Revista Brasileira de Epidemiologia, Volume: 27 Suplemento 1, Publicado: 2024
  • Fatores associados à realização de testagem prévia para HIV, sífilis e hepatites B e C entre mulheres trans e travestis no Brasil ORIGINAL ARTICLE

    Leite, Beo Oliveira; Dourado, Inês; Magno, Laio; Sperandei, Sandro; Luppi, Carla Gianna; Veras, Maria Amelia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: Investigar a realização de testagem prévia de HIV, sífilis, hepatites B (HBV) e C (HCV) entre mulheres trans e travestis (MTT) em cinco cidades brasileiras e identificar fatores associados à testagem. Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal, com recrutamento de MTT através do respondent-driven sampling (Projeto TransOdara). A variável de desfecho investigada foi realização de testagem prévia HIV, Sífilis, HBV e HCV nos últimos 12 meses. A associação entre fatores sociodemográficos e comportamentais com o desfecho foi analisada usando modelo de regressão logística binomial com efeitos mistos. Estimou-se odds ratio ajustada (aOR) e intervalos de confiança a 95% (IC95%). Resultados: As proporções de pessoas com realização prévia de testagem foram: 56,3% para HIV, 58,0% para sífilis, 42,1% para HBV e 44,7% para HCV. Observaram-se associação negativa da testagem prévia com idade de 35 anos ou mais e associação positiva com ter ensino médio, ter sofrido violência verbal ou psicológica nos últimos 12 meses e ter tido parceiro comercial ou casual nos últimos seis meses. Conclusão: Verificou-se baixa frequência de testagem nos últimos 12 meses anteriores ao estudo para HIV, Sífilis, HBV e HCV em comparação às orientações estipuladas pelo Ministério da Saúde. A ampliação do acesso e vinculação aos serviços de atenção e prevenção para as MTT é uma estratégia essencial para a redução da cadeia de transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: To investigate the prior testing for HIV, syphilis, hepatitis B (HBV), and hepatitis C (HCV) among transgender women and travestis (TGW) in five Brazilian cities and identify factors associated with each of these previous tests. Methods: This is a cross-sectional study with the recruitment of TGW through respondent-driven sampling (TransOdara Study). The investigated outcome variable was prior testing for HIV, syphilis, HBV, and HCV in the last 12 months. The association between sociodemographic and behavioral factors with the outcome was analyzed using a binomial logistic regression with mixed effects. Adjusted odds ratios (aOR) and 95% confidence intervals (CI95%) were estimated. Results: The proportions of individuals with prior testing in the past year were as follows: 56.3% for HIV, 58.0% for syphilis, 42.1% for HBV, and 44.7% for HCV. Negative associations with prior testing were observed for individuals aged 35 years or older, whereas positive associations were found for those with high school education, those who experienced verbal or psychological violence in the last 12 months, and those who had commercial or casual partners in the last 6 months. Conclusion: There was low frequency of testing in the 12 months preceding the study for HIV, syphilis, HBV, and HCV compared to the guidelines established by the Ministry of Health. Expanding access to and engagement with healthcare and prevention services for TGW is an essential strategy in reducing the transmission chain of HIV and other sexually transmitted infections (STIs).
  • Prevalências de clamídia e gonorreia entre mulheres trans e travestis de cinco capitais brasileiras, 2019–2021 ORIGINAL ARTICLE

    Bassichetto, Katia Cristina; Sperandei, Sandro; McCartney, Daniel Jason; Luppi, Carla Gianna; Silva, Roberto José Carvalho da; Araújo, Sandra; Magno, Laio; Bazzo, Maria Luíza; Hughes, Gwenda; Mayaud, Philippe; Dourado, Inês; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: Estimar as prevalências e os fatores associados à detecção de Chlamydia trachomatis (CT) e Neisseria gonorrhoeae (NG) em mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras. Métodos: Os dados vieram de um estudo transversal, realizado entre 2019 e 2021, com pessoas recrutadas por RDS (respondent driven sampling) em São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre e Salvador. Analisou-se a detecção de CT e NG, em três sítios de coleta (anorretal, orofaríngeo e uretral). Para identificação dos fatores associados empregaram-se modelos logísticos com efeitos mistos. Resultados: Forneceram material biológico para detecção dessas infecções 1.297 participantes recrutadas. As prevalências de CT, NG e coinfecção foram, respectivamente, 11,5, 13,3 e 3,6%. Foram independentemente associados à detecção para CT: trabalho sexual no passado (odds ratio — OR=1,73; intervalos de confiança para 95% — IC95% 1,02–2,95), no momento atual (OR=2,13; IC95% 1,23–3,69) e como atividade parcial (OR=2,75; IC95% 1,60–4,75) e uso de drogas injetáveis na vida (OR=3,54; IC95% 1,49–8,40). Para NG: uso de drogas injetáveis na vida (OR=1,91; IC95% 1,28–2,84) e orientação sexual – heterossexuais (OR=3,44; IC95% 1,35–8,82), homossexuais (OR=5,49; IC95% 1,89–15,97) e bissexuais (OR=3,21; IC95% 1,06–9,68). Para coinfecção: uso de drogas nos últimos 12 meses (OR=2,34; IC95% 1,10–5,00). Ser mais jovem foi associada a todos os desfechos investigados. Conclusão: As prevalências estimadas de CT, NG e de coinfecção foram desproporcionalmente mais elevadas entre as mulheres trans e travestis se comparadas à população geral, especialmente entre as mais jovens, que exerciam trabalho sexual e faziam uso de drogas.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: To estimate the prevalence and factors associated with the detection of Chlamydia trachomatis (CT) and Neisseria gonorrhoeae (NG) in transgender women and travestis in five Brazilian capitals. Methods: Data were obtained from a cross-sectional study conducted between 2019 and 2021, with participants recruited through Respondent Driven Sampling in São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre and Salvador. Detection of CT and NG was analyzed at three collection sites (anorectal, oropharyngeal and urethral). Mixed logistic regression models were employed to identify associated factors. Results: A total of 1,297 recruited participants provided biological material to detect these infections. The prevalences of CT, NG and coinfection were 11.5%, 13.3% and 3.6%, respectively. Independent associations with CT infections included past (OR=1.73; 95%CI 1.02–2.95), current (OR=2.13; 95%CI 1.23–3.69), and part-time sex work (OR=2.75; 95%CI 1.60–4.75), as well as lifetime injectable drug use (OR=3.54; 95%CI 1.49–8.40). For NG, associations were observed with lifetime injectable drug use (OR=1.91; 95%CI 1.28–2.84) and sexual orientation, including heterosexual (OR=3.44; 95%CI 1.35–8.82), homosexual (OR=5.49; 95%CI 1.89–15.97), and bisexual (OR=3.21; 95%CI 1.06–9.68). Coinfection was associated with use of illicit drugs in the last 12 months (OR=2.34, 95%CI 1.10–5.00), and younger age was associated with all investigated outcomes. Conclusion: Estimated prevalences of CT, NG and co-infection were higher among transgender women and travestis compared to the general population, particularly among younger, individuals engaged in sex work and illicit drug use.
  • Infecções sexualmente transmissíveis e outras questões de saúde de mulheres trans e travestis no Brasil: perfil epidemiológico, vulnerabilidades, acesso a serviços e cuidado Editorial

    Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena; Dourado, Inês; Bastos, Francisco Inácio; Pinheiro, Thiago Félix
  • Dificuldades e avanços no acesso e no uso de serviços de saúde por mulheres trans e travestis no Brasil ORIGINAL ARTICLE

    Pinheiro, Thiago Félix; Carvalho, Paula Galdino Cardin de; Nolasco, Gabriel; Santos, Lorruan Alves dos; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: Compreender as narrativas de Mulheres Trans e Travestis (MTT) de quatro cidades brasileiras acerca do acesso e do uso de serviços de saúde. Métodos: Estudo qualitativo realizado no âmbito do projeto TransOdara, pesquisa transversal multicêntrica de métodos mistos, conduzida entre 2019 e 2021. São analisadas 52 entrevistas em profundidade com MTT em Manaus, Campo Grande, Porto Alegre e São Paulo. O tratamento analítico foi orientado pela hermenêutica filosófica. Resultados: Relatos de discriminação, estigmatização e patologização reafirmam as dificuldades enfrentadas por MTT na busca por cuidado com a saúde. A recorrência do desrespeito ao nome social/retificado revela obstáculos ao reconhecimento das identidades trans e, em alguns casos, a intenção de inibir a transexualidade-travestilidade. Outras dificuldades decorrem de ações que desconsideram as especificidades de saúde das MTT ou as condições sociais precárias que afetam algumas delas. No entanto, a partir de experiências de respeito e atendimento adequado, as participantes identificam uma mudança em curso, que se expressa em uma maior disponibilidade de serviços e na melhoria da assistência. Há uma expectativa de continuidade da ampliação de serviços, tecnologias e capacitação dos/as profissionais de saúde. Conclusão: A mudança identificada tem sido empreendida na interface das políticas públicas de saúde com o ativismo LGBT+ e a produção de conhecimento acerca das questões de saúde das MTT. Os avanços empreendidos, ainda que insuficientes para mudar o cenário da histórica exclusão vivida por elas nos serviços de saúde, apontam caminhos promissores na melhoria de suas condições de saúde.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: To understand the narratives of transgender women and travestis (TGW) from four Brazilian cities regarding access to and use of health services. Methods: Qualitative study carried out within the scope of the TransOdara project, cross-sectional multicenter mixed methods research conducted between 2019-2021. Fifty-two in-depth interviews with TGW in Manaus, Campo Grande, Porto Alegre and São Paulo were analyzed. The analysis was guided by philosophical hermeneutics. Results: Reports of discrimination, stigmatization and pathologization reiterate the difficulties faced by TGW in seeking healthcare. The recurrence of disrespect for the social/corrected name reveals obstacles to the recognition of transgender identities and, in some cases, the intention of inhibiting transsexuality-travestilidade. Other difficulties arise from actions that disregard the health specificities of TGW or the precarious social conditions that affect some of them. On the other hand, based on experiences of respect and adequate care, participants identify an ongoing change, which is expressed in greater availability of services and improved assistance. There is an expectation of continued expansion of services, technologies and training of health professionals. Conclusions: The identified change has been undertaken at the interface of public health policies with LGBT+ activism and the production of knowledge about TGW health needs. Although the identified advances are insufficient to change the scenario of the historical exclusion experienced by TGW in health services, they point to promising ways to improve their health conditions.
  • Prevalência de sífilis em mulheres trans e travestis no Brasil: resultados de um estudo multicêntrico nacional ORIGINAL ARTICLE

    Rocha, Aline Borges Moreira da; Sperandei, Sandro; Benzaken, Adele; Bacuri, Rita; Bassichetto, Katia Cristina; Oliveira, Elaine Lopes de; Silveira, Edilene Peres Real da; Dourado, Maria Inês Costa; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: O estudo teve como objetivo estimar a prevalência de sífilis adquirida e fatores associados em uma pesquisa nacional. Métodos: "TransOdara" foi um estudo transversal compreendendo mulheres trans e travestis (MTT) em cinco grandes cidades do Brasil durante dezembro–2019 e julho–2021. A amostra foi recrutada usando o método respondente-driven sampling (RDS). O desfecho “sífilis ativa” foi definido como um teste treponêmico positivo e título do Venereal-Disease-Research-Laboratory (VDRL) maior ou igual a ⅛. Variáveis sociodemográficas foram descritas. Análises bi- e multivariadas foram realizadas, e odds ratio (OR) e IC95% foram estimados. Todas as análises foram realizadas no R,4.3.1. Resultados: Um total de 1.317 MTT foram recrutadas, com 1.291 sendo testadas para sífilis, das quais 294 (22,8%) preencheram os critérios para sífilis ativa. Na análise bivariada, raça negra/parda (OR=1,41; IC95% 1,01–1,97), nível básico de educação (OR=2,44; IC95% 1,17–5,06), não alteração do nome nos documentos (OR=1,39; IC95% 1,00–1,91) e trabalho sexual (pregresso OR=2,22; IC95% 1,47–3,32; parcial OR=2,75; IC95% 1,78–4,25; período integral OR=3,62; IC95%: 2,36-5,53) foram associados à sífilis ativa. Na análise multivariada, o trabalho sexual foi o único fator associado, 2,07 (IC95%: 1,37-3,13) trabalho sexual passado, 2,59 (IC95% 1,66–4,05) trabalho sexual em tempo parcial e 3,16 (IC95% 2,04–4,92) trabalho sexual como principal fonte de renda. Conclusão: A prevalência de sífilis ativa neste estudo foi elevada em comparação com outros países da América Latina. O trabalho sexual foi um fator associado importante com sífilis ativa, destacando o impacto que essa condição de vulnerabilidade pode ter na saúde das MTT, como membros de uma população-chave marginalizada.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: The study aimed to estimate the prevalence of acquired syphilis and associated factors in a national survey. Methods: TransOdara was a cross-sectional study comprising transgender women and travestis (TGW) in five major cities in Brazil during December of 2019 and July of 2021. The sample was recruited using the respondent-driven sampling (RDS) method. The outcome “active syphilis” was defined as a positive treponemal test and Venereal-Disease-Research-Laboratory (VDRL) title greater than∕ equal to ⅛. Sociodemographic variables were described. Bivariate and multiple logistic regression were performed, and odds ratios (OR) and 95% confidence intervals (95%CI) were estimated. All analyses were performed in R, 4.3.1. Results: A total of 1,317 TGW were recruited, with 1,291 being tested for syphilis, and 294 (22.8%) meeting the criteria for active syphilis. In bivariate analysis, black/mixed race (OR=1.41, 95%CI 1.01–1.97), basic level of education (OR=2.44, 95%CI 1.17–5.06), no name change in documents (OR=1.39, 95%CI 1.00–1.91) and sex work (past only OR= 2.22, 95%CI 1.47–3.32; partial OR=2.75, 95%CI 1.78–4.25; full time OR=3.62, 95%CI 2.36–5.53) were associated with active syphilis. In the multivariate analysis, sex work was the only associated factor, 2.07 (95%CI 1.37–3.13) past sex work, 2.59 (95%CI 1.66–4.05) part-time sex work and 3.16 (95%CI 2.04–4.92) sex work as the main source of income. Conclusion: The prevalence of active syphilis in this study was elevated compared with other countries in Latin America. Sex work was an important associated factor with active syphilis, highlighting the impact that this condition of vulnerability may have in the health of TGW, as members of a key, marginalized population.
  • Perfil e experiências durante o encarceramento de mulheres trans e travestis (MTT) no Brasil: um estudo transversal ORIGINAL ARTICLE

    Leal, Andréa Fachel; Cazeiro, Cristine Coelho; Mattos, Ana Carolina Einsfeld; Hentges, Bruna; Teixeira, Luciana Barcellos; Knauth, Daniela Riva; Magno, Laio; Dourado, Inês; Vera, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: O objetivo do presente estudo é descrever as características sociodemográficas e comportamentais de um grupo de mulheres trans e travestis (MTT) com histórico de encarceramento e o contexto institucional e social desta experiência no Brasil. Métodos: Os dados são provenientes do Estudo TransOdara, de delineamento transversal, realizado em 5 capitais brasileiras no período de dezembro de 2019 a julho de 2021. As participantes foram recrutadas pela técnica Respondent-Driven Sampling (RDS), onde, após uma etapa inicial formativa e exploratória, as primeiras participantes foram identificadas; elas, por sua vez, recrutavam até outras seis mulheres trans e travestis para a pesquisa. O desfecho do estudo foi a experiência de encarceramento durante a vida apreendido através da pergunta: “Você alguma vez na vida já foi presa?”. Resultados: Um total de 1.245 MTT foram entrevistadas. Destas, 20,3% (n=253) experienciaram o cárcere. O encarceramento foi mais frequente entre as entrevistadas de 33 a 42 anos (35,6%), com menor escolaridade (45,5%), em situação de trabalho informal (30,3%) e entre aquelas que reportaram uso de drogas ilícitas (66,4%). A maioria (60,9%) das MTT ficou presa com homens cisgênero, e o motivo da prisão mais frequente foi o tráfico de drogas (30,4%), seguido de roubo (29,2%). Mais de um quarto das entrevistadas (26,3%) sofreu agressão, e 13,8% relataram ter sofrido violência sexual durante o encarceramento. Conclusão: Os resultados destacam a elevada prevalência de encarceramento entre MTT. Este encarceramento se dá em alas masculinas e em um contexto de altas taxas de violência física e sexual.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: The objective of the present study is to describe the sociodemographic and behavioral characteristics of a group of transgender women and travestis (TGW) with a history of incarceration and the institutional and social context of this experience in Brazil. Methods: The analyzed data were derived from the TransOdara Study, a cross-sectional study conducted in five Brazilian capitals from December 2019 to July 2021. Participants were recruited using the Respondent-Driven Sampling (RDS) technique, in which, after an initial formative and exploratory stage, the first participants were identified; in turn, these participants recruited up to six other transgender women and travestis for the research. The study’s outcome was the experience of incarceration throughout life, captured through the question: “Have you ever been arrested in your life?” Results: A total of 1,245 TGW were interviewed, of which 20.3% (n=253) experienced incarceration. Incarceration was more frequent among those aged 33 to 42 years (35.6%), with lower level of education (45.5%, p<0.001), engaged in informal work (30.3%), without a partner (67.2%), and among those who reported illicit drug use (66.4%). The majority (60.9%) of TGW were incarcerated with cisgender men, and the most common reasons for imprisonment were drug trafficking (30.4%) followed by robbery (29.2%). Over a quarter of the interviewees (26.3%) experienced assault, and 13.8% reported experiencing sexual violence during incarceration. Conclusion: The results emphasize the high prevalence of incarceration among TGW. This incarceration takes place in male wards and in a context of high rates of physical and sexual violence.
  • Discriminação por identidade de gênero entre mulheres trans e travestis no Brasil: uma análise de classes latentes e fatores associados ORIGINAL ARTICLE

    Magno, Laio; Leite, Beo Oliveira; Sperandei, Sandro; Pereira, Marcos; Knauth, Daniela Riva; Leal, Andréa Fachel; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena; Dourado, Inês

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo Identificar grupos de mulheres trans e travestis (MTT) com padrões específicos de discriminação por identidade de gênero (DIG) e analisar os fatores associados à DIG. Métodos Estudo transversal com MTT recrutadas por respondent-driven sampling em cinco capitais brasileiras (2019-2021). Análise de classes latentes foi usada para caracterizar a DIG (em baixa, média e alta) usando 14 variáveis observáveis. Análise descritiva foi realizada e as associações entre variáveis preditoras e DIG foram estimadas por odds ratio ajustados (ORaj), usando regressão logística ordinal. Resultados Do total de 1.317 MTT, 906 (68,8%) responderam perguntas sobre DIG. A maioria apresentava idade ≤34 anos, solteiras e com raça/cor de pele parda. DIG foi classificada em “baixa”, “média” e “alta”, com estimativas de 41,7, 44,5, 13,8%, respectivamente. As variáveis positivamente associadas à maior intensidade de DIG foram: morar em Manaus em comparação com São Paulo; possuir idade £34 anos em comparação com idade >34; estar em situação de rua em comparação com quem mora em casa ou apartamento próprio ou alugado; não ter retificado o nome em documento em comparação com quem retificou; e relato de violência física ou sexual em comparação com quem não relatou. As variáveis negativamente associadas à maior intensidade de DIG foram: raça/cor de pele parda ou amarela em comparação com branca; e renda média mensal <1 salário mínimo em comparação com ≥1 salários. Conclusão Observaram-se alta proporção de DIG em MTT brasileiras e associação desse desfecho com características sociodemográficas mais vulneráveis e histórico de violência.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective To identify groups of transgender women and travestis (TGW) with specific patterns of gender-based discrimination (GBD) and analyze the factors associated with GBD. Methods A cross-sectional study was conducted with TGW recruited through respondent-driven sampling in five Brazilian cities (2019-2021). Latent class analysis was used to characterize GBD (low, medium, and high) using 14 observable variables. Descriptive analysis was performed, and associations between predictor variables and GBD were estimated by adjusted odds ratios (aOR) using ordinal logistic regression. Results Out of a total of 1,317 TGW, 906 (68.8%) answered questions about GBD. Most were under 34 years old, single, and had a Brown race/skin color. GBD was classified as “low,” “medium,” and “high,” with estimates of 41.7, 44.5, and 13.8%, respectively. Variables positively associated with higher intensity of GBD included living in Manaus compared to São Paulo, being ≤34 years old compared to >34, being homeless compared to living in one’s own house or rented apartment, not having legally changed one’s name compared to those who had, and reporting physical or sexual violence compared to those who did not report. Variables negatively associated with higher intensity of GBD included having a Brown or Asian race/skin color compared to White and a monthly income ≥1 minimum wage compared to ³1. Conclusion A high proportion of GBD was observed in Brazilian TGW, with this outcome associated with more vulnerable sociodemographic characteristics and a history of violence.
  • Prevalência das hepatites A, B e C entre mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras entre 2019-2021 ORIGINAL ARTICLE

    Moreira, Regina Célia; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena; Amianti, Carolina; McCartney, Daniel Jason; Silva, Vanessa Cristina Martins; Lemos, Marcilio Figueiredo; Compri, Adriana Parise; Oliveira, Elaine Lopes de; Bassichetto, Katia Cristina; Leal, Andréa Fachel; Knauth, Daniela Ruva; Magno, Laio; Dourado, Inês; Galan, Lenice; Fonseca, Paula Andrea Morelli; Queiroz, Rita Suely Bacuri de; Silva, Roberto José Carvalho da; Araujo, Sandra; Miyachi, Marcia Eiko; Soares, Claudio de Sousa; Ahagon, Luciana Mitie Kawai; Mayaud, Philippe; Sperandei, Sandro; Motta-Castro, Ana Rita Coimbra

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo: Estimar as prevalências e fatores associados com as hepatites A, B e C em mulheres trans e travestis em cinco regiões do Brasil. Métodos: Estudo transversal com mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador e São Paulo), entre dezembro/2019 e julho/2021. As amostras foram submetidas à detecção de marcadores das infecções pelos vírus das hepatites A (HAV), B (HBV) e C (HCV), utilizando-se testes rápidos e quimioluminescência. Amostras positivas foram submetidas à detecção de HBV-DNA e HCV-RNA por PCR em tempo real e genotipadas por sequenciamento de Sanger. Resultados: As análises de 1.317 amostras indicaram taxas de prevalências nas mulheres trans e travestis recrutadas de 69,1%, 24,4% e 1,5% para exposição ao HAV, HBV e HCV, respectivamente. Elevada taxa de suscetibilidade ao HBV (35,7%) e baixa prevalência do marcador vacinal (40,0%) foram observadas. Mostraram-se associadas à presença de anti-HAV: idade maior que 26 anos, autodeclarar-se preta-parda, ter apenas educação básica, história de encarceramento e uso de preservativo na última relação sexual com parceiro casual. Quanto à exposição ao HBV, foi associada a idade maior que 26 anos, cor da pele preto-parda, ter sido profissional do sexo e história de encarceramento. Idade maior de 37 anos, história de abuso sexual e consumo frequente de álcool foram associadas ao HCV. Conclusão: As maiores prevalências de HAV nessa população encontram-se nas regiões Norte e Nordeste. Com relação ao HBV, a prevalência encontrada foi superior à encontrada na população geral, sugerindo maior vulnerabilidade. A prevalência do HCV foi semelhante à encontrada na população geral.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: To estimate the prevalence and factors associated with hepatitis A, B, and C in transgender women and travestis's networks, in 5 regions of Brazil. Methods: This cross-sectional study includedtransgender women and travestis in five Brazilian capitals (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador, and São Paulo), between December/2019 and July/2021. All samples were subjected to detection of serological markers of hepatitis virus A (HAV), B (HBV), and C (HCV) infections through rapid tests and chemiluminescent microparticle immunoassays. Positive samples in the screening tests were submitted to detect HBV DNA and HCV-RNA by real-time PCR and genotyped by Sanger sequencing. Results: Analysis of 1,317 samples showed network prevalence rates of 69.1%, 25.1%, and 1.5% for HAV, HBV, and HCV exposure, respectively. A high susceptibility rate to HBV infection (35.7%) and low prevalence of vaccine response markers (40%) were also observed. Age greater than 26 years, self-declared black/brown skin color, having only primary education, history of incarceration, and use of a condom in the last sexual intercourse with a casual partner were associated with total anti-HAV. Exposure to HBV was associated with age greater than 26 years, self-declared black/brown, history of being a sex worker, and incarceration. Age > 37 years, history of sexual abuse, and frequent alcohol consumption were associated with hepatitis C infection. Conclusion: The highest prevalence of HAV in this population was found in the North and Northeast regions, and the prevalence found was higher than that in the general population, suggesting greater vulnerability. The prevalence of HCV infection in our study was similar to that observed in the general population.
  • Prevalência de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em mulheres trans e travestis no Brasil: dados do estudo TransOdara ORIGINAL ARTICLE

    Dourado, Inês; Magno, Laio; Leite, Beo Oliveira; Bastos, Francisco Inácio; Mota, Jurema Corrêa da; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo Investigar a prevalência do vírus da imunodeficiência humana (HIV) entre mulheres trans e travestis em cinco capitais no Brasil. Métodos TransOdara foi um estudo de corte transversal que avaliou comportamentos e a prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (IST) entre mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras, entre 2019 e 2021. Mulheres trans e travestis ≥18 anos foram recrutadas utilizando respondent-driven sampling, responderam a um questionário e fizeram testes rápidos para HIV e outras IST. O desfecho foi o resultado do teste rápido para HIV. Estimaram-se razões de prevalência ajustadas e intervalos de confiança de 95% por meio da regressão de Poisson com variância robusta. Resultados: No seu conjunto, esta população mostrou-se vulnerabilizada, com níveis elevados de moradia instável e no mercado de trabalho informal. Habitualmente, essas mulheres recorrem ao sexo comercial como sua atividade profissional principal. Metade delas receberam menos do que um salário mínimo, vivendo em condições desfavoráveis. A prevalência da infecção pelo HIV foi de 34.40%. No modelo final, as variáveis associadas com a prevalência do HIV foram: ter 31 anos ou mais, não estar estudando no momento da entrevista, estar desempregada e estar engajada em sexo comercial. Conclusão Foi identificada uma prevalência substancialmente elevada para o HIV entre as mulheres trans e travestis (em contraste com a prevalência baixa na população geral de mulheres brasileiras), sublinhando o contexto de vulnerabilidade desta população. Os achados indicam claramente a premência de intensificar e expandir o acesso à prevenção do HIV e da implementação de estratégias que interrompam o processo de discriminação vivenciado nos serviços de saúde e ofereçam serviços apropriados a esta população.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective The aim of this study was to investigate the prevalence of human immunodeficiency virus (HIV) infection among transgender women and travestis and to analyze factors associated with HIV infection in Brazil. Methods TransOdara was a cross-sectional study on sexually transmitted infections among transgender women and travestis in five Brazilian cities between 2019 and 2021. Self-identified transgender women and travestis aged ≥18 years were recruited using respondent-driven sampling, completed an interviewer-led questionnaire, and provided samples to detect HIV. The outcome was the result of the rapid antigen testing for HIV. Adjusted prevalence ratios (aPR) and 95% confidence intervals (95% CI) were obtained using Poisson regression with robust variance. Results Overall, this population was found to be especially vulnerable, with high levels of unstable housing and engagement in informal work. They usually resort to transactional sex as their main working activity. Half of them earned less than the Brazilian minimum wage, which characterizes a poor population living in dire conditions. The overall HIV prevalence was 34.40%. In the final model, the variables associated with the HIV prevalence were as follows: to be 31 years old or older, not studying at the moment they were interviewed, to be unemployed, and engaged in lifetime transactional sex. Conclusion We found disproportionately high HIV prevalence among transgender women and travestis, compared with a low prevalence among respective segments of Brazil’s general population, which highlights the context of vulnerability in this population. The data point to the urgency for intensification and expansion of access to HIV prevention and strategies to stop discrimination in health care (among other services and contexts) and provide comprehensive services for this population.
  • Corpos do desejo: uso de hormônios sem prescrição médica entre mulheres trans e travestis em cinco capitais brasileiras (2019–2021) ORIGINAL ARTICLE

    Bassichetto, Katia Cristina; Pinheiro, Thiago Félix; Barros, Claudia; Fonseca, Paula Andrea Morelli; Queiroz, Rita Suely Bacuri de; Sperandei, Sandro; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objective Analisar experiências de mulheres trans e travestis com o uso de hormônios para mudança corporal sem prescrição médica. Métodos: Estudo de corte transversal, quantitativo e qualitativo, utilizando um recorte do TransOdara, que estimou prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis em mulheres trans e travestis, recrutadas por meio de Respondent-Driven Sampling, entre dezembro de 2019 e julho de 2021, em São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre e Salvador. Principal desfecho: uso de hormônios sem prescrição médica e fatores associados. Foram realizados análise descritiva e modelos de regressão logísticos univariados mistos e entrevistas semiestruturadas. Resultados: Das 1.317 participantes recrutadas, 85,9% já haviam usado hormônios. O uso atual de hormônios foi referido por 40,7% (536) delas. Das que souberam informar o local onde os conseguiram, 72,6% (381/525) faziam uso sem prescrição médica. As variáveis associadas ao uso sem prescrição foram: exercer trabalho sexual em tempo integral (OR 4,59; IC95% 1,90–11,06) ou no passado (OR 1,92; IC95% 1,10–3,34); não ter retificado o nome (OR 3,59; IC95% 2,23–5,76); não estar estudando (OR 1,83; IC95% 1,07–3,13); ser mais jovem (OR 2,16; IC95% 1,31–3,56); ter sofrido discriminação em algum momento na vida por ser mulheres trans e travestis (OR 0,40 – IC95% 0,20–0,81). Conclusão: O uso de hormônios não prescritos é alto entre mulheres trans e travestis, principalmente entre as mais jovens, as que não estudavam, as que não retificaram o nome e as com histórico de trabalho sexual. Está relacionado à urgência para a transição de gênero, com uso exagerado e danos à saúde.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective: To analyze the experiences of transgender women and travestis regarding the use of hormones for body changes without a medical prescription. Methods: This is a cross-sectional, quantitative and qualitative study, using data from “TransOdara”, which estimated the prevalence of Sexually Transmitted Infections in transgender women and travestis recruited through Respondent-Driven Sampling, between December 2019 and July 2021, in São Paulo, Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, and Salvador, Brazil. The main outcome was: use of hormones without medical prescription and associated risk factors. Descriptive analysis, mixed univariate logistic regression models, and semi-structured interviews were carried out. Results: Of the 1,317 recruited participants, 85.9% had already used hormones. The current use of hormones was reported by 40.7% (536) of them. Of those who were able to inform the place where they obtained them, 72.6% (381/525) used them without a medical prescription. The variables associated with the outcome were: current full-time sex work (OR 4.59; 95%CI 1.90–11.06) or in the past (OR 1.92; 95%CI 1.10–3.34), not having changed their name (OR 3.59; 95%CI 2.23–5.76), not currently studying (OR 1.83; 95%CI 1.07–3.13), being younger (OR 2.16; 95%CI 1.31–3.56), and having suffered discrimination at some point in life for being a transgender women and travestis (OR 0.40; 95%CI 0.20–0.81). Conclusion: The use of nonprescribed hormones is high among transgender women and travestis, especially among those who are younger, did not study, have not changed their name, and with a history of sex work. This use is related to the urgency for gender transition, with excessive use and damage to health.
  • Violência sexual durante a vida em mulheres trans e travestis (MTT) no Brasil: Prevalência e fatores associados ORIGINAL ARTICLE

    Hentges, Bruna; Martins, Rafael Steffens; Silva, Jonatan da Rosa Pereira da; Hübner, Dariana Pimentel Gomes; Leal, Andréa Fachel; Teixeira, Luciana Barcellos; Knauth, Daniela Riva; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo Descrever a prevalência, características e fatores associados à violência sexual em mulheres trans e travestis (MTT) no Brasil. Métodos Estudo transversal conduzido em cinco cidades brasileiras (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador e São Paulo) entre 2019 e 2021. As participantes foram recrutadas usando a técnica respondent-driven sampling (RDS). O desfecho é a experiência de violência sexual ao longo da vida. As ações tomadas pelas vítimas e como elas lidaram com a experiência foram avaliadas. Análise de regressão logística foi empregada para examinar as associações entre fatores sociodemográficos e comportamentais (como raça, renda, trabalho sexual e acesso aos serviços de saúde) e o desfecho. Resultados Um total de 1.317 MTT foram entrevistadas. Entre elas, 53% (n=698) relataram violência sexual. Para 64,4% (n=419) destas, a violência sexual ocorreu em mais de uma ocasião. A maioria das MTT não procurou serviços de saúde (93,2%, n=648), não denunciou (93,9%, n=653) nem buscou apoio de familiares ou amigos (86,5%, n=601). A maior prevalência de violência sexual foi associada à falta de moradia (razão de prevalência ajustada — RPa=1,69, IC 95% 1,01-2,84), histórico de envolvimento em trabalho sexual (RPa=2,04, IC 95% 1,46-2,85), relato de saúde emocional regular, ruim ou muito ruim (RPa=1,67, IC 95% 1,28-2,19) e experiência de dificuldades de acesso aos serviços de saúde (RPa=2,78, IC 95% 1,74-4,43). Conclusão A alta prevalência de violência sexual, analisada em conjunto com as ações das vítimas, indica um contexto de alta vulnerabilidade e baixo suporte institucional. Nesse cenário, a violência pode ser exacerbada, resultando em graves consequências para a saúde.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective To describe the prevalence, characteristics, and factors associated with sexual violence in transgender women and travestis (TGW) in Brazil. Methods This cross-sectional study was conducted in five Brazilian cities (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador, and São Paulo) between 2019 and 2021. Participants were recruited using the respondent-driven sampling (RDS) technique. The outcome of interest is the self-reported experience of sexual violence throughout the respondents’ lifetime. We evaluated the actions taken by victims of sexual violence and how they dealt with the experience. Logistic regression analysis was employed to examine the associations between sociodemographic and behavioral factors (such as race, income, drug use, sex work, and access to healthcare) and the outcome. Results A total of 1,317 TGW were interviewed. Among them, 53% (n=698) reported experiencing sexual violence. For 64.4% (n=419) of the respondents, sexual violence occurred on more than one occasion. The majority of TGW did not seek health services (93.2%, n=648), disclose the violence (93.9%, n=653), nor seek support from family or friends (86.5%, n=601). A higher prevalence of sexual violence was associated with homelessness (adjusted prevalence ratio — aPR=1.69, 95% confidence interval — 95%CI 1.01–2.84), a history of engaging in sex work (aPR=2.04, 95%CI 1.46–2.85), self-reporting regular, bad, or very bad emotional health (aPR=1.67, 95%CI 1.28–2.19), and experiencing difficulties accessing health services in the previous year (aPR=2.78, 95%CI 1.74–4.43). Conclusion The high prevalence of sexual violence, analyzed together with the actions of the victims, indicates a context of high vulnerability and low institutional support. In this scenario, violence can be exacerbated, resulting in severe health consequences.
  • Realização do exame físico para detecção de infecções sexualmente transmissíveis entre mulheres trans e travestis no Brasil ORIGINAL ARTICLE

    McCartney, Daniel Jason; Carvalhal, Layana Guedes; Moraes, Camila de Albuquerque; Mayaud, Philippe; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena

    Resumo em Português:

    RESUMO Objective Determinar a aceitabilidade e os fatores associados à realização do exame físico para detecção de infecções sexualmente transmissíveis (IST) sintomáticas em mulheres trans e travestis no Brasil. Métodos: Foram utilizados dados do “TransOdara”, estudo transversal de prevalência de IST, realizado em cinco capitais brasileiras (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador e São Paulo) entre dezembro de 2019 e julho de 2021. As 1.317 mulheres trans e travestis, com idade ≥18 anos, recrutadas por meio do método respondent-driven sampling passaram por entrevistas e responderam a um questionário estruturado. Foi ofertada consulta médica, incluindo realização de exame físico e coleta de amostras de vários locais para detectar diversas IST. Para a análise dos fatores associados à aceitabilidade do exame físico (geral, genital e anorretal), considerou-se as características sociodemográficas das participantes que permitiram a sua realização. Resultados: A maioria (65,4%; intervalo de confiança – IC95% 62,7–68,0) concedeu permissão para o exame geral (incluindo orofaríngeo), com permissão concedida em menor proporção para os exames genitais (42,3%; IC95% 39,6–46,0) ou anorretais (42,1%; IC95% 39,4–44,9). No geral, 34,4% (IC95% 31,8–37,0) delas recusaram todos os exames. As participantes com sintomas de IST foram significativamente mais propensas a conceder permissão para o exame completo do que as participantes assintomáticas (64,3 vs 37,4%, odds ratio ajustado – AOR=3,6, IC95% 2,4–5,5). Os fatores significativamente associados à aceitabilidade do exame completo na análise multivariada incluíram idade (AOR=1,5 para ≥25 anos), religião (AOR=2,0 para afro-brasileiras, AOR=1,9 para outras religiões em comparação com nenhuma religião) e nível de escolaridade (AOR=2,0 para nível superior). Conclusão: No contexto do manejo de IST, nós observamos aceitação limitada de exames anogenitais entre mulheres trans e travestis, com maior aceitação entre aquelas com sintomas de IST.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective This study aimed to determine the acceptability and factors associated with uptake of a physical examination for the detection of symptomatic sexually transmitted infections (STIs) by transgender women and travestis in Brazil. Methods: TransOdara was a multi-centric, cross-sectional STI prevalence study conducted among transgender women and travestis in five capital cities (Campo Grande, Manaus, Porto Alegre, Salvador and São Paulo) representing all Brazilian regions, between December 2019 and July 2021. A total of 1,317 self-identified transgender women and travestis aged ≥18 years were recruited using respondent-driven sampling and responded to a standard questionnaire. A medical consultation was offered including a physical examination and collection of samples from multiple sites to detect various STIs. Factors associated with uptake were investigated by reviewing demographic characteristics of participants who gave permission for physical examination (general, genital, and anorectal). Results: Most participants (65.4%, 95% confidence interval — 95%CI 62.7–68.0) gave permission for a general examination (including oropharyngeal), with fewer permitting genital (42.3%, 95%CI 39.6–46.0) or anorectal (42.1%, 95%CI 39.4–44.9) examinations. Overall, 34.4% (95%CI 31.8–37.0) of participants refused all examinations. Participants with STI symptoms were significantly more likely to give permission for full examination than asymptomatic participants (64.3 vs. 37.4%, adjusted odds ratio — AOR=3.6, 95%CI 2.4–5.5). Other factors significantly associated with uptake of a full examination in multivariate analysis included age (AOR=1.5 for ≥25 years), religion (AOR=1.7 for Afro-Brazilian, AOR=1.9 for other religions compared to no religion), and education (AOR=2.0 for higher-level). Conclusion: In the context of STI management, this study found limited acceptance of anogenital examinations among transgender women and travestis, with higher acceptance among those with STI symptoms.
  • Uso de múltiplas substâncias e fatores associados em mulheres trans e travestis: resultados do estudo TransOdara, Brasil ORIGINAL ARTICLE

    da Mota, Jurema Corrêa; Sperandei, Sandro; De Boni, Raquel Brandini; Dourado, Inês; Veras, Maria Amélia de Sousa Mascena; Bastos, Francisco Inácio

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo Estimar a prevalência do consumo concomitante de substâncias e analisar fatores de risco associados em uma amostra não probabilística da população brasileira de mulheres trans e travestis. Métodos Estudo transversal, com recrutamento por meio da metodologia respondent-driven sampling. A amostra incluiu mulheres trans e travestis residentes em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Manaus e Campo Grande, maiores de 18 anos, entre 2019 e 2021. O desfecho foi o uso concomitante de substâncias lícitas e ilícitas. A associação entre fatores sociodemográficos/comportamentais e o desfecho foi analisada com regressão de Poisson com efeitos mistos, estimando-se razões de prevalência ajustadas (intervalo de confiança de 95% – IC95%). Resultados A prevalência nos últimos 12 meses de uso de múltiplas substâncias foi de 49,3%, sendo 65,5% álcool, 52,9% tabaco e 40,1% maconha. Mulheres trans e travestis que usam múltiplas substâncias enfrentam mais violência (1,71; IC95% 1,14–2,55), desemprego (1,58; IC95% 1,05–2,37) e trabalho instável (1,52; IC95% 1,08–2,14), sexo transacional (1,51; IC95% 1,21–1,88), que pode ser a única opção de sustento, e têm de 18 a 24 anos (1,37; IC95% 1,14–1,65). Conclusão O uso de múltiplas substâncias pode ser uma tentativa de lidar com o sofrimento e a marginalização. O uso de substâncias tem sido associado a múltiplos danos e condições médicas. Uma gestão integral e cuidados abrangentes devem ser providenciados, conforme definido pelos princípios-chave do Sistema Único de Saúde do Brasil. Os cuidados de saúde devem ser integrados em intervenções estruturais.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective To estimate the prevalence of concomitant substance consumption and analyze associated risk factors in a non-probabilistic sample of the Brazilian population of transgender women and travestis. Methods A cross-sectional study was conducted with recruitment via respondent-driven sampling. The sample included transgender women and travestis residing in São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Manaus, and Campo Grande, aged 18 years or older, between 2019 and 2021. The outcome was the concomitant use of licit and illicit substances. The association between sociodemographic/behavioral factors and the outcome was analyzed through Poisson regression with mixed effects. Adjusted prevalence ratios (confidence interval of 95% — 95%CI) were estimated. Results The prevalence in the last 12 months of multiple substance use was 49.3%, of which 65.5% were alcohol, 52.9% tobacco, and 40.1% marijuana. Transgender women and travestis who use multiple substances face more violence (1.71; 95%CI 1.14–2.55), unemployment (1.58; 95%CI 1.05–2.37) and pervasive unstable work status (1.52; 95%CI 1.08–2.14), transactional sex (1.51; 95%CI 1.21–1.88) which can be their sole option to make a living, and are aged 18 to 24 years (1.37; 95%CI 1.14–1.65). Conclusion The use of multiple substances may be an attempt to cope with distress and marginalization. Substance use has been associated with multiple harms and medical conditions. Comprehensive management and care should be provided, as defined by the key principles of the Brazilian Unified Health System. Health care should be integrated into structural interventions.
  • Estudo TransOdara: o desafio de integrar métodos, contextos e procedimentos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil ORIGINAL ARTICLE

    Veras, Maria Amelia de Sousa Mascena; Pinheiro, Thiago Felix; Galan, Lenice; Magno, Laio; Leal, Andréa Fachel; Knauth, Daniela Riva; Motta-Castro, Ana Rita Coimbra; Queiroz, Rita Suely Bacuri de; Mayaud, Philippe; McCartney, Daniel Jason; Hughes, Gwenda; Santos, Camila Mattos dos; Bastos, Leonardo; Bassichetto, Katia Cristina; Sperandei, Sandro; Barros, Claudia Renata dos Santos; Silva, Rodrigo Calado da; Bastos, Francisco Inácio; Dourado, Maria Inês Costa

    Resumo em Português:

    RESUMO Objetivo As infecções sexualmente transmissíveis (IST) afetam desproporcionalmente as mulheres trans e travestis (MTT), que muitas vezes não têm acesso a cuidados de saúde devido ao estigma e à discriminação. Descrevemos a abordagem e a metodologia de um estudo que investigou a prevalência de sífilis, HIV, hepatite A, B e C, Neisseria gonorrhoeae (NG), Chlamydia trachomatis (CT) e papilomavírus humano (HPV) entre as MTT, bem como seu conhecimento e percepção sobre a sífilis, para melhor as políticas para redução de IST nessa população vulnerável. Métodos: TransOdara foi um estudo multicêntrico, transversal, realizado em cinco capitais das principais regiões brasileiras entre dezembro de 2019 e julho de 2021. Mulheres autoidentificadas como mulheres trans ou travestis, com idade >18 anos, foram recrutadas usando respondent-driven sampling, após uma fase de pesquisa formativa. Responderam a um questionário conduzido por entrevistadoras. Foi oferecida consulta médica, com exame físico, e solicitou-se que fornecessem amostras de vários locais para detectar as IST citadas. Quando indicado e consentido, foram iniciadas a vacinação e o tratamento. Resultados: Foram recrutadas 1.317 participantes nos cinco locais de estudo: Campo Grande (n=181, 13,7%), Manaus (n=340, 25,8%), Porto Alegre (n=192, 14,6%), Salvador (n= =201, 15,3%) e São Paulo (n=403, 30,6%). O período de recrutamento variou em cada local em razão de restrições logísticas impostas pela pandemia de COVID-19. Conclusão: Apesar dos enormes desafios colocados pela ocorrência simultânea da pandemia da COVID-19 e do trabalho de campo dirigido a uma população vulnerabilizada e dispersa, o projeto TransOdara foi eficazmente implementado. As adversidades não impediram que mais de 1.300 mulheres trans e travestis tenham sido entrevistadas e testadas em meio a uma epidemia de tal magnitude que perturbou os serviços de saúde e os projetos de pesquisa no Brasil e no mundo.

    Resumo em Inglês:

    ABSTRACT Objective Sexually transmitted infections (STIs) disproportionately affect transgender women and travestis (TGW), who often lack access to healthcare due to stigma and discrimination. We describe the approach and methodology of a study investigating the prevalence of syphilis, HIV, hepatitis A, B, and C, Neisseria gonorrhoeae (NG), Chlamydia trachomatis (CT), and human papillomavirus (HPV) among TGW, as well as their knowledge and perceptions regarding syphilis, to better inform policies to curb STIs among this vulnerable population. Methods: TransOdara was a multicentric, cross-sectional study conducted among TGW in five capital cities from major Brazilian regions between December 2019 and July 2021. Self-identified transgender women and travestis aged >18 years were recruited using respondent-driven sampling after a qualitative formative phase, completed an interviewer-led questionnaire, were offered a physical examination, and were also asked to provide samples from multiple sites to detect various STIs, starting vaccination and treatment when indicated. Results: A total of 1,317 participants were recruited from the five study locations: Campo Grande (n=181, 13.7%), Manaus (n=340, 25.8%), Porto Alegre (n=192, 14.6%), Salvador (n=201, 15.3%), and São Paulo (n=403, 30.6%). The recruitment period varied at each study location due to logistic constraints imposed by the COVID-19 pandemic. Conclusion: Despite the enormous challenges posed by the co-occurrence of the COVID-19 pandemic and field work targeting a vulnerable, elusive, and scattered population, the TransOdara project has been effectively implemented. Caveats did not preclude 1,300 TGW from being interviewed and tested, amid a significant epidemic that disrupted health services and research projects in Brazil and worldwide.
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br