RESENHA/REVIEW
Ricardo Ventura Santos
Department of Anthropology, Indiana University, USA
Patterns of Human Growth. Barry Bogin. Cambridge Studies in Biological Anthropology, Cambridge: Cambridge University Press, 1988, VIII + 267 pp., figuras, gráficos, tabelas, bibliografia (US$ 17,95 brochura).
Por razões de ordem histórica, a antropologia norte-americana tem, tradicionalmente, considerado o ser humano tanto sob o enfoque sócio-cultural como físico, apesar de tal divisão ser reconhecidamente arbitrária. Convencionou-se chamar de antropologia física, antropologia biológica ou bioantropologia a área de estudo antropológico que lida, mais diretamente, com o homem enquanto entidade físico-biológica, incluindo disciplinas tais como: genética populacional, osteologia, anatomia, morfologia, primatologia, paleontologia etc. Teoricamente, o que faz tais áreas adquirirem um caráter antropológico é a ênfase na utilização de conceitos como cultura e sociedade na interpretação dos dados. O livro de Bogin enquadra-se bem na tradição da antropologia biológica norte-americana, uma vez que aborda, holisticamente, o tema crescimento e desenvolvimento do ser humano.
De acordo com o autor, a meta do livro é a de apresentar e analisar as forças evolutivas que moldaram os padrões de crescimento atualmente observáveis nos seres humanos, os aspectos bioculturais que direcionam sua expressão, os fatores intrínsecos e extrínsecos que regulam o desenvolvimento individual e os modelos matemáticos relacionados com padrões de crescimento.
Como o objetivo de cobrir tal variedade de tópicos, o volume encontra-se dividido em oito partes uma introdução e sete capítulos , onde temas específicos são abordados. O capítulo 1 consiste em um apanhado histórico dos estudos de crescimento humano e em uma apresentação dos princípios biológicos básicos de crescimento e desenvolvimento. Utilizando uma perspectiva darwiniana, no capítulo 2, é descrita a evolução do crescimento humano, comparando-a com a de outros mamíferos, especialmente os primatas superiores. No capítulo 3, o autor usa os conceitos apresentados no capítulo anterior para, sob uma perspectiva ecológica e evolutiva, apresentar as relações entre padrões de crescimento com adaptações alimentares e reprodutivas. Para tanto, Bogin lança mão de dados oriundos de disciplinas tais como: a paleontologia, paleoecologia, demografia, etologia e etnologia. Apesar do cuidado do autor em apresentar os argumentos de maneira clara, o leitor não-familiarizado com a literatura recente sobre evolução humana poderá encontrar dificuldades para entender todos os argumentos apresentados nos capítulos 2 e 3. Vale ressaltar, contudo, que tais capítulos merecem ser lidos, já que apresentam discussões interessantes. Uma delas refere-se ao porquê, dentre os primatas, somente a espécie humana apresenta um padrão de crescimento físico acelerado, durante a adolescência. O autor apresenta argumentos baseados na teoria evolutiva para responder tal questão.
O capítulo 4 trata mais diretamente com grupos humanos contemporâneos, enfocando padrões de variação de crescimento interpopulacionais. No capítulo 5, são explorados aspectos fisiológicos, ambientais e culturais relacionados com variações de crescimento. Portanto, leitores interessados em nutrição na comunidade acharão particularmente interessantes esses dois capítulos, já que tópicos polêmicos, tais como os prós e contras da utilização de padrões internacionais na avaliação do estado nutricional e a influência de status sócio-econômico sobre padrões de crescimento físico são abordados.
Finalmente, o capítulo 6 lida com fatores genéticos e endocrinológicos, ficando para o capítulo 7 a discussão sobre os modelos dos seres humanos.
Os tópicos abordados nos diversos capítulos são tratados de maneira clara e detalhada, tomando a leitura do livro interessante, ainda que se trate de uma obra eminentemente técnica. A utilização de inúmeros gráficos, tabelas e figuras ajuda no entendimento da grande soma de dados apresentada por Bogin. Além disso, há um glossário e uma extensa bibliografia atualizada (são aproximadamente 500 referências), trazendo ao alcance do leitor um vasto material, onde tópicos específicos podem ser aprofundados.
Por sua própria dimensão, Patterns of Human Growth não se propõe e não é um tratado exaustivo sobre crescimento físico humano. O volume serve, muito mais, como uma introdução ampla ao tópico, abordando suas diversas facetas a partir da perspectiva interdisciplinar característica da antropologia biológica. Minha opinião é a de que o livro merece ser lido por todos aqueles interessados em crescimento e desenvolvimento humano. A diversidade de tópicos aliada à habilidade de síntese do autor levaram à produção de uma obra interessante e informativa.