Gestão de eventos QBRN e a utilização do modelo Hysplit: uma revisão integrativa de literatura

Adriana Paula Macedo Ferreira Pereira Luiz Antonio da Costa Rodrigues Elaine Alves dos Santos Telma Abdalla de Oliveira Cardoso Simone Cynamon Cohen Sobre os autores

RESUMO

O potencial risco de exposição das populações aos agentes Químicos, Biológicos, Radioativos e Nucleares (QBRN), seja por causas intencionais ou não, configura-se como questão de segurança nacional e demanda um constante aprimoramento do seu gerenciamento. Os modelos de dispersão atmosférica vêm ganhando destaque como ferramenta de apoio à gestão dos riscos aos agentes QBRN. O objetivo desta pesquisa foi identificar e avaliar estudos que utilizaram o modelo Hysplit no contexto de eventos QBRN. Para tanto, foi realizada uma revisão integrativa de literatura de artigos publicados entre 2014 e 2018, nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Lilacs. A análise dos artigos selecionados permitiu verificar o potencial do uso do modelo Hysplit, enquanto modelo matemático, para compreender o transporte, a dispersão e a deposição de ameaças QBRN liberadas na atmosfera. Os dados produzidos pelas simulações geradas por esse código podem revelar quais áreas serão potencialmente impactadas em um determinado evento ou a região de origem de elementos dispersos no ar. Ademais, o Hysplit pode ser agregado como uma ferramenta de suporte às decisões perante as distintas fases da gestão de eventos QBRN.

PALAVRAS-CHAVE
Dispersão de poluentes; Espalhamento de radiação; Acidentes e eventos químicos; Liberação nociva de radioativos; Gestão de riscos

Introdução

A evolução da sociedade e o avanço dos processos tecnológicos e industriais demandam a fabricação ou a manipulação de um relevante quantitativo de substâncias químicas, agentes biológicos e elementos radioativos11 Fortes MA. A política pública para respostas às ameaças químicas, biológicas, radiológicas, nucleares e nucleares explosivas. Fundação Getúlio Vargas [internet]. 2012 [acesso em 2018 jun 16]. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10031/Dissertação PP ameaças QBRNE.pdf.
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. Os rápidos avanços dos conhecimentos científicos e tecnológicos, aliados ao desenvolvimento da indústria, à expansão da capacidade de geração de energia, ao aumento da produtividade agrícola, da engenharia de alimentos, entre outros, foram acompanhados pela maior exposição aos riscos ocasionados por agentes Químicos, Biológicos, Radioativos e Nucleares (QBRN). Porém, houve, também, o aperfeiçoamento das estratégias de cuidados com a saúde laboral e a melhoria dos diagnósticos e cuidados da saúde humana e animal22 Almeida ME. A permanente relação entre biologia, poder e guerra: o uso dual do desenvolvimento biotecnológico. Ciênc. Saúde Colet. 2015; 20(7):2255-66..

O uso de agentes de riscos físicos, químicos e biológicos em ambientes e em concentrações capazes de causar agravos à saúde humana ou ocasionar óbitos transcende a dimensão laboral. Historicamente, registra-se a utilização desses agentes em disputas territoriais, religiosas, sociais e culturais. Enumeram-se tais usos desde a Antiguidade até a I e a II Guerras Mundiais, perpassando os mais contemporâneos atentados terroristas, tais como: a dispersão de antraz e ricina em cartas endereçadas a políticos americanos (2001, 2003, 2004, 2013 e 2018); a detonação de dispositivos explosivos improvisados durante a Maratona de Boston, nos Estados Unidos (2013), nos arredores do Stade de France, na cidade de Saint-Denis, na França (2015), e dentro do Aeroporto de Bruxelas, na Bélgica (2016); os ataques com gás sarin no metrô de Tóquio, no Japão (1995), e com produto químico contendo cloro reativo em Douma, na Síria (2018).

Em um contexto distinto, apontam-se os furtos de fontes ou de materiais radiológicos, como o acidente ocorrido em Goiânia, em 1987, com césio-137, que ainda é considerado um dos maiores desastres radiológicos do mundo.

Sob outras circunstâncias, existe, ainda, a possibilidade de desastres, como inundações, terremotos, deslizamentos, explosões desencadearem eventos por agentes QBRN a posteriori, como o ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima, em 11 de março de 2011, quando foi atingida por um tsunami originado de um terremoto que ocorreu na costa litorânea do Japão.

Todos esses aspectos demonstram como as populações estão expostas aos riscos de acidentes, incidentes e desastres envolvendo substâncias químicas, agentes biológicos, elementos radiológicos e nucleares (QBRN). Além disso, os impactos desses eventos podem resultar em perdas humanas, ambientais, econômicas e sociais, que se traduzem numa situação de emergência em saúde pública e podem levar décadas para serem sanados33 Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Plano de Contingência para Emergência em Saúde Pública por Agentes Químico, Biológico, Radiológico e Nuclear. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2014.. Desta forma, a capacidade e a habilidade técnica para detectar rapidamente um ataque com agentes QBRN são de suma importância na ação de resposta, de modo a proteger os indivíduos e o ambiente.

A gestão de eventos de natureza QBRN ganha destaque nos cenários internacional e nacional, já que serve como arcabouço para o delineamento de políticas públicas, que orienta a criação e a manutenção de capacidades sustentáveis, bem como investimento, financiamento e planejamento de planos operacionais de resposta, melhorando o controle, a fiscalização, a troca de informações e a tomada de decisão44 Government of Canada. Chemical, Biological, Radiological, Nuclear and Explosives Resilience Strategy for Canada [internet]. 2011 [acesso em 2018 ago 24]. Disponível em: https://www.publicsafety.gc.ca/cnt/rsrcs/pblctns/rslnc-strtg/rslnc-strtg-eng.pdf.
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. Ela configura-se como uma questão de segurança nacional e de governança, que envolve diversos setores, incluindo, especialmente, a defesa, a ciência e a tecnologia, a saúde e o meio ambiente55 National Institute for Defense Studies Japan. East Asian Strategic Review [internet]. 2015 [acesso em 2018 nov 22]. Disponível em: http://www.nids.mod.go.jp/english/publication/east-asian/pdf/2015/east-asian_e2015_08.pdf.
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O gerenciamento desses eventos é entendido como um processo cíclico, composto de etapas: (a) planejamento - relacionado com a avaliação do ambiente, vulnerabilidades, capacidades e riscos. A avaliação deve ser implementada antes e após os eventos, uma vez que determina a preparação e facilita a resposta e a recuperação; (b) preparação - etapa de implementação do plano e de mecanismos de prontidão por meio de treinamento, exercícios e certificação. As etapas de planejamento e preparação possuem como objetivo a redução de vulnerabilidades, que irão apoiar a prevenção e a mitigação; (c) resposta - atua frente aos efeitos diretos, imediatos, de um evento QBRN, incluindo ações de preservação da saúde e da segurança, salvaguardando vidas; de prevenção do sofrimento humano; de proteção às propriedades e estabelecendo medidas de controle, a fim de prevenir ou reduzir a propagação da contaminação, lesão humana ou mortes, danos ambientais e danos materiais; (d) recuperação - só é iniciada após a contenção ou o controle dos riscos imediatos. A recuperação objetiva restaurar os serviços essenciais e concluir a mitigação do risco imediato66 Department of the Army. Multi-service Tactics, Techniques, and Procedures for Chemical, Biological, Radiological, and Nuclear Consequence Management Operations [internet]. United States. Department of the Army. United States; 2015. [acesso em 2019 jan 16]. Disponível em: https://www.hsdl.org/?abstract&did=786536.
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Componentes como comando, controle, comunicações, computadores, inteligência, vigilância e reconhecimento são considerados como requisitos fundamentais para uma força de resposta às ameaças QBRN, e o uso de sistemas de informação pode tornar toda a operação mais ágil, eficiente, inteligente e segura11 Fortes MA. A política pública para respostas às ameaças químicas, biológicas, radiológicas, nucleares e nucleares explosivas. Fundação Getúlio Vargas [internet]. 2012 [acesso em 2018 jun 16]. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10031/Dissertação PP ameaças QBRNE.pdf.
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Dessa forma, para a gestão das ameaças QBRN, especialmente dos impactos dos agentes de dispersão aérea, os estudos de dispersão atmosférica são fundamentais no apoio à tomada de decisão, relativos à avaliação de cenários e à modelagem das consequências para equipes responsáveis pela ação de primeira resposta a emergências QBRN e para a população de um modo geral. Os modelos de dispersão podem auxiliar no entendimento dos mecanismos de disseminação de agentes capazes de causar danos em escala local, regional e global; e, desse modo, fazer previsões dos impactos das emissões na troposfera, seja tal impacto causado por fontes fixas ou por fontes móveis. Esses modelos utilizam equações matemáticas para descrever a atmosfera, a dispersão e os processos físicos e químicos que acontecem com uma pluma emitida por uma determinada fonte.

Entre as metodologias mais consagradas, encontram-se as análises físico-químicas e biológicas de amostras de ar, bem como a avaliação da deposição dessas amostras em corpos d’água ou no solo e seus possíveis efeitos77 Visscher AD. Air Dispersion Modeling: Foundations and Applications. Canada Research Chair in Air Quality and Pollution Control Engineering, Department of Chemical and Petroleum Engineering, and Centre for Environmental Engineering Research and Education (CEERE), Schulich School of Engineering, University of Calgary; 2014.,88 Delort AM, Amato P. Microbiology of Aerosols. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons; 2018.. No entanto, com o avanço da ciência de dados e do potencial de processamento de grandes volumes de informações, a utilização de modelos computacionais capazes de analisar as diversas dimensões de inúmeras substâncias frente às distintas situações vem ganhando destaque, principalmente por conseguir incorporar noções de cenários reais e hipotéticos99 Stein AF, Draxler RR, Rolph GD, et al. NOAA's HYSPLIT Atmospheric Transport and Dispersion Modeling System. Bull Am. Meteorol. Soc. [internet]. 2015 [acesso em 2019 jan 20]. Disponível em: https://journals.ametsoc.org/doi/10.1175/BAMS-D-14-00110.1.
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Os Modelos de Transporte Atmosférico, Dispersão e Deposição Atmosférica (MTADD) descrevem o transporte, no espaço e no tempo, de gases e partículas veiculados em massas de ar na atmosfera, incluindo poluentes químicos, matéria radioativa, material particulado, como poeira e bioaerossóis. A modelagem com uso de ferramentas lógicas oferece diferentes modelos de saídas de dados, desde modelos de plumas gaussianas até modelos muito complexos, baseados em Dinâmicas Computacionais de Fluidos (CFD, em inglês). Dessa forma, a escolha de um determinado modelo depende do objetivo do estudo, das substâncias envolvidas e da extensão e complexidade da área a ser avaliada77 Visscher AD. Air Dispersion Modeling: Foundations and Applications. Canada Research Chair in Air Quality and Pollution Control Engineering, Department of Chemical and Petroleum Engineering, and Centre for Environmental Engineering Research and Education (CEERE), Schulich School of Engineering, University of Calgary; 2014.,1010 Van Leuken JPG, Swart AN, Havelaar AH, et al. Atmospheric dispersion modelling of bioaerosols that are pathogenic to humans and livestock - A review to inform risk assessment studies. Microb Risk Anal [internet]. 2016; 1:19-39 [acesso em 2018 abr 25]. Disponível em: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2352352215000067.
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Entre os MTADD mais conhecidos, estão: Atmospheric Dispersion Modelling System (ADMS), American Meteorological Society/United States Environmental Protection Agency Regulatory Model (Aermod), Areal Locations of Hazardous Atmospheres (Aloha), Californian Puff Model (Calpuff), Hybrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory Model (Hysplit), Numerical Atmospheric-dispersion Modelling Environment (Name), Risø Mesoscale PUFF Model (Rimpuff).

Entre esses modelos, o Hysplit tem se destacado por ser uma plataforma de domínio público, eficaz para distintas classes de escalas atmosféricas, com interface gráfica do usuário de fácil utilização, rápido processamento e que dispõe de um módulo on-line1111 Santos EA, Valeriano C M, Silva C. Associação entre poeira mineral e clima. Terrae Didat. 2018; 14(1):69-79.. Os dados meteorológicos podem advir de medições in situ, de estações meteorológicas (locais) ou do Global Data Assimilation System (GDAS)99 Stein AF, Draxler RR, Rolph GD, et al. NOAA's HYSPLIT Atmospheric Transport and Dispersion Modeling System. Bull Am. Meteorol. Soc. [internet]. 2015 [acesso em 2019 jan 20]. Disponível em: https://journals.ametsoc.org/doi/10.1175/BAMS-D-14-00110.1.
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O GDAS é um banco de dados mundial de observação meteorológica que registra observações em um espaço modelado em uma grade de três dimensões. Apresenta a finalidade de iniciar ou inicializar previsões meteorológicas com observações verificadas. Ele adiciona observações como dados de superfície, dados de balão, dados de perfil de vento, relatórios de aeronaves, observações de boias, observações de radar e observações de satélite99 Stein AF, Draxler RR, Rolph GD, et al. NOAA's HYSPLIT Atmospheric Transport and Dispersion Modeling System. Bull Am. Meteorol. Soc. [internet]. 2015 [acesso em 2019 jan 20]. Disponível em: https://journals.ametsoc.org/doi/10.1175/BAMS-D-14-00110.1.
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,1212 Jamolin K, Saltzman J, Schaefer D, et al. Improving the timeliness and response to an aerosolized Anthrax attack in the Metropolitan Washington, D.C. Region. Team BIOCOUNTER at UMD in College Park, MD [internet]. 2013 [acesso em 2018 maio 20]. Disponível em: https://drum.lib.umd.edu/handle/1903/13877.
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Segundo o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)99 Stein AF, Draxler RR, Rolph GD, et al. NOAA's HYSPLIT Atmospheric Transport and Dispersion Modeling System. Bull Am. Meteorol. Soc. [internet]. 2015 [acesso em 2019 jan 20]. Disponível em: https://journals.ametsoc.org/doi/10.1175/BAMS-D-14-00110.1.
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, o modelo Hysplit é um sistema completo para computar trajetórias simples de parcelas de ar, bem como complexas simulações de transporte, dispersão, transformação química e de deposição. Tem como uma das aplicações mais comuns a análise da trajetória posterior para determinar a origem das massas de ar e estabelecer relações termo-fonte e receptor. Adota um método híbrido de cálculo usando abordagem lagrangeana e a metodologia euleriana ou modelos puff e de partículas. Ele também é capaz de empregar modelos de CFD, úteis em terrenos complexos, como ambientes urbanos, onde as escalas espaciais de interesse estão próximas das escalas das características da paisagem.

Segundo Silva1313 Silva C. Modelagem lagrangeana da dispersão atmosférica de radionuclídeos e sistemas de informação geográfica como ferramentas de suporte ao planejamento de emergência na área de influência do Complexo Nuclear de Angra dos Reis - RJ. [tese] - Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2013., os modelos lagrangeanos descrevem a trajetória de cada partícula a partir de um referencial em movimento, e os modelos eulerianos descrevem os processos de dispersão através de um observador fixo com relação ao movimento da pluma.

Leelössy et al.1414 Leelossy Á, Mészáros R, Kovács A, et al. Numerical simulations of atmospheric dispersion of iodine-131 by different models. PLoS One. 2017 [acesso em 2019 ago 24]. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0172312.
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afirmam que os modelos puff tratam os materais dispersos como uma superposição de várias nuvens, com um determinado volume, e calculam as trajetórias desses ‘puffs’.

Estudos internacionais e nacionais revelam que o Hysplit tem sido empregado em uma variedade de simulações com o objetivo de descrever o transporte atmosférico, a dispersão e a deposição de poluentes e materiais perigosos99 Stein AF, Draxler RR, Rolph GD, et al. NOAA's HYSPLIT Atmospheric Transport and Dispersion Modeling System. Bull Am. Meteorol. Soc. [internet]. 2015 [acesso em 2019 jan 20]. Disponível em: https://journals.ametsoc.org/doi/10.1175/BAMS-D-14-00110.1.
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10 Van Leuken JPG, Swart AN, Havelaar AH, et al. Atmospheric dispersion modelling of bioaerosols that are pathogenic to humans and livestock - A review to inform risk assessment studies. Microb Risk Anal [internet]. 2016; 1:19-39 [acesso em 2018 abr 25]. Disponível em: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2352352215000067.
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11 Santos EA, Valeriano C M, Silva C. Associação entre poeira mineral e clima. Terrae Didat. 2018; 14(1):69-79.

12 Jamolin K, Saltzman J, Schaefer D, et al. Improving the timeliness and response to an aerosolized Anthrax attack in the Metropolitan Washington, D.C. Region. Team BIOCOUNTER at UMD in College Park, MD [internet]. 2013 [acesso em 2018 maio 20]. Disponível em: https://drum.lib.umd.edu/handle/1903/13877.
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-1313 Silva C. Modelagem lagrangeana da dispersão atmosférica de radionuclídeos e sistemas de informação geográfica como ferramentas de suporte ao planejamento de emergência na área de influência do Complexo Nuclear de Angra dos Reis - RJ. [tese] - Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2013.. Sendo assim, esse modelo apresenta-se como uma potencial ferramenta para auxiliar no delineamento das diversas fases da gestão de eventos QBRN.

Este artigo objetiva identificar e avaliar estudos que utilizaram o modelo Hysplit no contexto de eventos QBRN.

Metodologia

No presente estudo, selecionou-se como método um dos recursos da prática baseada em evidências, ou seja, a revisão integrativa da literatura, a qual possibilita a síntese e a análise do conhecimento científico já produzido sobre o tema, interconectando elementos isolados de estudos já existentes1515 Crossetti MGO. Revisão integrativa de pesquisa na Enfermagem o rigor científico que lhe é exigido. Rev. Gaúcha Enferm. 2012; 33(2):8-9..

O estudo foi delineado nas seguintes etapas: (1) estabelecimento da hipótese; (2) escolha dos critérios de elegibilidade, ou seja, de inclusão e exclusão; (3) identificação dos estudos pré-selecionados; (4) leitura integral dos artigos, extração dos dados e categorização dos estudos selecionados; (5) análise, interpretação e discussão dos resultados; e (6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento.

Para nortear a revisão integrativa, formulou-se a seguinte questão: como o modelo Hysplit vem sendo utilizado no contexto da gestão de eventos QBRN?

Para a coleta de dados, foram utilizadas as bases: National Library of Medicine (PubMed), SciVerse Scopus (Scopus), Web of Science e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs).

A estratégia de busca utilizada nas referidas bases foi: [‘Hybrid Single Particle Lagrangian Integrated Trajectory Model’ OR Hysplit]. A busca e a seleção dos artigos foram realizadas nos títulos, resumos e palavras-chave, a partir dos critérios de inclusão e exclusão, por dois avaliadores independentes.

Além disso, o levantamento bibliográfico restringiu as buscas quanto aos idiomas de publicação (inglês, espanhol e português), quanto ao ano de publicação (2014 a 2018), quanto ao tipo de material publicado (artigos científicos e/ou artigos de revisão) e estudos que abordassem diretamente a utilização do modelo Hysplit em cenários de eventos QBRN.

Definiram-se como critérios de exclusão: artigos de conteúdo geral, ou seja, que tratavam de dispersão de poluentes atmosféricos, artigos que não retratassem diretamente os acidentes QBRN e artigos não disponibilizados na íntegra.

O software Endnote® foi utilizado para o gerenciamento das referências bibliográficas, pela facilidade de aplicação e disponibilidade na maioria das bases e dos periódicos. Auxiliou na importação e transferência direta dos estudos selecionados das bases pesquisadas para um arquivo específico da pesquisa.

Os artigos foram lidos na íntegra, e, para a análise, foram utilizados quadros de síntese especialmente construídos para esse fim, que contemplaram os seguintes aspectos, considerados pertinentes: dados relativos à autoria; ano de publicação; área do estudo; objetivo geral do trabalho; objetivo do uso do modelo Hysplit; e características metodológicas.

Foram realizadas reuniões de consenso com outros pesquisadores quando havia dúvidas sobre a inclusão de estudos na revisão. Os estudos cujos resumos eram dúbios foram lidos na íntegra.

Resultados e discussão

Foi identificado um total de 1084 registros nas bases de dados consultadas, sendo que 506 duplicatas foram removidas, resultando em 578 estudos submetidos à triagem do título, resumo e das palavras-chave. Essa triagem inicial removeu 560 artigos que não atenderam aos critérios de elegibilidade. Posteriormente, após a leitura do texto completo dos 18 artigos eleitos, 3 foram excluídos (um artigo por não ter sido encontrado na íntegra; um por ser um artigo histórico; e outro por não estar relacionado com cenário incidental ou acidental), totalizando 15 artigos selecionados para este estudo (figura 1).

Figura 1
Fluxograma da seleção dos estudos

A descrição dos estudos incluídos na revisão é apresentada no quadro 1, como também a finalidade da utilização do Hysplit. Os principais locais de realização desses estudos foram a América do Norte (Estados Unidos e Canadá), a Europa (França e Alemanha) e a Ásia (Japão, China, Coreia do Sul, Iran). Apenas um estudo foi realizado no Brasil, fato que pode estar relacionado com a maior ocorrência de eventos QBRN nos locais citados e por ocuparem posição de vanguarda do desenvolvimento científico e tecnológico.

Quadro 1
Descrição dos artigos incluídos na pesquisa

A maioria dos trabalhos expressou como objetivo principal a análise do transporte, da dispersão e da deposição de material QBRN na atmosfera, adotando Hysplit como ferramenta para predizer cenários hipotéticos e/ou confirmar o percurso, a extensão e os locais potencialmente impactados em caso de acidentes. Ressalta-se, também, a sinalização de que esse modelo pode ser empregado em uma ampla gama de simulações fora do contexto QBRN, como as erupções vulcânicas, queimadas, tempestades de areia1111 Santos EA, Valeriano C M, Silva C. Associação entre poeira mineral e clima. Terrae Didat. 2018; 14(1):69-79..

Nesta revisão, doze artigos adotaram como metodologia a simulação, a partir de cenários reais, e quatro abordaram cenários hipotéticos. Entre os cenários reais, Katata et al., Wu et al. e Zhang et al.1616 Katata G, Chino M, Kobayashi T, et al. Detailed source term estimation of the atmospheric release for the Fukushima Daiichi Nuclear Power Station accident by coupling simulations of an atmospheric dispersion model with an improved deposition scheme and oceanic dispersion model. Atmos Chem Phys. 2015; 15:1029-1070.

17 Wu J-L, Wang Y, Sun W, et al. Atmospheric radionuclides from Fukushima Dai-ichi nuclear accident detected in Lanzhou, China. Nucl Sci Tech. 2015; 26:40604.
-1818 Zhang Z, Ninomiya K, Takahashi N, et al. Daily variation of I-131, Cs-134 and Cs-137 activity concentrations in the atmosphere in Osaka during the early phase after the FDNPP accident. J Radioanal Nucl Chem. 2015; 303:1527-1531. apresentaram resultados das simulações relacionados ao acidente em Fukushima, onde demonstraram que o modelo Hysplit foi capaz de representar o fenômeno de transporte e dispersão atmosférica, bem como a deposição de substâncias radioativas liberadas durante o acidente na usina nuclear impactada pelo tsunami.

Katata et al.1616 Katata G, Chino M, Kobayashi T, et al. Detailed source term estimation of the atmospheric release for the Fukushima Daiichi Nuclear Power Station accident by coupling simulations of an atmospheric dispersion model with an improved deposition scheme and oceanic dispersion model. Atmos Chem Phys. 2015; 15:1029-1070. estimaram as variações das liberações atmosféricas de radionuclídeos durante o evento. Segundo as simulações, durante os dias 15 e 16 de março, foram criadas as mais altas taxas de contaminação radioativa nas áreas ao redor da usina. Os autores relacionaram esse aumento às complicadas interações entre a precipitação, os movimentos das plumas e a variação temporal das taxas de liberação de iodo-131 e césio-137.

Já Wu et al.1717 Wu J-L, Wang Y, Sun W, et al. Atmospheric radionuclides from Fukushima Dai-ichi nuclear accident detected in Lanzhou, China. Nucl Sci Tech. 2015; 26:40604., além de simularem a transferência direta das massas de ar liberadas de Fukushima para China, cruzando o Oceano Pacífico, a América do Norte e a Europa, a uma altura próxima a 9.000 metros de altura acima do solo, apresentaram dados do programa de monitoramento de radioatividade em partículas atmosféricas da cidade chinesa de Lanzhou, que detectou e mensurou amostras de aerossol de 26 de março a 2 de maio de 2011. Os autores assumem que a contaminação ainda foi monitorada por um longo tempo, mas que nenhuma evidência de grandes flutuações no ar foi encontrada, a não ser em março de 2013, onde foi detectado um aumento significativo na concentração de Cs-137 em amostras de aerossol durante um período de tempestade de areia.

Zhang et al.1818 Zhang Z, Ninomiya K, Takahashi N, et al. Daily variation of I-131, Cs-134 and Cs-137 activity concentrations in the atmosphere in Osaka during the early phase after the FDNPP accident. J Radioanal Nucl Chem. 2015; 303:1527-1531. avaliaram a variação diária das concentrações de atividade de iodo-131, césio-134 e césio-137 na atmosfera na cidade de Osaka, no Japão, entre 15 de março e 11 de maio de 2011. Os autores observaram um aumento na concentração de atividade entre os dias 6 de abril e 17 de abril e o correlacionaram com o transporte direto da área de Fukushima, demonstrado pelas simulações de trajetória do modelo Hysplit.

Em outro contexto, mas também usando informações do acidente de Fukushima, Chai, Draxler e Stein2323 Chai T, Draxler R, Stein A. Source term estimation using air concentration measurements and a Lagrangian dispersion model - Experiments with pseudo and real cesium-137 observations from the Fukushima nuclear accident. Atmos Environ. 2015; (106):241-251. realizaram um levantamento de dados da concentração de césio-137 no ar, provenientes de estações de monitoramento nos EUA, Canadá e Europa, para determinar se as redes de monitoramento global poderiam ser usadas para quantificar variações temporais de emissões de um local de origem conhecido. Os pesquisadores desenvolveram um sistema de estimativa de emissão inversa baseado em uma matriz de coeficiente de transferência, usando o modelo Hysplit, e um custo funcional que mede as diferenças entre as previsões do modelo e as medições reais da concentração de ar. Em comparação com outros estudos, a pesquisa demonstrou que o sistema criado conseguiu capturar com sucesso as principais variações temporais e identificar a maioria dos principais eventos no perfil temporal da liberação.

Além dos trabalhos que envolviam o acidente de Fukushima, foi encontrado um estudo relacionado ao acidente da Usina Nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986. Simsek et al.1919 Simsek V, Pozzoli L, Unal A, et al. Simulation of 137Cs transport and deposition after the Chernobyl Nuclear Power Plant accident and radiological doses over the Anatolian Peninsula. Sci Total Environ. 2014; 74-88. utilizaram o Hysplit para simular a deposição de césio-137 sobre a Turquia, a partir dos dados do Atlas de Césio na Europa (publicado em 1998), que contém as informações do acidente, mas não contempla o território da Turquia. Os autores também estimaram as doses radiológicas efetivas de concentrações de ar e deposição simuladas, as quais chegaram a 0,15 milisievert (mSv)/ano na parte nordeste da Turquia, o que revelou contaminação dentro dos limites admissíveis propostos pela Agência Internacional de Energia Atômica, que é de 1 mSv/ano para indivíduos em geral (não expostos ocupacionalmente).

Felsberg et al.2020 Felsberg A, Ross JO, Schlosser C, et al. Simulating the mesoscale transport of krypton-85. J Environ Radioact. 2018; (181):85-93. avaliaram a capacidade do Hysplit de simular a dispersão do radiokryton-85 liberado por uma usina de reprocessamento de combustível nuclear no noroeste da França. Os pesquisadores apresentam que esse material é um importante marcador para testar o desempenho de modelos de dispersão atmosférica devido à sua meia-vida, inércia química e baixa solubilidade em água. Embora os resultados tenham demonstrado uma leve tendência de subestimar as concentrações encontradas, há uma correlação significativa e uma dispersão moderada entre observações e simulações.

Outra pesquisa abordou um cenário de acidente real ao investigar o vazamento e posterior incêndio de uma carga química contendo dicloroisocianurato de sódio dihidratado, nitrato de potássio, herbicidas, inseticidas, resinas e óleo isolante, em uma área de cargas empresariais do Porto de Guarujá, em São Paulo, em 14 de janeiro de 2016. Silva et al.2121 Silva CM, Tsuruta F, Rodrigues JC, et al. Simulação das Trajetórias de Poluentes em Eventos Naturais e Antropogênicos. Rev. Virtual Química. 2018; 10(6):1828-48. simularam o espalhamento dos poluentes emitidos durante o evento e puderam verificar que, embora tivera um alcance pequeno, em escala regional, poderia gerar graves consequências para a saúde pública e ambiental da região do entorno do Porto, já que foram liberados diversos gases tóxicos.

Com relação aos cenários hipotéticos, An et al.2222 An HY, Kang Y-H, Song S-K, et al. Atmospheric Dispersion Characteristics of Radioactive Materials according to the Local Weather and Emission Conditions. J Radiat Prot Res. 2016; 41(4):315-327. usaram dados dos desastres nucleares de Chernobyl e de Fukushima, provenientes do Atmospheric Transport Model Evaluation Study e da Tokyo Electric Power Company, como base para avaliar as condições climáticas das áreas circunvizinhas e as condições de emissão de materiais radioativos em caso de acidentes na Usina Nuclear de Kori, situada na Coreia do Sul. O estudo demonstrou que, mesmo num raio próximo à usina, a distribuição e os níveis de concentração de césio podem variar de acordo com a mudança das condições meteorológicas, com a topografia da região e com o número de partículas emitidas. Os autores apontam que os principais resultados poderiam ser utilizados na formulação de medidas de prevenção eficientes e sistemáticas para desastres nucleares e na obtenção de respostas de emergência contra acidentes de radiação.

Ramana, Nayyar e Schoeppner2424 Ramana MV, Nayyar AH, Schoeppner M. Nuclear High-level Waste Tank Explosions: Potential Causes and Impacts of a Hypothetical Accident at India's Kalpakkam Reprocessing Plant. Sci. Glob. Secur. 2016; 24(3):174-203. demostraram os resultados de uma possível explosão na Usina de Reprocessamento de Kalpakkam, na Índia. Os cenários simulados de uma liberação radioativa, assumida como sendo 10% do inventário de apenas um dos tanques da usina, mostram que tal acidente poderia acarretar sérias consequências para a saúde pública, com quase 47.000 mortes relacionadas ao câncer, aumento na incidência dessa patologia em cerca de 97.000 casos e a contaminação de grandes áreas por décadas.

Pirouzmand, Kowsar e Dehghani2525 Pirouzmand A, Kowsar Z, Dehghani P. Atmospheric dispersion assessment of radioactive materials during severe accident conditions for Bushehr nuclear power plant using HYSPLIT code. Prog. Nucl. Energy. 2018(108):169-178. apresentam um estudo de caso da Usina Nuclear de Bushehr-1, no Iran, onde avaliaram a concentração atmosférica de 23 tipos de material radioativo liberados e as doses efetivas externas recebidas por populações dentro de um raio de 30 km da instalação. Os pesquisadores verificaram que as maiores doses seriam esperadas a 3 km ao norte e 4 km a noroeste da localização do reator, além disso, as doses efetivas máximas para os todos os cenários de emissão ultrapassaram de forma alarmante (no mínimo, mais de 40 vezes).

Também no Iran, Vali et al.2626 Vali R, Adelikhah ME, Feghhi SAH, et al. Simulation of radionuclide atmospheric dispersion and dose assessment for inhabitants of Tehran province after a hypothetical accident of the Tehran Research Reactor. Radiat. Environ Biophys. 2018. avaliaram os efeitos de um acidente hipotético após um terremoto na área próxima ao Reator de Pesquisas de Tehran, simulando a dispersão de elementos radioativos e calculando o total anual da dose equivalente efetiva que poderia ser recebida por residentes da cidade de Teerã e partes de suas províncias vizinhas. Porém, foi encontrado que as doses máximas se mostraram inferiores aos limites de dose adotados pelos órgãos regulatórios, e, dessa forma, não haveria necessidade de ação protetora caso ocorresse esse tipo de acidente.

O modelo Hysplit também foi confrontado com outros modelos de dispersão1414 Leelossy Á, Mészáros R, Kovács A, et al. Numerical simulations of atmospheric dispersion of iodine-131 by different models. PLoS One. 2017 [acesso em 2019 ago 24]. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0172312.
https://journals.plos.org/plosone/articl...
,1616 Katata G, Chino M, Kobayashi T, et al. Detailed source term estimation of the atmospheric release for the Fukushima Daiichi Nuclear Power Station accident by coupling simulations of an atmospheric dispersion model with an improved deposition scheme and oceanic dispersion model. Atmos Chem Phys. 2015; 15:1029-1070.,2727 Auxier JP, Auxier JD, Hall HL. Review of current nuclear fallout codes. Journal of Environmental Radioactivity. 2017; (171):246-252.. Auxier, Auxier e Hall2727 Auxier JP, Auxier JD, Hall HL. Review of current nuclear fallout codes. Journal of Environmental Radioactivity. 2017; (171):246-252. compararam os códigos Defense Land Fallout Interpretative Code (Delfic), Hazard Prediction and Assessment Capability (HPAC), Hysplit e Fallout Dispersion Code (FDC) para prever as consequências de armas químicas e nucleares com o intuito de diminuir o tempo de resposta para que o governo atue frente ao evento. Os autores afirmaram que, mesmo com algumas diferenças nos resultados, a maioria dos códigos analisados mostrou-se confiável, porém, os melhores modelos a serem usados na avaliação de um cenário de pós-detenção foram o FDC ou Delfic.

Katata et al.1616 Katata G, Chino M, Kobayashi T, et al. Detailed source term estimation of the atmospheric release for the Fukushima Daiichi Nuclear Power Station accident by coupling simulations of an atmospheric dispersion model with an improved deposition scheme and oceanic dispersion model. Atmos Chem Phys. 2015; 15:1029-1070. realizaram a comparação das simulações numéricas dos modelos Hysplit, Zeroth Order Lagrangian Dispersion Model (MLDP0) e Numerical Atmospheric-dispersion Modelling Environment (Name) durante o acidente na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, em 2011. Os resultados obtidos demostraram concordância com a concentração aérea de radionuclídeos e com a deposição superficial de césio-137 no leste do Japão.

Já Leelössy et al.1414 Leelossy Á, Mészáros R, Kovács A, et al. Numerical simulations of atmospheric dispersion of iodine-131 by different models. PLoS One. 2017 [acesso em 2019 ago 24]. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0172312.
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adotaram o Hysplit como modelo de referência frente aos modelos WRF-Chem Eulerian on-line e Raptor Lagrangian para simular a dispersão da pluma radioativa e a distribuição do iodo-131 na Europa Central. No referido estudo foi possível verificar que a dispersão em escala continental é amplamente dominada pelas características atmosféricas e pela incerteza do vento. Além disso, os autores citam que o Hysplit foi extensivamente aplicado para pesquisa e apoio à decisão no caso do acidente de Fukushima.

Rolph, Ngan e Draxler2828 Rolph GD, Ngan F, Draxler RR. Modeling the fallout from stabilized nuclear clouds using the HYSPLIT atmospheric dispersion model. J Environ Radioact. 2014; (136):41-55. analisaram o modelo Hysplit contra as medidas de precipitação nuclear de seis testes nucleares conduzidos entre 1951 e 1957, em Nevada, nos Estados Unidos. Segundo os autores, o modelo foi capaz de reproduzir os padrões gerais de direção e deposição, porém, as simulações de plumas usando dados meteorológicos do Weather Research and Forecasting (WRF) tiveram desempenho mais consistente do que as simulações de plumas usando dados provenientes do National Centers for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research Reanalysis Project (NNRP).

GeYang e Ou2929 GeYang, Ou W. Dynamic surveillance system for contamination accidents in chemical industry park based on internet of things. In: Chemical engineering transactions [internet]. 2018. p. 547-52. [acesso em 2018 dez 16]. Disponível em: www.aidic.it/cet.
www.aidic.it/cet...
utilizaram o Hysplit como componente de um sistema de vigilância estruturado a partir do princípio da Internet das Coisas, conceito tecnológico em que objetos e condições do cotidiano estão conectados à internet. Esse sistema age de forma inteligente e sensorial, a partir da interação entre ‘mundo real’ e ‘mundo digital’. Esses mesmos autores sinalizam que essa integração tem efeitos positivos sobre riscos ambientais, já que possui forte acesso à informação, entrega e capacidade de solução.

Todos os artigos avaliados demonstraram a aplicabilidade e a multifuncionalidade do Hysplit, principalmente em razão de suas principais características: trabalhar com volume de cálculo menor e levar menos tempo para obter os resultados, em comparação com outros modelos de dispersão atmosférica. A utilização do modelo tanto em cenários hipotéticos quanto em cenários reais também revelou a competência desse código.

O quadro 2 apresenta as principais características dos estudos selecionados, tais como: tipo de evento analisado; fase da gestão QBRN; escala espacial adotada; tipo de trajetória simulada; e origem dos dados meteorológicos.

Quadro 2
Caracterização dos estudos incluídos na pesquisa. Global Data Assimilation System (GDAS)

Somente foram identificados artigos referentes ao transporte, à dispersão e à deposição de materiais radioativos ou químicos, como os eventos anteriormente mencionados (Fukushima, Chernobyl, incêndio no Porto de Guarujá, em São Paulo). Nenhum artigo abordou o contexto de agentes biológicos. Todavia, cabe ressaltar que, apesar desse resultado, já existem grupos de pesquisa demonstrando tal aplicação1010 Van Leuken JPG, Swart AN, Havelaar AH, et al. Atmospheric dispersion modelling of bioaerosols that are pathogenic to humans and livestock - A review to inform risk assessment studies. Microb Risk Anal [internet]. 2016; 1:19-39 [acesso em 2018 abr 25]. Disponível em: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2352352215000067.
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,1212 Jamolin K, Saltzman J, Schaefer D, et al. Improving the timeliness and response to an aerosolized Anthrax attack in the Metropolitan Washington, D.C. Region. Team BIOCOUNTER at UMD in College Park, MD [internet]. 2013 [acesso em 2018 maio 20]. Disponível em: https://drum.lib.umd.edu/handle/1903/13877.
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,3030 Prinslow K. Spatial Analysis Of A Bioterrorist Attack On Four Major United States Cities Using An Aerosolized Hemorrhagic Fever Virus [internet]. Fort Hays State University; 2011 [acesso em 2018 abr 23]. Disponível em: http://scholars.fhsu.edu/theses%0Ahttp://scholars.fhsu.edu/theses/155.
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. Van Leuken et al.10 realizaram uma revisão acerca do uso de modelagens computacionais e dispersão de bioaerossóis; Jamolin et al.1212 Jamolin K, Saltzman J, Schaefer D, et al. Improving the timeliness and response to an aerosolized Anthrax attack in the Metropolitan Washington, D.C. Region. Team BIOCOUNTER at UMD in College Park, MD [internet]. 2013 [acesso em 2018 maio 20]. Disponível em: https://drum.lib.umd.edu/handle/1903/13877.
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adotaram o Hysplit para simular a liberação de esporos de antraz na área metropolitana de Washington. Prinslow3030 Prinslow K. Spatial Analysis Of A Bioterrorist Attack On Four Major United States Cities Using An Aerosolized Hemorrhagic Fever Virus [internet]. Fort Hays State University; 2011 [acesso em 2018 abr 23]. Disponível em: http://scholars.fhsu.edu/theses%0Ahttp://scholars.fhsu.edu/theses/155.
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simulou a liberação do vírus ebola em distintas áreas dos Estados Unidos. Todos esses estudos demonstraram as capacidades e potencialidades do modelo Hysplit frente à simulação de bioaerossóis, porém, não fazem uma leitura profunda entre os seus resultados e a gestão de eventos QBRN.

Onze artigos apresentaram características da simulação mais relacionadas à fase de planejamento. Desses, quatro trabalhos estão potencialmente vinculados à fase de prevenção. Outros quatro trabalhos demostraram a aplicabilidade do modelo, estando mais voltados para a fase de resposta, sendo que dois também estavam associados à fase de recuperação. Perante as características do modelo e pelas informações apresentadas pelos artigos avaliados, considera-se que o Hysplit pode ser empregado durante todo o ciclo da gestão de eventos QBRN, como ferramenta de suporte na gestão de cenários que envolvam ameaças QBRN.

A variável referente às escalas espaciais foi subdividida, conforme a classificação de Oken (1998), nas categorias: microescala (10 a 100 m); média escala (100 m a 500 m); local (50 m a 4 km); urbana (4 a 100 km); regional (100 km a 1000 km); continental (1000 km a 10000 km); global >10000 km)3131 Oke TR. Urban environments. In: Bailey, Oke TR, Rouse WR, organizadores. The Surface Climates of Canada, Montréal: McGill-Queen's University Press; 1997. p. 303-327.. As escalas espaciais mais empregadas foram a urbana e a global (quadro 2).

Para simular os processos de transporte e dispersão, o tipo de trajetória mais adotado foi o forward. Esse tipo de trajetória possui a finalidade de descrever processos de transporte de massas de ar e foi adotado em 13 dos 15 artigos selecionados. A trajetória do tipo backward, cuja principal função é determinar a origem das massas de ar, foi utilizada em 2 estudos. Essas funções demonstram a multifuncionalidade do Hysplit.

Quanto à utilização dos dados meteorológicos, dois grupos de pesquisadores coletaram os dados no próprio local, seis empregaram bases de dados locais e sete artigos empregaram a base de dados GDAS, o que demonstra a versatilidade do modelo com relação ao tipo de dado que os usuários podem adotar.

Todos os artigos avaliados citaram a relevância das informações geradas pelo Hysplit perante a preparação e a resposta frente a distintas ameaças QBRN, o que sinaliza que esse modelo pode ser uma ferramenta útil na gestão de eventos QBRN.

Conclusões

Esta revisão permitiu conhecer o potencial do uso do código Hysplit enquanto modelo matemático para compreender o transporte, a dispersão e a deposição de ameaças QBRN liberadas na atmosfera, que podem gerar graves consequências à saúde humana e impactar diversas matrizes ambientais.

Os artigos recuperados nesta revisão demonstraram as peculiaridades, capacidades, limitações, robustez e precisão do Hysplit em distintos contextos. Além disso, o Hysplit revelou-se como um recurso tecnológico mundialmente utilizado, principalmente em pesquisas vinculadas às ciências atmosféricas.

Os dados produzidos pelas simulações geradas por esse código podem revelar quais áreas são potencialmente impactadas em um determinado evento ou a região de origem de elementos dispersos no ar. Além disso, o Hysplit gera informações que podem corroborar outros instrumentos de avaliação de risco, como, por exemplo, a avaliação dose-resposta em uma determinada população exposta. Ele também demostrou ser um interessante componente de sistemas de vigilância de acidentes baseados em internet das coisas.

Ademais, o Hysplit pode ser agregado como uma ferramenta de suporte às decisões perante as distintas fases da gestão de eventos QBRN, auxiliando em atividades como: identificação de fontes emissoras; delimitação das zonas de segurança (quente, morna e fria); definição de rotas de fuga em processos de evacuação. Porém, este estudo revela a necessidade de ampliar o conhecimento teórico e prático desse modelo, particularmente, em âmbito nacional.

  • Suporte financeiro: não houve

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2019

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2019
  • Aceito
    21 Ago 2019
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
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