Resumo em Português:
Segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 55 milhões de abortos ocorreram no mundo, entre 2010 e 2014, e 45% destes foram inseguros. No Brasil, dados sobre aborto e suas complicações são incompletos. Dados assistenciais estão somente disponíveis para o setor público e dados de mortalidade dependem de investigação do óbito. O objetivo do estudo foi descrever o cenário do aborto no país, utilizando dados públicos disponíveis para acesso nos diversos Sistemas de Informação - SIM (mortalidade), SINASC (nascidos vivos) e SIH (internação hospitalar). No período entre 2008 e 2015, ocorreram cerca de 200.000 internações/ano por procedimentos relacionados ao aborto, sendo cerca de 1.600 por razões médicas e legais. De 2006 a 2015, foram encontrados 770 óbitos maternos com causa básica aborto no SIM. Houve discreta redução dos óbitos por aborto ao longo do período, com variações regionais. Esse número poderia ter um incremento de cerca de 29% por ano se os óbitos com menção de aborto e declarados com outra causa básica fossem considerados. Entre os óbitos declarados como aborto, 1% foi por razões médicas e legais e 56,5% como aborto não especificado. A proporção de óbitos por aborto identificados no SIH, em relação ao total de óbitos por aborto identificados no SIM, variou de 47,4% em 2008 para 72,2% em 2015. Embora os dados oficiais de saúde não permitam uma estimativa do número de abortos no país, foi possível traçar um perfil de mulheres em maior risco de óbito por aborto: as de cor preta e as indígenas, de baixa escolaridade, com menos de 14 e mais de 40 anos, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, e sem companheiro.Resumo em Espanhol:
Entre 2010 y 2014, según la Organización Mundial de la Salud, se produjeron en el mundo cerca de 55 millones de abortos, además un 45% de los mismos fueron inseguros. En Brasil, los datos sobre el aborto y sus complicaciones son incompletos. Los datos asistenciales se encuentran solamente disponibles para el sector público y los datos de mortalidad dependen de la investigación sobre el fallecimiento. El objetivo del estudio fue describir el escenario del aborto en el país, utilizando datos públicos disponibles para su acceso en los diversos Sistemas de Información - SIM (mortalidad), SINASC (nacidos vivos) y SIH (internamiento hospitalario). Durante el período entre 2008 y 2015, se produjeron cerca de 200.000 internamientos/año por intervenciones relacionadas con el aborto, siendo cerca de 1.600 por razones médicas y legales. De 2006 a 2015, se encontraron 770 óbitos maternos con el aborto como causa básica en el SIM. Se produjo una discreta reducción de los fallecimientos por aborto a lo largo del período, con variaciones regionales. Este número podría sufrir un incremento de cerca de un 29% por año, si se consideraran los fallecimientos donde se menciona el aborto y se declaran con otra causa básica. Entre los óbitos declarados como aborto, un 1% fue por razones médicas y legales y un 56,5% como aborto no especificado. La proporción de óbitos por aborto identificados en el SIH, en relación con el total de óbitos por aborto identificados en el SIM, varió de 47,4% en 2008 a un 72,2% en 2015. A pesar de que los datos oficiales de salud no permitan una estimación del número de abortos en el país, fue posible trazar un perfil de mujeres con mayor riesgo de fallecimiento por aborto: mujeres afrodescendientes e indígenas, con baja escolaridad, con menos de 14 años y más de 40, viviendo en las regiones Norte, Nordeste y Centro-oeste, y sin pareja.Resumo em Inglês:
According to the World Health Organization, from 2010 to 2014, there were around 55 million abortions worldwide, 45% of which were unsafe. In Brazil, data on abortion and its complications are incomplete. Health care data are only available for the public sector and mortality data depend on investigations of deaths. This study sought to describe the situation of abortion in the country using public data available in the different Information Systems - SIM (mortality), SINASC (live births) and SIH (hospitalization). From 2008 to 2015, there were around 200,000 hospitalizations/year for procedures related to abortion, 1,600 of which for medical and legal reasons. From 2006 to 2015, we found 770 maternal deaths in SIM whose underlying cause was abortion. There was a discreet reduction in the number of deaths from abortion in the period, with regional variation. This number could be increased by around 29% per year if deaths with mentions of abortion and declared with a different underlying cause were considered. Among the deaths reported as resulting from abortion, 1% were abortions due to medical and legal reasons and 56.5% were non-specified abortions. The proportion of deaths from abortion identified in SIH, in relation to the total number of deaths from abortion identified in SIM, varied between 47.4% in 2008 and 72.2% in 2015. Although official health data do not allow us to estimate the number of abortions in Brazil, we were able to establish the profile of women at higher risk for death from abortion: black and indigenous women, with low educational levels, under 14 and over 40 years of age, living in the North Northeast and Central regions, without a partner.Resumo em Português:
Resumo: Este artigo objetivou compreender a objeção de consciência com base na análise das formações ideológicas que permeiam o acesso ao abortamento legal decorrente de violência sexual na concepção de trabalhadores e gestores que atuam em serviços de referência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa mediante a participação de 20 trabalhadores (seis exerciam, também, a gestão) desses serviços a um roteiro de entrevista semiestruturado. O método de análise usado foi a análise do discurso. Os resultados evidenciam que a objeção de consciência emergiu como elemento discursivo central às mesmas. A análise contextualizada dos discursos evidenciou uma instrumentalização da prerrogativa por razões ideológicas, confluindo para a organização dos resultados nas seguintes categorias: a instrumentalização da objeção de consciência e a desarticulação da rede; e a instrumentalização da objeção de consciência a fim de vigiar e punir. Conclui-se que a objeção de consciência como formação discursiva foi ressignificada, a fim de compor um complexo e refinado sistema de sabotagem interna - consciente e inconsciente - dos serviços de atendimento à mulher em situação de violência sexual, apesar dos marcos e avanços legais.Resumo em Espanhol:
Resumen: El objetivo de este artículo fue comprender la objeción de conciencia, a partir del análisis de las formaciones ideológicas que permean el acceso al aborto legal ocasionado por violencia sexual, en la concepción de trabajadores y gestores que actúan en servicios de referencia. Se trata de una investigación cualitativa mediante la participación de 20 trabajadores (seis ejercían, también, la gestión) de estos servicios en un guión de entrevista semiestructurado. El método de análisis utilizado fue el análisis del discurso. Los resultados evidencian que la objeción de conciencia emergió como elemento discursivo central a las mismas. El análisis contextualizado de los discursos evidenció una instrumentalización de la prerrogativa por razones ideológicas, confluyendo a la organización de los resultados en las siguientes categorías: la instrumentalización de la objeción de conciencia y la desarticulación de la red, así como la instrumentalización de la objeción de conciencia, a fin de vigilar y castigar. Se concluye que la objeción de conciencia como formación discursiva fue resignificada, con el fin de componer un complejo y refinado sistema de sabotaje interno - consciente e inconsciente - de los servicios de atención a la mujer en situación de violencia sexual, a pesar de los marcos y avances legales.Resumo em Inglês:
Abstract: This article sought to understand objection of conscience based on an analysis of the ideological formations that permeate access to legal abortion in cases of sexual violence in the perspective of workers and managers who work at reference centers. It is a qualitative research with semi-structured interviews of 20 workers (six of whom were also managers) of these services. The study used discourse analysis. Results show that objection of conscience emerged as a central discursive element. The contextualized analysis of the discourses showed an instrumentalization of the prerogative according to ideological reasons, flowing toward the organization of the following categories: the instrumentalization of objection of conscience and the disarticulation of the network; and instrumentalization of the objection of conscience in order to surveil and punish. We conclude that objection of conscience as discursive formation was re-signified so as to compose a complex and refined system of internal sabotage - both conscious and unconscious - of the health care services for women victims of sexual violence, despite the existing legal framework and advancements.Resumo em Português:
Resumo: O artigo apresenta os resultados da pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevistas semiestruturadas em profundidade com dez adolescentes moradoras de uma favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, Brasil, com idades entre 15 e 17 anos, e com experiência de aborto ilegal praticado entre 12 e 17 anos. Buscou-se examinar de modo mais efetivo a questão do aborto ocorrido na adolescência e as estratégias usadas pelas adolescentes para concretizá-lo em contexto ilegal. Foram evidenciados os métodos utilizados, os locais de realização e a maneira pela qual aconteceu o processo de realização do aborto. Os abortos foram realizados em clínicas clandestinas; no apartamento do amigo de um dos parceiros; e por meio do uso do remédio Cytotec (misoprostol). Os valores pagos variaram entre R$ 500,00 e R$ 2.500,00, e todos foram realizados sem o conhecimento ou participação dos responsáveis pelas adolescentes. Uma adolescente teve de recorrer a um serviço de saúde por conta de complicações resultantes do aborto. As entrevistadas contaram com amigas e/ou parceiros, e quase todas se encaminharam sozinhas para realizar o aborto, o que deve motivar uma reflexão sobre os riscos corridos e a solidão dessas adolescentes para a realização de um ato inseguro e ilegal. Conclui-se que o estudo sobre o aborto nesse momento da vida representa contribuições importantes para a compreensão da sexualidade e reprodução na adolescência.Resumo em Espanhol:
Resumen: El artículo presenta los resultados de la investigación cualitativa, realizada mediante entrevistas semiestructuradas en profundidad, con diez adolescentes residentes en una favela de la zona sur de Río de Janeiro, Brasil, con edades entre 15 y 17 años, y con experiencia de aborto ilegal, practicado entre los 12 y 17 años. Se buscó examinar de modo más efectivo la cuestión del aborto ocurrida en la adolescencia y las estrategias usadas por las adolescentes para concretizarlo en un contexto ilegal. Se evidenciaron los métodos utilizados, los locales de realización y la manera mediante la cual se dio el proceso de realización del aborto. Los abortos se realizaron en clínicas clandestinas; en el apartamento del amigo de uno de las parejas; y a través del uso del medicamento “Cytotec” (misoprostol). Los valores pagados variaron entre BRL 500,00 y BRL 2.500,00 y todos se realizaron sin el conocimiento o participación de los responsables de las adolescentes. Una adolescente tuvo que recurrir a un servicio de salud, debido a las complicaciones resultantes del aborto. Las entrevistadas contaron con amigas y/o parejas y casi todas se dirigieron solas a abortar, lo que debe motivar una reflexión sobre los riesgos asumidos y la soledad de estas adolescentes para la realización de un aborto inseguro e ilegal. Se concluye que el estudio sobre el aborto en ese momento de la vida representa contribuciones importantes para la comprensión de la sexualidad y reproducción en la adolescencia.Resumo em Inglês:
Abstract: This article presents the results of a qualitative study based on semi-structured in-depth interviews with ten adolescents, aged between 15 and 17 years, who live in a favela in the South Zone of Rio de Janeiro, Brazil, and who had experienced an illegal abortion between the ages of 12 and 17. We sought to examine more effectively the issue of abortion in adolescence and the strategies employed by adolescents in order to have an abortion within an illegal context. We unveiled the methods that were used, the locations where abortions took place and the manner in which the process of having an abortion happened. The abortions took place at clandestine clinics; at the apartment of a partner’s friend; and using the medication “Cytotec” (misoprostol). The values paid for the abortion ranged between BRL 500.00 and BRL 2,500.00 and all took place without the knowledge or participation of the adolescents’ legal guardians. One adolescent had to seek out a health service due to complications from the abortion. Informants relied on friends and/or partners and almost all were alone when they had their abortions, which should motivate a reflection regarding the risks taken and the solitude experienced by these adolescents in order to undergo an unsafe and illegal act. We conclude that the study of abortion at this life stage makes an important contribution to understanding sexuality and reproduction in adolescence.Resumo em Português:
Trata-se de investigação socioantropológica que situa o aborto como evento inscrito no quadro mais amplo do exercício da sexualidade heterossexual, das relações entre gêneros, do manejo contraceptivo e da reprodução. O objetivo da pesquisa foi evidenciar a teia de relações sociais que engendram processos de negociação e de decisão em torno da interrupção de gestações imprevistas e formas de realização do aborto, com base em narrativas sobre trajetórias afetivo-sexual, contraceptiva e reprodutiva de mulheres e homens, de diferentes classes sociais e gerações. Neste artigo, o foco recai na posição dos homens jovens diante da gravidez e do aborto voluntário, adotando-se uma perspectiva relacional de gênero para se analisar o fenômeno. O material empírico reúne 13 entrevistas em profundidade com homens de 18 a 27 anos, de camadas populares e médias, residentes no Rio de Janeiro, Brasil. A complexidade das relações de poder estabelecidas entre o casal, seus familiares e amigos engendra distintos desfechos possíveis em relação à participação masculina no evento: ciência do aborto a posteriori, na medida em que não foi consultado; participação consensual na tomada de decisões frente à gestação e aborto; desacordo entre o casal, prevalecendo a decisão feminina, a despeito do parceiro; constrangimento por parte do parceiro na decisão tomada pela jovem. A participação masculina no âmbito da reprodução e do aborto tem sido uma lacuna da literatura científica a ser enfrentada. Assumir a tensão instaurada entre gêneros na questão do aborto, entre autonomia reprodutiva feminina e responsabilidade masculina, é uma tarefa central para os que pesquisam o tema nas ciências sociais e saúde.Resumo em Espanhol:
Se trata de una investigación socioantropológica que sitúa al aborto como un evento inscrito en un cuadro más amplio del ejercicio de la sexualidad heterosexual, de las relaciones entre géneros, de la gestión contraceptiva y de la reproducción. El objetivo de la investigación fue evidenciar la tela de relaciones sociales que engendran procesos de negociación y de decisión, en torno a la interrupción de embarazos imprevistos y formas de abortar, basándose en narraciones sobre trayectorias afectivo-sexuales, contraceptivas y reproductivas de mujeres y hombres, de diferentes clases sociales y generaciones. En este artículo, el objetivo se centra en la posición de los hombres jóvenes ante el embarazo y el aborto voluntario, adoptándose una perspectiva de relación de género para analizar el fenómeno. El material empírico reúne 13 entrevistas en profundidad con hombres de 18 a 27 años, de capas populares y medias, residentes en Río de Janeiro, Brasil. La complejidad de las relaciones de poder establecidas entre la pareja, sus familiares y amigos, engendra distintos desenlaces posibles, en relación con la participación masculina en el evento: conciencia del aborto a posteriori, en la medida en que no fue consultado; participación consensuada en la toma de decisiones frente a la gestación y aborto; desacuerdo entre la pareja, prevaleciendo la decisión femenina, a pesar de su pareja; restricciones por parte del compañero sentimental, respecto a la decisión tomada por la joven. La participación masculina en el ámbito de la reproducción y del aborto ha sido una laguna en la literatura científica que debe abordarse. Asumir la tensión instaurada entre géneros en la cuestión del aborto, entre autonomía reproductiva femenina y responsabilidad masculina, es una tarea central para quienes investigan este tema en las ciencias sociales y de salud.Resumo em Inglês:
This is a social-anthropological study that situates abortion as an event inscribed within the broader framework of heterosexual sexuality, gender relationships, contraceptive and reproductive control. Its objective was to reveal the network of social relationships that engender negotiation and decision-making processes surrounding the interruption of unplanned pregnancies and the manners of carrying out abortions based on narratives on the affective-sexual, contraceptive and reproductive trajectories of women and men from different social classes and generations. The focus of this article is young men’s position in the face of pregnancy and abortion. We adopt a relational gender perspective in order to analyze the phenomenon. The empirical material comprises 13 in-depth interviews with lower- and middle-class men aged between 18 and 27 years living in Rio de Janeiro, Brazil. The complexity of the power relations established between the couple, their family members and friends engenders different possible outcomes with regard to male participation in the event: after-the-fact awareness of the abortion, due to not having been consulted; consensual participation in pregnancy and abortion-related decision-making; disagreement between the couple, with the woman’s decision prevailing over the man’s objections; the woman’s decision being coerced by her partner. Male participation in the sphere of reproduction and abortion is a gap in the scientific literature that must be confronted. To take on the tension that abortion creates between genders, between female reproductive autonomy and male responsibility, is a central task for those who research the subject in the social sciences and health fields.Resumo em Português:
O objetivo deste estudo é verificar a prevalência e os fatores associados ao aborto induzido no ingresso em uma coorte de mulheres vivendo com HIV/aids, no Município do Rio de Janeiro, Brasil, no período 1996-2016. O critério de elegibilidade para o ingresso na coorte era ser do sexo feminino ao nascimento, ter mais de 18 anos de idade e ter infecção comprovada pelo HIV. Na visita inicial, dados sobre aspectos sexuais, reprodutivos, comportamentais e da infecção pelo HIV foram obtidos durante entrevista face a face com o médico assistente. Foi calculada a prevalência de aborto induzido na vida e verificados os fatores associados ao aborto induzido por meio de regressão logística múltipla, para o total de mulheres e entre aquelas com gestação prévia. Do total de mulheres, 30,4% referiram algum aborto induzido na vida, sendo este valor de 33,5% em mulheres com gestação prévia. A frequência de aborto induzido relatado apresentou queda significativa no período analisado (41,7% de 1996-2000 vs. 22,5% de 2011-2016, p < 0,001). Os fatores associados ao aborto induzido, tanto para o total de mulheres quanto para aquelas com gestação prévia, foram o aumento da idade, escolaridade mais elevada, número de parceiros sexuais na vida ≥ 5, gestação na adolescência, uso de qualquer droga ilícita na vida e período de ingresso na coorte após 2005. Mudanças no perfil socioeconômico, sexual, reprodutivo e da infecção pelo HIV são explicações possíveis para a redução da prática do aborto no período. Estudos que utilizem métodos de aferição direta do aborto devem ser conduzidos em outras populações, para confirmar a tendência de queda do aborto induzido no país e seus determinantes.Resumo em Espanhol:
El objetivo de este estudio es verificar la prevalencia y los factores asociados al aborto inducido en el ingreso en una cohorte de mujeres, que viven con VIH/sida, en el municipio de Rio de Janeiro, durante el período 1996-2016. El criterio de elegibilidad para el ingreso en la cohorte era ser del sexo femenino al nacer, tener más de 18 años de edad y sufrir una infección comprobada por VIH. En la visita inicial, datos sobre aspectos sexuales, reproductivos, comportamentales y de infección por el VIH se obtuvieron durante la entrevista cara a cara con el médico asistente. Se calculó la prevalencia del aborto inducido en la vida y se verificaron los factores asociados al aborto inducido mediante regresión logística múltiple, para el total de mujeres y entre aquellas con gestación previa. Del total de mujeres, un 30,4% refería algún aborto inducido en la vida, siendo ese valor de un 33,5% en mujeres con gestación previa. La frecuencia de aborto inducido relatado presentó una caída significativa durante el período analizado (un 41,7% en el período 1996-2000 vs. 22,5% en el período 2011-2016, p < 0,001). Los factores asociados al aborto inducido, tanto para el total de mujeres, como para aquellas con gestación previa, fueron el aumento de la edad de la mujer, escolaridad más elevada, número de parejas sexuales en la vida ≥ 5, gestación en la adolescencia, consumo de cualquier droga ilícita en la vida y período de ingreso en la cohorte tras 2005. Cambios en el perfil socioeconómico, sexual, reproductivo y de infección por VIH son explicaciones posibles para la reducción de la realización de abortos durante el período. Se deben llevar a cabo estudios que utilicen métodos de medición directa del aborto en otras poblaciones para confirmar la tendencia de caída del aborto inducido en el país y sus determinantes.Resumo em Inglês:
The aim of this study was to verify the prevalence of induced abortion and associated factors at the time of inclusion in a cohort of women living with HIV/AIDS in the city of Rio de Janeiro, Brazil, from 1996 to 2016. Eligibility criteria for inclusion in the cohort were female sex at birth, age 18 years and older, and confirmed HIV infection. At the baseline visit, data on sexual, reproductive, and behavioral aspects and HIV infection were obtained through a face-to-face interview with the attending physician. Lifetime prevalence of induced abortion was calculated, and factors associated with induced abortion were verified by multiple logistic regression for all the women and for those with previous pregnancy. In the entire cohort of women, 30.4% reported a history of induced abortion, compared to 33.5% in women with previous pregnancy. Frequency of reported induced abortion showed a significant reduction during the period (41.7% in 1996-2000 versus 22.5% in 2011-2016, p < 0.001). Factors associated with induced abortion, both for the entire cohort and for the women with previous pregnancy, were age, schooling, ≥ 5 lifetime sexual partners, teenage pregnancy, lifetime use of any illicit drug, and inclusion in the cohort after the year 2005. Changes in the socioeconomic, sexual, reproductive, and HIV infection profile are possible explanations for the reduction in abortions during the period. Studies that use direct methods to measure abortion should be conducted in other populations to confirm the downward trend in induced abortion and its determinants in Brazil.Resumo em Português:
As desigualdades sociais no Brasil se refletem na busca por atenção pelas mulheres com abortamento, as quais enfrentam barreiras individuais, sociais e estruturais, expondo-as a situações de vulnerabilidades. São as negras as mais expostas a essas barreiras, desde a procura pelo serviço até o atendimento. O estudo objetivou analisar os fatores relacionados às barreiras individuais na busca do primeiro atendimento pós-aborto segundo raça/cor. A pesquisa foi realizada em Salvador (Bahia), Recife (Pernambuco) e São Luís (Maranhão), Brasil, com 2.640 usuárias internadas em hospitais públicos. Foi realizada regressão logística para análise das diferenças segundo raça/cor (branca, parda e preta), considerando-se “não houve barreiras individuais na busca pelo primeiro atendimento” como categoria de referência da variável dependente. Das entrevistadas, 35,7% eram pretas, 53,3% pardas e 11% brancas. Mulheres pretas tinham menor escolaridade, menos filhos e declararam mais o aborto como provocado (31,1%), após 12 semanas de gestação (15,4%). Relataram mais barreiras individuais na busca pelo primeiro atendimento (32% vs. 28% entre pardas e 20,3% entre brancas), tais como o medo de ser maltratada e não ter dinheiro para o transporte. Na regressão, confirmou-se a associação entre raça/cor preta e parda e barreiras individuais na busca de cuidados pós-aborto, mesmo após o ajuste por todas as variáveis selecionadas. Os resultados confirmam a situação de vulnerabilidade das pretas e pardas. A discriminação racial nos serviços de saúde e o estigma em relação ao aborto podem atuar simultaneamente, retardando a ida das mulheres ao serviço, o que pode configurar uma situação limite de maior agravamento do quadro pós-abortamento.Resumo em Espanhol:
Las desigualdades sociales en Brasil se reflejan en la búsqueda de atención sanitaria por parte de las mujeres que abortan, que enfrentan barreras individuales, sociales y estructurales, exponiéndolas a situaciones de vulnerabilidad. Las negras son las más expuestas a estas barreras, desde la búsqueda del servicio hasta la atención. El estudio tuvo como objetivo analizar los factores relacionados con las barreras individuales en la búsqueda de la primera atención post-aborto según raza/color. La investigación se realizó en Salvador (Bahia), Recife (Pernambuco) y São Luis (Maranhão), Brasil, con 2.640 pacientes internadas en hospitales públicos. Se realizó una regresión logística para el análisis de las diferencias según raza/color (blanca, mulata/mestiza y negra), considerándose “no tuvo barreras individuales en la búsqueda de la primera atención” como categoría de referencia de la variable dependiente. De las entrevistadas 35,7% eran negras, 53,3% mulatas/mestizas y 11% blancas. Las mujeres negras tenían menor escolaridad, menos hijos y declararon más el aborto como provocado (31,1%), tras 12 semanas de gestación (15,4%). Informaron más barreras individuales en la búsqueda de la primera atención (32% vs. 28% entre multas/mestizas y un 20,3% entre las blancas), tales como el miedo de ser maltratada y no tener dinero para el transporte. En la regresión se confirmó la asociación entre raza/color negro y mulato/mestizo y barreras individuales en la búsqueda de cuidados post-aborto, incluso tras el ajuste por todas las variables seleccionadas. Los resultados confirman la situación de vulnerabilidad de las negras y mulatas/mestizas. La discriminación racial en los servicios de salud y el estigma en relación con el aborto pueden actuar simultáneamente, retardando la ida de las mujeres al servicio de salud, lo que puede constituir una situación límite de mayor gravedad en el cuadro post-aborto.Resumo em Inglês:
Social inequalities in Brazil are reflected in women’s search for abortion care, when they face individual, social, and structural barriers and are exposed to situations of vulnerability. Black women are the most heavily exposed to these barriers, from the search for the service to the care itself. The study aimed to analyze factors related to individual barriers in the search for first post-abortion care according to race/color. The study was conducted in Salvador (Bahia State), Recife, (Pernambuco State) and São Luís (Maranhão State), Brazil, with 2,640 patients admitted to public hospitals. Logistic regression was performed to analyze differences according to race/color (white, brown, and black), with “no individual barriers in the search for first care” as the reference category in the dependent variable. Of the women interviewed, 35.7% were black, 53.3% brown, and 11% white. Black women had less schooling, fewer children, and reported more induced abortions (31.1%) and more second-trimester abortions (15.4%). Black women reported more individual barriers in the search for first care (32% vs. 28% in brown women and 20.3% in whites), such as fear of being mistreated and lack of money for transportation. Regression analysis confirmed the association between black and brown race/color and individual barriers in the search for post-abortion care, even after adjusting for all the selected variables. The results confirmed the situation of vulnerability for black women and brown women in Brazil. Racial discrimination in health services and abortion-related stigma can act simultaneously, delaying women’s access to health services, a limitation that can further complicate their post-abortion condition.Resumo em Português:
Resumo: O objetivo deste artigo é analisar as práticas e significados em torno da ultrassonografia obstétrica (USG) em mulheres com abortamento na maternidade pública em Salvador, Bahia, Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, etnográfica, que envolveu observação participante das interações entre mulheres, profissionais de saúde médicos e não médicos, na sala de USG de uma maternidade pública, durante três meses. A USG ocupa um lugar central no itinerário abortivo das mulheres e sua prática é incorporada à rotina institucional e definidora de condutas na atenção ao abortamento na maternidade em estudo. Nesse contexto, são produzidas categorias distintas de “mulheres com aborto”, cujo acionamento depende da interpretação da imagem ecográfica. A forma de significar o estado de saúde e a condição moral de uma mulher com suspeita de aborto se relaciona com a presença ou não de um feto vivo no seu útero, além da idade gestacional em que a tentativa ou efetivação do aborto aconteceu. Concluímos que, quando as evidências ecográficas indicam que houve (provavelmente) um aborto em estágios iniciais de uma gravidez, os próprios profissionais colaboram com as mulheres em desativar o processo semiótico que levaria à atribuição de um sentido de natureza humana ao concepto. Quanto mais tarde se interrompeu uma gestação, mais provável é que o processo de significação sobre as imagens sustente a ideia de que ali havia uma Pessoa. A moral hegemônica sobre aborto e sua criminalização modulam as construções simbólicas e as práticas em torno do exame de USG em mulheres com abortamento.Resumo em Espanhol:
Resumen: El objetivo de este artículo es analizar las prácticas y significados en torno a la ultrasonografía obstétrica (USG) con mujeres que abortaron en la maternidad pública en Salvador, Bahía, Brasil. Se trata de una investigación cualitativa, etnográfica, que implicó observación participante de las interacciones entre mujeres, profesionales de salud médicos y no médicos, en la sala de USG de una maternidad pública, durante tres meses. La USG ocupa un lugar central en el itinerario abortivo de las mujeres y su práctica está incorporada a la rutina institucional y definitoria de conductas en la atención del aborto en la maternidad en estudio. En ese contexto, se producen categorías distintas de “mujeres que abortan”, cuyo inicio del proceso depende de la interpretación de la imagen ecográfica. La forma de dar significado al estado de salud y la condición moral de una mujer, sospechosa de abortar, se relaciona con la presencia o no de un feto vivo en su útero, además de la edad gestacional en la que la tentativa o realización del aborto se produjo. Concluimos que, cuando las evidencias ecográficas indican que hubo (probablemente) un aborto en estadios iniciales de un embarazo, los propios profesionales colaboran con las mujeres en desactivar el proceso semiótico que conduciría a la atribución de un sentido de naturaleza humana al concepto. Cuanto más tarde se interrumpió una gestación, lo más probable es que el proceso de significación sobre las imágenes sustente la idea de que allí había un ser humano. La moral hegemónica sobre el aborto y su criminalización modulan las construcciones simbólicas y las prácticas en torno al examen de USG en mujeres que abortaron.Resumo em Inglês:
Abstract: This article aims to analyze the practices and meanings involved in obstetric ultrasound (USG) in women undergoing abortion at public maternity hospital in Salvador, Bahia, Brazil. This is a qualitative ethnographic study that included three months of participant observation in the interactions between these women and medical and non-medical staff in the USG room of a public maternity hospital. USG has a central place in women’s abortion itinerary, and its practice is incorporated into the institution’s routine and the definition of approaches to abortion care at the maternity hospital studied here. In this context, distinct categories of “women with abortion” are produced and mobilized according to the interpretation of the USG images. The way the health condition and moral status of a woman with suspected abortion are defined depends on the presence or absence of a live fetus in her uterus, in addition to the gestational age at which the attempted or completed abortion occurred. We conclude that when the USG evidence indicates that there was (probably) an abortion in the initial stages of a pregnancy, the health professionals themselves help the women by disconnecting the semiotic process that would result in assigning a sense of human nature to the embryo. The later a pregnancy is terminated, the more likely the process of defining the images will sustain the idea that there was a person there. The hegemonic morals on abortion and its criminalization in Brazil modulate the symbolic constructions and practices involved in the USG test in women experiencing abortion.Resumo em Português:
O objetivo do estudo aqui apresentado foi analisar a cobertura da grande imprensa nacional sobre o aborto em caso de Zika e examinar se esta reforçou os discursos já associados à prática ou se ampliou e qualificou a discussão sobre o tema. Trata-se de pesquisa qualitativa realizada com base na análise de 43 notícias sobre Zika/microcefalia/aborto publicadas pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo entre novembro de 2015 e dezembro de 2016. Baseando-se em conceitos do Jornalismo e da Análise do Discurso, identificamos as fontes presentes na cobertura e analisamos os argumentos por elas usados para justificar suas posições, além de estratégias, saberes e valores mobilizados nesta argumentação. Constatamos que os dois jornais privilegiaram fontes especializadas - médicos na Folha de S.Paulo e advogados e juristas em O Globo - e silenciaram as vozes de mulheres diretamente afetadas. Quanto à argumentação, as fontes favoráveis ao direito ao aborto em caso de Zika denunciaram, sobretudo, as injustiças sociais, enquanto as contrárias à proposta reacionaram o discurso em defesa da vida. Observamos a predominância de saberes de crença e valores morais na arena discursiva analisada, marcada ainda por analogias carregadas de sentidos negativos nos dois polos do debate. Comparando nossos dados aos de outros estudos sobre o aborto na mídia, consideramos que a cobertura da grande imprensa sobre Zika/microcefalia/aborto desempenhou um papel relevante na reconfiguração do discurso midiático sobre o tema, caracterizada por um enfoque mais técnico, pela pluralidade de vozes e posicionamentos, e por maior espaço reservado a argumentos favoráveis baseados em princípios constitucionais.Resumo em Espanhol:
El objetivo del estudio aquí presentado fue analizar la cobertura de la prensa nacional de gran tirada sobre el aborto en caso de zika, y examinar si esta reforzó discursos ya asociados a la práctica o amplió y proporcionó otros matices a la discusión sobre el tema. Se trata de una investigación cualitativa, realizada a partir del análisis de 43 noticias sobre zika-microcefalia-aborto publicadas por los periódicos O Globo y Folha de S.Paulo, entre noviembre de 2015 y diciembre de 2016. En base a conceptos del Periodismo y del Análisis del Discurso, identificamos las fuentes presentes en la cobertura y analizamos los argumentos usados por ellas para justificar sus posiciones, además estrategias, saberes y valores movilizados con esa argumentación. Constatamos que los dos periódicos privilegiaron fuentes especializadas - médicos en la Folha de S.Paulo y abogados y juristas en O Globo - y silenciaron las voces de mujeres directamente afectadas. En cuanto a la argumentación, las fuentes favorables al derecho al aborto, en el caso del zika, denunciaron sobretodo las injusticias sociales, mientras que las contrarias a la propuesta reaccionaron con el discurso en defensa de la vida. Observamos la predominancia de saberes relacionados con creencias y valores morales en el terreno discursivo analizado, marcado todavía por analogías cargadas de opiniones negativas en los dos polos del debate. Comparando nuestros datos con los de otros estudios sobre el aborto en los medios, consideramos que la cobertura de la prensa de gran tirada sobre zika-microcefalia-aborto desempeñó un papel relevante en la reconfiguración del discurso mediático sobre el tema, caracterizada por un enfoque más técnico, por la pluralidad de voces y posicionamientos, y por un mayor espacio reservado a argumentos favorables basados en principios constitucionales.Resumo em Inglês:
The objective of this study was to analyze the national press coverage of abortion in cases of Zika infection and examine whether it reinforced discourses already associated with the practice or broadened and qualified the discussion of the subject. It is a qualitative study based on the analysis of 43 news stories on Zika/microcephaly/abortion published in the newspapers O Globo and Folha de S.Paulo between November 2015 and December 2016. Based on concepts from Journalism and Discourse Analysis, we identified the sources present in the coverage and analyzed the arguments they used in order to justify their positions, in addition to the strategies, types of knowledge and values they mobilized in the argumentation. We found that both newspapers privileged specialized sources - physicians in Folha de S.Paulo and lawyers and legal scholars in O Globo - and silenced the voices of women directly affected by the epidemic. As for the argumentation, sources that were favorable to the right to have an abortion in cases of Zika infection mainly denounced social injustices, while those who oppose it used a defense-of-life discourse. We observed the predominance of knowledge derived from beliefs and moral values in the discursive arena we analyzed, which was further marked by analogies loaded with negative meaning on both sides of the debate. Comparing our data with those from other studies on abortion in the media, we consider that the media coverage of Zika/microcephaly/abortion played a relevant role in reconfiguring the media discourse on the subject, characterized by a more technical focus, by a plurality of voices and positions and by a greater attention afforded to favorable arguments based on constitutional principles.Resumo em Português:
O aborto medicamentoso ou farmacológico tem demonstrado ser um meio eficaz para a interrupção da gravidez. Entretanto, o treinamento de provedores no uso do misoprostol tem sido limitado. O presente artigo tem como objetivo identificar o grau de conhecimento dos médicos residentes em Ginecologia e Obstetrícia sobre aborto medicamentoso. Realizou-se um estudo transversal multicêntrico com residentes regularmente inscritos no programa de residência em Ginecologia e Obstetrícia de vinte e um hospitais de ensino. Foi utilizado um questionário de autorresposta. As respostas corretas a cada uma das alternativas foram identificadas e uma variável de resposta binária (≥ P70, < P70) foi definida pelo percentil 70 do número de perguntas sobre o misoprostol. Quatrocentos e sete médicos residentes devolveram o questionário, sendo que 404 estavam preenchidos e três em branco. A maioria (56,3%) dos residentes tinha até 27 anos de idade, era do sexo feminino (81,1%) e não vivia junto com um(a) companheiro(a) (70%). A maior proporção (68,2%) estava cursando o primeiro ou segundo ano da residência. Apenas 40,8% dos participantes acertaram 70% ou mais das afirmativas. Na análise múltipla, cursar o terceiro ano de residência ou superior (OR = 2,18; IC95%: 1,350-3,535) e ter participado do atendimento a uma mulher com abortamento induzido ou provavelmente induzido (OR = 4,12; IC95%: 1,761-9,621) mostraram-se associados a um maior conhecimento sobre o tema. Entre os médicos brasileiros residentes em Ginecologia e Obstetrícia, o conhecimento sobre o aborto medicamentoso é muito reduzido e constitui um obstáculo para o bom atendimento dos casos de interrupção legal da gestação.Resumo em Espanhol:
El aborto con medicamentos o farmacológico ha demostrado ser un medio eficaz para la interrupción del embarazo. No obstante, la capacitación de los médicos en el uso del misoprostol ha sido limitada. El objetivo de este artículo es identificar el grado de conocimiento de los médicos residentes en Ginecología y Obstetricia sobre el aborto con medicamentos. Se realizó un estudio transversal multicéntrico con residentes regularmente inscritos en el programa de residencia en Ginecología y Obstetricia de veintiún hospitales de enseñanza. Se utilizó un cuestionario de autorrespuesta. Las respuestas correctas de cada una de las alternativas fueron identificadas y una variable de respuesta binaria (≥ P70, < P70) se definió por el percentil 70 del número de preguntas sobre el misoprostol. Cuatrocientos siete médicos residentes devolvieron el cuestionario, siendo que 404 estaban cumplimentados y tres en blanco. La mayoría (56,3%) de los residentes tenía hasta 27 años de edad, eran de sexo femenino (81,1%); no vivía junto a un(a) compañero(a) (70%). La mayor proporción (68,2%) estaba cursando el primero o segundo año de residencia. Solamente un 40,8% de los participantes acertaron un 70% o más de las afirmaciones. En el análisis múltiple, estar en el tercer año de residencia o superior (OR = 2,18; IC95%: 1,350-3,535) y haber estado implicado en la atención a una mujer con aborto inducido o probablemente inducido (OR = 4,12; IC95%: 1,761-9,621) se mostraron asociados a un mayor conocimiento sobre el tema. Entre los médicos brasileños residentes en Ginecología y Obstetricia, el conocimiento sobre aborto con medicamentos es muy reducido y constituye en obstáculo para una buena atención de los casos de interrupción legal de la gestación.Resumo em Inglês:
Medical or drug-induced abortion has been proven as an effective means for termination of pregnancy. However, training of providers in the use of misoprostol has been limited. The current article aims to identify the degree of knowledge on medical abortion among Brazilian medical residents in Gynecology and Obstetrics. A multicenter cross-sectional study was performed with residents regularly enrolled in residency programs in Gynecology and Obstetrics in 21 teaching hospitals. A self-responded questionnaire was used. Correct responses to each of the alternatives were identified, and a binary response variable (≥ P70, < P70) was defined by the 70th percentile of the number of questions on misoprostol. Four hundred and seven medical residents returned the questionnaire, of which 404 were completed and three were blank. The majority (56.3%) of the residents were 27 years or younger, females (81.1%), and single or not living with a partner (70%). Two-thirds (68.2%) were in the first or second year of residency. Only 40.8% of the participants answered 70% or more of the questions correctly. In the multivariate analysis, enrollment in the third year of residency or greater (OR = 2.18; 95%CI: 1.350-3.535) and having participated in treatment of a woman with induced or probably induced abortion (OR = 4.12; 95%CI: 1.761-9.621) were associated with better knowledge on the subject. Among Brazilian medical residents in Gynecology and Obstetrics, knowledge on medical abortion is very limited and poses an obstacle to proper care in cases of legal termination of pregnancy.Resumo em Português:
O artigo explora as narrativas pró-direito ao aborto no Brasil com base no narrative policy framework (NPF). Foram analisados documentos pró-direito ao aborto elaborados por ativistas feministas entre 1976 e 1988 e documentos de organizações feministas, projetos de leis e documentos de políticas públicas sobre aborto referentes ao período de 1989 a 2016. Foi feita uma análise de conteúdo dos dois conjuntos de documentos usando-se o software OpenLogos. Os resultados da pesquisa revelam que as feministas fizeram uma escolha estratégica por uma narrativa de saúde pública, de modo a expandir a coalizão pró-direito ao aborto por meio da inclusão de atores da área da saúde. A aliança com a saúde levou a conquistas para a coalizão, com a criação de serviços de aborto legal e a inclusão da anencefalia entre os casos em que o aborto é permitido. A narrativa de saúde pública foi, assim, institucionalizada, tornando-se tanto a principal narrativa da coalizão quanto a principal narrativa contida nos documentos de políticas públicas. Essa institucionalização é um objetivo da atuação das coalizões de militância, mas também impõe limites à sua atuação futura, já que seu abandono pode colocar em risco a coalizão, ao mesmo tempo em que demandas futuras têm de ser elaboradas com base na estrutura de políticas públicas já existentes.Resumo em Espanhol:
El artículo investiga los relatos pro-derecho al aborto en Brasil, basándose en la narrative policy framework (NPF). Se analizaron documentos pro-derecho al aborto elaborados por activistas feministas entre 1976 y 1988 y documentos de organizaciones feministas, proyectos de leyes y documentos de políticas públicas sobre el aborto, referentes al período de 1989 a 2016. Se realizó un análisis de contenido de los dos conjuntos de documentos usando el software OpenLogos. Los resultados de la investigación revelan que las feministas escogieron estratégicamente un relato de salud pública para que se expandiera la coalición pro-derecho al aborto, mediante la inclusión de actores del área de la salud. La alianza con la salud condujo a conquistas para la coalición, con la creación de servicios de aborto legal y la inclusión de la anencefalia entre los casos en los que se permite el aborto. El relato de salud pública fue, de esta forma, institucionalizado, convirtiéndose tanto en el principal relato de la coalición, como en el relato principal contenido en los documentos de políticas públicas. Esta institucionalización es un objetivo de la actuación de las coaliciones de militantes, así como también impone límites a su actuación futura, ya que su abandono puede poner en riesgo la coalición, al mismo tiempo en que las demandas futuras se han de elaborar a partir de la estructura de políticas públicas ya existentes.Resumo em Inglês:
The article explores pro-abortion rights narratives in Brazil based on the narrative policy framework (NPF). I analyzed pro-abortion rights documents written by feminist activists from 1976 to 1988 and documents from feminist organizations, law proposals and policy documents regarding abortions produced between 1989 and 2016. I carried out a content analysis of both sets of documents using the OpenLogos software. Findings show that feminists made a strategic choice in favor of a public health narrative so as to expand the pro-abortion rights coalition through inclusion of actors from the health sector. The alliance with the health sector led to achievements, such as the creation of the first legal abortion services and the inclusion of anencephaly among the cases in which abortion is permitted. The public health narrative was, therefore, institutionalized, becoming both the main narrative employed by the coalition and the main narrative found in policy documents. This institutionalization is a goal for advocacy coalitions, but also imposes limits to their future work, since abandoning an institutionalized narrative may risk the coalition, while future demands must be formulated within the already-existing public policy structure.