Resumo em Português:
RESUMO O presente texto constitui-se como uma revisão de literatura, na qual se apresenta o percurso de construção do conceito de corpo-território, suas conexões com o feminismo comunitário, o ecofeminismo e o feminismo decolonial, para discutir a construção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis (TSS). Esse conceito proveio de mobilizações comunitárias de mulheres de povos originários de Abya Yala. Aos poucos, foi incorporado por mulheres indígenas, negras e camponesas brasileiras. O corpo-território consiste em dimensão biológica, mental, social e cosmogônica. A partir de seus corpos e territórios, elas questionam impactos de grandes empreendimentos, problematizam violências contra a mulheres e contra a Terra; problematizam desigualdades de sexo-gênero, classe e raça; e denunciam situações que constrangem a saúde e seus corpos e territórios. Por meio de práticas de cuidado, essas mulheres recuperam a saúde de si mesmas, de seus coletivos comunitários e territórios, ampliam a sua saúde e a saúde coletiva. Isso favorece a resiliência e a reparação da teia da vida. Esse protagonismo feminino tem sido invisibilizado em estudos sobre TSS. Assim, considera-se fundamental que essas contribuições feministas sejam interseccionais nas ações de promoção de TSS.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This text constitutes a literature review, which presents the path towards building the concept of body-territory, its connections with community feminism, ecofeminism and decolonial feminism, to discuss the construction of Healthy and Sustainable Territories (TSS). This concept originates from community mobilizations of women of Abya Yala peoples. It has been gradually incorporated by Brazilian Indigenous, Black and peasant women. The body-territory consists of biological, mental, social and cosmogonic dimensions. From their bodies and territories, they question the impacts of large undertakings; problematize violence against women and the Earth; problematize sex-gender, class and race inequalities; and denounce situations that constrain health and their bodies and territories. Through care practices, these women recover their own health and of their community groups and territories, expanding theirs and the collective health. This favors resilience and reparation of the web of life. This female protagonism has been invisible in studies on TSS. Therefore, it is considered essential that these feminist contributions are intersectional in actions to promote TSS.Resumo em Português:
RESUMO A pandemia de covid-19 revelou múltiplas dimensões da crise civilizatória e ecológica, destacando a falência do modelo de desenvolvimento capitalista hegemônico e a injusta concentração de riqueza global, gerando profundas desigualdades sociais. No nível local, a campanha ‘Cuidar é Resistir’ demonstrou que populações tradicionais podem oferecer respostas promissoras para o futuro. Por meio da coordenação de diversas ações, como arrecadação e distribuição de alimentos, compra de produtos locais e comunicação efetiva, essa campanha promoveu segurança sanitária, econômica e alimentar, além de reduzir desigualdades e pressões socioambientais. A participação das organizações da sociedade civil, das instituições públicas e do Sistema Único de Saúde foi fundamental nesse processo. A experiência da campanha sugere que o futuro diante da pandemia e da crise climática pode ser encontrado nos modos de vida das comunidades tradicionais, que podem inspirar novas formas de habitar o planeta, promovendo uma relação sustentável e solidária entre seres humanos e natureza. Ao aprender com o modo de vida tradicional e combinar suas práticas com as dimensões positivas do pensamento científico e tecnopolítico, baseado em abordagens solidárias e conhecimento colaborativo, é possível utilizar estratégias de governança viva para promover o Bem Viver.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The COVID-19 pandemic has revealed multiple dimensions of the civilizational and ecological crisis, highlighting the failure of the dominant capitalist development model and the unjust global concentration of wealth, resulting in profound social inequalities. At the local level, the ‘Cuidar é Resistir’ campaign has demonstrated that traditional populations can offer promising responses for the future. Through the coordination of various actions, such as food collection and distribution, support for local products, and effective communication, this campaign has promoted sanitary, economic, and food security, while reducing social and environmental pressures. The participation of civil society organizations, public institutions, and the Unified Health System has been crucial in this process. The campaign’s experience suggests that the future in the face of the pandemic and the climate crisis can be found in the ways of life of traditional communities, which can inspire new ways of inhabiting the planet, promoting a sustainable and compassionate relationship between humans and nature. By learning from traditional ways of life and combining their practices with the positive dimensions of scientific and technopolitical thinking, based on solidarity and collaborative knowledge, it is possible to employ strategies of living governance to promote the ‘Buen Vivir’ (Good Living) paradigm.Resumo em Português:
RESUMO Artigo crítico-reflexivo, à luz da Determinação Social do processo saúde/doença, que objetivou articular as concepções e as abordagens da vigilância em saúde à problematização das questões complexas de saúde que exigem a produção de cuidado articulado à territorialidade, à intersetorialidade e à interseccionalidade, além de concatenado à prática assistencial na Atenção Primária à Saúde, em contexto global de intensas e incertas mudanças climáticas. Para alcançar o objetivo, realizou-se um ensaio teórico no qual se desenvolveram argumentos teórico-analíticos caracterizados por articular pesquisas empíricas em relação ao tema da necessidade de construção de assistência e vigilância em saúde territorialmente articuladas e coletivamente construídas no contexto das mudanças climáticas. Para tanto, este manuscrito se organiza em três itens: 1) problematizar a ‘Determinação Social da Saúde e o enfrentamento dos agravos de relevância epidemiológica’; 2) debater as ‘mudanças climáticas e os desafios persistentes e o enfrentamento dos agravos infectocontagiosas no Brasil’; 3) apresentar ‘Estratégias participativas e construção de abordagens democráticas na assistência e na vigilância em saúde’. A Vigilância Popular em Saúde tem sido caracterizada como prática democrática que articula ações de vigilância concatenadas às realidades territoriais, definindo-se como experiência que tem apontado novos horizontes para uma prática territorialmente articulada e coletivamente construída.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This critical-reflexive article, in light of the Social Determination of the health/disease process, aims to articulate the conceptions and approaches of health surveillance to problematize complex health issues that require the production of care articulated to territoriality, intersectorality and intersectionality, in addition to being linked to care practice in Primary Health Care, in a global context of intense and uncertain climate change. The methodological path outlined to achieve the objective was to carry out a theoretical essay, in which theoretical-analytical arguments were developed, characterized by articulating empirical research in relation to the theme of the need to build territorially articulated and collectively constructed health care and surveillance in the context of climate change. To this end, this manuscript is organized into three items: 1) problematize the ‘Social Determination of Health and coping with diseases of epidemiological relevance’; 2) discuss ‘climate change and persistent challenges and combating infectious diseases in Brazil’; 3) present ‘Participatory strategies and construction of democratic approaches in health care and surveillance’. Popular Health Surveillance has been characterized as a democratic practice that articulates surveillance actions linked to territorial realities, characterizing itself as an experience that has pointed out new horizons for a territorially articulated and collectively constructed practice.Resumo em Português:
RESUMO Este ensaio discute a dimensão metodológica na pesquisa qualitativa para apoiar movimentos de transição paradigmática da saúde coletiva. Busca refletir sobre limites, necessidades, desafios e avanços que os autores têm construído para trabalhar ‘junto com’ os territórios, as organizações comunitárias e os movimentos sociais que neles atuam a partir de metodologias sensíveis co-labor-ativas. Um dos objetivos principais dessas metodologias envolve o poder de agência em processos instituintes dos sujeitos que vivem, trabalham e se mobilizam nos territórios, em particular, no reconhecer, validar e apoiar a produção de conhecimentos voltados à transformação social, à luta por direitos, à busca por dignidade e do bem viver. A partir da construção de Territórios Sustentáveis e Saudáveis no contexto de uma agenda marcada por crises socioambientais, propõe-se um resgate da epistemologia com sabedoria que alie dimensões ontológicas, metodológicas, pedagógicas, artísticas e afetivas. Nesse sentido, a transformação social também implica a mudança de um modelo hegemônico de ciência que, em nome da objetividade, exclui sistemas de conhecimentos e experiências nascidas em outras esferas da vida em comunidade, inclusive as tradicionais. Encerra-se com uma breve apresentação de experiências recentes de encontros de saberes e projetos de pesquisa que ilustram as metodologias sensíveis propostas.Resumo em Inglês:
ABSTRACT This essay discusses the methodological dimension in qualitative research in supporting movements of paradigmatic transition in public health. It reflects on the limits, needs, challenges and advances that the authors have been building to ‘work together’ with territories, community organizations and social movements that act within them, based on sensible collaborative methodologies. One of the main objectives of these methodologies involves the power of agency in instituting processes of the subjects who live, work and mobilize within the territories, in particular in recognizing, validating and supporting the production of knowledges aimed at social transformation, the struggle for rights, the search for dignity and well living. From the construction of Sustainable and Healthy Territories in the context of an agenda marked by socio-environmental crises, we propose a retrieval of epistemology with wisdom that combines ontological, methodological, pedagogical, artistic and affective dimensions. In this sense, social transformation also implies changing a hegemonic model of science that, in the name of objectivity, excludes knowledge systems and experiences born in other spheres of community life, including traditional ones. We end with a brief presentation of recent experiences of knowledges encounters and research projects that illustrate the proposed sensible methodologies.Resumo em Português:
RESUMO A partir do exercício narrativo, este artigo examina o conceito de desigualdades em saúde, sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os desafios da operacionalização do princípio da Agenda 2030 de ‘Não deixar ninguém para trás’ (Leaving No One Behind - LNOB). Também são destacadas as implicações desses debates para a implementação dos ODS, direcionadas para grupos populacionais vulnerabilizados em territorialidades locais e sua efetiva participação nesse processo. Por fim, apresenta a Atenção Primária à Saúde, dentro do contexto brasileiro, enquanto estratégia de atenção integral à saúde que se concentra na prevenção, na promoção e na reabilitação dos usuários, podendo contribuir para a abordagem local do LNOB e para a criação de territórios sustentáveis e saudáveis. Já se está na metade do período acertado para o prazo final da agenda, e os desafios são muitos. É necessário urgência em sua implementação, o que exige planejamento nacional, investimento na capacidade do setor público e infraestrutura digital, capacitação dos governos locais e melhorarias no monitoramento e revisão dos ODS. Inclui, ainda, a importância de enfrentar os desafios emergentes e preencher as lacunas existentes na arquitetura internacional relacionada com os ODS desde 2015.Resumo em Inglês:
ABSTRACT Based on the narrative exercise, this article examines the concept of health inequalities, its relationship with the Sustainable Development Goals (SDGs) and challenges in operationalizing the 2030 Agenda principle of ‘Leaving No One Behind’ (LNOB). The implications of these debates for the implementation of the SDGs aimed at vulnerable population groups in local territories and their effective participation in this process are also highlighted. Finally, it presents Primary Health Care, in the Brazilian context, as a fundamental health care strategy that focuses on prevention, promotion and rehabilitation of users, and can contribute to the local LNOB approach and the creation of sustainable and healthy territories. We are halfway through the scheduled deadline for the agenda, and the challenges are many. Urgency is needed in its implementation, which requires national planning, investment in public sector capacity and digital infrastructure, capacity building of local governments and improvements in monitoring and reviewing the SDGs. It also includes the importance of facing emerging challenges and filling existing gaps in the international architecture related to the SDGs since 2015.Resumo em Português:
RESUMO A incorporação da noção de território, no contexto da produção de saúde, apoia-se em uma perspectiva regulada que o informa enquanto um agente passivo, submetido à ação humana. Contudo, quando se aproxima de conceitos orgânicos como a biointeração, observa-se que os fluxos dos agenciamentos operam em direção oposta ao antropocentrismo. Em vista disso, como objetivo, este ensaio pretende expandir a dimensão conferida ao território, na abordagem dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis, tomando como fundamento a dimensão territorial na vida quilombola. Adotando o Território de Identidade do Recôncavo como ponto de partida, percebeu-se que ele se porta como um espaço vivo, compartilhado e conectável, que se funde à vida das interlocutoras deste estudo. Seja agenciando identidades ou efeitos terapêuticos, é por meio da sua capacidade de conduzir a relação individuo-território que tanto a vida quanto o processo saúde-doença são deslocados. Concluiu-se que é apenas a partir da recomposição desse arcabouço relacional que será possível orientar a uma produção sustentável da saúde.Resumo em Inglês:
ABSTRACT The incorporation of the notion of territory, in the context of health production, is based on a regulated perspective, which informs it as a passive agent, subject to human action. However, when approaching organic concepts such as biointeraction, it is observed that the flows of agencies operate in the opposite direction to anthropocentrism. In view of this, as an objective, this essay intends to expand the territory dimension in the Sustainable and Healthy Territories approach, taking as a basis the territorial dimension in quilombola life. Adopting the Recôncavo Identity Territory as a starting point, it was perceived that it behaves as a living, shared and connectable space, which merges with the lives of the interlocutors of this study. Whether managing identities or therapeutic effects, it is through their ability to manage the individualterritory relationship that both life and the health-disease process are displaced. It was concluded that it is only by recomposing this relational framework that it will be able to guide a sustainable health production.