais de TV o oferecimento de cirurgias estéticas, com formas de pagamentos acessíveis a todos. Em se tratando de profissionais de medicina, o impacto desse achado é ainda mais relevante, pois se profissionais no campo da saúde, apesar de sua experiência nos domínios da cirurgia estética ou reparadora, desejam estar a serviço da mercantilização da medicina da beleza nos padrões impostos pela mídia e indústria cultural, evidencia-se a importância do tema como questão social.

Ao se considerar a forte influência do imaginário referente aos ideais de beleza sobre os diferentes segmentos que compõem a sociedade atual, tornou-se relevante analisar as concepções de 'corpo ideal' apresentadas pelas informantes, mostradas no gráfico 1.

Gráfico 1
Concepção de ‘corpo ideal’ pelas entrevistadas que se submeteram a cirurgia estética

Se, num primeiro momento, os resultados parecem tender para uma variabilidade de concepções de corpo, uma análise mais minuciosa possibilita afirmar a existência de uma relação direta entre as concepções de 'corpo ideal' e o padrão de corpo perfeito vigente na sociedade atual, em que ser magro é uma condição sine qua non para a felicidade. Essa afirmação corrobora os resultados obtidos por estudo desenvolvido por Bosi . (2006)BOSI, M.L.M. et al. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55, n. 2, out. 2006, p. 108-113. sobre autopercepção da imagem corporal de 193 estudantes de curso de nutrição no município do Rio de Janeiro, que verificou que a imagem corporal idealizada pelas universitárias ajusta-se ao padrão preconizado pelo contexto sociocultural atual, no qual se sobressaem a lipofobia ou o império da magreza. Tem-se, ainda de forma explícita, a máxima de que o brasileiro gosta de 'peito' e 'bunda', preferencialmente num corpo magro, esculpido em academia, ora denominado corpo 'sarado' ou corpo 'turbinado'. Ao bisturi fica a responsabilidade do toque final.

Chama à atenção a prevalência do desejo por um corpo magro e delineado pelas informantes desse estudo. Entretanto uma parcela muito pequena das entrevistadas buscava antes da realização da cirurgia estética um estilo de vida ativo, o que inclui atividade física regular e alimentação saudável. Essa situação foi substancialmente alterada após a realização da intervenção cirúrgica. A explicação contida nos depoimentos para tal ocorrência fundamenta-se nos resultados positivos da cirurgia, bem como no entendimento de que é um investimento que precisa ser mantido. Ao sucumbirem à ditadura da beleza, magreza e manutenção da juventude - que se inicia cada vez mais cedo em termos de faixa etária - essas mulheres o fazem como uma escolha pessoal e autônoma. Nessa linha de raciocínio, não se levam em consideração os mecanismos de regulação social que transformam o corpo cada vez mais em uma prisão ou mesmo num inimigo a ser combatido e dominado constantemente. A partir de estudos realizados, essa situação foi denominada "moralização do corpo feminino" (BAUDRILLARD, 1981BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. São Paulo: Edições 70, 1981.; NOVAES, 2011NOVAES, J.V. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (Org). História do corpo no Brasil. São Paulo: Unesp, 2011.).

Ao se questionar sobre a autopercepção corporal, antes e após a cirurgia estética para implantação de silicone, fica nítida a importância dos seios e de seu enquadramento em um padrão ideal na vida dessas jovens mulheres. Isso é demonstrado nas falas agrupadas nos quadros 1 e 2.

Quadro 1
Autopercepção corporal antes da realização do implante de silicone nos seios
Quadro 2
Autopercepção corporal após a realização do implante de silicone nos seios

Os depoimentos dessas informantes evidenciam implicações de uma harmonia corporal, com destaque para os seios em suas vidas e para os diferentes papeis sociais desempenhados por elas na sociedade atual. Para as mulheres, a função dos seios, afora os períodos de lactação, é um órgão de identidade sexual feminina. Os seios são componentes importantes da autoimagem de uma mulher e para seu sentido psicológico da feminilidade e da sexualidade (ASPS, 2012AMERICAN SOCIETY OF PLASTIC SURGEONS (ASPS) [internet]. What is the difference between cosmetic and reconstructive surgery? Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and-reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 12 abr. 2012.
http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-i...
).

A argumentação dessas jovens mulheres deixa transparecer o que Le Breton denominou de 'estética da presença'. De acordo com o autor, tem-se nessa contemporaneidade um corpo na condição de acessório, modulável ao bel prazer e às necessidades (LE BRETON, 2003). As mudanças de postulados socioculturais referentes aos sentidos de corpo ocorridas no século XVIII transformaram o corpo físico na entidade necessária para se conhecer a pessoa que esse corpo abriga (NICHOLSON, 2009NICHOLSON, L. Interpretando o gênero. Estudos feministas, Santa Catarina, v. 8, n. 2, out. 2009, p. 09-16.). A lógica parece fundamentar-se na busca por identidade ou pertencimento a um determinado grupamento que se impõe no meio social a partir de 'ajustamento corporal' - o que inclui os recursos disponíveis pela indústria da beleza, tais como cosméticos, dietas, acessórios como piercings e cirúrgicas estéticas - aos padrões de beleza erigidos e legitimados atualmente.

No âmbito social, Hall (2006)HALL, S. Identidade cultural na pós modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. considera três concepções diferentes de identidade: a do sujeito do iluminismo, do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno. Segundo a visão do sujeito do iluminismo, a identidade era baseada na centralidade do indivíduo em relação à sociedade, intrínseca ao indivíduo; já a noção sociológica era definida pela relação entre o indivíduo e a cultura; e a visão pós-moderna fala em múltiplas identidades não permanentes.

Assim, o indivíduo moderno não tem uma identidade formada, mas construída a partir de suas relações sociais. A concepção de identidade do mundo moderno possibilita ao indivíduo ter múltiplas identidades. Nesses termos, a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser adquirida ou perdida (HALL, 2006HALL, S. Identidade cultural na pós modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.).

É a partir desse processo de construção que se analisam as alterações corporais através de cirurgias estéticas não somente como fenômeno estético, mas também identitário. Nessa discussão, é relevante considerar a afirmação feita por Naomi Wolf, em sua obra 'O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres', que o crescimento da cirurgia estética estaria relacionado a uma estratégia para desempoderar a própria mulher. Em outras palavras, significa afirmar que as novas tecnologias de cirurgias estéticas foram desenvolvidas com o objetivo de retomar sobre as mulheres antigas formas de controle médico (WOLF, 1992WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.).

Se assim for, como explicar a intencionalidade e autonomia da mulher atual? O sentir-se bem, com a autoestima em alta, está diretamente subjugado a uma padronização do corpo como ordena os ditames sociais, legitimados e reconhecidos como exemplares e essenciais? Vive-se uma condição de prática irrefletida?

Vive-se uma situação em que certos valores atuais parecem contrapor àqueles que, na década de 1970, balizaram os movimentos feministas. Como afirma Novaes (2011)NOVAES, J.V. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (Org). História do corpo no Brasil. São Paulo: Unesp, 2011., em defesa do direito ao aborto, ao agenciamento dos seus próprios corpos e à liberdade sexual, as mulheres gritavam 'nosso corpo nos pertence'. O quadro atual leva a pensar que as reinvindicações pela autocracia do corpo e o desejo de liberdade que marcaram o ideal feminino de emancipação, que, por sua vez, alicerçaram os movimentos feministas, sucumbiram à ditadura de uma estética corporal que se opõe veemente à obesidade e ao envelhecimento.

Nessa perspectiva, subvertida a uma lógica de controle e imposição a um padrão estético corporal erigido como 'ideal' na atualidade, a busca dessas jovens mulheres por pertencimento ou identidade a um grupamento dar-se-ia a partir de expressiva internalização de um padrão corporal como algo natural e necessário em um determinado momento histórico. Nas palavras de Louro (2007, P.21)LOURO, G.L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007., "reconhecer-se numa identidade supõe, pois, responder afirmativamente a uma interpelação e estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social de referência".

Ainda que não se tenha chegado a argumentações conclusivas sobre as questões levantadas neste estudo, recorre-se a Foucault (2010)______. Em defesa da sociedade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010., que apresenta alguns elementos que contribuem para o entendimento do processo de naturalização das relações construídas social e culturalmente. O autor sustenta o entendimento de que houve, em meados do século XVII até o século XIX, um deslocamento do eixo de poder. Com o advento das descobertas da medicina, o poder que antes era exercido como um controle absoluto passa a ser disseminado como um controle dos indivíduos por meio da imposição de disciplina aos corpos (métodos higiênicos) e do controle das populações via políticas médicas regulamentadoras (controles de natalidade, longevidade etc.). O poder não está circunscrito somente à ótica da repressão centralizada, mas também se inscreve de forma discursiva entre as pessoas, tendo como alvo o "corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo" (FOUCAULT, 2008, P.47______. Microfísica do poder. 26. ed. Rio de Janeiro: Graal Editora, 2008.). Enfim, o corpo se tornou objeto de uma das mais fortes regulações sociais (FOUCAULT, 1987FOUCAULT, M. Vigiar e punir. 32. ed. Petropólis: Vozes, 1987.). Pode-se afirmar que há um longo processo histórico e social de construção dos significados do corpo que levam a considerar diferentes formas de atribuições e usos do corpo pelo sujeito na sociedade atual.

Considerações finais

A partir das constatações e dos resultados analisados neste estudo, é possível afirmar a prevalência nas universitárias por um ideal de corpo estabelecido no âmbito social. Disso decorre um sentimento de pertencimento e identidade a um grupamento social de referência, ou seja, composto por pessoas que detêm ou se esforçam para manter o corpo em consonância aos padrões ideais de beleza vigente. Detectou-se, nos depoimentos das entrevistadas, uma expressiva capacidade de convencimento dos cirurgiões plásticos a uma parcela dessas jovens para a realização de novas intervenções e, para isso, oferecem pacotes ou facilidades na forma de pagamento dos custos da cirurgia. Trata-se de uma situação que merece atenção por parte da população e sua respectiva conscientização, bem como das entidades ligadas à saúde pública, dados os riscos envolvidos em intervenções cirúrgicas.

Ressaltam-se mudanças nas percepções, atitudes e comportamentos subjacentes às diferentes esferas da vida social, entendidas pelas universitárias como aumento da autoestima em decorrência dos resultados positivos advindos da cirurgia estética para implantação de silicone nos seios. Ainda que devam ser considerados, dentro das devidas proporções, os riscos envolvidos numa intervenção cirúrgica, as alterações corporais são percebidas pelas informantes como um investimento pessoal e, para a sua manutenção, há adesão de hábitos saudáveis como frequência diária a academias, aumento da preocupação com a alimentação e outros cuidados visando à estética.

Referências

  • AMERICAN SOCIETY OF PLASTIC SURGEONS (ASPS) [internet]. What is the difference between cosmetic and reconstructive surgery? Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and-reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 12 abr. 2012.
    » http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and-reconstructive-surgery.cfm
  • ______. Report of the 2010 Plastic Surgery Statistics Disponível em: <http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and reconstructive-surgery.cfm.>. Acesso em: 13 maio 2011.
    » http://www.plasticsurgery.org/FAQ-What-is-the-difference-betweencosmetic-and reconstructive-surgery.cfm
  • BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo São Paulo: Edições 70, 1981.
  • BOSI, M.L.M. et al Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55, n. 2, out. 2006, p. 108-113.
  • BOTELHO, F.M. Corpo, risco e consumo: uma etnografia das atletas de fisiculturismo. Revista Habitus, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, set. 2009, p. 104-119.
  • CASTRO, A.L. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São Paulo: Annablume, 2007.
  • DUFFIELD, C. The Delphi technique: a comparison of results obtained using two expert panels. International Journal of Nursing Studies, London, v. 30, n. 3, maio 1993, p. 227-237.
  • FOUCAULT, M. Vigiar e punir 32. ed. Petropólis: Vozes, 1987.
  • ______. Microfísica do poder 26. ed. Rio de Janeiro: Graal Editora, 2008.
  • ______. Em defesa da sociedade 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
  • GOELLNER, S.V. A produção cultural do corpo. In: LOURO, G. L. et al (Org). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petropólis: Vozes, 2003.
  • GOLDENBERG, M. Gênero e corpo na cultura brasileira. Psicologia Clínica, São Paulo, v. 17, n. 2, maio-ago. 2005, p. 65-80.
  • HALL, S. Identidade cultural na pós modernidade 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
  • KEMP, K. Corpo modificado, corpo livre? São Paulo: Paulus, 2005.
  • LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Metodologia do trabalho científico 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
  • LE BRETON, D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003.
  • ______. A sociologia do corpo Petrópolis: Vozes, 2006.
  • LEAL, V.C.L.V. et al O corpo, a cirurgia estética ea Saúde Coletiva: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, set./dez. 2010, p. 77-86.
  • LOURO, G.L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
  • MAUSS, M. As técnicas corporais. In: LÉVI-STRAUSS, C. (Org). Sociologia e Antropologia São Paulo: EPU/EDUSP, 1974.
  • NETO, P.P.; CAPARI, S. A medicalização da beleza. Interface, Botucatu, v. 11, n. 23, ago./out. 2007, p. 569-584.
  • NICHOLSON, L. Interpretando o gênero. Estudos feministas, Santa Catarina, v. 8, n. 2, out. 2009, p. 09-16.
  • NOVAES, J.V. Beleza e feiura: corpo feminino e regulação social. In: DEL PRIORE, M.; AMANTINO, M. (Org). História do corpo no Brasil São Paulo: Unesp, 2011.
  • RIBEIRO, L. Cirurgia Plástica estética em corpos femininos: a medicalização da diferença [internet]. Disponível em <http://www.antropologia.com.br/arti/colab/vram2003/a13-lbribeiro.pdf>. Acesso em: 11 out. 2006.
    » http://www.antropologia.com.br/arti/colab/vram2003/a13-lbribeiro.pdf
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA (SBCP) [internet]. Disponível em: <www.cirurgiaplastica.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2011.
    » www.cirurgiaplastica.org.br/
  • THOMAS, J.R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
  • VASCONCELOS, N.A. et al Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 4, n. 1, out./ dez. 2004, p. 65-93.
  • WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
  • YIN, R. K. Applications of case study research Canadá: Sage Publications, 2011.

  • Suporte financeiro: não houve
  • *
    Artigo resultante de pesquisa de pós-doutoramento desenvolvida junto ao NIEG - Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Gênero da Universidade Federal de Viçosa, MG.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    Fev 2013
  • Aceito
    Abr 2014
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
E-mail: revista@saudeemdebate.org.br