• Fórum: raça, racismo e saúde no Brasil Fórum

    Faerstein, Eduardo
  • Aspectos epidemiológicos das desigualdades raciais em saúde no Brasil Fórum

    Chor, Dóra; Lima, Claudia Risso de Araujo

    Resumo em Português:

    Evidências empíricas nas áreas de educação, trabalho e justiça indicam que a discriminação racial é fator estruturante das desvantagens econômicas e sociais enfrentadas por minorias étnico-raciais no Brasil. Apesar disso, as desigualdades étnico-raciais, no âmbito da saúde, têm sido pouco investigadas. Apresentam-se indicadores que demonstram que as categorias raciais predizem, de forma importante, variações na mortalidade. A mortalidade precoce predomina entre indígenas e pretos; os níveis de mortalidade materna e por doenças cerebrovasculares são mais elevados entre as mulheres pretas; e no capítulo das agressões, os homens jovens pretos apresentam ampla desvantagem. Entre as possíveis causas das desigualdades étnico-raciais em saúde, destacam-se as diferenças sócio-econômicas que se acumulam ao longo da vida de sucessivas gerações. Sugere-se que a discriminação racial, com seus efeitos próprios na saúde, encontra-se na origem de grande parte dessas desigualdades. Instrumentos diretos e indiretos de avaliação do impacto da discriminação racial na saúde são discutidos. Propõe-se que o estudo do impacto, na saúde, das inter-relações entre classe social e raça é um campo promissor para a investigação e intervenção nas desigualdades de saúde.

    Resumo em Inglês:

    In Brazil, data on education, the labor market, and the law enforcement and court systems have already documented that racial discrimination is a structural factor underlying economic and social disadvantages experienced by racial/ethnic minorities. However, racial inequalities in health have received little investigation. According to health indicators presented in this paper, race is a strong predictor of variability in mortality. Early mortality is more frequent among indigenous and black Brazilians; mortality rates from stroke and especially maternal mortality rates are exceedingly higher among black women; violence occurs predominantly among young black men. Lifetime socioeconomic differences across successive generations have been identified as the main cause of racial inequality in health. It is also suggested that racial discrimination and its impact on health are at the origin of these inequalities. Instruments to directly or indirectly measure the impact of racial discrimination on health are discussed. The article suggests that investigation of the impact of both social class and race on health is the most productive approach, both for research as well as for policies to address health inequalities.
  • Para além da barreira dos números: desigualdades raciais e saúde Fórum

    Lopes, Fernanda

    Resumo em Português:

    Este artigo parte do conceito de saúde como o conjunto de condições integrais e coletivas de existência, influenciado pelo contexto político, sócio-econômico, cultural e ambiental. Desse modo, mostra que os estudos sobre as desigualdades, disparidades ou iniqüidades em saúde devem ir muito além da comparação de dados estatísticos, uma vez que o racismo nem sempre se apresenta de forma explícita e mensurável nas interações sociais. É preciso analisar as diversas experiências vivenciadas por negros e não-negros numa dada condição social, considerando sexo, idade, região de moradia, educação, origem familiar, ocupação, renda, orientação sexual, filiação religiosa, suas capacidades e incapacidades, sua rede social e suas possibilidades de acesso aos serviços e bens sociais. Por fim, o artigo enumera diretrizes que possam colaborar com o grande desafio de formulação de políticas públicas que combatam e erradiquem as imensas desigualdades entre brancos e negros.

    Resumo em Inglês:

    The point of departure for this article was the concept of health as a set of comprehensive and collective living conditions, influenced by the political, socioeconomic, cultural, and environmental context. The work thus shows that studies on health inequalities, disparities, or iniquities should extend beyond statistical data, since racism is not always explicit and measurable in social interactions. It is necessary to analyze the various life experiences of blacks and non-blacks in a given social condition, considering gender, age, place of residence, schooling, family origin, occupation, income, sexual orientation, religious affiliation, capacities and incapacities, social network, and possibilities for accessing social goods and services. Finally, the article lists guidelines that can assist in the major challenge of drafting public policies to combat and eradicate the immense inequalities between whites and blacks.
  • Mortalidade infantil segundo raça/cor no Brasil: o que dizem os sistemas nacionais de informação? Fórum

    Cardoso, Andrey Moreira; Santos, Ricardo Ventura; Coimbra Jr., Carlos E. A.

    Resumo em Português:

    O trabalho analisa a consistência dos Sistemas de Informações Sobre Mortalidade (SIM) e Sobre Nascidos Vivos (SINASC) como fontes de dados para a avaliação de desigualdades em raça/cor em saúde no Brasil. Foram obtidas taxas de mortalidade infantil (TMI) segundo raça/cor informada nas declarações de óbitos e nascidos vivos (NV), para o país e grandes regiões, no período 1999/2002. Estimou-se também a TMI segundo raça/cor a partir da incorporação dos óbitos e NV com raça/cor não informada por dois critérios. Compararam-se as TMI obtidas no estudo com as TMI estimadas por métodos indiretos. Foram também calculadas razões das TMI entre categorias de raça/cor. Observou-se redução substancial do número de óbitos e NV com raça/cor não informada no período. Em 2002, a mortalidade infantil das crianças pretas superou em 30,0% e 80,0% a mortalidade infantil das brancas e em 40,0% e 80,0% a das pardas; o diferencial de mortalidade entre crianças indígenas e brancas ou pardas variou de 40,0% a 90,0% a mais para as primeiras. Espera-se que a melhoria dos registros do SIM e do SINASC permita um aprofundamento da discussão sobre desigualdades em saúde segundo raça, cor e etnia no país.

    Resumo em Inglês:

    This study analyzes the consistency of the Brazilian national information systems on mortality (SIM) and live births (SINASC) as data sources for evaluating health inequalities according to race/color. Infant mortality rates (IMRs) were obtained according to race/color from death and live birth certificates for the country as a whole and its regions, for the years 1999-2002. The IMR was also estimated according to race/ color, based on the incorporation of deaths and live births with race/color not reported by two criteria. The study compared the IMRs obtained in the study with those estimated by indirect methods. The IMR ratios were also calculated between race/color categories. A substantial reduction was observed during the period in the number of deaths and live births with race/color not recorded. In 2002, infant mortality in black children was 30.0% to 80.0% higher than that of white children and 40.0% to 80.0% higher than that of brown or mixed-race children (pardas); infant mortality in indigenous children was 40.0% to 90.0% higher than that of white or brown children. It is hoped that improved recording in the SIM and SINASC databases will allow a more in-depth discussion of health inequalities according to race, color, and ethnicity in Brazil.
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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