Resumos
O estudo tem como objetivo narrar a experiência de confluência entre poesia, formação e cuidado em dispositivos de atenção psicossocial do Rio de Janeiro, Brasil. A partir dos conceitos de Ailton Krenak, foram construídas reflexões sobre modos de formar e cuidar mais aliados à vida comunitária. Os resultados foram apresentados pelas seguintes narrativas: “Poesia, a cura da palavra”, que apresentou como a roda de poesia devolveu o direito do discurso às pessoas em sofrimento psíquico; “Terapia de palácio” revelou a importância do sujeito coletivo e a (re)ocupação do território; e “Poesia como invenção de paraquedas coloridos” funcionou como estratégia de cuidado. A poesia serviu como estratégia de constituição de coletivos, revelando a importância de se estar, cuidar e de formar, tendo como princípio o direito à palavra e ao território.
Palavras-chave
Saúde mental; Poesia; Território sociocultural
El objetivo del estudio es narrar la experiencia de confluencia entre poesía, formación y cuidado en dispositivos de atención psicosocial de Río de Janeiro, Brasil. A partir de los conceptos de Ailton Krenak se construyeron reflexiones sobre modos de formar y cuidar más aliados para la vida comunitaria. Los resultados fueron presentados por las siguientes narrativas: ‘Poesía, la cura de la palabra’ que presentó cómo la rueda de poesía devolvió el derecho del discurso a las personas en sufrimiento psíquico; ‘Terapia de palacio’, reveló la importancia del sujeto colectivo y la (re)ocupación del territorio; y ‘Poesía como invención de paracaídas de colores’ como estrategia de cuidado. La poesía sirvió como estrategia de constitución de colectivos, revelando la importancia de estar, cuidar y formar, teniendo como principio el derecho a la palabra y al territorio.
Palabras clave
Salud mental; Poesía; Territorio sociocultural
Considerações iniciais
Este estudo empregou na sua construção a ideia de “experiência coletiva”, de Ailton Krenak, para narrar as confluências entre poesia, formação e cuidado em saúde mental mediante memórias e afetos vivenciados por docente e graduandos de Enfermagem e residentes multiprofissionais em dispositivos de atenção psicossocial do Rio de Janeiro, Brasil.
A fim de apresentar os conceitos que guiam este artigo, cabe anunciar que a experiência que o estudo trata é aquela que, segundo Bondía11 Bondía JL. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev Bras Educ. 2002; (19):20-8. doi: 10.1590/S1413-24782002000100003.
https://doi.org/10.1590/S1413-2478200200... , “nos passa” e “nos acontece”. Desse modo, a escrita que remonta às experiências nascem do cotidiano, das lembranças e das marcas dos corpos, não apenas como histórias particulares, mas também como experiências coletivas, de sujeitos coletivos22 Krenak A. A potência do sujeito coletivo – parte 1. Rev Periferias [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; 1. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i
https://revistaperiferias.org/materia/a-... .
Por experiência coletiva, Ailton Krenak assevera que é o exercício da fricção de nosso corpo com a vida, humana ou não, não como metáfora, mas como um modo de circulação no mundo em comunidade e, portanto, apartada da ideia de individualismo como produção capitalista33 Krenak A. Caminhos para cultura do bem-viver [Internet]. Rio de Janeiro: Organização Bruno Maia; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf
https://cdn.biodiversidadla.org/content/... .
Nesse sentido, narrar tais experiências coletivas foi um modo de dar sentido e de nomear o que vimos, o que vivemos e o que sentimos no campo da atenção psicossocial do Rio de Janeiro. Nesta pesquisa, o encontro de poesias foi reconhecido como meio de viver a experiência coletiva de produção de conhecimentos e de saberes das pessoas pela partilha da vida em comum no território.
Cabe dizer que o período que precede a experiência produziu impactos significativos na vida em comum dos usuários dos serviços de saúde mental, uma vez que a vivência da pandemia de Covid-19 fez com que as atividades coletivas fossem interrompidas por quase dois anos em função da determinação do distanciamento social44 Barbosa A, Braga T, Nascimento C, Espírito Santo TB, Chaves RCS, Fernandes TC. Processo de trabalho e cuidado em saúde mental no centro de atenção psicossocial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro na pandemia de covid-19. Braz J Health Biomed Sci. 2020; 19(1):11-9. doi:10.12957/bjhbs.2020.53527.
https://doi.org/10.12957/bjhbs.2020.5352... . Esse esvaziamento da esfera coletiva e da dimensão sociocultural, de forma antagônica, atualizou na vida dos usuários o isolamento anteriormente vivenciado na ocasião da lógica manicomial que antecedeu a Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB), instituída pela Lei n. 10.216, de 6 de abril de 200155 Brasil. Ministério da Saúde. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União. 9 Abr 2001; Sec. 1.,66 Amarante P. Autobiografia de um movimento: quatro décadas de Reforma Psiquiátrica no Brasil (1976-2016) [Internet]. Rio de Janeiro: CAPES; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/42940
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict... .
Somado a isso, é importante salientar que, desde 2015, as bases da RPB vêm sofrendo retrocessos com o retorno ao dispositivo asilar de encarceramento de pessoas, retirando-as da possibilidade de circulação no mundo77 Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019. e de confluírem no exercício da vida em fronteira, como afirma o mestre quilombola Antônio Bispo dos Santos88 Santos A. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa; 2015.. Assim, o estudo parte da premissa de que a experiência narrada pela docente e por residentes é também um questionamento à colonialidade do conhecimento psiquiátrico (medicalizante) no campo da saúde mental brasileira, sendo, portanto, uma estratégia contracolonial na formação e no cuidado99 Deleuze G. Logique du Sens. Paris: Minuit; 1969..
Desse modo, os efeitos da pandemia, somados à fragilização dos princípios da Reforma Psiquiátrica e de certa individualização do sofrimento a partir da colonização dos conhecimentos pela psiquiatria tradicional, atingiram frontalmente a esfera coletiva e territorial de cuidado na Rede de Atenção Psicossocial, uma vez que reduziram as experiências de inclusão social tidas como cimento coletivo do cuidado em saúde mental.
Com isso, reiteramos a importância do retorno das atividades coletivas como invenção de paraquedas coloridos frente a esse “céu que desaba”33 Krenak A. Caminhos para cultura do bem-viver [Internet]. Rio de Janeiro: Organização Bruno Maia; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf
https://cdn.biodiversidadla.org/content/... no campo da saúde mental, trazendo prejuízos àqueles que sofrem, o que inclui não só usuários, mas também docentes, trabalhadores dos serviços, estudantes, familiares, comunidades, etc.
Considerando o que nos ensina Ailton Krenak, buscamos com este estudo apresentar a estratégia de construção de rodas de poesias como (re)existência e devolução do direito à palavra e à cidade.
Isso posto, o estudo tem como objetivo narrar a experiência de confluência entre poesia, formação e cuidado em dispositivos de atenção psicossocial do Rio de Janeiro, Brasil.
A experiência
A experiência relatada foi vivenciada no período pós-pandemia de Covid-19 por uma docente, residentes de Psicologia, estudantes de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), usuários do Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS) UERJ e moradores de Residências Terapêuticas (RTs) no período de julho de 2022 a março de 2023.
O CAPS UERJ foi criado no ano de 2009 e possui uma estrutura universitária, pois é um serviço multidisciplinar da universidade e integra a rede de saúde mental do município, sendo, portanto, um espaço de formação sólida para saúde mental55 Brasil. Ministério da Saúde. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União. 9 Abr 2001; Sec. 1.. Conta com quatro RTs.
Com o fim do isolamento social e retorno das atividades no CAPS UERJ, havia uma preocupação com a retomada de espaços coletivos que foram suspensos no período da pandemia. Antes da pandemia, os espaços de convivência eram ocupados com as seguintes atividades: oficinas de simbolização, culinária, jornal e bijuterias. No período pandêmico, tais atividades foram suspensas até meados de 2022, em razão do isolamento social, sendo oferecidas chamadas de vídeo e atendimentos mais restritos e individuais, sobretudo, em situações de crise.
Com o fim do isolamento social, havia a preocupação acerca do retorno das atividades coletivas e a (re)ocupação do território, nele compreendido o meio ambiente, a cultura, os espaços da cidade e suas diferentes formas de organização.
Diante disso, com o retorno dos espaços de convivência, a equipe do CAPS UERJ, trabalhadores da RT, a docente e os residentes discutiram em reunião de equipe a necessidade de escutar os interesses das pessoas que usam o serviço. Para isso, foram construídas três rodas de conversa nos espaços de convivência para entender quais atividades faziam sentido naquele momento e que eram de interesse deles. Entre muitas propostas, surgiu a Poesia.
A Poesia iniciou enquanto uma atividade cultural, ocorrendo às sextas-feiras no horário da tarde no CAPS UERJ e uma vez ao mês nos espaços territoriais da cidade, tais como praças, jardins, faculdades e museus. Tem sido facilitada em alternância entre a docente de Enfermagem da área de saúde mental da faculdade de Enfermagem da UERJ e os residentes de Psicologia atuantes no CAPS UERJ.
É mister destacar que a atividade não nasceu com a proposta de ser terapêutica no sentido clínico, mas sim de ser uma via cultural e um espaço de conviver. No entanto, é inegável que a experiência se desdobrou em um espaço de cuidado e de formação, já que os atores que também compõem o coletivo estão ligados à UERJ e ao CAPS, seja como técnicos ou como usuários do serviço. Optamos por utilizar a expressão “usuário” para designar pessoas que usam o serviço de atenção psicossocial, conforme o que foi definido no lII Encontro Nacional de Entidades de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial no ano de 1993.
Ao todo, participou da roda uma média de trinta pessoas por encontro, sendo cinco alunos de graduação de Enfermagem, dois residentes multiprofissionais, dois técnicos do CAPS UERJ, uma docente de enfermagem da UERJ e cerca de vinte usuários. Todos os encontros foram registrados pelos estudantes que participaram das rodas em um livro destinado às memórias do coletivo e as poesias resultantes desses espaços foram digitalizadas e armazenadas em drive.
A atividade era aberta, ocorria de forma independente da condição psíquica, física, linguística e intelectual de seus participantes e não estava restrita aos atores institucionais, ou seja, aos usuários do CAPS UERJ ou aos moradores das RTs.
É importante destacar que não havia uma metodologia fechada, mas sim princípios que não dispensamos, como: toda fala é importante, todo corpo pode poetizar, todo encontro é acontecimento e os afetos são livres para circular. Quando falamos de acontecimento, referimo-nos a “qualquer coisa que acabou de passar ou que vai se passar, simultaneamente”99 Deleuze G. Logique du Sens. Paris: Minuit; 1969.. Por isso, partimos para o encontro sempre “levemente preparados”, ou seja, não vamos com roteiros rígidos e imutáveis1010 Figueiredo E, Andrade E, Muniz M, Abrahão AL. Research-interference: a nomad mode for researching in health. Rev Bras Enferm. 2019; 72(2):571-6. doi: 10.1590/0034-7167-2018-0553.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0... .
Ademais, inspirados por Krenak33 Krenak A. Caminhos para cultura do bem-viver [Internet]. Rio de Janeiro: Organização Bruno Maia; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf
https://cdn.biodiversidadla.org/content/... , a atividade seguiu pela afirmação do coletivo como a constituição de uma potência comum, que nos têm sido roubada desde a colonização pela busca do individualismo e pelo esvaziamento da vida comunitária88 Santos A. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa; 2015..
A ideia de experiência coletiva em que o estudo aposta é aquela que afirma possibilidade de conceber a constituição da pessoa como sujeito coletivo que compartilha, que tem relações solidárias e plurais e que se reconhece nessas relações como parte.
Ao longo do tempo, a partir da experiência coletiva, da comunhão orgânica entre as pessoas e da procura dos próprios usuários pela atividade, as rodas de poesias se constituíram como oficina do CAPS UERJ e passaram a fazer parte dos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS).
A confluência entre poesia, formação e cuidado emergiu como mote e motor da produção de conhecimentos e como forma de ocupação da cidade, coproduzindo com os usuários o bem viver, como propõe a Agenda 2030 e seus Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os resultados perfizeram as seguintes etapas: 1- Poesia, a cura da palavra, na qual, a partir da percepção da docente e dos residentes, foi possível apresentar como a poesia foi capaz de construir experiências emancipatórias das pessoas em sofrimento psíquico; 2- Terapia de palácio, que revelou a importância do sujeito coletivo e a (re)ocupação do território; e 3- Poesia como invenção de paraquedas coloridos, em que foi possível ver como a poesia é uma estratégia criativa e viva de cuidado, de expansão das subjetividades e de luta por saúde de qualidade, indo na contramão dos retrocessos que a saúde mental vem vivenciando.
Poesia, a cura da palavra
Era uma sexta-feira chuvosa na cidade do Rio de Janeiro. Um entra e sai de vidas no CAPS UERJ. Nesse fluxo, sempre a mesma pergunta: vai ter poesia? Vozes; músicas; oficinas; trabalhadores da Saúde; estudantes de Enfermagem, de Psicologia e de Medicina; residentes; professores; auxiliares de serviços gerais; seguranças; e profissionais da cozinha em um trânsito que acompanha os passos do inédito da vida. E no CAPS UERJ esse inédito sempre vem! Vem em forma de riso, de gritos, de delírios, de abraços apertados, de dança, de choro e até de cadeiras voando.
Porém, em um dado momento do dia, algo interrompe esse trânsito e esse barulho estabelecendo outro tipo de inédito inesperado. É hora da poesia! Toda aquela agitação silencia. A roda, que geralmente acontece nos jardins da Policlínica Piquet Carneiro (PPC), teve que mudar de rumo devido à chuva e foi feita no CAPS UERJ mesmo. Pano colorido, poesias, canetas e papéis são dispostos sobre a mesa, em uma tentativa de “desformar” aquele lugar acostumado.
Nessa roda, estavam presentes duas internas de Medicina da UFRJ, cinco internas de Enfermagem da UERJ, dez usuários do CAPS UERJ e uma docente de Enfermagem, que foi a facilitadora do encontro. Antes mesmo de iniciar, duas, três, quatro poesias já foram feitas pelos participantes. Na verdade, o começo por aqui começa antes. Há todo um empenho, preparo, jogo, eleição de palavras, invenção de outras. Um palavrório só. Quando a facilitadora tenta dar início ao encontro, logo tem sua palavra interrompida (que ótimo!). “Posso ler minha poesia?!” E assim começa a roda. Sem começo mesmo.
A poesia foi lida e tratava sobre a chuva e o sol. Sobre ciclos da vida. Dizia que, após a chuva e a tempestade, sempre vem o sol. Ah, ele não falha! A pessoa que escreveu e leu a poesia estava na ocasião em situação de rua e entendia bem esse ciclo da natureza, pois sentia no seu corpo tal experiência. Essa poesia mexeu muito com os participantes, que logo pediram a palavra, que foi dada a eles, como direito.
O grupo começou a pegar palavras e passou a palavrear a palavra nascida das experiências de vida, dos afetos, das marcas. Tinha palavra nascida do canto dos pássaros pela vivência da rua, palavras sem pronúncia, palavras nascidas de música. Palavras desorganizadas, aceleradas, lentas, reclamadas, científicas, poéticas, indignadas. Palavras sofridas.
Pouco a pouco, as palavras criadas em poesia foram dando lugar às reflexões profundas sobre a vida. Sobre a morte. Sobre o sentido da existência. Os sofrimentos apareceram pela ausência de família, pelas violências sentidas, pela falta de emprego.
Quando se pensou que a roda viraria um mar de lamentações e sofrimentos (e tudo bem se virasse!), um participante cura a palavra e diz: “Gente, é para falar de coisas boas, de felicidade. Já morei na rua. Já perdi pessoas, mas já passou. Temos que viver. A vida é ciclo! A gente nasce, cresce e morre. Não aconteceu nada de bom na vida de vocês?”. Assim, ele começa a dizer que estava namorando. Aí a facilitadora da roda, em um ímpeto de alegria, disse: “Ah, que bom! Você então está amando!”. Ele novamente curou a palavra e disse: “Amando não, estou gostando seriamente”. A roda que girava no circuito da tristeza passou então a compor a palavra em risos. Aquela poesia sobre ciclo da natureza fez um verdadeiro reflorestamento do pensamento e das emoções; podemos dizer que ela curou as palavras sofridas, dando outro contorno para esse sofrimento.
A experiência aqui narrada toca na palavra “cura”. Falar de cura no campo da saúde mental é um paradoxo, já que o campo da psiquiatria levou uma vida e até o momento não encontrou a cura da loucura. Logo, para entendermos a cura da palavra que aqui tratamos, primeiro se faz necessário decolonizar e desmedicalizar a palavra “cura”.
Assim, trazemos as seguintes reflexões: por que a palavra no contexto da saúde mental é tão importante? Por que ela carece de cura? Como a poesia produziu cura nessa experiência que vivenciamos?
A ideia de cura geralmente vem assegurada pela perspectiva médica, portanto, encarcerada na esfera biológica. Porém, na poesia, experimentamos a cura da palavra como encantamento das esferas de saber; como política e poética que escapam da blindagem dos esquemas de saberes; e como uma gramática subalternizada de todos, de qualquer um, inclusive do chamado louco. Palavra como rasura, como flecha que sai da boca, como caminho percorrido pelo ser. Palavra parida do sofrimento de ser quem se é. Palavra como barulho e como radicalidade da expressão de estar vivo77 Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.,1111 Rufino L. Vence demanda: educação e descolonização. Rio de Janeiro: Mórula; 2021..
Todavia, tais palavras têm sido roubadas, controladas e invalidadas. Segundo Michel Foucault1212 Foucault M. A Ordem do Discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 19a ed. São Paulo: Edições Loyola; 2009., na obra “A ordem do discurso”, é desde a alta Idade Média que o poder de fala das pessoas consideradas loucas é anulado e não pode circular como o dos outros. Discurso que não tem importância e que deve ser rejeitado tão logo proferido. Porém, com o advento do nascimento da psiquiatria, foi pelo uso das palavras que se reconhecia a loucura das pessoas66 Amarante P. Autobiografia de um movimento: quatro décadas de Reforma Psiquiátrica no Brasil (1976-2016) [Internet]. Rio de Janeiro: CAPES; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/42940
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict... . Tal classificação nosológica, pela via do discurso, por muito tempo foi sustentada como ciência e, portanto, autorizada a estigmatizar as pessoas, em um movimento duplo de interditar e classificar pelo que e como se fala.
Nesse sentido, mesmo na vigência da RPB e do cuidado em liberdade, a palavra carece de cura porque ela foi e continua sendo negada e silenciada para as pessoas que vivem a experiência do sofrimento psíquico. Dessa forma, curamos a palavra nessa experiência quando restituímos o poder de nomear e poetizar o mundo; e enfrentamos coletivamente os aparatos de saber que dizem qual palavra serve ou não, quem está autorizado a dizê-las ou não.
Ancorados na ideia de experiência coletiva de Krenak33 Krenak A. Caminhos para cultura do bem-viver [Internet]. Rio de Janeiro: Organização Bruno Maia; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf
https://cdn.biodiversidadla.org/content/... , consideramos que o sofrimento psíquico é um evento social – e não particular – que nasce e decorre da sociedade em que se vive. Por isso, investimos nos espaços coletivos como uma estratégia contracolonizadora88 Santos A. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa; 2015. em relação à psiquiatria tradicional, trazendo ao centro do debate saberes biointerativos de docentes, estudantes de Enfermagem, residentes de saúde mental, trabalhadores do CAPS e usuários do serviço.
Desse modo, as rodas de poesias que aqui narramos não só legitimam como também cuidam, inventam e jogam com as palavras, não as considerando apenas como parte de autoria individual, mas também como confluência coletiva e socialmente construída, segundo o contexto de presença e intensidade da relação que ali se estabelece com aquilo que aparece, em ato, em acontecimento. Poesia que se tece nas invenções cotidianas, nos fluxos dos inéditos e inesperados que sempre vêm nos CAPS.
Terapia de palácio
A roda que aqui vamos narrar foi muito desejada pelos usuários do CAPS UERJ, moradores da RT e demais participantes da poesia. Havia um combinado com o coletivo de que, uma vez ao mês, a roda seria itinerante e ocuparia os espaços da cidade, sobretudo para incluir e fazer circular pela cidade os moradores da RT. Entre os diversos espaços, surgiu a ideia de irmos ao Palácio do Catete, localizado na zona sul do Rio de Janeiro. A zona sul corresponde à região em que estão situados os bairros mais nobres (segundo a lógica colonial e capitalista) do município e até mesmo do país. Sim, ocuparíamos a zona sul!
Era sexta-feira de um sol radiante. Um dia exuberante e poético. Logo pela manhã, a ansiedade daquele encontro. “É hoje que vamos para a Terapia de palácio?”, perguntou uma usuária. Logo chegou a hora. Aquele coletivo que já estava consolidado pelos encontros e afeto viveria um dia cheio de intensidades e surpresas no território.
“Vamos entrar na van!” Uma festa. Estavam presentes cinco residentes (dos cursos de Psicologia, Enfermagem e Serviço Social), um acadêmico de Psicologia, cinco acadêmicos de Enfermagem, uma docente de Enfermagem e dez usuários do CAPS UERJ.
O percurso até os jardins do Palácio do Catete (Museu da República) foi marcado por pedidos de músicas: de “desenrola, bate, joga de ladinho”, Banda Eva a Charlie Brown, Madonna e A-ha. Das janelas da van, era possível avistar a cidade. Os olhares curiosos se dirigiam aos pontos turísticos, à favela, ao sambódromo e ao estádio do Maracanã. Um dos participantes mostrou onde morava e onde vendia suas balas e amendoins; já outro apontou para o estádio, já que sempre foi muito ligado ao seu time e ao futebol1313 Mattos A. Narrativas de si em um fazer cotidiano: as oficinas como operadoras da lógica antimanicomial [trabalho de conclusão de residência]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2023..
Assim que adentramos no local, os participantes da poesia se dispersaram rapidamente. Perdemos o controle (e que bom, precisamos perder o controle mais vezes!). Cada um circulando ao seu modo pelo jardim, alguns se dirigindo à lanchonete e aos banheiros, outros entrando no museu, maravilhados pelos jardins, pelos animais e fotografias da natureza ali expostas. Árvores gigantes, lagos cristalinos, famílias circulando aparentemente felizes. Esse era o cenário. Queriam fotos daquele encontro.
Mas os olhares daqueles que ali estavam nos perguntavam quem eram essas pessoas tão diferentes ou “o que faziam ali?”. E um olhar que nos chamou a atenção foi o de um senhor que estava bem-vestido e usava um colete, assemelhando-se a um biólogo ou a um pesquisador de campo. Ele nos olhava como quem queria perguntar algo e perguntou: “De onde vocês são?”. Após dizermos que éramos da UERJ e estávamos com os usuários em uma roda de poesia, ele nos disse: “Depois vou encontrá-los para participar da poesia”. Não imaginávamos quem ele era. Somente depois descobrimos que se tratava do diretor do Palácio do Catete.
Finalmente, conseguimos reunir as pessoas em uma grande roda. Colocamos um grande pano colorido e redondo sobre o gramado. Assim que terminamos de estender o pano, as pessoas se jogaram sobre ele. Umas se sentaram, outras se deitaram. Estávamos muito à vontade na frente daquele lago lindo em que os animais nos rodeavam. Lá estava o pano colorido, os papéis e as canetas novamente. A ideia era que cada um escrevesse livremente uma poesia e depois partilhasse como o grupo, com a sua comunidade.
A partir dessa proposta, era perceptível usuários escrevendo e compartilhando suas histórias e poesias, estudantes que puderam compartilhar a grandeza de estar ali, o território tendo que se friccionar com aquelas presenças, assim como a docente afetada pela experiência de formar pessoas para o campo da saúde mental, em uma atmosfera sensível e radicalmente viva. Tudo isso foi integrando e enriquecendo a experiência da vida de cada sujeito, construindo, ao mesmo tempo, um sujeito coletivo.
Quando estávamos encerrando a roda, surpreendeu-nos a chegada do diretor do Palácio do Catete. Chegou declamando uma linda poesia e depois fez conosco uma poesia-intervenção, uma poesia que nos colocou em contato com nosso próprio corpo e, sob aplausos, recebeu todo o afeto daquele coletivo.
Assim, não se tratou apenas de um passeio, mas também de um estabelecimento e uma garantia ao direito de aparecer na própria cidade, viabilizando uma maior relação com seus atores – da vendedora da lanchonete ao diretor do museu1313 Mattos A. Narrativas de si em um fazer cotidiano: as oficinas como operadoras da lógica antimanicomial [trabalho de conclusão de residência]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2023.. Ocupar a cidade e os espaços foi uma forma de esvaziar a lógica manicomial das existências. Paladino e Amarante1414 Paladino L, Amarante P. A dimensão espacial e o lugar social da loucura: por uma cidade aberta. Cienc Saude Colet. 2022; 27(1):7-16. doi: 10.1590/1413-81232022271.19852021.
https://doi.org/10.1590/1413-81232022271... (p. 7) elaboram sobre “um ideal de cidade que nos ajude a enfrentar o paradigma manicomial e fortalecer o processo de RPB: a cidade aberta, aquela que inclui a diferença”.
Por outro lado, colocar-se à vista da cidade, produzindo uma atividade que poderia ser realizada intramuros, traz ressignificações aos usuários, aos estudantes, aos profissionais e à própria cidade. A possibilidade de rede, então, tornou-se possível. Isso pode ser evidenciado pela presença do diretor do museu, que não só se colocou enquanto espectador, mas também esteve junto e construiu algo1313 Mattos A. Narrativas de si em um fazer cotidiano: as oficinas como operadoras da lógica antimanicomial [trabalho de conclusão de residência]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2023.. Isso demonstra como a rede se trata de uma “malha aberta, com furos ou espaços para a criação de possibilidades”1515 Brasil. Conselho Federal de Psicologia. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial [Internet]. Brasília: Conselho Federal de Psicologia; 2013 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/11/CAPS_05.07.pdf
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploa... (p. 101) e evidencia o próprio marco da cidade enquanto lugar para a experiência clínica e para a formulação de redes vivas. Com isso, um ponto que poderíamos destacar no que se refere ao território é o de como ele afeta ou é afetado pelo sujeito, podendo ser destacada também essa fricção das pessoas com a paisagem e com a natureza por meio de uma biointeração1616 Santos AB. Somos da terra. Piseagrama (BH) [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; (12):44-51. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5120556/mod_resource/content/1/BISPO-DOS-SANTOS_Somos%20da%20terra%20-%20Piseagrama.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.p... .
Para o campo da formação, a experiência é uma epistemologia que foi se expandindo como poética, ou seja, foi um campo de produção de conhecimentos. Os estudantes aprenderam mais na experiência do que em qualquer leitura asséptica e desinteressada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), de algum tratado de psiquiatria ou afins. Todo esse aprendizado vai na contramão da dissolução de coletivos e do pertencimento ao território que vem se instaurando pela perspectiva colonial e capitalista que diz quem pode ou não pode circular em determinados espaços da cidade22 Krenak A. A potência do sujeito coletivo – parte 1. Rev Periferias [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; 1. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i
https://revistaperiferias.org/materia/a-... .
Na experiência de comunidade/coletivo, a ideia de pessoa passa a ser fortemente constituída na/pela interação com outros iguais. Consideramos que essa relação de encontro e interação com outros iguais no território é fundamental para a saúde mental, para a constituição do sujeito coletivo e para uma cidade inclusiva. Um território saudável é aquele que se fricciona com as diferenças de seus viventes. Segundo Krenak22 Krenak A. A potência do sujeito coletivo – parte 1. Rev Periferias [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; 1. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i
https://revistaperiferias.org/materia/a-... , o sujeito coletivo ocorre quando cada um é cada um; e é uma constelação de seres que habitam no mundo das vidas mesmo, dos seres que vivem e experimentam permanentemente insegurança e violência.
A função da poesia nessa experiência funcionou mais como uma possibilidade de experimentação e fruição da vida, de alargamento das possibilidades de habitar os territórios da cidade junto com a comunidade a que pertencem, lugar em que estão estabelecidas as trocas e os compartilhamentos de afetos e sofrimentos. Nesse sentido, o território é parte, princípio e totalidade da dimensão subjetiva das pessoas que nele habitam.
Poesia como invenção de paraquedas coloridos
Era final de ano e a roda de poesia seguia como de costume nos jardins da PPC. O preparo do local com panos coloridos, canetinhas e papel; poesias criadas espontaneamente; o começo sem começo... aos poucos, as pessoas iam chegando, assentando-se, cada um a seu modo. Tinha gente falando alto, emitindo apenas sons sem palavras, tinha gente agitada, lentificada, repetitiva, cabisbaixa.
Assim, a poesia segue o fluxo, iniciando com o uso das palavras “reinvenção” e “superação”, que alguém trouxe espontaneamente. Em dado momento do encontro, uma participante compartilha a dor acerca da perda de seu companheiro. Logo após essa fala, uma participante que chegou ao CAPS UERJ há alguns meses justamente pela dificuldade de aceitar a perda de sua mãe senta-se ao lado da pessoa que compartilhou o sofrimento e a abraça em um gesto de “Eu sei o que você está passando”. Todos estavam muito mobilizados pelo que a participante trazia em seu discurso. Inesperadamente, outro participante faz uma poesia de consolo, ali, na hora, em ato, e então se levanta e declama para ela. Segue um abraço apertado. Abraço apertado de quem também já viveu uma perda. Todos aplaudem. No final da roda, outro participante, que tem dificuldade em comunicar em palavras seus sentimentos, utilizou do seu modo e com os seus recursos um jeito de falar que demonstrou que também já passou por perdas de entes queridos. Ofereceu para ela a sua própria presença como forma de alívio do sofrimento. Saíram de mãos dadas do CAPS UERJ.
A experiência narrada diz sobre a invenção de modos de cuidar e curar pela palavra vivida, experimentada. Chamamos de “invenção de paraquedas coloridos”, em analogia ao que Ailton Krenak escreve no livro “Ideias para adiar o fim do mundo”77 Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019., essa criação, em ato, de recursos de cuidado para aquele que sofre.
Com essa formulação, o autor possibilita estabelecer uma passagem que vai do terrível à criação de saídas criativas para o sofrimento que já está posto, sem o qual não é possível fugir ou desviar. No caso da experiência, foi possível perceber nas falas que a morte veio. Não há mais o que fazer. Seria o “fim de mundos” para aquelas pessoas.
Diante desse céu que desaba sobre as cabeças das pessoas – e que muitas vezes paralisa e fecha as possibilidades de saída do luto –, Krenak nos aponta uma possibilidade de criar paraquedas coloridos. Mesmo diante da certeza de que o céu vai desabar, é preciso aliviar essa queda propondo uma resistência pela imaginação. Aqui, propomos uma resistência pela poesia, que, nesse caso, funciona como certa brecha que permite abrir passagem para o cuidado mútuo e coletivo.
Pergunta o autor em sua obra:
De que lugar se projeta os paraquedas? Do lugar onde são possíveis as visões e o sonho. Um outro lugar que a gente pode habitar além dessa terra dura: o lugar do sonho77 Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.. (p. 32)
Assim, a poesia tem sido esse paraquedas colorido em que os participantes conseguem conectar-se com o mundo. Não se trata de um mundo paralelo, mas sim de pessoas que também experimentam os mesmos sofrimentos e abraçam-se, entendem-se e curam-se. Com toda a leveza, sem manuais e protocolos, sem medicamentos e sem diagnósticos, as vidas vão expandindo suas subjetividades e ampliando suas existências, apesar e com seus sofrimentos. Dessa maneira, seguimos na luta por saúde de qualidade, indo na contramão dos retrocessos que a saúde mental vem vivenciando.
Considerações finais
Os encontros no território mediados pela poesia foram o principal resultado desta experiência. Encontros que nascem do/no cotidiano, das lembranças e das experiências de vida das pessoas, não apenas como histórias individuais, mas também como experiências coletivas, em uma verdadeira construção do que Ailton Krenak chama de sujeito coletivo.
Com a experiência, aprendeu-se que a poesia cura a palavra. Aqui, não se refere à cura pela perspectiva biomédica e psiquiátrica, mas sim à cura que se dá pela liberdade de falar o que se sente e o que se pensa sem ser rotulado em certo diagnóstico por isso. Outro aprendizado foi a importância de se possibilitar a construção do sujeito coletivo e (re)ocupar o território. Um território saudável é aquele que se fricciona com as diferenças e com os sofrimentos de seus viventes; e ocorre quando as pessoas também têm acesso e possibilidade de se friccionar com esse território, que não é hostil a sua presença. Por fim, a criação de paraquedas coloridos no campo da saúde mental foi um aprendizado para construir desvios aos efeitos dos retrocessos que esse campo tem vivido e para fortalecer os coletivos e a própria RPB.
Agradecimentos
Agradecemos a todos os trabalhadores e usuários do Caps Uerj, pela profícua parceria entre o ensino e o serviço.
- Figueiredo EBL, Mattos AVV, Araújo VP. Confluências poéticas: poesia, formação e cuidado em dispositivos de atenção psicossocial do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Interface (Botucatu). 2024; 28: e240023 https://doi.org/10.1590/interface.240023
Referências
- 1Bondía JL. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev Bras Educ. 2002; (19):20-8. doi: 10.1590/S1413-24782002000100003.
» https://doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003 - 2Krenak A. A potência do sujeito coletivo – parte 1. Rev Periferias [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; 1. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i
» https://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i - 3Krenak A. Caminhos para cultura do bem-viver [Internet]. Rio de Janeiro: Organização Bruno Maia; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf
» https://cdn.biodiversidadla.org/content/download/172583/1270064/file/Caminhos%20para%20a%20cultura%20do%20Bem%20Viver.pdf - 4Barbosa A, Braga T, Nascimento C, Espírito Santo TB, Chaves RCS, Fernandes TC. Processo de trabalho e cuidado em saúde mental no centro de atenção psicossocial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro na pandemia de covid-19. Braz J Health Biomed Sci. 2020; 19(1):11-9. doi:10.12957/bjhbs.2020.53527.
» https://doi.org/10.12957/bjhbs.2020.53527 - 5Brasil. Ministério da Saúde. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União. 9 Abr 2001; Sec. 1.
- 6Amarante P. Autobiografia de um movimento: quatro décadas de Reforma Psiquiátrica no Brasil (1976-2016) [Internet]. Rio de Janeiro: CAPES; 2020 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/42940
» https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/42940 - 7Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.
- 8Santos A. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa; 2015.
- 9Deleuze G. Logique du Sens. Paris: Minuit; 1969.
- 10Figueiredo E, Andrade E, Muniz M, Abrahão AL. Research-interference: a nomad mode for researching in health. Rev Bras Enferm. 2019; 72(2):571-6. doi: 10.1590/0034-7167-2018-0553.
» https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0553 - 11Rufino L. Vence demanda: educação e descolonização. Rio de Janeiro: Mórula; 2021.
- 12Foucault M. A Ordem do Discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 19a ed. São Paulo: Edições Loyola; 2009.
- 13Mattos A. Narrativas de si em um fazer cotidiano: as oficinas como operadoras da lógica antimanicomial [trabalho de conclusão de residência]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2023.
- 14Paladino L, Amarante P. A dimensão espacial e o lugar social da loucura: por uma cidade aberta. Cienc Saude Colet. 2022; 27(1):7-16. doi: 10.1590/1413-81232022271.19852021.
» https://doi.org/10.1590/1413-81232022271.19852021 - 15Brasil. Conselho Federal de Psicologia. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial [Internet]. Brasília: Conselho Federal de Psicologia; 2013 [citado 10 Abr 2023]. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/11/CAPS_05.07.pdf
» https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/11/CAPS_05.07.pdf - 16Santos AB. Somos da terra. Piseagrama (BH) [Internet]. 2018 [citado 10 Abr 2023]; (12):44-51. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5120556/mod_resource/content/1/BISPO-DOS-SANTOS_Somos%20da%20terra%20-%20Piseagrama.pdf
» https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5120556/mod_resource/content/1/BISPO-DOS-SANTOS_Somos%20da%20terra%20-%20Piseagrama.pdf
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
05 Jul 2024 - Data do Fascículo
2024
Histórico
- Recebido
22 Jan 2024 - Aceito
26 Mar 2024