• As recomendações em saúde pública como microagressões: varíola dos macacos e populações LGBTQIA+ Ensaio

    Pinheiro, Douglas Antonio Rocha; Bahia, Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes

    Resumo em Português:

    Resumo: O artigo tem por objetivo analisar recomendações de saúde pública da Organização Mundial da Saúde e das manifestações de seu Diretor-geral durante a epidemia de varíola dos macacos endereçadas a homens que fazem sexo com homens (HSH) à luz da microagressão como categoria de análise. Questiona-se o potencial estigmatizador de divulgação estatística, para público amplo, de que 98% dos infectados estavam entre HSH, bem como a utilização da própria categoria HSH e da sugestão de abstinência sexual parcial ou total como forma de interromper a disseminação viral. Sugere-se como alternativas capazes de, simultaneamente, garantir políticas de prevenção de doenças sem estigmatizar grupos vulneráveis, especialmente a população LGBTQIA+: (i) diferenciar as divulgações voltadas ao público geral das destinadas às populações predominantemente contaminadas e sujeitas a maior grau de vulnerabilidade social; (ii) superar a utilização da expressão HSH para, nas comunicações destinadas à ampla audiência, utilizar a expressão SGD (população sexo e gênero diversa), mantendo-se o procedimento de registrar, nas pesquisas científicas e nos formulários de atendimento, a identidade de gênero e a orientação sexual por autodeclaração dos pacientes; (iii) evitar mensagens que abordem a sexualidade de modo negativo, reforcem uma vivência sexual majoritária e gerem uma responsabilização socialmente punitiva do infectado, excluindo, pois, das recomendações voltadas ao público amplo a sugestão de abstinência sexual parcial, relativa à redução do número de parceiros, ou de abstinência sexual total, exceto para os casos de pessoas na fase ativa da infecção ou no período imediato à recuperação.

    Resumo em Espanhol:

    Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar las recomendaciones de salud pública de la Organización Mundial de la Salud y las manifestaciones de su Director General durante la epidemia de viruela del mono, dirigidas a los hombres que tienen relaciones sexuales con hombres (HSH), a la luz de la microagresión como categoría de análisis. Se discute el potencial estigma de la divulgación estadística para una amplia audiencia por haber informado que el 98% de los infectados estaban entre HSH, así como el uso de la categoría HSH en sí y la sugerencia de abstinencia sexual parcial o total como forma de detener la propagación viral. Se sugieren como alternativas capaces de garantizar simultáneamente políticas de prevención de enfermedades sin estigmatizar a los grupos vulnerables, especialmente la población LGBTQIA+: (i) distinguir las divulgaciones dirigidas al público en general de las destinadas a poblaciones predominantemente contaminadas y sujetas a un mayor grado de vulnerabilidad social; (ii) dejar de usar el término HSH para, en comunicaciones dirigidas a la amplia audiencia, emplear el SGD (población sexo y género diversa), manteniendo el procedimiento de registro (en investigaciones científicas y formularios de atención) de la identidad de género y la orientación sexual por autodeclaración de los pacientes; (iii) evitar mensajes que tratan la sexualidad de manera negativa, que aseguran una experiencia sexual mayoritaria y que generan una rendición de cuentas socialmente punitiva de los infectados, excluyendo, por lo tanto, de las recomendaciones dirigidas al público en general la sugerencia de abstinencia sexual parcial, relativa a la reducción del número de parejas, o de abstinencia total, excepto en los casos de estadio activo de la infección o del período inmediato de recuperación.

    Resumo em Inglês:

    Abstract: The article aims to analyze public health recommendations of the World Health Organization and the manifestations of its Director-General during the mpox epidemic addressed to men who have sex with men (MSM) in the light of microaggression as a category of analysis. The stigmatizing potential of statistical disclosure to a broad public that 98% of those infected were among MSM is questioned, as well as the use of the MSM category itself and the suggestion of partial or total sexual abstinence as a way to stop viral dissemination. The following are suggested as alternatives capable of simultaneously guaranteeing disease prevention policies without stigmatizing vulnerable groups, especially the LGBTQIA+ population: (i) differentiating the disclosures addressed to the general public from those aimed at populations predominantly contaminated and subject to a higher degree of social vulnerability; (ii) overcoming the use of the expression MSM, in communications aimed at a wide audience, to use the expression SGD (sex and gender diverse population), maintaining the procedure of recording, in scientific research and in medical forms, the gender identity and sexual orientation by self-declaration of patients; (iii) avoiding messages that negatively address sexuality, reinforce a majority sexual experience, and generate a socially punitive responsibility of the infected, thus excluding from the recommendations aimed at the broad public, the suggestion of partial sexual abstinence, related to the reduction of the number of partners, or total sexual abstinence, except for the cases of people in the active phase of infection or in the immediate period of recovery.
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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