Resumos
Introdução:
A dengue configura-se nas últimas décadas como importante causa de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo atingindo as zonas tropicais e subtropicais.
Objetivo:
Revisar a literatura científica sobre a ocorrência da dengue no Brasil e sua relação com variáveis meteorológicas.
Método:
Revisão sistemática de estudos publicados nas bases de dados (SciELO, PubMed, MEDLINE, Lilacs) através de descritores referentes à dengue e a variações meteorológicas no Brasil, em artigos publicados no período de 1991 a 2010. Foram selecionados 31 artigos que tiveram como área de estudo o território nacional.
Resultados:
A maioria dos estudos epidemiológicos usa desenho ecológico; os estudos entomológicos fazem uso de capturas com armadilhas; são comuns estudos de série histórica da doença e análise espacial. Evidencia-se relação entre incidência da dengue com a temperatura e pluviosidade; a associação é mais expressiva a partir do segundo até o quarto mês do ano. Estudos comparativos entre períodos de seca e chuva mostram comportamento sazonal da doença. Há dificuldades no estabelecimento de padrão único sazonal da incidência da doença e variáveis meteorológicas para o país.
Conclusão:
A dengue está fortemente relacionada com variáveis meteorológicas. A variação sazonal da temperatura e da pluviosidade influenciaram a dinâmica do vetor e a incidência da doença em todo o país, independente do compartimento climático.
Dengue; Aedes; Epidemiologia; Saúde ambiental; Clima; Incidência; Revisão sistemática
Introdução
A dengue é atualmente a arbovirose mais prevalente no mundo, com cerca de 40% da população em risco 11. da Silva-Voorham JM, Tami A, Juliana AE, Rodenhuis-Zybert IA, Wilschut JC, Smit JM. Dengue: a growing risk to travellers to tropical and sub-tropical regions. Ned Tijdschr Geneeskd 2009; 153: A778. . Circulam quatro sorotipos do vírus, aumentando significativamente as formas graves e letais da doença 22. Pinheiro FP, Corber SJ. Global situation of dengue and dengue haemorrhagic fever, and its emergence in the Americas. World Health Stat Q 1997; 50(3-4): 161-9. , 33. Wilder-Smith A, Chen LH, Massad E, Wilson ME. Threat of dengue to blood safety in dengue-endemic countries . Emerg Infect Dis 2009; 15(1): 8-11. .
O número de casos da dengue clássica (DC) e da febre hemorrágica da dengue (FHD) vem aumentado anualmente. Estima-se 550 mil internações com 20 mil óbitos anuais em um total de aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas expostas 44. World Health Organization. Report of the Scientific Working Group meeting on Dengue . Geneva; 2006. , 55. World Health Organization. WHO report on global surveillance of epidemic-prone infectious diseases. Geneva; 2000. e uma média de 80 milhões de casos novos notificados anualmente 22. Pinheiro FP, Corber SJ. Global situation of dengue and dengue haemorrhagic fever, and its emergence in the Americas. World Health Stat Q 1997; 50(3-4): 161-9. .
Como doença endêmica ou pandêmica reemergente, ocorre praticamente em todas as regiões tropicais e subtropicais do planeta 11. da Silva-Voorham JM, Tami A, Juliana AE, Rodenhuis-Zybert IA, Wilschut JC, Smit JM. Dengue: a growing risk to travellers to tropical and sub-tropical regions. Ned Tijdschr Geneeskd 2009; 153: A778. . Os países localizados nestas regiões são mais suscetíveis em função de diversos condicionantes, tais como: mudanças globais, alterações climáticas, variabilidade do clima, uso da terra, armazenamento de água e irrigação, crescimento da população humana e urbanização 66. Sutherst RW. Global change and human vulnerability to vector-borne diseases. Clin Microbiol Rev 2004; 17(1): 136-73. . Tais fatores, dentre outros, contribuem expressivamente para a proliferação e desenvolvimento do Aedes aegypti - vetor do vírus 77. Brasil. Ministério da Saúde. Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e incertezas para o Brasil. Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília; 2008.
8. Dhiman RC, Pahwa S, Dhillon GP, Dash AP. Climate change and threat of vector-borne diseases in India: are we prepared? Parasitol Res 2010; 106(4): 763-73. - 99. Ribeiro AF, Marques GR, Voltolini JC, Condino ML. Associação entre incidência de dengue e variáveis climáticas. Rev Saúde Pública 2006; 40(4): 671-6. . As alterações climáticas impactam no aumento de mais de 2 bilhões o número de pessoas expostas a dengue e as projeções para 2085 sugerem que cerca de 5 a 6 bilhões de pessoas (50 a 60 % da população global) estarão em risco de transmissão da doença 1010. Hales S, de Wet N, Maindonald J, Woodward A. Potential effect of population and climate changes on global distribution of dengue fever: an empirical model. Lancet 2002; 36(9336): 830-4. .
A dinâmica sazonal do vetor da dengue está comumente associada às mudanças e flutuações climáticas 99. Ribeiro AF, Marques GR, Voltolini JC, Condino ML. Associação entre incidência de dengue e variáveis climáticas. Rev Saúde Pública 2006; 40(4): 671-6. , 1111. Hemmer CJ, Frimmel S, Kinzelbach R, Gürtler L, Reisinger EC. Global warming: trailblazer for tropical infections in Germany? Dtsch Med Wochenschr 2007; 132(48): 2583-9. , que incluem: aumento da temperatura, variações na pluviosidade e umidade relativa do ar, condições estas que favorecem maior número de criadouros disponíveis e consequentemente o desenvolvimento do vetor. Este último apresenta duas fases distintas: aquática, com as etapas de desenvolvimento de ovo, larva e pupa, e a terrestre, que corresponde ao mosquito na forma adulta, estando ambas as fases sujeitas às alterações ambientais e meteorológicas 1212. Campbell-Lendrum D, Corvalán C. Climate Change and Developing-Country Cities: Implications For Environmental Health and Equity. J Urban Health 2007; 84(S1): 109-17. , 1313. Tabachnick WJ. Challenges in predicting climate and environmental effects on vector-borne disease episystems in a changing world. J Exp Biol 2010; 213(6): 946-54. .
No Brasil, a introdução da dengue com confirmação laboratorial data de meados de 1981 – 1982 na cidade de Boa Vista, Estado de Roraima - Amazônia brasileira –, onde foram isolados os sorotipos DEN - 1 e 4, com 11.000 casos confirmados 1414. Osanai CH, Travassos da Rosa AP, Tang AT, do Amaral RS, Passos AD, Tauil PL. Surto de dengue em Boa Vista, Roraima Nota previa. Rev Inst Med Trop Sâo Paulo 1983; 25(1): 53-4. . Desde então o país já passou por diversos surtos epidêmicos 1515. Schatzmayr HG. Dengue situation in Brazil by year 2000. Mem Inst Oswaldo Cruz 2000; 95 (S1): 179-81. , 1616. Schatzmayr HG, Nogueira RMR, Travassos da Rosa AP. An outbreak of dengue virus at Rio de Janeiro - 1986. Mem Inst Oswaldo Cruz 1986; 81(2): 245-6. .
Atualmente, a dispersão do Ae. aegypti atinge as 27 Unidades Federadas, com mais de 3.587 municípios infestados pelo vetor da doença. A dengue configura-se nas últimas décadas como importante causa de morbidade e mortalidade 1717. Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Boletim eletrônico epidemiológico . Brasília; 2001. , 1818. Brasil. Ministério da Saúde. Informe Epidemiológico da Dengue/Análise de situação e tendências . Brasília; 2010. .
O Brasil é considerado um país tropical por estar situado particularmente em zonas de latitudes baixas, nas quais prevalecem os climas quentes e úmidos, com temperaturas médias em torno de 20º C 1919. Organização Pan-Americana da Saúde. Mudança Climática e Saúde: um perfil do Brasil. Brasíli; 2009. . Com uma área de 8.5 milhões de km², é formado por cinco regiões geográficas (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) e cinco compartimentos climáticos, definidos por clima Equatorial, Temperado, Tropical Brasil Central, Tropical Nordeste Oriental e Tropical Zona Equatorial 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2005. Disponível em: http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.htm (Acessado em 28 de fevereiro de 2012).
http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.h... .
A variabilidade climática do Brasil se deve à dimensão do território, extensão da faixa litorânea, variação de altitude e, principalmente, à presença de diferentes massas de ar que modificam as condições de temperatura e umidade das cinco regiões. Por esta razão, são verificados no país desde climas super-úmidos quentes, provenientes das massas de ar equatoriais, como é o caso de grande parte da região Amazônica, até climas semiáridos, próprios do sertão nordestino 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2005. Disponível em: http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.htm (Acessado em 28 de fevereiro de 2012).
http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.h... , 2121. Mendonça FA, Danni-Oliveira IM. Climatologia - Noções básicas e climas do Brasil . São Paulo: Oficina de textos; 2007. .
Considerando os diversos estudos que mostram a relação de determinantes ambientais e fatores climáticos sob a dinâmica das endemias, e conhecendo-se a pertinência e a magnitude da dengue no Brasil e no mundo, torna-se relevante o desenvolvimento de uma revisão. O presente estudo tem por objetivo apresentar uma revisão sistemática da literatura científica brasileira sobre a ocorrência da dengue e a sua relação com variáveis meteorológicas.
Metodologia
Desenho do estudo
Estudo de revisão bibliográfica sistemática em diferentes bases de dados eletrônicas científicas, através de descritores referentes à dengue e a variáveis meteorológicas no Brasil. A identificação dos artigos e inclusão dos mesmos ocorreu no primeiro semestre de 2010.
Bases de dados eletrônicas
A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas seguintes bases de dados eletrônicas: (1) Scientific Electronic Library Online - SciELO; (2) Medical Literature Analysis and Retrieved System - MEDLINE; e (3) Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde - Lilacs; (4) U.S. National Library of Medicine - PubMed.
Informações complementares foram obtidas a partir de boletins epidemiológicos; relatórios de mudanças climáticas e ambientais publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Ministério da Saúde (MS); dados geográficos e de clima através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Realizou-se também busca manual com base nas referências listadas nos artigos inclusos na revisão.
Estratégia de busca
As buscas foram conduzidas através de descritores catalogados no Descritor em Ciências da Saúde – DeCS e no Medical Subject Headings – MeSH, em português e em inglês contidos no título ou nos resumos dos estudos. Utilizou-se o operador booleano “AND” e “OR”, além da utilização das aspas a fim de facilitar a busca aos manuscritos.
- ·
“Dengue (dengue)”;
- ·
“ Aedes ( Aedes )”;
- ·
“Dengue variáveis meteorológicas (dengue meteorological variables)”;
- ·
“Dengue fatores climáticos (dengue climatic factors)”;
- ·
“Dengue temperatura (dengue temperature)”;
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“Dengue umidade (dengue humidity)”;
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“Dengue verão (dengue summer)”;
- ·
“Dengue chuva (dengue rain)”;
- ·
“Dengue inverno (dengue winter)”;
- ·
“Dengue pluviosidade (dengue rainfall)”.
Seleção e análise das publicações
Para a seleção dos artigos construiu-se um formulário com as informações a seguir: autor e ano, periódico de publicação, título, período de desenvolvimento do estudo, unidade federativa, cidade e área da pesquisa, desenho do estudo, indexação, descritor utilizado para localizar a publicação, método de análise estatística, objetivo e principais resultados.
Utilizou-se como critério de inclusão artigos do tipo original, publicados em periódicos internacionais ou nacionais, nos idiomas inglês, português ou espanhol, independente do ano de publicação, indexados em uma das bases anteriormente citadas.
Foram selecionados para revisão somente os artigos que continham análise de variáveis meteorológicas e a relação com a ocorrência da dengue ocorridos no Brasil, e incluídos os estudos que utilizaram como principal vetor transmissor o Aedes aegypti, assim como Aedes albopictus , entre outros de menor prevalência.
Foram identificados 625 artigos científicos relacionando a dengue a fatores ambientais/meteorológicos no Brasil e no mundo. Do total de 43 artigos produzidos com dados brasileiros analisados na íntegra, foram removidos 12 trabalhos por não terem relação com a temática da revisão ou por estarem duplicados. 31 trabalhos foram selecionados para a presente revisão de literatura cientifica. Os resultados obtidos com a aplicação da estratégia de busca descrita estão apresentados no quadro lógico do estudo.
Os estudos são apresentados em mapas pelas Unidades da Federação, por regiões geográficas e conforme o compartimento climático do país, e em tabela segundo cronologia de publicação, clima, local de estudo, variáveis meteorológicas e principais achados. Os resultados e discussão estão exibidos por pluviosidade, pluviosidade/temperatura, temperatura/umidade relativa do ar e defasagem.
Resultados e discussão
Artigos revisados
Da totalidade de 31 (trinta e um) artigos originais e distintos inclusos na revisão, 12 (doze) publicações referem-se à temperatura (°C) e pluviosidade (mm); 9 (nove) abordam pluviosidade; 7 (sete) artigos têm enfoque em temperatura, pluviosidade, pressão atmosférica, direção dos ventos e umidade relativa do ar; 1(um) trabalho mencionou o fator abiótico temperatura trimestral e semestral de cada ano; 1 (um) estudo comparou períodos distintos de chuva e seca; 1 (uma) publicação referente a diferenciação sazonal verão/inverno em relação à incidência da dengue ( Figura 1 ).
Quadro lógico da revisão sistemática, a ocorrência da dengue e variações meteorológicas no Brasil, publicações de 1992 a 2010.
Constatou-se que todos os estudos utilizaram abordagem quantitativa, e os principais métodos empregados nos estudos compreenderam: captura de mosquitos através de armadilhas (ovitrampas, mosquitraps, aspiradores, iscas, entre outros métodos); levantamentos entomológicos/larvais em reservatórios, tanques, tonéis, vasos, pneus; levantamento entomológico de imóveis por meio do índice de Breteau e índice de infestação predial – IIP. Foram mais frequentes os estudos epidemiológicos transversais e ecológicos descritivos de série histórica, por meio da utilização de dados secundários do Sistema Nacional de Agravos de Notificação – SINAN e de análise espacial. Entre as análises utilizadas destacam-se as correlações e técnicas de geoprocessamento, especialmente pelo método de Kernel .
Distribuição dos estudos
As Figura 2 e 3 ilustram o número de publicações segundo áreas de estudo por Unidades da Federação, por regiões geográficas e conforme o compartimento climático do país. Na Figura 2 observa-se que o maior número de estudos foi realizado no Estado de São Paulo, SP, seguido do Rio de Janeiro, RJ. Foram publicados estudos para toda a região Sudeste exceto o Estado do Espírito Santo. Por outro lado, para a região Sul foi publicado apenas um estudo realizado em município do Estado do Paraná. A Figura 3 exibe o número de estudos publicados por compartimentos climáticos. Observa-se que foram realizados estudos em áreas que contemplam os cinco climas brasileiros. Estudos relacionando dengue e variáveis meteorológicas foram mais frequentes em área de Clima Tropical Brasil Central.
Distribuição do número de publicações sobre dengue e variáveis meteorológicas no Brasil, publicadas entre 1992 e 2010, segundo área geográfica de estudo – (a) Unidade da Federação; (b) Região Geográfica.
* Publicação de Câmara et al. em 2007 3030. Câmara FP, Theophilo RL, dos Santos GT, Pereira SR, Câmara DC, de Matos RR. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas. Rev Soc Bras Med Trop 2007; 40(2): 192-6. , não inclusa no mapa, analisou concomitantemente as 5 regiões do Brasil.
Número de publicações sobre dengue e variáveis meteorológicas no Brasil publicadas entre 1992 e 2010, segundo o compartimento climático.
Na Tabela 1 são apresentados em ordem cronológica e por clima os estudos da temática dengue e variações meteorológicas no Brasil, publicados entre 1992 e 2010. Em termos de evolução temporal, maior número de publicações ocorreu a partir do ano 2000.
Pluviosidade
O fator abiótico chuva 2222. Gomes Ade C, Forattini OP, Kakitani I, Marques GR, Marques CC, Marucci D et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saude Publica 1992; 26(2): 108-18.
23. Chiaravalloti Neto F. Descrição da colonização de Aedes aegypti na região de São José do Rio Preto, São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 1997; 30(4): 279-85.
24. Rebêlo JM, Costa JM, Silva FS, Pereira YN, da Silva JM. Distribuição de Aedes aegypti e do dengue no Estado do Maranhão, Brasil. Cad Saúde Pública 1999; 15(3): 477-86.
25. Forattini OP, Kakitani I, dos Santos RLC, Kobayashi KM, Ueno HM, Fernandez Z. Comportamento de Aedes albopictus e Ae. scapularis adultos (Diptera: Culicidae) no sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 2000; 34(5): 461-7.
26. Pinheiro VC, Tadei WP. Frequency, diversity, and productivity study on the Aedes aegypti most preferred containers in the city of Manaus, Amazonas, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2002; 44(5): 245-50.
27. Souza IC, Vianna RP, Moraes RM. Modelagem da incidência do dengue na Paraíba, Brasil, por modelos de defasagem distribuída. Cad Saúde Pública 2007; 23(11): 2623-30.
28. Costa FS, Silva JJ, Souza CM, Mendes J. Dinâmica populacional de Aedes aegypti (L) em área urbana de alta incidência de dengue. Rev Soc Bras Med Trop 2008; 41(3): 309-12. - 2929. Zeidler JD, Acosta PO, Barrêto PP, Cordeiro Jda D. Dengue virus in Aedes aegypti larvae and infestation dynamics in Roraima, Brazil. Rev Saude Publica 2008; 42(6): 986-91. foi importante para a produção de larvas, pupas e ocorrência da dengue. As infestações ocorreram principalmente entre os meses de maior índice de precipitação pluviométrica nas diferentes localidades. Estudos realizados no Vale do Paraíba (SP) 2222. Gomes Ade C, Forattini OP, Kakitani I, Marques GR, Marques CC, Marucci D et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saude Publica 1992; 26(2): 108-18. , em São José do Rio Preto (SP) 2323. Chiaravalloti Neto F. Descrição da colonização de Aedes aegypti na região de São José do Rio Preto, São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 1997; 30(4): 279-85. , no Estado do Maranhão (MA) 2424. Rebêlo JM, Costa JM, Silva FS, Pereira YN, da Silva JM. Distribuição de Aedes aegypti e do dengue no Estado do Maranhão, Brasil. Cad Saúde Pública 1999; 15(3): 477-86. , em Vila das Pedrinhas (litoral sul do Estado de São Paulo) 2525. Forattini OP, Kakitani I, dos Santos RLC, Kobayashi KM, Ueno HM, Fernandez Z. Comportamento de Aedes albopictus e Ae. scapularis adultos (Diptera: Culicidae) no sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 2000; 34(5): 461-7. , Manaus (AM) 2626. Pinheiro VC, Tadei WP. Frequency, diversity, and productivity study on the Aedes aegypti most preferred containers in the city of Manaus, Amazonas, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2002; 44(5): 245-50. , Paraíba (PB) 2727. Souza IC, Vianna RP, Moraes RM. Modelagem da incidência do dengue na Paraíba, Brasil, por modelos de defasagem distribuída. Cad Saúde Pública 2007; 23(11): 2623-30. , Uberlândia (MG) 2828. Costa FS, Silva JJ, Souza CM, Mendes J. Dinâmica populacional de Aedes aegypti (L) em área urbana de alta incidência de dengue. Rev Soc Bras Med Trop 2008; 41(3): 309-12. e Boa Vista (RR) 2929. Zeidler JD, Acosta PO, Barrêto PP, Cordeiro Jda D. Dengue virus in Aedes aegypti larvae and infestation dynamics in Roraima, Brazil. Rev Saude Publica 2008; 42(6): 986-91. mostraram que, mesmo havendo diferença na dinâmica das chuvas nas várias regiões do país, a maior incidência da doença e níveis de infestação de vetores coincidiu com os meses chuvosos que também foram os meses mais quentes do ano no país 3030. Câmara FP, Theophilo RL, dos Santos GT, Pereira SR, Câmara DC, de Matos RR. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas. Rev Soc Bras Med Trop 2007; 40(2): 192-6. .
Estudo realizado em todos os 246 municípios do Estado de Goiás 3131. Souza SS, Silva IG, Silva HHG. Associação entre incidência de dengue, pluviosidade e densidade larvária de Aedes aegypti , no Estado de Goiás. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(2): 152-5. , no período de janeiro 2001 a dezembro 2005, mostrou que o índice de infestação predial (IIP) de Ae. aegypti apresentou importante variabilidade entre os meses, além de associação significativa dos picos da doença com épocas de maiores IIP e de pluviosidade média. A densidade larvária e os casos da dengue apresentaram incremento durante os primeiros quatro meses de cada ano (período de alta pluviosidade) e redução entre junho e setembro (menor pluviosidade), resultados encontrados também nos estudos realizados em São José do Rio Preto (SP) 2323. Chiaravalloti Neto F. Descrição da colonização de Aedes aegypti na região de São José do Rio Preto, São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 1997; 30(4): 279-85. , Maranhão (MA) 2424. Rebêlo JM, Costa JM, Silva FS, Pereira YN, da Silva JM. Distribuição de Aedes aegypti e do dengue no Estado do Maranhão, Brasil. Cad Saúde Pública 1999; 15(3): 477-86. , Vila das Pedrinhas (SP) 2525. Forattini OP, Kakitani I, dos Santos RLC, Kobayashi KM, Ueno HM, Fernandez Z. Comportamento de Aedes albopictus e Ae. scapularis adultos (Diptera: Culicidae) no sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 2000; 34(5): 461-7. e Tupã (SP) 3232. Barbosa GL, Lourenço RW. Análise da distribuição espaço-temporal de dengue e da infestação larvária no município de Tupã, Estado de São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(2): 145-51. .
O Estado de Goiás possui clima Tropical Brasil Central, com duas estações bem definidas, extremamente seco no meio do ano e chuvoso no verão, com um período de seca com duração de 5 a 6 meses (maio a setembro) e estação chuvosa (outubro a abril) 3131. Souza SS, Silva IG, Silva HHG. Associação entre incidência de dengue, pluviosidade e densidade larvária de Aedes aegypti , no Estado de Goiás. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(2): 152-5. . O clima de Goiás se assemelha ao clima dos outros Estados do Centro-Oeste e os ciclos de sazonalidade pluviométrica se assemelham aos do resto do Brasil, exceto algumas regiões do Nordeste de clima Tropical Nordeste Oriental, e da Amazônia setentrional com clima Tropical Zona Equatorial 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2005. Disponível em: http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.htm (Acessado em 28 de fevereiro de 2012).
http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.h... , 2121. Mendonça FA, Danni-Oliveira IM. Climatologia - Noções básicas e climas do Brasil . São Paulo: Oficina de textos; 2007. .
Há estudos que mostram a taxa de incidência do agravo por estações do ano. Em Manaus verificou-se menor incidência da dengue na estação seca, quando o Ae. aegypti foi encontrado em 84-90% das casas, enquanto os valores mais elevados foram verificados em novembro (período de transição/chuvoso), com 94-98% dos domicílios positivos 3333. Ríos-Velásquez CM, Codeço CT, Honório NA, Sabroza PS, Moresco M, Cunha IC et al. Distribution of dengue vectors in neighborhoods with different urbanization types of Manaus, state of Amazonas, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007; 102(5): 617-23. . Sabe-se que em Manaus o clima predominante é o Equatorial 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2005. Disponível em: http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.htm (Acessado em 28 de fevereiro de 2012).
http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.h... , com a estação chuvosa de janeiro a maio e seca durante julho a setembro 3333. Ríos-Velásquez CM, Codeço CT, Honório NA, Sabroza PS, Moresco M, Cunha IC et al. Distribution of dengue vectors in neighborhoods with different urbanization types of Manaus, state of Amazonas, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007; 102(5): 617-23. .
Estudo realizado em 2005 3434. Maciel-de-Freitas R, Peres RC, Souza-Santos R, Lourenço-de-Oliveira R. Occurrence, productivity and spatial distribution of key-premises in two dengue-endemic areas of Rio de Janeiro and their role in adult Aedes aegypti spatial infestation pattern. Trop Med Int Health 2008; 13(12): 1488-94. na cidade do Rio de Janeiro mostrou que não houve diferença estatística significativa de infestação entre os dois períodos, sendo o efeito da sazonalidade descrito como baixo ou ausente na maioria dos reservatórios analisados naquela localidade. Honório et al. 3535. Honório NA, Codeço CT, Alves FC, Magalhães MA, Lourenço-De-Oliveira R. Temporal distribution of Aedes aegypti in different districts of Rio de Janeiro, Brazil, measured by two types of traps. J Med Entomol 2009; 46(5): 1001-14. , em estudo realizado também no Rio de Janeiro sobre a distribuição temporal do Ae. aegypti entre setembro 2006 a março 2008, verificaram associação importante de ovitrampas positivas. No verão os índices médios foram de 70-80%, atingindo picos expressivos de 90-100%, enquanto no inverno a infestação sofreu redução, mas raramente abaixo de 60%, demonstrando que o mosquito é prevalente o ano todo. A maior abundância foi verificada no período mais úmido e quente do ano, indicando sazonalidade 3535. Honório NA, Codeço CT, Alves FC, Magalhães MA, Lourenço-De-Oliveira R. Temporal distribution of Aedes aegypti in different districts of Rio de Janeiro, Brazil, measured by two types of traps. J Med Entomol 2009; 46(5): 1001-14. . O Rio de Janeiro apresenta clima Tropical Brasil Central 2020. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2005. Disponível em: http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.htm (Acessado em 28 de fevereiro de 2012).
http://mapas.ibge.gov.br/clima/ viewer.h... e temperatura variando entre 20ºC e 27ºC, os meses mais quentes ocorrendo entre novembro e abril e os mais frios, entre maio e outubro. As chuvas são mais frequentes entre dezembro e março, sendo janeiro o mês mais chuvoso, e o período mais seco ocorre de junho a setembro 3636. Câmara FP, Gomes AF, Santos GT, Câmara DC. Clima e epidemias de dengue no Estado do Rio de Janeiro. Rev Soc Bras Med Trop 2009; 42(2): 137-40. , assemelhando-se à maioria dos Estados brasileiros.
Diversos estudos empregando levantamentos entomológicos, 2222. Gomes Ade C, Forattini OP, Kakitani I, Marques GR, Marques CC, Marucci D et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saude Publica 1992; 26(2): 108-18. , 2323. Chiaravalloti Neto F. Descrição da colonização de Aedes aegypti na região de São José do Rio Preto, São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 1997; 30(4): 279-85. , 2626. Pinheiro VC, Tadei WP. Frequency, diversity, and productivity study on the Aedes aegypti most preferred containers in the city of Manaus, Amazonas, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2002; 44(5): 245-50. , 2929. Zeidler JD, Acosta PO, Barrêto PP, Cordeiro Jda D. Dengue virus in Aedes aegypti larvae and infestation dynamics in Roraima, Brazil. Rev Saude Publica 2008; 42(6): 986-91. , 3737. Honório NA, Cabello PH, Codeço CT, Lourenço-de-Oliveira R. Preliminary data on the performance of Aedes aegypti and Aedes albopictus immatures developing in water-filled tires in Rio de Janeiro. Mem Inst Oswaldo Cruz 2006; 101(2): 225-8.
38. Forattini OP, Kakitani I, Ueno HM. Emergência de Aedes albopictus em recipientes artificiais. Rev Saude Publica 2001; 35(5): 456-60. - 3939. Favier C, Degallier N, Vilarinhos PT, de Carvalho MS, Yoshizawa MA, Knox MB. Effects of climate and different management strategies on Aedes aegypti breeding sites: a longitudinal survey in Brasília (DF, Brazil). Trop Med Int Health 2006; 11(7): 1104-18. demonstraram valores mais elevados de infestação de ovos, larvas e vetor no período chuvoso; entretanto, os criadouros positivos persistem no período da seca, fato este favorecido pela facilidade de adaptação do mosquito ao ambiente humano, através dos reservatórios naturais e/ou artificiais 3131. Souza SS, Silva IG, Silva HHG. Associação entre incidência de dengue, pluviosidade e densidade larvária de Aedes aegypti , no Estado de Goiás. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(2): 152-5. , 3434. Maciel-de-Freitas R, Peres RC, Souza-Santos R, Lourenço-de-Oliveira R. Occurrence, productivity and spatial distribution of key-premises in two dengue-endemic areas of Rio de Janeiro and their role in adult Aedes aegypti spatial infestation pattern. Trop Med Int Health 2008; 13(12): 1488-94. , 4040. Monteiro ESC, Coelho ME, da Cunha IS, Cavalcante MAS, Carvalho FAA. Aspectos epidemiológicos e vetoriais da dengue na cidade de Teresina, Piauí – Brasil, 2002 a 2006. Epidemiol Serv Saúde 2009; 18(4): 365-74. , 4141. Codeço CT, Honório NA, Ríos-Velásquez CM, Santos Mda C, Mattos IV, Luz SB, et al. Seasonal dynamics of Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) in the northernmost state of Brazil: a likely port-of-entry for dengue virus 4. Mem Inst Oswaldo Cruz 2009 Jul; 104(4): 614-20. .
Pluviosidade e temperatura
Estudo realizado entre março de 2003 a fevereiro de 2005 em três bairros de alta incidência da dengue na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, região Sudeste, indicou que a temperatura e a pluviosidade influenciaram significativamente no aumento do número de criadouros e na dinâmica populacional do Ae. Aegypti. No período chuvoso, 86,5% das armadilhas expostas tornaram-se positivas e apenas 13,5% no período seco. Ao analisarem períodos mais frios e secos do ano (condições menos favoráveis ao desenvolvimento do mosquito), Costa et al. 2828. Costa FS, Silva JJ, Souza CM, Mendes J. Dinâmica populacional de Aedes aegypti (L) em área urbana de alta incidência de dengue. Rev Soc Bras Med Trop 2008; 41(3): 309-12. observaram redução acentuada na população adulta do vetor e, embora em menor proporção, o mosquito também se fez presente nos meses mais frios e secos do ano. Este fato também é descrito por Dos Reis et al. 4242. Dos Reis IC, Honório NA, Codeço CT, Magalhães Mde A, Lourenço-de-Oliveira R, Barcellos C. Relevance of differentiating between residential and non-residential premises for surveillance and control of Aedes aegypti in Rio de Janeiro, Brazil. Acta Trop 2010; 114(1): 37-43. , que utilizaram armadilhas de oviposição em 3 bairros da cidade do Rio de Janeiro, no verão (janeiro a março) e no inverno (junho a setembro) de 2007; embora as capturas não diferissem foi verificado maior número de ovos e adultos fêmeas durante o verão.
Dibo et al. 4343. Dibo MR, Chierotti AP, Ferrari MS, Mendonça AL, Chiaravalloti Neto F. Study of the relationship between Aedes (Stegomyia) aegypti egg and adult densities, dengue fever and climate in Mirassol, state of São Paulo, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 2008; 103(6): 554-60. , por meio de coletas semanais de ovos e larvas no município de Mirassol, SP, Região Sudeste do país, entre novembro 2004 a novembro 2005, confirmaram os resultados já descritos sobre a proliferação do Ae. aegypti , evidenciando que o número de ovos, larvas e mosquitos é mais frequente em períodos de temperaturas e índices pluviométricos mais elevados 2525. Forattini OP, Kakitani I, dos Santos RLC, Kobayashi KM, Ueno HM, Fernandez Z. Comportamento de Aedes albopictus e Ae. scapularis adultos (Diptera: Culicidae) no sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 2000; 34(5): 461-7. , 2626. Pinheiro VC, Tadei WP. Frequency, diversity, and productivity study on the Aedes aegypti most preferred containers in the city of Manaus, Amazonas, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2002; 44(5): 245-50. , 3737. Honório NA, Cabello PH, Codeço CT, Lourenço-de-Oliveira R. Preliminary data on the performance of Aedes aegypti and Aedes albopictus immatures developing in water-filled tires in Rio de Janeiro. Mem Inst Oswaldo Cruz 2006; 101(2): 225-8. , 4444. da Costa-Ribeiro MC, Lourenço-de-Oliveira R, Failloux AB. Geographic and temporal genetic patterns of Aedes aegypti populations in Rio de Janeiro, Brazil. Trop Med Int Health 2006; 11(8): 1276-85. .
Como evidenciado nos trabalhos citados anteriormente, Monteiro el al. 4040. Monteiro ESC, Coelho ME, da Cunha IS, Cavalcante MAS, Carvalho FAA. Aspectos epidemiológicos e vetoriais da dengue na cidade de Teresina, Piauí – Brasil, 2002 a 2006. Epidemiol Serv Saúde 2009; 18(4): 365-74. , ao analisarem os indicadores epidemiológicos da dengue na cidade de Teresina, Piauí, de 2002 a 2006, observaram correlação positiva entre a incidência da dengue com a precipitação e a temperatura, particularmente no primeiro semestre de cada ano, período de maior índice pluviométrico e de infestação predial, principalmente nos meses de março a maio de 2002-2003. Tais achados legitimam com o estudo de Barbosa e Lourenço 3232. Barbosa GL, Lourenço RW. Análise da distribuição espaço-temporal de dengue e da infestação larvária no município de Tupã, Estado de São Paulo. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43(2): 145-51. , realizado no interior de São Paulo, na cidade de Tupã, no período de janeiro 2004 a dezembro 2007. Notou-se maior infestação no primeiro trimestre de cada ano, decréscimo da epidemia em junho, incremento do número de recipientes positivos nos meses mais quentes e úmidos do ano, correspondendo aos meses de janeiro a abril.
Na cidade do Rio de Janeiro, entre 1986 a 2003, foi observado que os fatores de maior risco em relação às epidemias de dengue foram a temperatura média mínima acima de 22°C, os verões mais quentes e secos, sendo mais relevante a temperatura do primeiro trimestre do período analisado. Observou-se que nos anos em que as epidemias ocorreram as temperaturas foram significativamente mais elevadas comparadas aos demais anos. Não houve associação importante da incidência da doença com a pluviosidade. As epidemias foram mais frequentes nos anos em que o volume pluviométrico ficou abaixo de 200 mm/mês 3636. Câmara FP, Gomes AF, Santos GT, Câmara DC. Clima e epidemias de dengue no Estado do Rio de Janeiro. Rev Soc Bras Med Trop 2009; 42(2): 137-40. .
Câmara et al. 3030. Câmara FP, Theophilo RL, dos Santos GT, Pereira SR, Câmara DC, de Matos RR. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas. Rev Soc Bras Med Trop 2007; 40(2): 192-6. , em estudo de série histórica da dengue realizado entre o período de 1986 a 2003, referenciando as cinco regiões do Brasil, evidenciou que as regiões Nordeste e Sudeste corresponderam a cerca de 86% das notificações da doença, enquanto a região, Centro-Oeste (7,6%), Norte (5,7%) e Sul (1,2%) obtiveram um número menor de registros. Em 2003, as regiões Nordeste e Sudeste apresentavam 70,5% da população brasileira, ou seja, ainda que relativizada pela população a doença foi mais incidente nestas duas regiões. Para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul mais da metade dos casos ocorreu no primeiro trimestre, enquanto na região Nordeste ocorreu no segundo trimestre do ano.
No entanto, os dados epidemiológicos de 2008 e 2010 mostram uma mudança no padrão de distribuição da dengue no país. Em 2010 foi registrado mais de um milhão de casos prováveis da doença em decorrência da recirculação do DENV-1, com 63% dos casos nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, principalmente em municípios dos Estados do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul 4545. Siqueira JrJB, Vinhal LC, Said RFC, Hoffmann JL, Martins J, Barbiratto SB et al. Dengue no Brasil: tendências e mudanças na epidemiologia, com ênfase nas epidemias de 2008 e 2010. In: Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde . Brasília: Ministério da Saúde; 2011. pp. 159-171. .
Os picos das notificações analisados pelos autores 3030. Câmara FP, Theophilo RL, dos Santos GT, Pereira SR, Câmara DC, de Matos RR. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas. Rev Soc Bras Med Trop 2007; 40(2): 192-6. são concordantes com os estudos ora analisados. Em suma, concentram-se particularmente no primeiro semestre de cada ano, período este considerado o mais úmido e quente do ano. Nos meses em que a temperatura decresce na segunda metade do ano, observou-se que a incidência sofreu redução, demonstrando dependência da variação sazonal sobre a dinâmica do vetor e da doença.
Temperatura e umidade relativa do ar
Análise de levantamento entomológico durante 82 semanas por meio de ovitrampa e mosquitrap, de setembro de 2006 a março de 2008, demonstrou associação importante entre o número de ovos positivos e incidência da dengue, principalmente no período seco (baixa pluviosidade). Os autores 3535. Honório NA, Codeço CT, Alves FC, Magalhães MA, Lourenço-De-Oliveira R. Temporal distribution of Aedes aegypti in different districts of Rio de Janeiro, Brazil, measured by two types of traps. J Med Entomol 2009; 46(5): 1001-14. sugerem que a temperatura média mensal acima de 22-24° C está fortemente associada com abundância do Ae. aegypti e por consequência maior risco de transmissão da doença.
Favier et al. 3939. Favier C, Degallier N, Vilarinhos PT, de Carvalho MS, Yoshizawa MA, Knox MB. Effects of climate and different management strategies on Aedes aegypti breeding sites: a longitudinal survey in Brasília (DF, Brazil). Trop Med Int Health 2006; 11(7): 1104-18. consideraram que o número de criadouros potenciais segue o padrão da precipitação, mas os valores não se anulam no período da seca. O número médio de pupas por recipiente positivo aparece intimamente associado com a temperatura média. Considerou-se que a variável umidade relativa do ar também favoreceu o número de recipientes positivos, Vila Planalto, Brasília. Resultados semelhantes referenciando São Sebastião, SP 99. Ribeiro AF, Marques GR, Voltolini JC, Condino ML. Associação entre incidência de dengue e variáveis climáticas. Rev Saúde Pública 2006; 40(4): 671-6. , indicaram que os valores mais elevados de temperatura e umidade relativa do ar foram registrados entre novembro a abril, meses estes também em que se observaram os maiores índices de densidade larvária do Ae. Aegypti .
Estudo realizado no Bairro do Galeão Ilha do Governador, RJ, entre junho 1992 e julho 1994, relatou que provavelmente apenas os extremos de temperaturas exerceram efeito diferenciado na população de larvas. Nos meses seguintes ou logo depois da observação de registros mais elevados de umidade relativa do ar, foram notadas as maiores médias de números de criadouros positivos e correlações negativas para a média da pressão atmosférica 4646. Souza-Santos R. Fatores associados à ocorrência de formas imaturas de Aedes aegypti na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 1999; 32(4): 373-82. . A temperatura média na faixa de 17 a 23° C foi relatada como o período mais favorável ao desenvolvimento larvário 2222. Gomes Ade C, Forattini OP, Kakitani I, Marques GR, Marques CC, Marucci D et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saude Publica 1992; 26(2): 108-18. .
Os dados descritos anteriormente são corroborados por literatura específica de estudo entomológico laboratorial. Analisou-se o desenvolvimento embrionário do Ae. aegypti sob a influência de variação da temperatura e observou-se que a viabilidade dos ovos entre 16-31°C foi superior a 80% e entre 22-28 °C foi superior a 90%. Farnesi et al. 4747. Farnesi LC, Martins AJ, Valle D, Rezende GL. Embryonic development of Aedes aegypti (Diptera: Culicidae): influence of different constant temperatures. Mem Inst Oswaldo Cruz 2009; 104(1): 124-6. salientam que estas faixas de temperatura favorecem a presença de Ae. aegypti nas regiões tropicais e subtropicais do mundo.
Miyazaki et al. 4848. Miyazaki RD, Ribeiro AL, Pignatti MG, Campelo JHJr, Pignati M. Monitoring of Aedes aegypti mosquitoes (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae) by means of ovitraps at the Universidade Federal de Mato Grosso Campus, Cuiabá, State of Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop 2009; 42(4): 392-97. , em estudo de monitoramento através de ovitrampas realizado em Cuiabá, MT, entre agosto de 2004 a agosto de 2005, uma das capitais mais quentes do país (média máxima por volta de 31º C), evidenciaram correlação significativa com a temperatura máxima, média e mínima. No entanto, os autores 4848. Miyazaki RD, Ribeiro AL, Pignatti MG, Campelo JHJr, Pignati M. Monitoring of Aedes aegypti mosquitoes (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae) by means of ovitraps at the Universidade Federal de Mato Grosso Campus, Cuiabá, State of Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop 2009; 42(4): 392-97. consideraram que a pluviosidade foi o único fator determinante no nível de infestação. A frequência da coleta dos ovos evidenciou incremento para os meses de outubro e dezembro, perfazendo 49% e 36,8%, respectivamente. Observou-se para os meses de julho e agosto maior presença de fêmeas e não houve associação entre o número de ovos e a umidade relativa do ar. O número de coletas não obedeceu a um padrão de distribuição único ao longo do período, podendo ocorrer durante todo o ano, como evidenciado também em outros estudos 2828. Costa FS, Silva JJ, Souza CM, Mendes J. Dinâmica populacional de Aedes aegypti (L) em área urbana de alta incidência de dengue. Rev Soc Bras Med Trop 2008; 41(3): 309-12. , 4343. Dibo MR, Chierotti AP, Ferrari MS, Mendonça AL, Chiaravalloti Neto F. Study of the relationship between Aedes (Stegomyia) aegypti egg and adult densities, dengue fever and climate in Mirassol, state of São Paulo, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 2008; 103(6): 554-60. , 4949. Marques GR, Gomes Ade C. Comportamento antropofílico de Aedes albopictus (Skuse) (Diptera: Culicidae) na região do Vale do Paraíba, Sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 1997; 31(2): 125-30. .
Defasagem
Apesar das variações meteorológicas se apresentarem como um importante preditor, sabe-se que na maioria das situações existe um time lag , ou seja, uma defasagem na associação entre as variáveis meteorológicas e a ocorrência da dengue ou do surgimento de novas larvas/mosquitos no mesmo mês.
Ribeiro et al. 99. Ribeiro AF, Marques GR, Voltolini JC, Condino ML. Associação entre incidência de dengue e variáveis climáticas. Rev Saúde Pública 2006; 40(4): 671-6. , ao analisarem o intervalo de tempo ( time lag ) da associação entre o número de casos de dengue e fatores abióticos (chuva e temperatura) ocorridos em São Sebastião, SP, de 2001 a 2002, identificaram que a defasagem revelou associação significativa no segundo, terceiro e quarto meses de observação, ou seja, a chuva e a temperatura de um determinado mês contribuíram para explicar o número de casos da dengue de dois a até quatro meses depois.
A análise de incidência da dengue na Paraíba, PB, por modelos de defasagem distribuída verificou que os coeficientes decrescem até o quarto mês, voltando a crescer no quinto mês. O início das curvas de crescimento anual se dá com cinco meses de antecedência, o que corresponde à defasagem de cinco meses. Sendo assim, a cada ano ocorreu uma curva de incidência da dengue, na qual os picos oscilam entre os meses de março a maio. Por esta razão, Souza et al. 2727. Souza IC, Vianna RP, Moraes RM. Modelagem da incidência do dengue na Paraíba, Brasil, por modelos de defasagem distribuída. Cad Saúde Pública 2007; 23(11): 2623-30. afirmaram que a defasagem cinco corresponde à duração do período necessário para haver mudança na tendência da curva anual da incidência da dengue, a partir do início do verão.
Oliveira et al. 5050. Oliveira CL, Bier VA, Maier CR, Rorato GM, Frost KF; Barbosa MA et al. Incidência da dengue relacionada às condições climáticas no município de Toledo – PR. Arq Ciências Saúde UNIPAR 2007; 11(3): 211-6. , em estudo realizado em município de Toledo, PR, no período de novembro de 2001 a julho de 2002, observaram 20,5% de correlação para a influência da precipitação sobre o número de casos confirmados no mês seguinte. Essa correlação é praticamente inexistente para dois ou três meses após o período das chuvas.
Considerações finais
Foi evidenciado que os fatores meteorológicos como temperatura, umidade relativa do ar e pluviosidade mencionados nos diversos estudos influenciaram a dinâmica do vetor, bem como os picos das epidemias da dengue no Brasil, independente do compartimento climático. A ocorrência do agravo está associada à elevação dos índices pluviométricos e às variações de temperatura, principalmente no primeiro semestre de cada ano. Trata-se do período de pluviosidade e temperatura mais elevados na maior parte do Brasil, o que contribuiu para o aumento do número de criadouros e, consequentemente, dos casos da dengue.
Mesmo sendo uma doença tipicamente sazonal são registrados casos da dengue tanto no período chuvoso quanto no seco, haja vista que a redução da densidade vetorial de adultos nos meses mais frios e secos não é suficiente para cessar a transmissão da doença. Há, contudo, inúmeras dificuldades no estabelecimento de um padrão sazonal “chave”, da incidência da doença e das variáveis meteorológicas, em virtude do padrão hematofágico do vetor ocorrer predominantemente durante todo ano em diferentes intensidades.
Há que ser considerada a grande extensão territorial do Brasil, a fronteira com os países vizinhos, a diversidade de biomas, falta de infraestrutura urbana, as características meteorológicas e ambientais favoráveis durante praticamente o ano todo que facilitam a manutenção da doença. Na maioria dos estudos analisados a maior densidade vetorial coincide com o período chuvoso, sugerindo que a pluviosidade é o fator abiótico mais importante para o incremento da população do vetor. Nesse sentido, ressalta-se que o ciclo de chuvas no país apresenta características peculiares de acordo com os diferentes compartimentos climáticos nas distintas regiões geográficas, não havendo uma distribuição da precipitação pluviométrica de forma homogênea em todo o território nacional, ainda que a sazonalidade seja em estações semelhantes.
Outro aspecto relevante é a complexidade genética do vetor e a circulação de diferentes sorotipos que possivelmente também influenciam a distribuição da ocorrência da dengue, tanto em períodos seco quanto chuvoso, e sua capacidade de adaptação ao ambiente humano através de criadouros. Portanto, o vetor não depende exclusivamente dos fatores abióticos. Este sobrevive em baixa densidade durante os meses menos favoráveis em termos climáticos, apontando a relevância da manutenção das ações de vigilância e controle do vetor durante todo o ano.
Por se tratar de revisão de literatura científica, o presente estudo está potencialmente condicionado aos vieses dos estudos de revisão, ou seja, na dependência dos achados contidos nas publicações. Outro viés diz respeito à distribuição dos estudos que se concentraram particularmente em alguns Estados. Com base nesta revisão sistemática observou-se que todos os climas brasileiros foram representados se consideradas as áreas em estudo. No entanto, o clima mais bem representado foi o Clima Tropical Brasil Central, que coincide com a área mais populosa, bem como com a mais endêmica do país.
Conclui-se que a dengue está fortemente relacionada com as variáveis meteorológicas. A variação sazonal da temperatura e da pluviosidade influenciaram a dinâmica do vetor e a incidência da doença em todo o país, independente do compartimento climático.
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Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
Jun 2013
Histórico
- Recebido
12 Mar 2012 - Aceito
10 Jul 2012