Resumo
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e requer ações que propiciem bem-estar e previnam agravos e hospitalizações evitáveis. O propósito deste artigo foi identificar ações educativas e de promoção de saúde voltadas ao envelhecimento ativo. Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa de estudos publicados no ano de 2005 a agosto de 2018 nas bases de dados Lilacs e Medline, e nas bibliotecas virtuais SciELO e BVS em português, inglês e espanhol. Foram encontrados 2.069 estudos sobre os temas, sendo selecionados 33 depois de aplicados os critérios de inclusão. A observação mostrou que as ações identificadas promovem a adoção de hábitos saudáveis e a participação dos idosos, caracterizando-as como promotoras do envelhecimento ativo. No entanto, observam-se que estão limitadas ao segmento de idosos, o que pode favorecer a segregação etária, além de considerar o envelhecimento a partir da terceira idade e não um processo contínuo da vida. Das ações aqui evidenciadas, embora importantes, apenas onze delas foram avaliadas, o que sugere que a avaliação ainda não está sedimentada nos processos de intervenções de educação e promoção da saúde para mostrar efetividade e favorecer a replicação em outros locais ou serviços.
Palavras-chave
Educação popular em saúde; Promoção da saúde; Envelhecimento ativo; Saúde coletiva
Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial iniciado nos países de alta renda e que vem crescendo nos países de média e baixa renda, dentre eles o Brasil. Embora desejável e represente uma conquista da humanidade, esse crescimento traz implicações sociais, econômicas, políticas e de saúde11 Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saude Publica 2009; 43(3):548-554.,22 Veras RP. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Cien Saude Colet 2018; 23(6):1929-1936.. As mudanças demográficas mais notáveis têm ocorrido nas idades extremas, com redução da população com menos de 15 e aumento das pessoas de 65 anos ou mais, que deixaram de ser 5,5%, em 2000 e passarão a ser 10,7% em 2025, 18,7% em 2030 e 32,9% em 206033 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil. [publicação online]. Rio de Janeiro: IBGE; 2009. [acessado 2016 Out 28]. Disponível em http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv42597.pdf
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac... ,44 Alves JED. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Rev Portal de Divulgação 2014; 40(4):8-15. Isso levará a uma mudança na Razão de Dependência dos Idosos (RDI) estabelecida pela razão do número de idosos sobre a população considerada produtiva55 Organização Mundial da Saúde (OMS). Rede Interagencial de Informação para a Saúde. Demografia e saúde: contribuição para análise de situação e tendências. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2009. A RDI será quadruplicada no período dos anos de 2000 a 2050, fazendo com que seja necessário adequar as políticas públicas55 Organização Mundial da Saúde (OMS). Rede Interagencial de Informação para a Saúde. Demografia e saúde: contribuição para análise de situação e tendências. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2009, visto que, com o aumento da população idosa, ocorrem mais aposentadorias e menos arrecadação para o sistema previdenciário. Essas alterações demográficas também afetam o perfil epidemiológico da população e modificam os indicadores de morbimortalidade33 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil. [publicação online]. Rio de Janeiro: IBGE; 2009. [acessado 2016 Out 28]. Disponível em http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv42597.pdf
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac... ,44 Alves JED. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Rev Portal de Divulgação 2014; 40(4):8-15, com mudanças nos padrões das doenças que ocorrem mais em determinada população por um determinado período.
Devido às necessidades e vulnerabilidades que a população idosa apresenta, políticas públicas como o Estatuto do Idoso66 Brasil. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 2003; 3 out., a Política Nacional de Saúde do idoso77 Brasil. Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial da União 2019; 19 out. e a Política Nacional da pessoa Idosa88 Brasil. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 1994; 5 jan. surgiram para regulamentar os direitos dos idosos, estimulando sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, dentre eles o direito à vida e à saúde, por meio da prevenção de agravos, promoção, proteção e recuperação da saúde e um envelhecimento em condições de dignidade66 Brasil. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 2003; 3 out.. Embora esses direitos estejam bem delineados, poucas pessoas no Brasil atingem a velhice gozando os benefícios nelas preconizados. Dessa forma, as políticas fomentam, mas não garantem suas prerrogativas.
Embora grande parte dos estudos sobre envelhecimento populacional aborde principalmente a questão das implicações para a saúde pública, existem vários movimentos nacionais e internacionais que enfatizam o papel social do idoso99 Souza EM. Evaluation methods in health promotion programmes: the description of a triangulation in Brazil. Cien Saude Colet 2010; 15(5):757-768. e promovem ações de educação popular e promoção da saúde que favorecem o envelhecimento ativo.
A Educação em Saúde (ES), entendida a partir de vários conceitos1010 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Caderno de educação popular e saúde. Brasília: MS; 2007,1111 Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Cien Saude Colet 2014; 9(3):847-852., é um processo que contribui para aprofundar o conhecimento no que se refere à saúde. No entanto, essa tem sido exercida principalmente de forma vertical, com vistas à modificação de comportamentos em saúde. Muitas responsabilizando unicamente as pessoas pela sua condição de saúde, sem considerar vários fatores e determinantes sociais que impedem a adoção de hábitos salutares por falta das condições estruturais necessárias para tal.
Com a adoção da prática da Educação Popular em Saúde (EPS), termo trazido da Educação Popular, aprimorado pelo educador Paulo Freire1212 Freire P, Nogueira. O que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1989.,1313 Freire, P. Educação e Mudança. 12ª Ed. São Paulo: Paz e Terra; 1979 a partir de 1960, foi iniciada uma nova fase na Educação em Saúde. A EPS se estruturou a partir de uma prática pedagógica junto, e não para, à população, com o intuito de aumentar a autonomia desta, porém de forma participativa1212 Freire P, Nogueira. O que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1989.. A EPS valoriza o conhecimento dos usuários, assim como seus saberes populares, e privilegia a horizontalidade relacional entre os profissionais de saúde e a comunidade com seus movimentos sociais locais. É um processo político-pedagógico que transforma e liberta o indivíduo e a coletividade1212 Freire P, Nogueira. O que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1989.
13 Freire, P. Educação e Mudança. 12ª Ed. São Paulo: Paz e Terra; 1979-1414 Vasconcelos EM. A Educação Popular na Universidade. In: Vasconcelos EM, Cruz PJSC, organizadores. A Educação popular na formação universitária: reflexões com base em uma experiência. São Paulo: Hucitec; 2011. p. 15-24..
A promoção da saúde, definida pela Carta de Ottawa1515 Organização Mundial de Saúde (OMS). Carta de Ottawa 1986. Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde. Ottawa: OMS; 1986. [Acessado 2018 Set 15]. Disponivel em: http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publicações/carta_ottawal.
http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publi... e exaustivamente utilizado na literatura do campo da saúde, traz a ideia de empoderamento ao preconizar que é um processo que propicia às pessoas e à comunidade a possibilidade de exercer controle sobre sua saúde, listando uma série de fatores necessários à vida saudável e enfatizando a importância da participação social e a integração intersetorial para a sua prática e alcance. Esse conceito, mais uma vez, encontra vários obstáculos à sua abordagem, visto que a saúde, além de ser um evento multifatorial, depende para o seu alcance, de mudanças estruturais básicas como renda, habitação, emprego, educação, entre outros, que estão cada vez mais difíceis de atingir com modelos econômicos neoliberais e em condições de ameaças à democracia como vem acontecendo no Brasil ultimamente.
Nessa linha de aprimoramento e busca de melhor estado de saúde, e considerando a necessidade de atenção à população idosa, a Organização Mundial de Saúde lançou em 2005 a perspectiva de envelhecimento ativo, definido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. A palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. O envelhecimento ativo tem como objetivo o aumento da expectativa de vida ativa, com qualidade independente da idade1616 Organização Mundial de Saúde (OMS). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2005..
Verifica-se como essas três abordagens estão relacionadas e como trazem, implícita ou explicitamente, a participação como forma de empoderamento1515 Organização Mundial de Saúde (OMS). Carta de Ottawa 1986. Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde. Ottawa: OMS; 1986. [Acessado 2018 Set 15]. Disponivel em: http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publicações/carta_ottawal.
http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publi... , condição fundamental para usufruir a plenitude da saúde. Essa interdependência faz com que alguns autores considerem a EPS como uma modalidade de promoção de saúde1717 Reis INC, Silva ILR, Un JAW. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: educação popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface (Botucatu) 2014; 18(2):1161-1174. enquanto que para outros é uma estratégia para promover saúde1818 Vasconcelos EM. Educação popular: instrumento de gestão participativa dos serviços de saúde. Caderno de Educação Popular e Saúde 2007; p. 19-29.,1919 Pedrosa JI. Promoção da saúde e educação em saúde. In: Castro A, Malo M, editores. SUS: ressignificando a promoção da saúde. São Paulo: Hucitec; 2006. p. 77-95., mas as duas contribuem para o envelhecimento ativo, e este, por sua vez, pode facilitar tanto uma quanto a outra, uma vez que as pessoas em qualquer idade podem contribuir para a efetivação de ambas, resultando um círculo virtuoso para o bem-estar individual e coletivo.
Para que um idoso possa seguir uma vida caracterizada como ativa, é levado em consideração sua capacidade funcional, seu grau de independência e autonomia. Assim, as políticas públicas, os programas e os projetos destinados ao bem-estar dessa parcela da população devem buscar aprimorar, manter ou recuperar esses fatores. Prerrogativas já destacadas no Estatuto do Idoso66 Brasil. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 2003; 3 out. e nas políticas de saúde do idoso77 Brasil. Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial da União 2019; 19 out.,88 Brasil. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 1994; 5 jan.. Tais documentos enfatizam a importância dos idosos serem vistos como e terem oportunidades para serem agentes engajados, principalmente nas questões a eles relacionadas. No entanto, a participação social tem sido objeto de vários discursos e documentos oficiais, mas isso implica, entre outros fatores, a divisão de poderes e, portanto, sua prática ainda é dificultada.
Vale ressaltar que os hábitos, as atitudes e os comportamentos adquiridos na infância e na juventude influenciam a qualidade da velhice. Portanto, as práticas saudáveis e a participação social devem ser estimuladas ao longo da vida para serem perpetuadas na velhice. A população idosa, com o seu aumento crescente, deve estar atenta e consciente do poder que tem, visto que esse segmento está se tornando importante para interesses de diversas naturezas e pode ser uma das forças políticas do País.
Desse modo, e considerando-se o atual processo de envelhecimento da população brasileira, os riscos de agravos à saúde e as demandas por práticas emancipadoras, são importantes para tornar a velhice uma fase prazerosa e atuante. Assim, o propósito deste artigo foi identificar ações educativas e de promoção de saúde voltadas ao envelhecimento ativo.
Método
Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa, método específico de pesquisa que permite sintetizar e avaliar criticamente evidências teóricas e empíricas de determinado evento. Possibilita que o seu produto final apresente o estado atual do conhecimento do tema investigado, a implementação de intervenções efetivas na atenção à saúde, a redução de custos, a construção do conhecimento em saúde, bem como o aprimoramento das práticas e políticas públicas de saúde2020 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17(4):758-764.,2121 Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing. [Internet]. 2005 [cited 2012 Jun 03]; 52(5):546-53. Available from:. Para este estudo foram seguidos os passos preconizados para a realização desse tipo de estudo2020 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17(4):758-764. seguindo-se a pergunta: que ações educativas e de promoção da saúde estão sendo desenvolvidas para proporcionar o envelhecimento ativo? Foi considerado o período de 2005 a agosto de 2018, em virtude do lançamento do documento oficial da Organização Mundial da Saúde sobre o envelhecimento ativo em 2005, e utilizadas, para a busca de artigos, as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e as bibliotecas virtuais: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizadas as combinações dos descritores: “educação em saúde” “idosos” e promoção da saúde, e as palavras-chave: “envelhecimento ativo” e “educação popular em saúde” que não constam nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), juntamente com o operador booleano “AND”. Utilizaram-se esses mesmos descritores e palavras-chave em inglês e espanhol, com o operador booleano “AND” como detalhado na Figura 1.
Desenho esquemático da metodologia desenvolvida para busca e seleção de artigos nas bases de dados.
A seleção inicial dos artigos ocorreu mediante a leitura dos títulos e resumos, separando-se os relacionados com o objetivo do estudo. Foram incluídos artigos em português, espanhol e inglês disponíveis na íntegra e que abordavam a temática de educação com ênfase na EPS e aqueles relativos à promoção da saúde (PS) voltada ao envelhecimento ativo. Foram excluídos os artigos de revisão bibliográfica, teses e, no que se refere aos artigos duplicados, apenas um foi considerado para o estudo. A leitura integral dos artigos foi realizada utilizando-se os critérios de promoção do envelhecimento ativo, mesmo que este não estivesse explícito no texto, considerando-se os que continham ações e seguiam princípios básicos da educação popular em saúde e promoção da saúde, tais como a participação ativa para o empoderamento dos participantes, intersetorialidade e que promoviam a autonomia, a independência e a capacidade funcional das pessoas participantes.
Resultados e discussão
Foram encontrados inicialmente 2069 artigos dos quais foram selecionados 33 que estavam de acordo os critérios de inclusão estabelecidos (Figura 1).
Os resultados foram sistematizados em uma matriz detalhadas no Quadro 1.
Publicações de educação popular e promoção da saúde voltadas ao envelhecimento ativo de acordo com autoria, ano de publicação e local do estudo, título, objetivos e tipo de ação desenvolvida.
A análise mostrou estudos realizados predominantemente na atenção básica3030 Combinato DS, Vecchia MD, Lopes EG, Manoel RA, Marino HD, Oliveira ACS, Silva KF. Grupos de Conversa: saúde da pessoa idosa na estratégia saúde da família. Psicologia & Sociedade 2010; 22(3):558-568.,3131 Firmino R, Patrício J, Rodrigues L, Cruz P, Vasconcelos AC. Educação popular e promoção da saúde do idoso: reflexões a partir de uma experiência de extensão universitária com grupos de idosos em João Pessoa - PB. Rev APS 2010; 13(4):523-530.,3333 Tahan J, Carvalho ACD. Reflexões de Idosos Participantes de Grupos de Promoção de Saúde Acerca do Envelhecimento e da Qualidade de Vida. Saúde Soc 2010; 19(4):878-888.,3636 Andrade TP, Mendonça BPCK, Lima DC, Alfenas IC, Bonolo PF. Projeto conviver: estímulo à convivência entre idosos do Catete, Ouro Preto, MG. Rev bras educ méd. 2012; 36(Supl. 1):81-85.,3838 Patrocínio WP, Todaro MA. Programa de educação para um envelhecimento saudável. Rev Kairós 2009; 15(2):5-27,4141 Patrocinio WP, Pereira BPC. Efeitos da educação em saúde sobre atitudes de idosos e sua contribuição para a educação gerontológica. Rev Trabalho, Educação e Saúde 2013; 11(2):375-394.,4242 Mendonça ET, Fernandes L, Aires A, Amaro MO, Moreira TR, Henriques BD, Castro JA, Fernandes VC, Brinati LM. A experiência de oficinas educativas com idosos:( Re) pensando práticas à luz do pensamento Freireano. Rev APS 2013; 16(4):479-484.,4545 Almeida LFF, Freitas EL, Salgado SML, Gomes IS, Franceschini SCC, Ribeiro AQ. Projeto de intervenção comunitária "Em Comum-Idade": contribuições para a promoção da saúde entre idosos de Viçosa, MG, Brasil. Cien Saude Colet 2015; 20(12):3763-374.
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As oficinas e a formação de grupos foram as técnicas mais utilizadas com uma composição que variou de 8 a 20 componentes com a participação de mulheres prevalecendo. Essa é uma constatação frequente em ações desse tipo por várias razões, as quais incluem a maior resistência dos homens à prática de saúde e participação em atividades para a Terceira Idade; maior proporção de mulheres na população idosa e também porque muitos homens ainda exercem atividades remuneradas para complementação da renda2020 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17(4):758-764.. As discussões envolviam temas de interesse dos participantes, segundo os autores. Essa proposta foi importante para que as ações fossem atrativas e tivessem efeitos positivos, além de propiciar a troca de saberes profissional e popular, como preconizado pela educação popular1111 Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Cien Saude Colet 2014; 9(3):847-852.
12 Freire P, Nogueira. O que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1989.-1313 Freire, P. Educação e Mudança. 12ª Ed. São Paulo: Paz e Terra; 1979. O princípio da educação popular permeou a maioria das atividades a fim de trabalhar temas diversos como o compartilhamento de histórias de vida, questões práticas de alimentação saudável, atividades físicas, discussão de agravos crônicos, entre outros. Apenas uma ação foi realizada com idosos e adolescentes, a qual buscava o compartilhamento intergeracional de histórias de vida3434 Souza EM, Grundy E. Intergenerational interaction, social capital and health: Results from a randomized controlled trial in Brazil. Soc Sci Med 2007; 65(7):1397-1409.. Esse fato reforça a constatação de que as atividades de educação e promoção da saúde para idosos ainda se limitam quase exclusivamente a esse grupo, podendo inconscientemente promover a segregação etária. Isso se deve, possivelmente, pela dificuldade de reunir vários grupos etários em uma mesma atividade, ou porque prevaleça a ideia de que as ações com idosos devam ser somente para eles, ou ainda pela existência de ideias preconcebidas, inconscientemente, de que os idosos preferem estar com seus pares, o mesmo pensado para os jovens, fato esse desmistificado em estudos anteriores99 Souza EM. Evaluation methods in health promotion programmes: the description of a triangulation in Brazil. Cien Saude Colet 2010; 15(5):757-768.,3434 Souza EM, Grundy E. Intergenerational interaction, social capital and health: Results from a randomized controlled trial in Brazil. Soc Sci Med 2007; 65(7):1397-1409..
Apenas 11 das 33 intervenções foram avaliadas2222 Assis M. Envelhecimento ativo e promoção da saúde: reflexão para as ações educativas com idosos. Revista APS. 2005; 8(1):15-24.,2323 Sancho Castiello MT, Yanguas Lezaun JJ, Díaz Veiga P, Rodríguez Rodríguez P, Pérez Salanova M, Serrano Garijo P, Bermejo García L, Mesa Lampre P, Gómez Pavón J, Ruipérez Canterai I, Gutiérrez B. "Saber envejecer. Prevenir la dependencia." Un modelo para el diseño de materiales didácticos. Revista Española de Geriatría y Gerontología 2006; 41(Supl. 2):2-16.,2525 Martins JJ, Barra DCC, Santos TM, Hinkel V, Nascimento ERP, Albuquerque GL, Erdmann AL. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida de grupos da terceira idade. Rev eletrônica enferm 2007; 9(2):443-456.,3434 Souza EM, Grundy E. Intergenerational interaction, social capital and health: Results from a randomized controlled trial in Brazil. Soc Sci Med 2007; 65(7):1397-1409.,3737 Costa M, Rocha L, Oliveira S. Educação em saúde: estratégia de promoção da qualidade de vida na terceira idade. Rev. Lusófona de Educação 2012; 22:123-140.,4040 Cyarto EV, Dow B, Vrantsidis F, Meyer C. Promoting healthy ageing: Development of the healthy ageing quiz. Australas J Ageing 2013; 32(1):15-20.,4545 Almeida LFF, Freitas EL, Salgado SML, Gomes IS, Franceschini SCC, Ribeiro AQ. Projeto de intervenção comunitária "Em Comum-Idade": contribuições para a promoção da saúde entre idosos de Viçosa, MG, Brasil. Cien Saude Colet 2015; 20(12):3763-374.,4848 Valer DB, Bierhals CCBK, Aires M, Paskulin LMG. O significado de envelhecimento saudável para pessoas idosas vinculadas a grupos educativos. Rev Bras. Geriatr. Gerontol. 2015; 18(4):809-819.,5151 Inouye K, Orlandi FS, Pavarini SCL, Pedrazzani ES. Efeito da Universidade Aberta à Terceira Idade sobre a qualidade de vida do idoso. Educ. Pesqui. 2018; 44:e142931.,5252 Massi G, Wosiacki FT, Guarinello AC, Lacerda ABM, Carvalho TP, Wanderbrooke AC, Cairo NC, Lima RR. Active aging: an intervention-research report. Rev. CEFAC 2018; 20(1):5-12.,5454 Olympio PCAP, Alvim NAT. Board games: gerotechnology in nursing care practice. Rev. Bras. Enferm. 2018; 71(Suppl 2):818-826.. Esse fato sugere que a avaliação ainda não está totalmente sedimentada em atividades de educação e promoção da saúde. Os resultados e os benefícios variam, dependendo do tipo de intervenção realizada, segundo os autores. Em todos, entretanto, é percebido que a promoção da autonomia, da independência e da participação dos idosos está presente, o que as caracterizam como promotoras de saúde e do envelhecimento ativo1616 Organização Mundial de Saúde (OMS). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2005.,1717 Reis INC, Silva ILR, Un JAW. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: educação popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface (Botucatu) 2014; 18(2):1161-1174.. Observou-se que, em grande parte das ações, os idosos tiveram liberdade para expressar opiniões e participar das ações, muitas vezes conduzindo, eles mesmos, oficinas e atividades, sendo poucas as vezes que ocorreram palestras ou atividades que demandassem certa passividade. Todas faziam alusão à educação, ou à promoção da saúde ou ao envelhecimento ativo. Essa constatação reflete a interdependência ou inter-relação entre EPS, PS relatada por Reis et al.1717 Reis INC, Silva ILR, Un JAW. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: educação popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface (Botucatu) 2014; 18(2):1161-1174. e a dificuldade em saber se podem ser consideradas uma metodologia única como proposto por Vasconcelos1818 Vasconcelos EM. Educação popular: instrumento de gestão participativa dos serviços de saúde. Caderno de Educação Popular e Saúde 2007; p. 19-29. ou se a EPS é uma estratégia da PS como pontuado por Pedrosa1919 Pedrosa JI. Promoção da saúde e educação em saúde. In: Castro A, Malo M, editores. SUS: ressignificando a promoção da saúde. São Paulo: Hucitec; 2006. p. 77-95.. Neste estudo, os resultados parecem indicar que a EPS é um meio para o alcance e a promoção da saúde um produto que impulsiona o envelhecimento ativo. No entanto, não existem fronteiras definidas para se saber onde um começa e o outro termina; os três eventos formam um círculo virtuoso de influências e dependências mútuas.
Segundo os autores das ações observadas, houve autopercepção da melhora da memória, da autoestima, a diminuição da ansiedade, maior conscientização quanto à relevância do engajamento no processo de autocuidado, proporcionando-lhes bem-estar, interesse pela vida, ganho de conhecimento e adoção de hábitos saudáveis de vida. Referem, além disso, que as ações ajudaram a prevenir complicações futuras relacionadas às doenças crônicas, melhoras significativas nos componentes da capacidade funcional e na execução das atividades de vida cotidianas, acessos a diferentes opções de atividades físicas, melhorias na saúde mental. Essas últimas constatações, entretanto, carecem de estudos mais aprofundados e de longa duração para serem confirmadas.
Com relação aos benefícios sociais, verifica-se, de modo geral, o aumento da autonomia e participação ativa dos idosos nas ações, o estímulo à relação interpessoal entre os indivíduos e os profissionais envolvidos, a troca de experiências, a ampliação de vínculos afetivos, a criação de novos relacionamentos e a ampliação da rede social de apoio destes idosos. Estes resultados corroboram a importância da educação popular e da promoção de saúde, que consistem em um olhar holístico sobre a saúde para além das necessidades fisiológicas.
Considerando o empoderamento como um dos fatores primordiais das ações de promoção de saúde1515 Organização Mundial de Saúde (OMS). Carta de Ottawa 1986. Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde. Ottawa: OMS; 1986. [Acessado 2018 Set 15]. Disponivel em: http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publicações/carta_ottawal.
http://www.bvsms.saúde.gov.br./bvs/publi... , todas as referidas ações aqui analisadas parecem alinhadas a esse princípio, o que permite pensar que elas transformam o ambiente e a forma de lidar com questões do cotidiano.
Os resultados demonstram a diversidade de ações de promoção do envelhecimento ativo e os vários benefícios que elas podem oferecer para aqueles que atingiram a velhice. Ainda que haja escassez de estudos com essa abordagem, foi possível apresentar pesquisas que contribuem para o conhecimento e a compreensão desse fenômeno e de seus benefícios na vida dos indivíduos. No entanto, houve pouca discussão sobre a intersetorialidade e a participação da comunidade no planejamento das ações nos estudos analisados.
Os resultados apontam para a possibilidade de replicação das ações estudadas em outros serviços e localidades, como preconiza a revisão bibliográfica integrativa2020 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17(4):758-764.,2121 Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing. [Internet]. 2005 [cited 2012 Jun 03]; 52(5):546-53. Available from:, mas poderiam ter um impacto ainda maior se envolvessem mais a comunidade, as escolas, as universidades e outros setores com os serviços de saúde em todos os níveis, como preconizam a educação popular e a promoção da saúde99 Souza EM. Evaluation methods in health promotion programmes: the description of a triangulation in Brazil. Cien Saude Colet 2010; 15(5):757-768.
10 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Caderno de educação popular e saúde. Brasília: MS; 2007
11 Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Cien Saude Colet 2014; 9(3):847-852.
12 Freire P, Nogueira. O que fazer: teoria e prática em educação popular. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1989.-1313 Freire, P. Educação e Mudança. 12ª Ed. São Paulo: Paz e Terra; 1979 e, assim, possibilitar que as pessoas e a coletividade possam, de fato, ter controle sobre a vida e a saúde e serem atores do próprio destino.
O estudo apresenta certa limitação, principalmente pelo fato de terem sido considerados apenas os artigos disponíveis na íntegra no momento de busca, o que pode ter limitado o número de publicações, principalmente em inglês e espanhol.
Considerações finais
O presente estudo alcançou os objetivos propostos de apresentar atividades de promoção e educação em saúde voltadas ao envelhecimento ativo. A promoção de uma velhice participativa deve ser incentivada para o atual cenário de maior expectativa de vida da população brasileira. Assim, a disseminação das ações de saúde que propiciam maior autonomia e bem-estar é essencial para o bem-estar comum, bem como motivar a cultura participativa na população e fomentar novas pesquisas nesse campo, principalmente as avaliativas.
A ideia de envelhecimento ativo, proposta pela Organização Mundial de Saúde é oportuna, e deve ser entendida como um processo contínuo da vida para que as pessoas possam desenvolver o hábito do engajamento e da capacidade crítica a fim de tornarem-se atores da própria saúde e da própria vida, bem como influenciar mudanças sociais concretas.
A revisão integrativa da literatura facilitou a reflexão sobre atividades práticas e pesquisas que podem ser replicadas. O estudo em tela serviu para a observação reflexiva do que tem sido publicado com esse intuito. Serviu também para chamar a atenção para as lacunas existentes como a necessidade de avaliação para mostrar efetividade e que a velhice pode ser uma fase produtiva, desejada e prazerosa da vida.
Para tanto, é necessário que os governos e os gestores de modo geral compreendam o valor da educação e da promoção de saúde para todas as idades, e a importância do combate às injustiças sociais. Dessa forma, os idosos seriam mais participativos e, consequentemente, demandariam menos recursos sociais, passando a exigir, com o poder que podem ter e que possivelmente não estão totalmente cientes, o cumprimento das políticas a eles destinadas.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
19 Abr 2021 - Data do Fascículo
Abr 2021
Histórico
- Recebido
27 Dez 2018 - Aceito
07 Jun 2019 - Publicado
09 Jun 2019