REVISÃO REVIEW
Anemia e obesidade: um paradoxo da transição nutricional brasileira
Anemia and obesity: a paradox of the nutritional transition in Brazil
Malaquias Batista FilhoI; Ariani Impieri de SouzaI; Teresa Cristina MiglioliII; Marcela Carvalho dos SantosIII
IInstituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira, Recife, Brasil
IICentro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, Brasil
IIIDepartamento de Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil
RESUMO
Objetiva-se analisar a prevalência crescente das anemias e do sobrepeso/obesidade, como tendências conflitantes da transição nutricional do Brasil. Fez-se uma seleção de 28 trabalhos publicados sobre anemia em crianças e mulheres em idade reprodutiva, considerando representatividade estatística, padronização de técnicas laboratoriais e critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde. O sobrepeso/obesidade em adultos foi avaliado pelo índice de massa corporal (IMC): entre 25 e 29,9kg/m2 (sobrepeso) e > 30kg/m2 (obesidade). Para análise das tendências, foram comparados três inquéritos, 1974/1975 (36,4%), 1989 (53,5%) e 2002-2003 (51,9%), para a prevalência de sobrepeso/obesidade. No estudo mais representativo sobre anemias em crianças (< 11g/dL), a prevalência elevou-se de 22% (1974) para 46,9% (1995-1996). Nas gestantes (< 11g/dL), os resultados variaram entre 14,7% e 40,4%. Conclui-se que as prevalências de anemia em crianças e sobrepeso/obesidade em adultos apresentaram tendências semelhantes de evolução temporal. Evidências mais recentes de redução das anemias poderiam ser atribuídas ao enriquecimento das massas alimentares com ferro e folato. As anemias e o sobrepeso/obesidade estariam associados às mudanças no consumo alimentar, como substrato da transição nutricional.
Epidemiologia Nutricional; Anemia; Obesidade; Transição Nutricional
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze the growing prevalence of anemia and overweight/obesity as contrasting trends in Brazil's nutritional transition. Twenty-eight studies published on anemia in children and childbearing-age women were selected, based on statistical representativeness, standardization of laboratory methods, and World Health Organization criteria. Overweight/obesity in adults was assessed by body mass index: 25 to 29.9kg/m2 (overweight) and > 30kg/m2 (obesity). Three surveys were compared for analysis of tendencies: 1974/1975 (36.4%), 1989 (53.5%), and 2002/2003 (51.9%) for overweight/obesity prevalence. In the most representative study on anemia among children (< 11g/dL), the prevalence increased from 22.0% (1974) to 46.9% (1995/1996). For pregnant woman (< 11g/dL), results ranged from 14.7 to 40.4%. Prevalence of anemia among children and overweight/obesity among adults showed similar tendencies over time. Recent evidence of reduction in anemia can be attributed to flour supplementation with iron and folic acid. Anemia and overweight/obesity are associated with significant changes in food intake as a substratum of the nutritional transition.
Nutritional Epidemiology; Anemia; Obesity; Nutritional Transition
Introdução
Em virtude dos paradigmas habitualmente referenciados, como o enfoque isolado das doenças em sua etiopatogenia, estabeleceu-se a tendência praticamente normativa de se descrever e analisar os eventos do setor saúde e, particularmente, as doenças nutricionais como entidades próprias, autônomas ou, no máximo, aproximadas por "analogias de natureza". Em outras palavras, as deficiências nutricionais formariam agrupamentos de situações conceitualmente associadas, como desnutrição energético-protéica, carências de sais minerais e hipovitaminoses. Ainda assim, a tendência dominante se estabelece no sentido de considerá-las separadamente, de forma autônoma, com sua identidade própria e inconfundível.
Dessa maneira, entre as quase trinta sinonímias utilizadas para designar formas graves de desnutrição energético-protéica, como o kwashiokor, apenas uma, a "síndrome pluricarencial infantil" ou "síndrome pluricarencial hidropigênica" 1, ressaltava o caráter multicarencial do problema como entidade clínica. No pólo oposto, a associação de problemas relacionados com excessos alimentares e estilos de vida não saudáveis seria bem mais aceitável e usual, como nos casos da obesidade, sobrepeso, dislipidemias e suas múltiplas complicações ou co-morbidades, entre as quais se sobressaem o diabetes mellitus e as doenças cardiovasculares 2,3,4.
Responsáveis atualmente por 80% da carga de morbimortalidade dos países ricos e mais da metade nos povos em desenvolvimento 2,5, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis apresentam em comum seus principais fatores biológicos e comportamentais de risco. Entre esses fatores, destacam-se as variáveis nutricionais, representadas pela alimentação hipercalórica e seus desvios específicos: consumo excessivo de açúcares simples, de gorduras animais, de ácidos graxos saturados, de gorduras trans, ao lado do sedentarismo crescente, tabagismo, uso imoderado de bebidas alcoólicas e outras práticas de vida não saudáveis 6,7.
De forma simplificada, são representações de dois modelos bem distintos e até antagônicos, justificando a conduta de enfoques clínicos e epidemiológicos diferenciados. Entre os dois cenários (doenças carenciais, atingindo sobretudo as crianças, e as doenças crônicas não transmissíveis, predominando amplamente entre adultos e idosos) se delineia o itinerário da transição nutricional, um rápido processo de mudanças nos perfis demográficos e de morbimortalidade bem evidenciado nos últimos cinqüenta anos 8,9,10.
Em princípio, o processo de transição consiste na substituição de um padrão de doenças e mortes característico de um estágio histórico de subdesenvolvimento econômico, social e de saúde por um outro padrão, que resultaria no modelo mais atual dos países de avançada economia de mercado. Os mecanismos internos e externos desse processo e seus resultados, apresentando algumas variantes, teriam em comum esse salto quali e quantitativo no modelo de desenvolvimento econômico-social, implicando necessariamente a mudança de uma situação própria do passado para uma nova e radicalmente diferente situação no presente 11,12. Sobre esse aspecto, provavelmente, não existe nenhum dissenso.
No entanto, a transição nutricional que se desenvolve no Brasil apresenta uma singularidade notável: o agravamento simultâneo de duas situações opostas por definição: uma carência nutricional (a anemia) e uma condição típica dos excessos alimentares, a obesidade 13. Como entender esse antagonismo de natureza e de tendências num mesmo contexto histórico, num mesmo espaço geográfico e numa mesma população, de forma até independente de sua heterogeneidade sócio-econômica?
É possível que não se tenha uma explicação definitiva ou convincente sobre essa situação conflitante que, inclusive, põe em questionamento o conceito mais literal de transição epidemiológica no campo da nutrição, na medida em que não ocorre a esperada substituição de uma endemia carencial para a elevação de uma outra endemia de natureza oposta - o sobrepeso/obesidade.
Neste artigo, faz-se um exercício inicial de consolidação de resultados que possam representar a coexistência dos dois problemas e uma sistematização de possíveis evidências para a compreensão do que poderia ser um paradoxo epidemiológico.
Procedimentos
Com esses objetivos, considera-se, de fato, quatro enfoques: (a) um resumo das mudanças nutricionais ocorridas nas últimas três décadas, no Brasil; (b) uma descrição mais detalhada da evolução comparativa do estado nutricional da população adulta (homens e mulheres), com ênfase no binômio sobrepeso/obesidade, incluindo aspectos geográficos e sociais; (c) a consolidação de resultados selecionados sobre a ocorrência de anemia em crianças e mulheres brasileiras, por ordem temporal; em adição, relacionam-se resultados preliminares de recentes pesquisas nos estados de Pernambuco e Paraíba; (d) finalmente, delineiam-se, nas considerações finais, algumas críticas, hipóteses e conclusões que possam ajudar a entender o aparente paradoxo.
Para a inclusão dos resultados referentes à anemia em crianças, foram adotados os seguintes critérios: (a) amostras de base populacional com um mínimo de 400 observações; (b) utilização das técnicas de dosagem da cianometahemoglobina ou uso do Hemocue, na determinação laboratorial da hemoglobina; (c) utilização dos pontos de corte recomendados pelo Comitê de Especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para definição de anemia 14. Com estes procedimentos, dos 45 estudos relatados entre 1980 e 2007, apenas 16 foram incluídos, segundo as fontes relacionadas na coluna Estudo de cada tabela. Em relação às mulheres no período reprodutivo, foram adotados os mesmos procedimentos, com uma exceção: aceitação de avaliações de amostras obtidas no pré-natal, tendo em vista a boa representatividade dessas informações em virtude da grande cobertura da assistência obstétrica e o uso rotineiro de exames de sangue neste atendimento.
Considerando os propósitos do estudo, fundamentalmente direcionados na avaliação de mudanças temporais, e levando em conta a semelhança das prevalências entre macrorregiões geográficas, os resultados dos estudos selecionados foram apresentados por ordem cronológica (ano de coleta dos dados primários), de modo a possibilitar uma leitura estatística seqüencial da ocorrência de anemias no curso das últimas três décadas.
Excepcionalmente, um dos estudos relatados 15 refere-se ao ano de 1974/1975, fora, portanto, do bloco de informações consolidadas a partir de 1980. Sua inclusão se justifica por se tratar do único trabalho que possibilita uma série temporal de três décadas sucessivas, estando, assim, dentro de uma perspectiva plenamente apropriada para os objetivos do artigo aqui apresentado. Tendo em conta o interesse especial de se dispor de dados produzidos dois anos após a obrigatoriedade de enriquecimento de massas industrializadas com ferro e folato, e não existindo dados publicados a partir de 2006, à exceção do estudo de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil 16, considerou-se a pertinência e oportunidade de antecipar neste artigo resultados ainda não publicados em veículos de divulgação científica. É o caso das pesquisas relatadas em notas explicativas nas Tabelas 1 e 2.
Uma vez que o sobrepeso e a obesidade não representariam, ainda, um problema epidemiologicamente significativo em crianças e adolescentes, os resultados referentes a essa condição incluem somente os maiores de vinte anos, segundo sexo. Utilizam-se os resultados de pesquisas de abrangência nacional e aplicam-se, para classificação do estado de nutrição, o índice de massa corporal (IMC), assim calculado: IMC = peso (kg)/altura (m2).
O resultado dessa fórmula foi classificado em quatro categorias: (a) baixo peso: IMC < 18,5kg/m2; (b) peso normal: IMC > 1,85 < 25,0kg/m2; sobrepeso: IMC > 25,0 < 30kg/m2; obesidade: IMC > 30kg/m2.
Desde que as fontes dos dados publicados não incluem explicitamente a condição de peso normal (ou eutrofia), a prevalência dessa categoria foi calculada em percentuais, como complemento ou diferença percentual da soma das categorias (a + c + d) - 100%, passando, assim, a figurar na representação dos resultados que não constam do artigo original 17.
Três décadas de mudanças
Resumo do contexto epidemiológico
A partir de 1974, o panorama nutricional no Brasil apresentou mudanças marcantes e até surpreendentes. Dessa forma, o déficit estatural de crianças menores de cinco anos decaiu em torno de 75%, entre a linha de base de 1974/1975 e os anos de 2002/2003 18. Simultaneamente, inicia-se a elevação epidêmica do sobrepeso/obesidade em adultos, com variações notáveis de sexo e de área geográfica. Em sentido oposto à marcante diminuição da desnutrição em crianças, a obesidade em homens adultos praticamente triplicou entre a metade dos anos 70 e o início dos anos 2000, aumentando em mais de 50% nas mulheres. Em 1974/1975, a prevalência de baixo peso para estatura em mulheres e homens adultos era bem maior do que a ocorrência de obesidade. No entanto, o peso excessivo (IMC entre 25-29,9kg/m2) já se manifestava em 18% dos homens e 27% das mulheres. Desde então, instalou-se o processo epidêmico do sobrepeso/obesidade que, atualmente, já atinge cerca de 50% da população adulta.
Admite-se, com fundamento em estudos escassos, pontuais e, portanto, pouco conclusivos, que a deficiência de vitamina A está evoluindo para uma situação de controle epidemiológico, já não aparecendo, por exemplo, casos de lesões oculares graves 19. Acompanhada periodicamente por indicadores clínicos e bioquímicos convencionais e monitorada por medidas de proteção específica (iodatação obrigatória do sal), a deficiência de iodo está controlada há mais de uma década 20.
Já a anemia seguiu um curso singular: ao invés de declínio, como as outras deficiências nutricionais, assumiu características epidêmicas, tornando-se, em termos de magnitude, o principal problema carencial do país. Como observação conclusiva desta sinopse, cabe ressaltar as evidências de que tais problemas de natureza conceitualmente oposta (o sobrepeso/obesidade e as anemias) passaram a se comportar nos últimos trinta anos como situações praticamente co-lineares 13, o que configuraria uma tendência claramente conflitante.
Anemias, um problema em ascensão?
Duas linhas de observação podem ser seguidas em relação a essa pergunta. A primeira, mais adequada e consistente, seria a construção de séries históricas considerando-se as mesmas populações, nos mesmos territórios, mediante estudos representativos realizados em intervalos regulares de tempos, a fim de possibilitar a representação estatística de tendências. A segunda seria a ordenação temporal de resultados em diferentes populações e diferentes espaços geográficos.
Como se demonstra na Figura 1, nos raros estudos efetuados em amostras representativas das mesmas populações, em tempos diferentes, evidencia-se que a prevalência de anemias tendeu claramente a aumentar nas décadas finais do século passado (menores de cinco anos - São Paulo e Paraíba - e em escolares de Pernambuco), manifestando-se uma possível tendência de redução segundo dados pesquisados após 2005, portanto na década atual. No caso do Município de São Paulo, que expressa o exemplo mais representativo, a prevalência do problema em menores de cinco anos aumentou de 22% para 46,9%. Na Paraíba, entre 1982 e 1992, o aumento foi de 19,3% para 36,4%. Entre escolares do Recife, dois comportamentos distintos: num primeiro momento, a freqüência das anemias se elevou de 8,8% (1982) para 18,9% (2001), enquanto na avaliação mais recente (2005) decaiu para 13,4%. Entre menores de cinco anos, em Pernambuco, inquérito de base populacional demonstra uma diminuição de prevalência de 46,7%, em 1997, para 34% em 2006.
Os três estudos selecionados referentes à década de 80 demonstraram prevalências de anemia em crianças com um valor mínimo de 19,3% e máximo de 35,8%. Já entre 1990 e 2000, a ocorrência mais baixa foi encontrada em dois municípios do Acre (30,5%) e a mais elevada (82%), uma amostra aleatória de crianças de 11-13 meses, sorteada entre trezentos municípios de mais elevada mortalidade infantil do Nordeste brasileiro 21. Por fim, nas pesquisas de campo efetuadas após o ano de 2000, a menor prevalência encontrada foi de 25,4% (Maceió, Alagoas), contrapondo-se à maior ocorrência verificada, de 46,3% (Gameleira, Pernambuco), como se pode observar na Tabela 1.
Na Tabela 2, foram consolidadas informações publicadas ou ainda inéditas sobre prevalência de anemia em várias localidades do Brasil. Reúnem-se amostras de gestantes atendidas no pré-natal (seis relatos) ou avaliadas a partir de amostras de base populacional (outros seis relatos), reportando-se, nesta condição, às mães de crianças sorteadas para inquéritos sobre saúde e nutrição, recentemente concluídos em sua etapa de trabalho de campo e processamento de dados, nos estados da Paraíba e Pernambuco.
Observa-se, com raras exceções (caso do Rio de Janeiro, em 1990/1992, e de Pernambuco, a partir de 2006), que as prevalências de anemia em gestantes ou em mulheres em idade reprodutiva situavam-se acima de 20%. Os valores mais elevados ocorreram no Recife (40,4%) em mulheres examinadas no último trimestre da gravidez, enquanto os mais baixos (15,2% e 16,7%) foram encontrados, respectivamente, nos estados da Paraíba e Pernambuco, em estudos mais recentes de mulheres não gestantes.
A pandemia do sobrepeso/obesidade
Descreve-se, na Figura 2, em homens e mulheres adultas, a evolução do estado nutricional segundo o IMC, entre 1974/1975 e 2002/2003. Verifica-se que o baixo peso declinou e praticamente se estabilizou em níveis aceitáveis a partir de 1989, enquanto a obesidade triplicou em homens, elevando-se de 2,8% para 8,8%. Entre as mulheres, a ocorrência de obesidade, que, inicialmente, era três vezes maior que a encontrada nos homens, manteve-se praticamente estável em torno de 13% nas avaliações efetuadas em 1989 e 2002/2003. No mesmo período, a prevalência de normalidade antropométrica, que era de 71,4% entre os homens em 1974/1975, caiu para 47,4% na última avaliação. Entre as mulheres, a prevalência da normalidade antropométrica, segundo o IMC, declinou de 53,4% para 42,7%. Como se observa, as grandes mudanças da situação nutricional da população adulta, acarretando marcante diminuição da normalidade antropométrica, resultou, fundamentalmente, do aumento do sobrepeso/obesidade.
Demonstra-se, na Tabela 3, o curso temporal das prevalências de obesidade em mulheres do Brasil em três décadas, conforme a renda familiar distribuída em quintis. Observa-se, nos estratos mais pobres (1º e 2º quintis), que o problema mais do que duplicou sua freqüência no primeiro período (1975/1989) e aumentou significativamente no segundo (1989/2003), ao passo que, nas famílias de renda mais elevada (3º, 4º e 5º quintis), a prevalência da obesidade aumentou no primeiro período, tendendo a redução na segunda fase da evolução temporal.
Considerações finais
Parece surpreendente que, à medida que o desenvolvimento econômico e social amplia consideravelmente o acesso efetivo aos alimentos, informações, serviços, ações de saúde e outros condicionantes que interferem positivamente no estado nutricional, possa observar-se a ocorrência simultânea e crescimento co-linear de dois problemas de natureza oposta, como o sobrepeso/obesidade por um lado e as anemias carenciais por outro. Essa duplicidade de tendências seria absolutamente imprevisível trinta anos atrás, quando começaram a se delinear, em nível epidemiológico, as grandes mudanças no cenário nutricional da população brasileira. Assim, mais do que uma simples análise dos dois problemas isoladamente ou em conjunto, torna-se importante fazer uma reflexão retrospectiva dos enfoques dominantes na avaliação da problemática alimentar e nutricional do Brasil, e mesmo em nível internacional, com evidentes implicações na definição de prioridades e focos de interesse em sua abordagem.
No último século e, particularmente, entre 1950/1980, predominou o que se poderia chamar paradigma das proteínas e calorias como princípio referencial para descrição e análise da situação alimentar e nutricional, com um enfoque claramente centrado na desnutrição energético-protéica das crianças 22,23. Qualidade e quantidade de proteínas e, secundariamente, quantidade de calorias, com uma extensão complementar à questão das vitaminas, era a visão que se impunha aos estudiosos, planejadores e gestores na área de alimentação e nutrição 24.
Não se tratava, de fato, de uma compreensão própria do Brasil, desde que a mesma perspectiva prevalecia na Food and Agriculture Organization (FAO), na OMS, no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no Banco Mundial e nos grandes centros internacionais de estudos e pesquisas. A procura de alimentos ou misturas alimentares de elevado valor biológico (protéico) e baixo custo simboliza bem o pensamento dominante sobre o problema alimentar/nutricional e os rumos das políticas e das pesquisas para seu encaminhamento. No caso do Brasil, essa perspectiva conceitual foi conflitantemente confrontada com os resultados de um dos maiores e mais completos inquéritos alimentares do mundo, o Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF-1974/1975) 25, ao se demonstrar que as proteínas, com uma adequação média em torno de 200% das recomendações, não seriam o fator limitante básico da alimentação da população, mesmo nas famílias de mais baixa renda. A chave explicativa do problema deslocou-se, então, para o déficit calórico 26. De fato, o equívoco, bem observado no caso brasileiro, passou a ser também considerado em termos universais. O artigo O Fiasco das Proteínas pode ser tomado como emblemático da nova percepção do problema alimentar/nutricional 27.
Essa mudança de perspectivas transcorreu no mesmo momento em que se acumulavam, na segunda metade da década de 70 e, principalmente, nos anos 80, evidências consistentes de que a situação nutricional do país estava se transformando rapidamente. Na realidade, o processo de mudança foi mais rápido que sua própria percepção, em nível conceitual, político e epidemiológico. Assim, no inquérito do ENDEF (1974/1975) 25, ao lado da elevada prevalência de desnutrição em crianças, já figurava o problema do sobrepeso/obesidade em maiores de vinte anos, com uma prevalência bem maior que o próprio déficit de peso nos adultos (21,4% versus 7,2% entre os homens e 36,4% versus 10,2% entre as mulheres), razão de prevalência três vezes mais elevada. No entanto, tal situação não chegou a ser valorizada nos estudos publicados na época, em virtude da preocupação quase exclusivista com o problema da desnutrição energético protéica. A mesma observação poderia justificar o pouco interesse pela situação das anemias e de outros problemas, como a deficiência de vitamina A, de forma que, ainda hoje, os estudos efetivamente confiáveis sobre estas carências específicas são escassos e pouco consistentes, em termos de representatividade amostral, padronização de métodos de avaliação e referencial crítico para assegurar sua validade interna e externa. Muito provavelmente, o aspecto imprevisto dos resultados agora explicitados se relaciona mais com a discordância dos conceitos e atitudes referentes aos problemas nutricionais do que com o paradoxo dos dados comparados. Logo, a questão seria fundamentalmente epistemológica.
Em relação ao sobrepeso/obesidade, o entendimento básico passa necessariamente por um balanço energético excessivamente positivo, configurado no binômio consumo/gasto calórico. No caso do Brasil, os dois termos desta relação têm se alterado rapidamente 7,17,28, com o comprovado aumento do consumo alimentar e a redução progressiva dos gastos calóricos causada pelo crescente sedentarismo da população. Conta-se, atualmente, uma disponibilidade alimentar de mais de três mil calorias para uma necessidade estimada pela FAO em 2 mil calorias per capita/dia 29. Há, assim, um excedente potencial de cerca de 50% de calorias para cada brasileiro, o que poderia justificar em grande parte a prevalência de mais de 50% de sobrepeso/obesidade na população adulta.
Relatório recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 17 demonstra as grandes mudanças ocorridas no consumo alimentar das famílias brasileiras em relação ao suprimento de proteínas e calorias e suas fontes. Evidencia-se, ademais, que a desigualdade de condições sócio-econômicas entre regiões e entre estratos de renda não tem o mesmo papel do passado na distribuição geográfica e social da desnutrição/obesidade, estabelecendo-se uma situação de homogeneidade e, inclusive, de tendência para a diminuição do sobrepeso/obesidade nas faixas de renda familiar mais elevada.
Embora sem se dispor de dados efetivamente consistentes em âmbito nacional, existem evidências convincentes de que o problema das anemias em crianças brasileiras tenha acompanhado o mesmo ritmo da pandemia do sobrepeso/obesidade em adultos 13. Os inquéritos nutricionais realizados em três décadas sucessivas são bem indicativos de que o comportamento temporal das anemias em crianças tem acompanhado as tendências da ocorrência de sobrepeso/obesidade em adultos; em relação às mulheres, as informações analisadas seriam menos conclusivas. Ainda assim, os conjuntos de resultados das décadas de 80 e 90, comparados entre si, são demonstrativos de um aumento de prevalência deste problema.
Ao lado das evidentes limitações descritivas, os estudos sobre fatores causais das anemias têm sido pouco valorizados. Na realidade, apenas dois estudos são demonstrativos do papel das mudanças alimentares no agravamento epidemiológico do problema em crianças menores de cinco anos, em São Paulo e em Pernambuco. O primeiro demonstrou o papel da elevação do consumo de leite fluido no aumento das anemias, por dois prováveis mecanismos: substituição de outras fontes alimentares mais ricas em ferro e bloqueio parcial da absorção intestinal do ferro 30. O outro estudo, realizado com dados do inquérito alimentar/nutricional no Estado de Pernambuco, chega a conclusões bem semelhantes 31. Seria um outro paradoxo, pois os conhecimentos até então estabelecidos consideravam o leite um alimento insubstituível na alimentação das crianças, ao passo que, agora, configura-se como o principal causador do problema carencial de maior magnitude na população brasileira: a anemia nas crianças.
Em resumo, o avanço representado pela maior disponibilidade e acesso aos alimentos em nível familiar e, especificamente, o maior consumo do que seria um alimento nobre para as crianças, o leite, acabaram atuando como fatores de risco para mudanças adversas de grande magnitude no processo nutricional. Essas mudanças se desenvolveram quase imperceptivelmente, só sendo explicitadas quando o sobrepeso/obesidade, por um lado, e a anemia, por outro, alcançaram mais da metade da população de adultos e quase a metade da população de crianças. Com uma agravante peculiar: o desinteresse por seu aspecto mais relevante, o substrato alimentar do próprio processo de transição nutricional.
Como questão final, os dados mais recentes parecem indicar que, a partir de 2005, a ocorrência de anemias em crianças, escolares e adultos estaria declinando, segundo alguns resultados apresentados neste artigo, mudando para menos as tendências temporais de aumento do problema. Em princípio, isso poderia ser atribuído ao uso obrigatório de ferro e folato nas massas alimentares de consumo mais generalizado, como os derivados industriais do trigo e do milho 32. Trata-se, no entanto, de resultados ainda preliminares, necessitando-se de mais estudos para documentar este possível efeito sobre as anemias, em nível populacional.
Colaboradores
M. Batista Filho contribuiu na concepção do artigo, coordenação do grupo e redação do texto. A. I. Souza e T. C. Miglioli contribuíram na pesquisa bibliográfica e revisão final do texto. M. C. Santos contribuiu na pesquisa bibliográfica.
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Correspondência
M. Batista Filho
Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira
Rua dos Coelhos 300
Recife, PE
50070-550, Brasil
mbatista@imip.org.br
Recebido em 11/Out/2007
Versão final reapresentada em 30/Jan/2008
Aprovado em 26/Fev/2008