EDITORIAL  EDITORIAL

 

Saúde Pública: investimento prioritário

 

 

A saúde pública no Brasil passa por uma grave crise. Além dos problemas habitacionais e educacionais, a população sofre com a falta de atendimento médico adequado e com a crescente privatização do sistema de saúde. O serviço de saúde não dá conta de toda a demanda e os custos impostos pela iniciativa privada são incompatíveis com o poder aquisitivo da maioria das pessoas. Outro problema importante é o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos na área da saúde. Em um setor amplamente dominado por multinacionais, faz-se urgente e necessário que as instituições nacionais de pesquisa em ciências e tecnologia aplicadas à saúde pública trabalhem com afinco na busca de soluções para os problemas que afligem a população brasileira. Na maioria das vezes, projetos relacionados a doenças da miséria são excluidos do portfolio de investimentos das empresas por razões de custo/benefício, tornando-se assim um dever do Estado a alocação de recursos para este fim. Com a internacionalização da economia, a liberação das forças de mercado e a veloz introdução de inovações tecnológicas, novas formas de comportamento, com ênfase no aumento da qualidade e produtividade são impostas às organizações, a fim de fazer frente às pressões competitivas. No Brasil, a recente abertura do mercado e a gradual retirada do Estado de vários setores econômicos são conseqüência da adaptação às mudanças econômicas em curso no resto do mundo. Em face desse novo cenário, as instituições de pesquisa científica e tecnológica nacionais devem encontrar saídas para a sua sobrevivência, procurando desenvolver práticas de gestão compatíveis com a nova realidade, capazes de oferecer flexibilidade e gerar respostas rápidas a problemas complexos. O investimento em ciência e tecnologia é pois um ato da maior relevância para a nação. O setor privado também deve ser envolvido nesse processo, apoiando a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a produção. O estabelecimento de parcerias entre entidades governamentais e empresas deve ser estimulado. Não devemos ter receio do relacionamento público/privado, considerando-o como um dilema insolúvel e excludente, e sim pensá-lo com maior espírito público e menor espírito coorporativo, devendo ser esta relação completamente transparente em nível institucional e individual. Em função da concentração das atividades de investigação tecnológica por parte de corporações multinacionais, os países em desenvolvimento encontram sérios obstáculos para o acesso às novas tecnologias no campo da saúde. O incentivo à formação de alianças tecnológicas deve vir acompanhado de ênfase à proteção do patrimônio científico-tecnológico, através dos mecanismos oferecidos pelo sistema de propriedade intelectual. As instituições geradoras de ciência e tecnologia desempenham papel fundamental na nova ordem econômica mundial, em função da valorização do conhecimento e do incremento da capacitação tecnológica. O gasto das verbas públicas, quase sempre escassas, deve ser otimizado. A gerência institucional ganha posição de destaque nas tarefas de redução do tempo de processamento das operações e dos custos das atividades internas, bem como evita a duplicação de esforços. Neste momento, torna-se premente o desenvolvimento de sistemas de avaliação institucional que se debrucem não só sobre a capacidade produtiva ou as realizações ocorridas, como também sobre as oportunidades de investimento em áreas de conhecimento e atuação, parcerias com empresas e organizações não-governamentais e prospecção tecnológica, visando à otimização dos resultados das atividades tecnológicas, configurando, portanto, uma efetiva ação de planejamento estratégico. Embora o país esteja passando por uma difícil fase de ajuste macroeconômico, onde os cortes orçamentários penalizam profundamente as organizações do sistema de ciência e tecnologia e de saúde pública, é fundamental para os atores envolvidos no processo de geração e difusão de inovações tecnológicas empenharem-se cada vez mais na busca de produtos e processos que contribuam para a melhoria das condições de vida da população brasileira.

 

Eloi S. Garcia
Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Public Health: a priority for investment

 

 

Public health in Brazil is currently undergoing a serious crisis. In addition to problems with housing and education, the Brazilian population suffers from lack of adequate health care (even for the most common diseases) and growing privatization of the health system. Health care and costs imposed by the private sector are incompatible with the purchasing power of most citizens. Another major problem is the limited investment in research and development for products and processes in the health field. In a sector heavily dominated by multinationals, it is urgent that domestic research institutes in health-related science and technology make major efforts in the search for solutions to problems affecting the Brazilian population. More often than not, projects related to diseases associated with poverty are excluded from companies' investment portfolios for cost-benefit reasons, and it thus falls to the public sector to allocate resources for this purpose. Given the globalization of the economy, the unleashing of market forces, and the rapid introduction of technological innovations, new forms of behavior stressing quality control and productivity are imposed on organizations in order to meet competitive pressures. In Brazil, the recent opening of the market and the gradual withdrawal of the state from various economic sectors have resulted from adjustment to economic changes under way elsewhere around the world. Faced with this new scenario, Brazilian scientific and technological research institutions must find ways to survive, seeking to develop management practices compatible with the new reality and capable of providing flexibility, while generating rapid answers to complex problems. Investment in science and technology is thus an act of utmost relevance for the nation. The private sector must also be involved in this process, participating more intensively in research, technological development, and production. Partnerships between government agencies and businesses should be encouraged and expanded. We must not be wary of the relationship between the public and private sectors, viewing it as an insoluble or exclusive dilemma; rather, it should be seen with greater public spirit and a less corporatist focus, as a totally transparent exchange at the institutional and individual level. Based on the concentration of technological research activities by multinational corporations, the developing countries encounter serious obstacles to accessing new technogies in the health field. Encouragement for forming new technological alliances should be accompanied by an emphasis on the protection of scientific and technological endowment, through mechanisms afforded by the intellectual property system. Institutions generating science and technology play a crucial role in the new world order, due to the enhanced value of knowledge and the increase in technological capability. Spending public resources, which are always scarce, must be optimized. Institutional management gains an outstanding position in the task of reducing processing time for operations and costs of internal activities, in addition to avoiding duplication of efforts. At this moment, there is a pressing need to develop systems for institutional evaluation that focus not only on productive capacity or achievements, but also on investment opportunities in fields of knowledge and activity, partnerships with businesses and nongovernmental organizations, and technological prospecting, with a view towards optimizing the results of technological activities, thereby shaping effective activity in strategic planning. Although Brazil is undergoing a difficult phase of macroeconomic adjustment, where budget cuts have seriously jeopardized organizations in the country's system of science and technology and public health, it is essential for the players involved in the process of generating and disseminating technological innovations to devote their efforts more than ever to the search for products and processes that can help improve the living conditions of the Brazilian people.

   

Eloi S. Garcia
President of the Oswaldo Cruz Foundation

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br