Resumo em Português:
O texto apresenta um panorama dos estudos sobre aborto no país, no campo da Saúde Coletiva, apontando lacunas e desafios para a investigação. A maioria das pesquisas está concentrada em hospitais públicos, com mulheres admitidas para tratamento do aborto incompleto, restringindo-se portanto aos abortos que apresentaram complicações. Descrevem o perfil das mulheres, métodos e razões para o aborto e conseqüências imediatas para a saúde física. Entretanto, permanecem limites relacionados à necessidade de estudos para mensuração da incidência do aborto; para investigação das especificidades dos óbitos por aborto e casos de morbidade grave; para análise da relação do aborto com anticoncepção; para investigação das repercussões do aborto na saúde mental das mulheres e para incorporação da perspectiva masculina. É urgente o desenvolvimento de pesquisas de avaliação da atenção ao aborto nos serviços públicos. Os resultados dos estudos devem ser divulgados, contribuindo para superar a visão ideologizada da discussão do direito ao aborto no país.Resumo em Inglês:
This paper provides a review of abortion studies produced in the field of public health in Brazil, highlighting current research gaps and challenges. Most studies focus on women admitted to public hospitals for treatment of incomplete abortion, so their scope is limited to abortions presenting complications. Women's profiles, abortion methods, motives, and immediate consequences for women's physical health are also included. However, there remains a need for studies on the following aspects: measuring abortion incidence; investigating cases of post-abortion complications and death; analyzing the relationship between abortion and contraception; investigating the impact of abortion on women's mental health; and incorporating men's perspectives. There is an urgent need for evaluative research on abortion care in public services. Research results should be disseminated widely, so as to help overcome any ideological bias in the current debate on abortion rights in the country.Resumo em Português:
Tecem-se considerações teóricas, metodológicas e éticas acerca da violência contra a mulher como violência de gênero e objeto da Saúde Coletiva. São reflexões epistemológicas com base em cotidianos de pesquisas, com base em investigações qualitativas e quantitativas, populacional e com usuários de serviços de saúde, abordando-se mulheres e homens. Define-se a violência como tema complexo e sensível, de qualidade médico-social quanto à sua tomada teórico-metodológica, apontando-se a interdisciplinaridade como referencial para sua construção como objeto da saúde. Discutem-se as dificuldades na articulação de distintas ciências, metodologias e perspectivas teóricas. Aponta-se também a especial dinâmica entre o visível e o invisível em violência, com implicações para os desenhos de pesquisa, em particular na delimitação do empírico, o que se torna uma relevante questão diante das necessidades tecnológicas da intervenção em Saúde. Essas especificidades da violência colocam ainda questões éticas particulares para a produção do conhecimento, havendo necessidade de cuidados especiais como parte da qualidade metodológica da pesquisa. A ética da pesquisa mostra-se igualmente responsável pela cientificidade dos dados produzidos. Situações das pesquisas realizadas ilustram as considerações desenvolvidas.Resumo em Inglês:
This article discusses theoretical, methodological, and ethical aspects pertaining to violence against women as both a form of gender violence and a public health issue. The text provides epistemological reflections based on daily research experience with qualitative and quantitative, population-based, and service-user studies that address both women and men. Violence is defined as a complex and sensitive theme of a medical and social nature in terms of its theoretical-methodological approach, pointing to interdisciplinarity as the reference for its construction as an object of health. The article discusses the difficulties in linking the various sciences, methodologies, and theoretical perspectives. It also highlights the special dynamic between visible and invisible violence, with implications for research design, particularly for demarcating the object of study, a relevant issue given the technological needs of health intervention. These specificities of violence raise further ethical issues for the production of knowledge, and there is a need for special care as part of methodological quality in the research. Research ethics is also responsible for the scientificity of the resulting data. Situations stemming from specific studies are used to illustrate the article's commentary.Resumo em Português:
A eqüidade em saúde tem sido estudada principalmente a partir de uma perspectiva epidemiológica e pouca atenção tem sido dada às questões conceituais. Em grande parte dos estudos revisados, a eqüidade tem sido utilizada como sinônimo de igualdade, e seu oposto, a iniqüidade, como sinônimo de desigualdade. As tentativas de melhor precisar seus significados têm sido, em boa parte, descritivas, com lacunas no que diz respeito à discussão das relações entre eqüidade em saúde, justiça e o processo de determinação social da saúde-doença. Neste ensaio, pretendemos analisar criticamente a série significante diversidade, diferença, desigualdade, iniqüidade, distinção no que concerne à produção da saúde-doença-cuidado em grupos sociais e suas possibilidades de articulação a uma teoria social da saúde. Nesse percurso, estaremos apoiados, por um lado, no conceito de Perelman de eqüidade e em alguns dos argumentos de Heller sobre a justiça e, por outro lado, na sociologia das práticas de Bourdieu, com o objetivo de melhor desenvolver esses conceitos, procurando discutir implicações para a formulação de políticas públicas no campo da saúde.Resumo em Inglês:
Health inequalities have been studied mainly from an epidemiological perspective, with limited attention to conceptual issues. The terms "equity" and "equality" have often been used as synonyms, as have their opposites, "inequity" and "inequality". The few attempts to establish their meanings have been either purely descriptive or have failed to add to an understanding of the underlying dynamics in health-disease-related phenomena. The present essay explores the semantic series that includes difference, diversity, distinction, inequality, and inequity and its relationship to health phenomena in light of Perelman's concept of equity, Bourdieu's sociology, and some arguments in Heller's theory of justice, with the aim of contributing to the development of these concepts, while discussing their implications for policymaking in health.