EDITORIAL EDITORIAL
A Confidencialidade no Processo Editorial
Confidencialidade é um tópico chave na dinâmica de publicação de um artigo científico. Já no momento de chegada de um manuscrito na secretaria de uma revista científica estabelecem-se laços de confidencialidade envolvendo a tríade editor-revisor-autor. Mais que laços, estrutura-se um pacto.
Segundo o Comitê de Política Editorial do Council of Biology Editors (CBE Views 20:183-85, 1997), implícito no processo de editoração está o direito do autor de receber um tratamento confidencial na avaliação de seu manuscrito. Um ponto fundamental é garantir proteção ao autor contra a utilização indevida de suas idéias ao longo do período que se estende desde o instante quando o texto adentra o processo de editoração até quando o manuscrito (inédito) alcança a etapa de efetiva publicação (ou rejeição). A manutenção da confidencialidade visa também proteger o revisor, que estará realizando uma análise crítica que, mesmo justa, nem sempre será bem-vinda pelo(s) autor(es). Autores e revisores em geral participam de uma mesma comunidade científica. Através da confidencialidade busca-se minimizar as possibilidades de eclosão de animosidades inter-pessoais explícitas. Um revisor sentir-se-á tanto mais à vontade para expressar suas críticas quanto mais seguro estiver que sua identidade permanecerá no anonimato.
Cabe ao editor, obviamente, um papel fundamental na garantia da confidencialidade. Uma de suas principais funções é atuar como elo de conexão entre autores e revisores. Por um lado, há a expectativa do autor em publicar o produto resultante de um longo tempo de investimento intelectual. Há, concomitantemente, uma dimensão prática, dado que a publicação é (pelo menos assim se espera) etapa necessária à ascensão profissional. Por outro, há a figura do revisor, elemento que deve receber toda atenção e consideração de um editor. Através de seu trabalho, o revisor assessora o editor da revista, contribuindo duplamente para que o manuscrito receba uma avaliação justa e assegurando a qualidade e a relevância científica dos trabalhos divulgados nas páginas de um periódico (Ciência e Cultura 50:14-23, 1998; JAMA 272:96-7, 1994; Ann Intern Med 121:61-2, 1994).
Espera-se que um revisor ao receber um trabalho para avaliação concorde em manter seu conteúdo confidencial. Tal discrição deve perdurar por tempo indeterminado, ou seja, inclusive após o artigo ter sido publicado. Até mesmo compartilhar o conteúdo de um texto original com um colega deve ser evitado, excetuando-se aqueles casos quando for imprescindível aclarar questões específicas relacionadas ao texto. Obviamente, é inadmissível que um manuscrito sob avaliação seja reproduzido e/ou distribuído a colegas ou estudantes, mesmo se do círculo profissional imediato do consultor. Até sua efetiva publicação, um texto inédito não pode ser citado sem a explícita autorização de seus autores.
Há uma face da confidencialidade para a qual um editor científico deve estar particularmente atento. Sobre esta dimensão refere-se Addeane S. Caelleigh, editor de Academic Medicine, ao afirmar que "...acima de tudo, a confidencialidade que envolve o trabalho das revistas não deve ser utilizada para acobertar procedimentos relaxados, políticas obscuras e práticas injustas" [68 (Supl. 3):23-9, 1993]. Portanto, ao contrário de outras esferas da dinâmica social humana nas quais a confidencialidade pode vir a encobrir práticas escusas, sigilo e segredo constituem ingredientes imprescindíveis e positivamente associados ao adequado funcionamento de um periódico científico.
Carlos E.A. Coimbra Jr.
Editor
Confidentiality in the Editorial Process
Confidentiality is a key topic in the dynamics of publication of a scientific article. From the moment a manuscript arrives in the office of a scientific journal, standards of confidentiality are established. More than simply establishing a protocol, however, a pact is created involving the triad of editor-author-reviewer.
According to the Editorial Policy Committee of the Council of Biology Editors (CBE Views 20:183-85, 1997), the author's right to receive confidential treatment in the review of their manuscript is implicit in the editorial process. A fundamental point is to protect the author against unauthorized use of their ideas during the editorial process until such time as the manuscript is published (or rejected). Confidentiality also protects the reviewer, whose critical evaluation of the manuscript, although justified, may not always be welcomed by the author. Authors and reviewers are typically members of the same scientific community and confidentiality reduces the possibility that pre-existing, inter-personal animosities will arise in the editorial process. Furthermore, a reviewer will be more apt to express their sincere views and criticisms when their anonymity is guaranteed.
The journal editor obviously plays a fundamental role in maintaining confidentiality. One of their principal functions, in fact, is to facilitate the linkage between authors and reviewers. On the one hand, the author has expectations and interests to publish the results of their long intellectual investment particularly in view of the fact that publication is a necessary step in professional ascendance. On the other hand, the reviewer must receive the full attention and consideration of the editor since their reviews not only assists the editor to ensure that the manuscript is fairly evaluated, but also helps maintain high standards of quality and scientific relevance of the works appearing in the journal (Ciência e Cultura 50:14-23, 1998; JAMA 272:96-7, 1994; Ann Intern Med 121:61-2, 1994).
It is assumed that, upon receipt of a manuscript for evaluation, the reviewer agrees not to divulge the content of the reviewed manuscript. Such discretion stands for an indeterminate period, in force even after the final version has been published. Even sharing the contents with an immediate colleague should be avoided, except when absolutely necessary to clarify specific questions relevant to the text. Obviously, it is entirely unacceptable to reproduce and/or distribute a manuscript under review to colleagues or students, even if the circulation is tightly restricted to a small group of people directly associated with the reviewer. Until such time as the manuscript is published, the text should not be cited in any context without the prior authorization of the author.
Addeane S. Caelleigh, editor of Academic Medicine, draws out attention to one aspect of confidentiality to which the editor of a scientific journal must be particularly cognizant, in stating that "above all, the confidentiality of journal operations must not be used as a screen for sloppy procedures, muddled policies, and unfair practices" [68(Sup. 3):23-9, 1993]. Unlike many other spheres of the human social dynamic in which confidentiality may come to hide practices, secrecy and discretion constitute necessary ingredients of the review process and are positively associated with the adequate functioning of any scientific journal.
Carlos E.A. Coimbra Jr.
Editor