Conexão SUS: um canal do YouTube como instrumento de formação educacional e fortalecimento do Sistema Único de Saúde

Conexão SUS: a YouTube channel for health education and as tool for the strengthening of the Brazilian Unified National Health System (SUS)

Maria Gerusa brito Aragão Mariana Ramalho de Farias Sobre os autores

RESUMO

Trata-se da análise estatística de alcance e audiência do canal Conexão SUS, através dos dados do YouTube Studio. Foram analisados o alcance do canal e o engajamento do público de 2016 a 2021, avaliando-se o padrão anual de: número de inscritos, visualizações, impressões, compartilhamentos, marcações ‘gostei’, marcações ‘não gostei’ e tempo de exibição em horas. A sazonalidade do número de visualizações do canal foi avaliada através de análise do mapa de calor em cluster do número de visualizações diárias do canal de 2016 a 2021. Ademais, foi avaliado o comportamento dos usuários do canal com base nas interações dos usuários com os assuntos abordados pelos vídeos do canal. Assim, foi observado que o canal conta com 19.625 inscritos, 984.347 visualizações, 36.796 horas assistidas e 4.259.577 impressões. A audiência do canal conta com participação de 73,3% de mulheres, com idade entre 25 e 34 anos, que acessam os conteúdos produzidos preferencialmente por dispositivo móvel. Atenção básica é o conteúdo com maior engajamento e alcance do canal. O canal Conexão SUS se mostrou uma ferramenta propulsora da comunicação sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) nas redes sociais.

PALAVRAS-CHAVE
Rede social; Educação em saúde; Comunicação em saúde; Sistema Único de Saúde

ABSTRACT

This manuscript is an analysis of the statistics of the reach and audience of the YouTube Channel Conexão SUS, performed with data provided by the YouTube Studio. Data of audience and engagement of the channel from 2016 to 2021 were studied, evaluating the annual pattern of: number of subscribers, views, impressions, shares, ‘like’ tags, ‘did not like’ tags and watched time in hours. The seasonality of the number of channel views was evaluated through cluster heat map analysis of the number of daily views of the channel from 2016 to 2021. In addition, the behavior of the channel’s users was evaluated based on the contents covered by the channel’s videos, which were categorized into: Primary Health Care, legislation, health system management and health surveillance. Thus, it was observed that the channel accumulates 19.625 subscribers, 984.347 views, 36.796 hours watched and 4.259.577 impressions. The channel’s audience includes the participation of 73.3% of women, aged between 25 and 34 years old, who access the content preferably by their mobile device. Primary care is the content with highest engagement and audience of the channel. The Conexão SUS channel proved to be a driving tool for communication about the Unified Health System (SUS) in social networks.

KEYWORDS
Social networking; Health education; Health communication; Unified Health System

Introdução

Recentemente, comemoraram-se os 30 anos da constitucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), através da implantação das Leis nº 8.080 e nº 8.142/1990. Durante essas três décadas, o SUS tem alcançado incontestáveis avanços no atendimento às necessidades e na garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros, mantendo um patamar de excelência em termos de ações, práticas e conhecimentos11 Castro MC, Massuda A, Almeida G, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019 [acesso em 2021 maio 31]; (394):345-56. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/laneur/article/PIIS0140-6736(19)31243-7/fulltext.
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, 22 Santos NR. 30 years of SUS: The beginning, the pathway and the target. Ciênc. Saúde Colet. 2018 [acesso 2021 maio 31]; 23(6):1729-36. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972482/.
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. Nessa jovem jornada, o SUS também enfrentou dificuldades de implantação, expansão e financiamento, mas provou-se protagonista no enfrentamento de problemas como a pandemia de Covid-1911 Castro MC, Massuda A, Almeida G, et al. Brazil’s unified health system: the first 30 years and prospects for the future. Lancet. 2019 [acesso em 2021 maio 31]; (394):345-56. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/laneur/article/PIIS0140-6736(19)31243-7/fulltext.
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, 22 Santos NR. 30 years of SUS: The beginning, the pathway and the target. Ciênc. Saúde Colet. 2018 [acesso 2021 maio 31]; 23(6):1729-36. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972482/.
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, 33 Bousquat A, Akerman M, Mendes A. Pandemia de covid-19: o SUS mais necessário do que nunca. Rev. USP. 2021 [acesso em 2021 maio 19]; (128):13-26. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/185393.
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, mostrando que a existência de um sistema de saúde público e universal é mister em situação de crise sanitária33 Bousquat A, Akerman M, Mendes A. Pandemia de covid-19: o SUS mais necessário do que nunca. Rev. USP. 2021 [acesso em 2021 maio 19]; (128):13-26. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/185393.
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.

Nesse sentido, a construção e a defesa do SUS também perpassam a formação profissional, uma vez que sua presença nos componentes curriculares dos cursos de graduação prepara os estudantes para os desafios do trabalho em saúde pública e constrói uma rede de pessoas capacitadas para fortalecimento do sistema44 Batista KBC, Gonçalves OSJ. Formação dos profissionais de Saúde para o SUS: Significado e cuidado. Saude soc. 2011 [acesso em 2021 maio 19]. 20(4):884-9. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/9QMxSsmqMcqQPjXP9fbthCn/?lang=pt.
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. Todavia, hoje, as salas de aula não se limitam aos muros das universidades. Ensinar e aprender têm sido transformados pelas novas tecnologias55 França T, Rabello ET, Magnago C. As mídias e as plataformas digitais no campo da Educação Permanente em Saúde: debates e propostas. Saúde debate. 2019 [acesso em 2021 maio 19]; 43(esp1):106-15. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/GsRWdhS9VztCddQjNT46RkN/?lang=pt.
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, 66 De Benedictis A, Lettieri E, Masella C, et al. WhatsApp in hospital? An empirical investigation of individual and organizational determinants to use. PLoS One. 2019 [acesso em 2021 maio 19]; 14(1). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30633754/.
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, 77 Johnston MJ, King D, Arora S, et al. Smartphones let surgeons know WhatsApp: An analysis of communication in emergency surgical teams. Am J Surg. 2015 [acesso em 2021 maio 19]; 209(1):45-51. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25454952/.
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, as quais têm expandido as universidades para plataformas digitais, o que traz a possibilidade de ampliar a comunicação, popularizar conteúdos e expandir o acesso ao conhecimento sobre o SUS. O advento das redes sociais, hoje, com 3,8 bilhões de usuários88 We Are Social. Digital 2020: 3.8 billion people use social media - We Are Social. We Are Soc. 2020. [acesso em 2021 maio 19]. Disponível em: https://weareso-cial.com/blog/2020/01/digital-2020-3-8-billion-pe-ople-use-social-media.
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, deu início a uma explosão de compartilhamentos de informações por criadores de conteúdo99 Gandomi A, Haider M. Beyond the hype: Big data concepts, methods, and analytics. Int J Inf Manage. 2015 [acesso em 2021 maio 19]; 35(2):137-44. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0268401214001066.
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nas mais diversas áreas do conhecimento. O YouTube, por exemplo, tem revolucionado a maneira como as pessoas aprendem1010 Logan R. Using YouTube in Perioperative Nursing Education. AORN J. 2012 [acesso em 2021 maio 19]; 95(4):474-81. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S000120921200035X.
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, 1111 Knösel M, Jung K, Bleckmann A. YouTube, Dentistry, and Dental Education. J Dent Educ. 2011 [acesso em 2021 maio 19]; 75(12):1558-68. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22184594/.
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, 1212 O’Doherty D, Dromey M, Lougheed J, et al. Barriers and solutions to online learning in medical education – An integrative review. BMC Med Educ. 2018 [acesso em 2021 maio 19]; 18:130. Disponível em: https://bmcmededuc.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12909-018-1240-0.
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, uma vez que essa plataforma traz as salas de aula para as mãos das pessoas, possibilitando acesso a conteúdo a qualquer hora, em qualquer lugar1313 Orús C, Barlés MJ, Belanche D, et al. The effects of learner-generated videos for YouTube on learning outcomes and satisfaction. Comput Educ. 2016 [acesso em 2021 maio 19]; 95(2):54-69. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0360131516300070.
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. Dessa forma, a produção de conteúdo sobre o SUS nessas redes pode ser um instrumento de defesa, fortalecimento e popularização do sistema, bem como pode ser uma fonte de formação continuada para profissionais já inseridos nas redes de saúde.

Nesse sentido, os resultados da pesquisa ‘Políticas e práticas de comunicação no SUS: mapeamento, diagnóstico e metodologia de avaliação’1414 Araújo IS, Cardoso JM, Murtinho R. A comunicação no Sistema Único de Saúde: cenários e tendências. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación. 2009; 6(10):104-115. alertam para a necessidade de formar comunicadores sobre o SUS, ampliando e modernizando as relações com o público, utilizando ferramentas digitais. Os dados desse levantamento apontaram que quase não há investimento na formação e atualização das equipes de comunicação e destacaram, também, que os profissionais envolvidos com comunicação no âmbito do SUS, muitas vezes, não têm formação em saúde, voltando as estratégias comunicadoras mais para uma lógica de mercado do que para o trabalho em saúde pública. Nesse contexto, a apropriação das novas tecnologias pelos profissionais desde a formação universitária pode ser aliada no combate à desinformação55 França T, Rabello ET, Magnago C. As mídias e as plataformas digitais no campo da Educação Permanente em Saúde: debates e propostas. Saúde debate. 2019 [acesso em 2021 maio 19]; 43(esp1):106-15. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/GsRWdhS9VztCddQjNT46RkN/?lang=pt.
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, 1212 O’Doherty D, Dromey M, Lougheed J, et al. Barriers and solutions to online learning in medical education – An integrative review. BMC Med Educ. 2018 [acesso em 2021 maio 19]; 18:130. Disponível em: https://bmcmededuc.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12909-018-1240-0.
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, 1515 Chan BSK, Churchill D, Chiu TKF. Digital Literacy Learning In Higher Education Through Digital Storytelling Approach. J Int Educ Res. 2017 [acesso em 2021 maio 19]; 13(1):1-16. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1144564.pdf.
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e no compartilhamento de informação sobre o SUS, tendo em vista a importância e a credibilidade cada vez mais evidentes dadas às informações produzidas por instituições sérias, como as universidades públicas brasileiras. Assim, em junho de 2016, nasceu o Conexão SUS (https://www.youtube.com/c/Conexão/SUS), canal da plataforma YouTube, resultado do projeto de monitoria de graduação em Saúde Coletiva do curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral. A página foi criada com o propósito de compartilhar informações de maneira simples e clara sobre saúde pública, enfatizando o SUS como um direito de todos os cidadãos brasileiros.

Atualmente, o canal conta com mais de 19 mil inscritos e quase um milhão de visualizações, uma audiência orgânica e interessada em receber os conteúdos produzidos. Nesse aspecto, apesar da popularidade das redes sociais como ferramenta de estudo e obtenção de informações, poucos são os registros na literatura sobre o alcance, o engajamento e a audiência de páginas exclusivamente dedicadas à produção de conteúdo sobre o SUS. Dessa forma, as estatísticas do canal Conexão SUS ao longo de quase cinco anos de trabalho no YouTube podem fornecer informações para a formação de comunicadores em saúde, bem como podem revelar a importância da incorporação das redes sociais à extensão universitária, principalmente no que se refere à popularização de informações relevantes na garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros. Portanto, este trabalho objetiva avaliar a experiência do canal de YouTube Conexão SUS como instrumento de formação educacional e fortalecimento do SUS, através da análise estatística dos dados de alcance, engajamento e audiência do canal fornecidos pelo YouTube Studio para criadores de conteúdo.

Material e métodos

Trata-se de análise das estatísticas geradas pelo YouTube Studio para criadores de conteúdo referentes ao canal Conexão SUS (https://www.youtube.com/c/Conexão/SUS), o qual deriva de trabalhos de Monitoria de Projetos de Graduação em Saúde Coletiva do Curso de Odontologia Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral. Os dados coletados referem-se ao período entre 09/06/2016 (data de criação do canal) e 17/03/2021 (dia da coleta de dados).

Foram analisadas as características gerais do canal ao longo dos 4,7 anos em que o conteúdo está disponível. Consideraram-se alcance do canal e engajamento do público de 2016 a 2021, avaliando-se o padrão anual de: número de inscritos, número de visualizações, tempo de exibição em horas, número de impressões (quantidade de vezes que a miniatura do vídeo é exibida para os usuários do YouTube), número de compartilhamentos, número de marcações ‘gostei’ e número de marcações ‘não gostei’. Nos anos de 2016 e 2017, não constam registrados os números de impressões, pois o canal ainda não contava com o número mínimo de visualizações e inscritos para ter acesso a essa ferramenta. A série temporal de número de visualizações por dia foi avaliada, bem como foi estudado se havia um padrão de sazonalidade na audiência do canal através do mapa de calor da média mensal de visualização nos anos completos (janeiro a dezembro) em que o canal está ativo (2017, 2018, 2019, 2020). Os anos 2016 e 2021 foram excluídos desta análise, pois ambos não contam com a série temporal mensal completa. Foram analisadas, também, as características da audiência do canal através do estudo dos dados percentuais de idade e gênero do público, tipos de dispositivo utilizados para acessar o canal, sistema operacional do dispositivo e origem do tráfego de usuários do YouTube para o canal Conexão SUS.

Além disso, realizou-se uma análise do comportamento dos usuários do canal com base nos conteúdos abordados pelos vídeos. Os vídeos foram categorizados em áreas temáticas como: a) Atenção Básica à Saúde: Determinantes Sociais da Saúde, O que é o SUS, Princípios do SUS, Estratégia Saúde da Família, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Odontologia e o SUS, Agente Comunitário de Saúde e Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB); b) Legislação: legislação do SUS, constituição cidadã e SUS e Política Nacional de Humanização; c) Gestão: Gestão de Recursos do SUS, Gestão Participativa e Financiamento do SUS; d) Assistência à saúde: Assistência Farmacêutica e Vigilância à Saúde. Para o conteúdo com maior audiência, foi feito o detalhamento do número de visualizações e do tempo de exibição (h) por vídeo. Todos os dados foram avaliados utilizando o programa Excel do pacote Office Microsoft 365. Todos os dados utilizados para a construção deste trabalho estão disponíveis mediante solicitação às autoras.

Resultados

Ao longo dos 4,7 anos em que o canal Conexão SUS está ativo, somam-se 19.625 inscritos e 984.347 visualizações, que levaram a um total de 36.796 horas de conteúdo assistido. Destaca-se, ainda, que o canal acumula mais de 4 milhões de impressões e 18.315 compartilhamentos. O ano de 2017 destaca-se como o de maior crescimento para o canal em relação ao ano anterior, enquanto o ano de 2020 destaca-se como o ano de maior audiência do canal dentro do período em que a página está ativa (tabela 1). Com relação aos espectadores do canal, observou-se que a maioria é composta por mulheres (73,3%) com idade entre 25 e 34 anos. O público do canal acessa os conteúdos majoritariamente pelo dispositivo móvel (55,5%), equipado com sistema operacional Android (51,1%). Os espectadores encontram os conteúdos do canal através de busca textual no YouTube (41,3%) e assistem aos conteúdos na própria página do aplicativo (96,6%) (tabela 2).

Tabela 1
Perfil anual de alcance e engajamento para o canal Conexão SUS, de 2016 a 2021
Tabela 2
Caracterização da audiência do Canal Conexão SUS com relação à porcentagem de espectadores por gênero, idade, dispositivo utilizado, sistema operacional, origem do tráfego e local de reprodução dos vídeos, de 2016 a 2021

A avaliação da série temporal de número de visualizações por dia (gráfico 1) revelou que o canal Conexão SUS cresceu de uma média diária de 88,9 visualizações por dia (2016) para 469,5 em 2017; 484,5 em 2018; 668,1 em 2019; 700,5 em 2020; e 601,9 até março de 2021. A média de visualizações por dia, para o período de 2016 a 2021, é de 565,3, com o pico de 2.251 visualizações por dia, o qual foi registrado em 2018, próximo aos 1000 dias de criação do canal. A análise da série temporal demonstrou, também, que o número de visualizações apresenta um padrão de alta seguido de queda a cada 180 a 200 dias (gráfico 1).

Gráfco 1
Série temporal de número de visualizações por dia para o Canal Conexão SUS para o período 2016-2021

Essa sazonalidade está representada no mapa de calor (figura 1) para a média de visualização mensal para os anos completos (janeiro-dezembro) em que o canal Conexão SUS está ativo (2017-2020). O mapa de calor demonstra que a sazonalidade da média mensal de visualizações no canal Conexão SUS apresentou um padrão semelhante ao longo dos anos avaliados, com exceção do primeiro semestre de 2017. Foi observado que as maiores médias de visualização mensal se concentram nos meses de março a maio, no primeiro semestre, e de setembro a novembro no segundo semestre. Os meses de janeiro, julho e dezembro concentram a menor média de visualização mensal, padrão observado em todos os anos individualmente e, também, para o conjunto de dados do período 2017-2020.

Figura 1
Mapa de calor demonstrando a sazonalidade da média mensal de visualizações no canal para o período 2017-2020

Com relação à análise do conteúdo, observou-se uma preferência do público pela categoria atenção básica à saúde (782.571 visualizações), seguida pelas categorias gestão (79.973 visualizações), legislação (54.166 visualizações) e assistência à saúde (10.182) (tabela 3). A categoria atenção básica à saúde também liderou em número de marcações ‘gostei’ (17.784), compartilhamentos (16.609) e impressões (2.672.278), acumulando um total de 24.153,9 horas assistidas. Os vídeos mais assistidos do conteúdo de atenção básica foram aqueles sobre o Agente Comunitário de Saúde (214.994 visualizações), Princípios do SUS (139.782) e Estratégia Saúde da Família (135.479) (tabela 4).

Tabela 3
Número de visualizações, marcações gostei, compartilhamentos, impressões e tempo de exibição (h) para diferentes conteúdos do Canal Conexão SUS, no período 2016-2021
Tabela 4
Número de visualizações, tempo de duração do vídeo (min) e tempo de exibição (h) por vídeo para o conteúdo de atenção básica do canal Conexão SUS, no período 2016-2021

Discussão

Muito tem se discutido sobre os impactos da Internet na educação55 França T, Rabello ET, Magnago C. As mídias e as plataformas digitais no campo da Educação Permanente em Saúde: debates e propostas. Saúde debate. 2019 [acesso em 2021 maio 19]; 43(esp1):106-15. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/GsRWdhS9VztCddQjNT46RkN/?lang=pt.
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, 1212 O’Doherty D, Dromey M, Lougheed J, et al. Barriers and solutions to online learning in medical education – An integrative review. BMC Med Educ. 2018 [acesso em 2021 maio 19]; 18:130. Disponível em: https://bmcmededuc.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12909-018-1240-0.
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e na comunicação em saúde1515 Chan BSK, Churchill D, Chiu TKF. Digital Literacy Learning In Higher Education Through Digital Storytelling Approach. J Int Educ Res. 2017 [acesso em 2021 maio 19]; 13(1):1-16. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1144564.pdf.
https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ114...
, 1717 Goldstein CM, Murray EJ, Beard J, et al. Science Communication in the Age of Misinformation. Ann Behav Med. 2020 [acesso em 2021 maio 19]; 54(12):985-90. Disponível em: https://academic.oup.com/abm/article/54/12/985/6069337.
https://academic.oup.com/abm/article/54/...
, 1818 Ward JPT, Gordon J, Field MJ, et al. Communication and information technology in medical education. Lancet. 2001 [acesso em 2021 maio 31]; 357:792-6. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11253986/.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11253986...
. No cenário atual, também tem se demonstrado que as redes sociais têm grande influência no comportamento das populações. O padrão de busca de informação, inclusive, tem sido um fator preditivo da tomada de decisão1919 Qin L, Sun Q, Wang Y, et al. Prediction of number of cases of 2019 novel coronavirus (COVID-19) using social media search index. Int J Environ Res Public Health. 2020 [acesso em 2021 maio 31]; 17(7). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32244425/.
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, 2020 Jacobs W, Amuta AO, Jeon KC. Health information seeking in the digital age: An analysis of health information seeking behavior among US adults. Cogent Soc Sci. 2017 [acesso em 2021 maio 31]; 3(1):1302785. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/fu11/10.1080/23311886.2017.1302785.
https://www.tandfonline.com/doi/fu11/10....
. A crescente onda de compartilhamento de informações falsas também tem apontado para a necessidade de formação de comunicadores capazes de popularizar conteúdos sobre ciência e saúde2121 Zarocostas J. How to fight an infodemic. Lancet. 2020 [acesso em 2021 maio 31]; 395(10225):676. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30461-X/fulltext.
https://www.thelancet.com/journals/lance...
. Dessa forma, entidades governamentais, organizações nacionais e internacionais de saúde e de educação, universidades e professores têm se juntado aos mais de 3,8 bilhões de usurários das redes sociais na tentativa de crescerem como fontes seguras de informação. A esse respeito, uma busca simples realizada no YouTube (31/05/2021) utilizando a #SUS revelou existirem 25 mil vídeos e 9,8 mil canais na plataforma destinados a falar sobre assuntos relacionados ao sistema de saúde público brasileiro. Esses números revelam que há uma demanda de conteúdos sobre o SUS, mas poucos são os registros na literatura que exploram o engajamento do público nessas páginas. Por isso, este trabalho descreve a análise estatística dos dados de alcance e audiência do canal Conexão SUS, o qual é um instrumento de formação educacional e fortalecimento do SUS.

Os dados do perfil anual de alcance e engajamento do canal Conexão SUS (tabela 1) confirmam a demanda existente na rede social YouTube por conteúdos relacionados aos SUS. Os dados também destacam que, ao contrário do que acontece nos serviços de streaming de vídeo, os espectadores de conteúdo do YouTube são ativos na busca dessas informações, haja vista que interagem com o conteúdo produzido não somente visualizando-o, mas inscrevendo--se no canal, comentando e discriminando se gostaram ou não do conteúdo assistido. Nesse contexto, sabe-se que a efetivação das proposições ético-políticas do SUS dependem amplamente do conhecimento por parte dos cidadãos sobre aspectos básicos do sistema de saúde1414 Araújo IS, Cardoso JM, Murtinho R. A comunicação no Sistema Único de Saúde: cenários e tendências. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación. 2009; 6(10):104-115., 2222 Cardoso JM, Rocha RL. Communication interfaces and challenges in the Brazilian unified health system. Ciênc. Saúde Colet. 2018 [acesso em 2021 maio 31]; 23(6):1871-9. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972495/.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972495...
. A incorporação desse conhecimento na vida do cidadão brasileiro possibilita o entendimento do alcance do SUS como instrumento de garantia de direitos de saúde e cidadania2222 Cardoso JM, Rocha RL. Communication interfaces and challenges in the Brazilian unified health system. Ciênc. Saúde Colet. 2018 [acesso em 2021 maio 31]; 23(6):1871-9. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972495/.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29972495...
. Dessa forma, o Conexão SUS destaca-se como uma produção que impulsiona a apreensão do significado do SUS através da comunicação midiática nas redes sociais.

Nesse cenário, importa, também, discutir sobre quem está interessado em saber sobre o SUS e de onde essas pessoas estão aces-sando os conteúdos produzidos pelo canal. Os dados de audiência demonstram amplo interesse do público feminino jovem. Esses dados corroboram as estatísticas do censo da educação superior no Brasil, onde mulheres são a maioria nos cursos de saúde2323 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio de Teixeira. Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. Brasília: Inep; 2019. [acesso em 2019 maio 31]. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da--educacao-superior.
http://portal.inep.gov.br/web/guest/sino...
. Uma vez que os vídeos do canal Conexão SUS tratam de assuntos abordados nas disciplinas dos cursos profissionalizantes e de graduação da área da saúde, a audiência feminina no canal Conexão SUS talvez reflita o cenário brasileiro, onde mulheres são maioria em cursos como enfermagem, psicologia, nutrição, farmácia, fisioterapia, medicina e odontologia, que estão entre os 10 cursos com o maior número de mulheres matriculadas2323 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio de Teixeira. Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. Brasília: Inep; 2019. [acesso em 2019 maio 31]. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da--educacao-superior.
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. Mais da metade do público do canal acessa os vídeos por celulares equipados com sistema operacional Android. Esses achados se relacionam com a popularização dos dispositivos móveis no Brasil, que já conta com cerca de 265,3 milhões de aparelhos2424 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal. Rio de Janeiro: IBGE; 2019. [acesso em 2019 maio 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101705_informativo.pdf.
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, os quais também têm sido cada vez mais usados para o processo de ensino--aprendizagem. Observou-se, também, que as principais origens de espectadores para o canal são a pesquisa no YouTube e os vídeos sugeridos, revelando que há um tráfego orgânico de espectadores dentro do próprio canal. Isso significa que o espectador busca um tema, encontra um vídeo e segue assistindo aos demais conteúdos do canal. O conhecimento sobre a audiência pode servir para outras pessoas interessadas em criar conteúdo sobre o SUS adaptarem suas produções às ferramentas mais utilizadas pelos espectadores.

Com relação à audiência do canal ao longo dos anos, a série temporal (gráfico 1) demonstrou o efeito da idade do canal na média de visualizações diárias, a qual aumentou progressivamente de 2016 a 2021, demonstrando que vídeos mais antigos acumulam o maior número de visualizações quando comparados aos mais recentes. Além disso, observou-se um padrão cíclico de alta seguida de queda a cada 180 dias (6 meses). O mapa de calor (figura 1) explica essa sazonalidade, evidenciando uma tendência de alta de visualizações nos meses que equivalem aos períodos letivos e de queda nos meses que equivalem a recessos ou férias escolares/universitárias. Esses resultados apontam para o papel do canal Conexão SUS como ferramenta de educação em saúde. Nesse sentido, o canal possibilita aos seus criadores, todos alunos de graduação, a produção criativa de conteúdos, os quais se relacionam com as ementas dos cursos de graduação e incorporam as discussões realizadas em sala de aula, as vivências do trabalho extramuros e as próprias ideias e reflexões sobre o que foi aprendido. Para os espectadores, o canal é um espaço confiável, acessível e gratuito para estudo e atualização, compartilhamento de dúvidas e sugestões sobre o SUS.

No que diz respeito à análise de conteúdo, percebe-se que o público do canal tem uma preferência por temas relacionados à atenção básica à saúde. Os dados de engajamento desse conjunto de vídeos refletem a visão geral do canal Conexão SUS e enfatizam que as pessoas que buscam o canal têm interesse em informações básicas sobre o SUS. Os vídeos sobre agente comunitário de saúde, princípios do SUS e Estratégia de Saúde da Família são as maiores audiências do canal, somando quase 20 mil horas assistidas. Esses dados são relevantes, pois a internet é um importante espaço de comunicação em saúde no Brasil, uma vez que redes sociais são a segunda mídia mais utilizada pelos brasileiros, que passam, em média, 5 horas conectados diariamente88 We Are Social. Digital 2020: 3.8 billion people use social media - We Are Social. We Are Soc. 2020. [acesso em 2021 maio 19]. Disponível em: https://weareso-cial.com/blog/2020/01/digital-2020-3-8-billion-pe-ople-use-social-media.
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. Nesse sentido, reforça-se o papel de instituições confiáveis, como as universidades públicas brasileiras, na produção de conhecimento sobre o SUS para as redes sociais. A consolidação desse processo, todavia, depende do reconhecimento da necessidade da formação de comunicadores em saúde e, também, de investimentos em formação, treinamento e recursos para a produção de mídias1414 Araújo IS, Cardoso JM, Murtinho R. A comunicação no Sistema Único de Saúde: cenários e tendências. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación. 2009; 6(10):104-115..

Nesse cenário, a principal dificuldade para o crescimento do canal Conexão SUS foi ausência de recursos estruturais, como estúdios para gravação de imagem e som, computadores equipados com programas de edição e auxílio técnico para formação das equipes envolvidas no desenvolvimento de conteúdos para o canal. Essas dificuldades enfatizam a necessidade de adequação das universidades públicas brasileiras aos novos cenários de ensino e de aprendizagem, onde as redes sociais são relevantes instrumentos de compartilhamento de conhecimento e interação55 França T, Rabello ET, Magnago C. As mídias e as plataformas digitais no campo da Educação Permanente em Saúde: debates e propostas. Saúde debate. 2019 [acesso em 2021 maio 19]; 43(esp1):106-15. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/GsRWdhS9VztCddQjNT46RkN/?lang=pt.
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. O exemplo do canal Conexão SUS, há quase 5 anos no ar, reforça a importância de a universidade chegar à população através de seus projetos de ensino, pesquisa ou extensão, os quais podem ocupar as redes sociais e ampliar o alcance do conhecimento que, antes, poderia ficar restrito localmente. Esse novo alcance pode significar, inclusive, a divulgação de informação e compartilhamento de conhecimentos sobre instrumentos de garantia de direitos, como o SUS.

Considerações finais

Dessa forma, as estatísticas aqui discutidas revelam crescentes engajamento e alcance do canal Conexão SUS na comunicação de conteúdos sobre o SUS, reforçando o potencial do canal como instrumento de defesa do sistema público de saúde brasileiro. Além disso, os dados da audiência fornecem informações para outros desenvolvedores de conteúdo interessados em falar sobre o SUS e que precisam levantar dados sobre quem tem interesse por essa temática, qual tipo de dispositivo utiliza e de que forma encontra o conteúdo a ser produzido. A série temporal e o mapa de calor das visualizações apontam que o canal Conexão SUS também tem potencial como ferramenta de educação permanente e continuada, pois os conteúdos produzidos podem ser facilmente acessados por graduandos e graduados da área de saúde, podem ser utilizados por gestores interessados em atualizar as equipes de trabalho e também servem para o amplo público apreender noções básicas sobre o SUS.

  • Suporte financeiro: não houve
  • *
    Orcid (Open Researcher and Contributor ID).

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    05 Jul 2021
  • Aceito
    23 Dez 2021
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
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